quinta-feira, 14 de junho de 2012

A única fonte de água potável da Faixa de Gaza tem nível de contaminação dez vezes maior do que o normal, impossibilitando o consumo, denunciaram nesta quinta-feira duas ONGs que atuam no território palestino.
As organizações Save the Children e Ajuda Médica para os Palestinos disseram em relatório que a água, contaminada por fertilizantes e dejetos humanos, dobrou o número de crianças tratadas por diarreia nos últimos cinco anos.
Para os dois grupos, o bloqueio de Israel ao território (que controla a entrada de mercadorias, ajuda humanitária e fluxo de pessoas), que já dura cinco anos, dificulta a entrega de muitos equipamentos sanitários que poderiam ajudar na limpeza da água.
Na visão das ONGs as restrições devem ser abolidas de forma integral.
Entre os materiais identificados na água estão nitratos e outras substâncias.

Restrições

Nitratos são elementos normalmente encontrados em fezes e fertilizantes e podem causar diarreia, sobretudo em crianças.
O relatório diz ainda que o sistema de tratamento de esgoto em Gaza está "totalmente destruído".
"Como uma questão de prioridade urgente para o bem-estar e saúde das crianças de Gaza, Israel deve abolir o bloqueio de forma integral para permitir o livre movimento de entrada e saída de pessoas e mercadorias na Faixa de Gaza", diz o relatório.
O governo israelense diz que o bloqueio é necessário para impedir a entrada de armas pela costa do território, no Mar Mediterrâneo, e defende que nos últimos meses amenizou as restrições, permitindo a entrada de materiais para reconstruir a combalida infraestrutura em Gaza.
Em 2010 uma Clique flotilha organizada por ONGs turcas tentou burlar o bloqueio para entregar ajuda humanitária aos palestinos. Um dos navios foi interceptado por forças israelenses, que mataram nove ativistas.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O editor-chefe do escritório da BBC no Oriente Médio, Paul Danahar, esteve recentemente na Síria onde viu uma população vivendo em estado de medo e desconfiança. Ele explica abaixo as dimensões do conflito e por que uma solução está se provando muito difícil.
Veja a análise:
A comunidade internacional passou muito tempo vendo o conflito sírio através do prisma de outros levantes árabes. O regime parecia apenas mais um dominó esperando para cair. O mundo enxergava então a crise em preto e branco.
O conflito complicou-se e hoje tem inúmeros tons de cinza. Além do Exército e dos manifestantes surgiram elementos novos.
A escala do levante pressiona o regime de Bashar al-Assad, que só confia em suas brigadas militares mais leais para enfrentar crises graves. O governo teme que ocorram deserções se eles pedirem aos soldados comuns que abram fogo contra civis.
Mas não havia unidades de elite suficientes para combater os focos de combate e, em seguida, manter o terreno conquistado. Então, o governo criou as milícias, ou shabiha, para essa tarefa.
Eles fizeram um alerta à comunidade muçulmana alauíta, que controla a maior parte do poder e as Forças Armadas e da qual o próprio Assad é integrante: "Esta não é uma revolução da Síria, é uma revolução (muçulmana) sunita. Fiquem do lado certo."
O governo então armou as milícias.
Integrantes do Exército poderiam se recusar a disparar contra civis desarmados
A maioria das pessoas que conheci na Síria acredita que, enquanto as milícias atuam em conjunto com o Exército para manter áreas conquistadas, elas também agem por conta própria para cometer assassinatos sectários ou resolver disputas locais.
Algumas destas milícias decidiram que a melhor defesa é o assassinato. E de preferência, da comunidade vizinha.

Profecia

A situação não é mais simples do lado da oposição. Frustrada com a disposição do regime de atirar contra pessoas desarmadas e a relutância do mundo em intervir para impedir isso, alguns oposicionistas começaram uma luta militar paralela.
Em alguns casos, eles descobriram que a ajuda que começaram a receber de fora vinha com condições.
Diplomatas me disseram que, em pelo menos uma ocasião, isso levou outros países próximos a usarem sua influência sobre unidades militares oposicionistas para romper o cessar-fogo negociado pela ONU.
É por este tipo de incidente que Kofi Annan pediu que o grupo de interlocutores que lidam com a resolução do conflito seja ampliado.
Muito do que o governo sírio disse no princípio podia não ser verdade, mas é agora, como uma espécie de profecia que se cumpriu.
Alguns extremistas islâmicos estão atuando na Síria, com a experiência de combate adquirida no Iraque.
Eles não seguem uma liderança formal. Atuam mais como se pensassem: "Se você não é um deles, está contra eles".
Damasco foi até bastante poupada nos últimos meses pela violência, mas agora é uma cidade que vive no limite.
Grandes ataques com bombas em centros urbanos despertaram nas minorias o medo do surgimento de grupos extremistas religiosos e os levou a apoiar o governo.
Outros se aproximaram da oposição, por causa da ascensão das milícias. Mesmo gente que já foi ligada ao regime teme ser suspeita aos olhos do serviço secreto. Todos temem uma batida na porta.

Neutralidade

Um diplomata me disse que "esta é uma guerra de propaganda. Você não pode acreditar no que cada um lhe diz".
Partidários do governo defendem que o irmão de Bashar, Maher (direita, abaixo) o substitua
É por isso que o papel da ONU é tão crucial já que, apesar das deficiências do seu mandato atual, o mundo precisa de um olhar neutro sobre o conflito.
Na Líbia no ano passado uma resolução da ONU foi elaborada quase que totalmente com o relato de "testemunhas oculares", que afirmaram que o governo estava realizando bombardeios aéreos sobre a população.
A alegação era falsa e isso criou mal-estar entre os membros do Conselho de Segurança, dificultando que o órgão adote agora uma posição sobre o conflito sírio.
A missão da ONU na Síria faz um trabalho perigoso, mas considerado de pouca utilidade.
Algumas embaixadas foram fechadas por razões de segurança. Alguns fecharam por causa da pressão em seus países, para parecer que estavam fazendo algo.
Muitos ativistas em Damasco me disseram que esta medida revelou-se de pouca utilidade, porque agora eles não têm ninguém para dialogar.
Esses governos também contam apenas com informações de segunda mão para moldar suas política.

Iêmen

A chamada "solução iemenita" é exemplo de como a situação é complicada. Muitos diplomatas a apontam como a melhor saída: substituir o presidente e transferir o poder para alguém de um escalão mais baixo e o problema estaria resolvido.
Mas muitos partidários do regime defendem a substituição de Bashar Al-Assad por seu irmão, por considerar o presidente muito mole.
Será que o mundo realmente quer esta mudança de comando?
Por fim, qualquer solução deve lidar com os medos reais das comunidades minoritárias, e mais particularmente os alauítas, que compõe 12% da população.
Cerca 30% da comunidade alauíta é relativamente rica, dominando a burocracia do país. O restante vive em favelas e sobrevive, em sua maior parte, por causa de seus empregos públicos.
Se uma revolução busca Justiça, muitas destas pessoas devem perder o emprego. Mas o mundo já tentou uma "desbaathização" no Iraque (tirando de seus cargos membros do antigo regime) e foi um desastre.
Por mais desconfortável que possa ser, a estrutura dessa sociedade deve ser preservada e a "Justiça" pode ter que esperar alguns anos.
Essa sugestão provoca gritos de protesto de alguns membros da oposição. Mas interromper o diálogo custaria ainda mais vidas.
As minorias precisam acreditar que têm um futuro em uma nova Síria. A oposição precisa se unificar e oferecer a estas pessoas uma razão para depor suas armas e convencê-los de que não estão em uma luta até a morte.
Embora afirmem que o Brasil tem influenciado as discussões globais sobre o meio ambiente nas últimas décadas, analistas ouvidos pela BBC Brasil avaliam que a crise econômica global e a opção do país por políticas que consideram danosas à natureza – como a construção de hidrelétricas na Amazônia e a concessão de estímulos ao setor automobilístico – devem reduzir seu peso na Rio+20.
Com isso, segundo eles, dificilmente o Brasil repetirá o papel que desempenhou na Eco-92, conferência ocorrida no Rio de Janeiro há vinte anos que é tida como um marco para o movimento ambientalista e para países subdesenvolvidos.
Para Haroldo Mattos de Lemos, presidente do Instituto Brasil Pnuma, ONG que divulga o Programa da ONU para o Meio Ambiente, o Brasil tem se esforçado para que a Rio+20 repita os resultados "fantásticos" que ele atribui à Eco-92.
O esforço, diz ele, inclui insistir na vinda do maior número possível de líderes. "Sabemos que alguns não virão, como o dos EUA (Barack Obama), mas pelo visto teremos um número significativo de chefes de Estado."
Ainda assim, Lemos afirma que a crise econômica internacional deve dificultar as negociações, e que a Rio+20 ocorrerá em momento mais desfavorável que a Eco-92.
"Sempre que condições econômicas apertam, governos cortam em áreas consideradas menos importantes. Não há muita esperança de que de se consiga incluir metas de desenvolvimento sustentável na Rio+20."
Por outro lado, Lemos diz que a sociedade civil estará mais mobilizada neste encontro do que no de 1992, o que, segundo ele, pressionará governantes a dar mais atenção às causas ambientais.
Já o físico Ennio Candotti, vice-presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), diz que a Eco-92 foi realizada em um momento tão complicado como o atual.
Ele lembra a resistência dos Estados Unidos (que também enfrentavam problemas econômicos à época), países árabes (exportadores de petróleo) e do Japão em acordar metas de redução nas emissões de gases causadores do efeito estufa.
No entanto, Candotti diz que desde então os problemas ambientais ficaram mais complexos, "porque são mais discutidos e novas reivindicações surgiram".
Além disso, afirma que tensões militares e o aumento populacional tornaram mais urgente sua solução. "De 1992 para cá, houve quatro ou cinco guerras, os preços do petróleo subiram, e o mundo se adaptou a níveis crescentes de consumo."
Diante das dificuldades e da disputa entre países ricos e pobres, o físico afirma que a responsabilidade do anfitrião da Rio+20 aumenta. Nesse papel, segundo ele, o Brasil é beneficiado por suas condições naturais e demográficas.
"O Brasil está na liderança (das discussões sobre meio ambiente) não porque tenha encontrado ideias novas ou por ter tido desempenho acima da média, mas por estar em posição privilegiada quanto a laboratórios naturais".
"É no Brasil que há a Floresta Amazônica, inúmeros rios, aquíferos e áreas férteis de grande extensão, sem que aqui haja uma superpopulação como na China, Europa ou Índia."

Conquistas da Eco-92

George Bush | Foto: AP
George Bush discursa na Eco-92; para analistas, Brasil não terá mesma relevância na Rio+20.
O físico José Goldemberg, ex-secretário do Meio Ambiente e de Ciência e Tecnologia no governo federal, elogia a atuação do Brasil na Eco-92 por conduzir as negociações sobre quem financiaria as medidas previstas nas Convenções do Clima e da Biodiversidade, o acordo aprovado na Eco-92.
Alguns anos depois, diz Goldemberg, o Brasil voltou a ter papel decisivo na inclusão do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Protocolo de Kyoto, aberto para assinaturas em 1997 e que prevê a redução nas emissões globais dos gases causadores do efeito estufa.
O MDL permite que países adeptos do protocolo adquiram créditos pela redução em emissões de carbono ocorrida em países subdesenvolvidos.
No entanto, o físico diz que o Brasil abriu mão de liderar as negociações atuais.
"De modo geral, o Brasil se associou com o G-77 (grupo com 77 países emergentes) e a China e não tem sido entusiasta de ideias novas para reorientar desenvolvimento para economia sustentável."
Goldemberg afirma ainda que políticas recentes adotadas pelo governo, como a construção da hidrelétrica de Belo Monte, indicam que o país não está disposto a liderar discussões sobre a preservação ambiental.
Ele menciona ainda a "euforia com o pré-sal" e os recentes estímulos fiscais ao setor automobilístico, que, ao contrário dos concedidos pelos Estados Unidos à indústria automotiva americana, não condicionam os benefícios a melhorias em eficiência energética.
"Todas as medidas estão na contramão do que se esperaria."
Candotti, da SBPC, critica a prioridade destinada pelo governo ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que prevê investimentos bilionários em hidrelétricas, portos, ferrovias e outras grandes obras.
"Isso obviamente não foi planejado com olhar atento ao potencial do patrimônio genético e ambiental das florestas."
Mesmo assim, ele enaltece o papel que o Brasil tem exercido nos foros globais ao defender o apoio às nações mais pobres, para que reduzam as injustiças sociais e eliminem a fome.
"Só espero que o Brasil não caia na armadilha de dizer que alimentar a todos implica poluir ou desmatar mais."

terça-feira, 12 de junho de 2012

A deterioração da crise na Síria levou a ONU a dizer nesta terça-feira que o país está em um estado de guerra civil e que o governo sírio já perdeu o controle de grandes áreas em algumas cidades para os rebeldes.
"O que está acontecendo claramente é que o governo da Síria perdeu algumas grandes áreas de território, várias cidades para a oposição, e quer retomar o controle", disse o subsecretário-geral de operações de paz da ONU, Hervé Ladsous.
Está é a primeira vez que a ONU manifesta formalmente esse tipo de opinião sobre a situação na Síria.
Os comentários foram feitos no mesmo dia em que monitores enviados pelas Nações Unidas à Síria foram atacados ao tentar chegar à cidade de Haffa, sitiada por tropas do governo.
Segundo Ladsous, o ataque foi deliberado. A ONU diz que, após uma tentativa frustrada de chegar à cidade na segunda-feira, nesta terça-feira os monitores receberam permissão das forças do governo para passar pelo último posto de controle, na entrada da cidade.
No entanto, segundo a ONU, os monitores teriam avaliado a situação como pouco segura e desistido. Quando deixavam a entrada da cidade, foram atacados com pedras e barras de metal jogadas contra eles por uma "multidão enfurecida". Logo em seguida, homens armados não identificados abriram fogo. Nenhum monitor ficou ferido.

Violência

Segundo a correspondente da BBC na sede da ONU, em Nova York, Barbara Plett, diplomatas nas Nações Unidas têm falado nesta semana não apenas na intensificação das operações militares do governo na Síria, incluindo ataques com helicópteros, mas também em um dramático aumento em ataques urbanos mais sofisticados por parte da oposição.
A Cruz Vermelha Internacional – única agência de ajuda internacional ainda em atuação na Síria – diz que o aumento da violência e a deterioração da situação no país têm tornado impossível responder às necessidades humanitárias.
Desde o fim de maio, ativistas de oposição denunciaram pelo menos dois "massacres": em Houla, onde 108 pessoas teriam sido mortas por forças leais ao governo, e na aldeia de Qubair, onde 78 morreram. O governo sírio nega as acusações e diz que as mortes foram obra de "gangues de terroristas armados".
A ONU e os Estados Unidos também vêm alertando sobre um "alarmante aumento" na violência em Haffa. Na segunda-feira, os Estados Unidos disseram temer que o governo sírio estivesse preparando um novo massacre na cidade. Em resposta, Damasco acusou Washington de incitar massacres e terrorismo.

Rússia

Nesta terça-feira, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, voltou a manifestar preocupação com o fornecimento de armas à Síria pela Rússia.
Hillary disse ter informações de que um carregamento de helicópteros de ataque estava a caminho da Síria, o que, segundo ela, iria "agravar o conflito de forma dramática".
A Rússia afirma que seus carregamentos de armas enviados à Síria não estão relacionados ao conflito no país.
A polêmica causada por visitas de jogadores de seleções europeias ao campo de concentração de Auschwitz chama a atenção para um fenômeno recente na indústria do turismo mundial: a procura cada vez maior por locais ligados a assassinatos em massa, o chamado "turismo de genocídio".
Jogadores da Holanda, Itália, Alemanha e Inglaterra, seleções que participam a Eurocopa, realizada na Polônia e na Ucrânia, estiveram no local do antigo campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, que hoje é um dos mais famosos memoriais às vítimas do Holocausto.
Essas visitas dividiram opiniões. Na Inglaterra, o jornal Daily Mirror saudou a "mensagem poderosa" que ela envia em um momento em que o "futebol está enfrentando novas e graves preocupações sobre o racismo entre jogadores e torcedores".
Já em outro jornal, o Daily Mail, a visita dos jogadores ingleses foi vista como uma "jogada de relações públicas de mau gosto".
Seja como for, o fato é que nos últimos anos memoriais e museus que marcam os locais de assassinatos em massa em todo o mundo têm recebido um número cada vez maior de visitantes.
Só no ano passado, um recorde de 1,4 milhões de pessoas cruzaram o famoso portão com os dizeres "Arbeit Macht Frei" (O trabalho liberta) de Auschwitz. Em outras partes do globo, memoriais do Holocausto, de massacres e genocídios também estão vendo os seus números de visitantes dispararem.
Bósnia, Camboja e Ruanda estão entre os destinos mais procurados do ficou conhecido como "turismo de genocídio".

Ruanda

O casal americano Ben e Nicole Lusher, por exemplo, decidiu embarcar em uma viagem de 5 meses para visitar memoriais em diversos cantos do globo - partindo de Yad Vashem, em Jerusalém, o memorial oficial do Holocausto em Israel.
Ben diz que o lugar que mais os emocionou foi o memorial do genocídio de Ruanda, com vista para Kigali. "Foi uma experiência nova para nós estar em um lugar onde o genocídio ocorreu há tão pouco tempo", diz ele.
Tanto Ben quanto Nicole tinham apenas 10 anos em 1994, quando entre 800 mil e 1 milhão de tutsis e hutus moderados foram mortos.
Em geral, os visitantes estrangeiros do memorial de Kigali são turistas que viajaram para Ruanda para fazer turismo de natureza, apreciando a vida selvagem e montanhas do país. Mas mais de 40.000 estrangeiros passaram pelo memorial em 2011. Entre os visitantes também estão filhos e familiares das vítimas.
A canadense Laura Maclean, que foi a Ruanda para fazer montanhismo, explica que decidiu visitar o memorial em suas férias porque pensou que essa seria uma forma de "mostrar respeito" às vítimas do genocídio.
Segundo o guia de turismo George Mavroudis, que freta aviões para levar americanos para ver gorilas em Ruanda, a maioria de seus clientes pede para visitar o memorial.
De acordo com Mavroudis, que foi ao memorial de Kigali mais de 20 vezes, os turistas acreditam que a visita é importante para entender o país no qual eles estão passando férias.

Caveiras

O memorial do genocídio não é o único ponto turístico que relembra esse episódio sombrio da história de Ruanda.
O filme de Hollywood Hotel Ruanda é baseado na história do gerente do hotel cinco estrelas Des Milles Collines, que abrigou tutsis e hutus moderados para evitar que eles fossem massacrados.
Hoje, o atual gerente desse hotel, Marcel Brekelmans, diz que turistas aparecem todos os dias para tirar fotos na entrada do estabelecimento.
Para ele, não há que escapar do passado do país. "Ruanda não é apenas um lugar com gorilas e os belos lagos. Alguma coisa aconteceu aqui", diz Brekelmans, que cresceu perto de um dos maiores cemitérios da Segunda Guerra Mundial, na Holanda. "De tempos em tempos é preciso parar e refletir sobre isso".
Mas as formas usada pelos memoriais para lembrar as vítimas dos massacres frequentemente despertam polêmicas.
O principal memorial do genocídio em Kigali tem cabines cheias de caveiras alinhadas. Outros compartimentos exibem pilhas e pilhas de ossos.
No Camboja, memoriais aos mortos pelo regime do Khmer Vermelho têm crânios dispostos em uma pirâmide.
Para alguns, exibir restos humanos é uma forma de desrespeito à dignidade dos falecidos.
James Smith, fundador do memorial de Ruanda e do memorial do Holocausto na Grã-Bretanha, diz que o respeito às vítimas foi uma das suas preocupações quando criou o memorial. Mas ele decidiu manter a exposição dos crânios recém-desenterrados de valas comuns como forma de evitar qualquer tipo de negação sobre o que ocorreu.

Motivações

Por que cada vez mais turistas visitam esses memoriais?
A psicóloga Sheila Keegan, especialista em tendências culturais, diz que hoje os turistas têm expectativas variadas sobre suas viagens.
Enquanto muitos ainda querem sentar na praia e relaxar, outros também querem ampliar seus horizontes.
"As pessoas querem ser desafiadas. Pode ter um elemento de voyeurismo nisso, mas as pessoas querem sentir grandes emoções que elas não costumam experimentar no dia a dia. Elas querem fazer essa pergunta relacionada à própria natureza do ser humano: Como pudemos fazer isso?"
Keegan diz que visitas a memoriais de genocídios também dão aos turistas algo para contar e debater quando voltam para casa - mas faz uma ressalva, lembrando uma experiência pessoal.
A psicóloga diz que não pensou muito quando decidiu visitar os campos de extermínio do Camboja com a filha de oito anos quando estava passando férias no país. Hoje, lamenta a decisão.
"Não esperava que a visita fosse tão chocante", afirma. "Estávamos em meados dos anos 90, e a guerra civil terminara havia pouco tempo. Ainda havia sangue no chão."
A exatos dois anos do início da Copa do Mundo, o Brasil ainda enfrenta forte desconfiança sobre se conseguirá realizar a tempo todas as obras prometidas para o evento.
Apesar das garantias dos organizadores do Mundial de que os estádios ficarão prontos até 2014, o atraso no cronograma de algumas obras tem causado contradições no discurso do governo federal.
Em entrevista à BBC Brasil, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, afirmou que, por enquanto, o governo considera que todas as obras previstas serão entregues dentro dos prazos estabelecidos.
"Caso isso não seja possível, encontraremos uma solução", disse o ministro. "Algumas das obras não foram projetadas especificamente para a Copa do Mundo; elas fazem parte do plano de investimento em infraestrutura do país."
"Mas não trabalhamos, por ora, com a hipótese de não entregar essas obras a tempo", acrescentou.
Já o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, admitiu há duas semanas que o governo trabalha com a possibilidade de retirar da matriz de responsabilidade da Copa algumas das obras que não teriam condições de ser entregues a tempo do início do Mundial.
De acordo com Ribeiro, pelo menos 15 das 22 obras de mobilidade urbana em cinco das seis cidades-sede da Copa das Confederações de 2013 não ficarão prontas para o evento. A outra cidade, Salvador, não tem obras de mobilidade urbana previstas na matriz de responsabilidade.
"O maior desafio continua sendo os aeroportos e a infraestrutura de transporte urbano, uma vez que muito pouco foi feito até agora", afirmou à BBC Brasil Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral.

Pronto para decolar?

Um levantamento recente feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU) indica que, até março deste ano, apenas 4% dos 7,6 bilhões do financiamento da Caixa Econômica Federal para obras de infraestrutura de transporte haviam sido usados. Uma das principais preocupações é com a situação dos aeroportos.
Em 2011, mais de 179 milhões de passageiros viajaram pelos 67 aeroportos controlados pela Infraero, 108 milhões a mais do que em 2003.
Aeroporto de Guarulhos | Foto: Wiki Commons
Para especialistas, obras no aeroporto de Guarulhos não devem ficar prontas até 2014.
Com o aumento da demanda, longas filas e atrasos têm se tornado cada vez mais frequentes. No aeroporto internacional de São Paulo, uma fila de imigração pode durar até duas horas.
Para Carlos Campos, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), muitas das benfeitorias anunciadas para os aeroportos não estarão prontas a tempo do Mundial.
"Dos 11 aeroportos das cidades-sede com obras previstas nos terminais de passageiros, oito ainda estão na fase inicial de projetos, ou seja, apresentam condições reduzidas de conclusão", disse Campos à BBC Brasil.
"Isso significa que o governo terá de construir módulos temporários, mais conhecidos como 'puxadinhos' para atender à demanda extra", acrescentou o economista.

Balanço

Segundo o último balanço divulgado pelo governo federal, apenas 5% de todas as obras dos estádios, aeroportos, portos e infraestrutura urbana já foram "concluídas", enquanto 55% estão "em andamento". O restante (40%) ainda permanece em fase de "licitação" ou "elaboração de projetos".
Apesar dos ritmo lento das obras, o governo assegura que concluirá pelo menos 85% dos 101 empreendimentos, que, juntos, somam R$ 27 bilhões em investimentos, até o fim de 2013, a tempo da Copa das Confederações.
Para Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, os recentes escândalos de corrupção também têm sua parcela de culpa no atraso do cronograma de obras para a Copa. A Delta Construções, uma das principais empresas do setor no Brasil e corresponsável pela reforma do Maracanã, entrou com pedido de recuperação judicial após se ver envolvida em uma operação da Polícia Federal.
"Nós acabaremos pagando um preço maior pela Copa do Mundo, uma vez que o governo deverá gastar mais e de maneira pouco eficiente para cumprir com os prazos determinados no documento oficial", afirmou Resende. "Mas ainda tenho dúvidas se esse custo astronômico valerá a pena no fim das contas."

Atritos com a Fifa

"Nós acabaremos pagando um preço maior pela Copa do Mundo, uma vez que o governo deverá gastar mais e de maneira pouco eficiente para cumprir com os prazos determinados no documento oficial."
Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral.
Além das dúvidas sobre importantes obras de infraestrutura, o governo federal também tem tido dificuldades para aparar as arestas de seu relacionamento com a Fifa.
Em sua última visita ao Brasil, o secretário-geral da Fifa, Jerôme Valcke, evitou repetir as críticas que fez ao país por causa dos atrasos nos preparativos para a Copa e sinalizou que a prioridade são os estádios.
"O que realmente precisamos são os estádios", afirmou Valcke, na ocasião. "Não podemos achar que um país vai mudar completamente em cinco, seis anos", acrescentou.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Embora ainda seja visto de forma positiva, o pacote de ajuda no valor de 100 bilhões de euros obtido pela Espanha perdeu a força da reação inicial de otimismo nos mercados, que voltaram a aumentar os juros dos títulos do país e deram sinais de que encaram o empréstimo como uma medida de curto prazo.
O governo espanhol insiste em chamar os recursos aprovados no fim de semana de "empréstimo", embora a Alemanha e a Comissão Europeia tenham reiterado que manterão monitoramento rígido das exigências europeias em troca do pacote de ajuda financeira.
As principais bolsas de valores tinham aberto seus pregões em alta na manhã desta segunda-feira, impulsionadas pelas notícias do fim de semana, mas os prognósticos de continuada recessão na Espanha e reduções de notas de crédito de bancos do país voltaram a derrubar os mercados.
A agência de classificação de risco Fitch diminuiu sua avaliação de crédito do BBVA e do Santander, os dois maiores bancos da Espanha, citando como justificativa a redução da nota do país na semana passada e as estimativas negativas de crescimento.
Em particular a Fitch citou a previsão de que o país "continuará em recessão até o fim deste ano e 2013, ao invés do cenário que se esperava anteriormente, de uma leve recuperação em 2013, o que afeta diretamente o volume das atividades bancárias na Espanha".
Em reação, os juros dos títulos do governo espanhol subiram para 6,5% e da Itália para 6,032%, demonstrando a desconfiança dos investidores.
Em Nova York, o índice Dow Jones abriu em alta de 0,7% e até a metade da manhã já estava negativo. Em Londres, o FTSE 100 começou o dia em forte alta, mas fechou com ligeira queda.

Curto prazo

Em sua segunda recessão em três anos, a Espanha deve ter uma redução de sua atividade econômica em até 1,7% neste ano e, quanto mais a crise durar, mais difícil será o saneamento de seus bancos e das finanças públicas do país, alertam analistas e investidores, para quem a ajuda de 100 bilhões de euros soa cada vez mais como um "reparo de curto prazo".
"O anúncio espanhol não é uma solução para os problemas constantes da zona do euro, mas sim um comunicado de intenção", diz Richard Hunter, da corretora Hargreaves Lansdown. "Um tempo muito necessário foi obtido agora pela Espanha, o que deve permitir ao menos um suspiro de alívio temporário aos mercados."
Para Matthew Price, correspondente da BBC em Bruxelas, a preocupação com a Espanha cresceu progressivamente nos mercados nesta segunda-feira. "O medo foi aumentado após a Itália, outra grande nação da zona do euro que enfrenta dificuldades, ter anunciado que sua economia continua em contração", afirmou.
"Não importa o que os líderes da Espanha digam, este é um programa de ajuda financeira. Madri se tornará a quarta capital da zona do euro a ser visitada pelos 'homens de preto', como alguns os chamam: a troika, ou seja, os membros da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional. Eles vão determinar as condições e exigências do acordo", acrescenta o correspondente.
A diferença entre a Espanha, Portugal, Irlanda e Grécia, no entanto, é que Madri terá regras e condições a serem cumpridas somente pelos bancos, alvo da ajuda financeira. Já os outros três países tiveram que implementar mudanças macroeconômicas e políticas de austeridade.
"O que está claro é que o quarto pacote de ajuda da zona do euro ajudará a sanar os bancos da Espanha a curto prazo, e isso acalmou os nervos. Mas sem a apresentação rápida de soluções de longo prazo, o euro ainda está em risco", diz Price.
Foi a ilha que abrigou o primeiro farol da costa oeste americana, construído em meados do século 19 para guiar barcos que passavam pelo Pacífico. Foi um forte com fins defensivos e com centenas de canhões prontos para proteger a Califórnia contra qualquer ataque marítimo. E foi também uma reserva natural de aves marinhas, das quais herdou o nome.
Mas a fama de Alcatraz se firmou nos anos em que esse rochedo em frente à baía de San Francisco, no norte da Califórnia, abrigou uma prisão federal de segurança máxima e serviu de lar forçado a alguns dos gângsteres mais temidos dos Estados Unidos.
Entre 1934 e 1963, ''A Rocha'', a alcunha que Alcatraz ganhou, foi a prisão modelo em que eram detidos criminosos considerados demasiadamente perigosos para as prisões do continente.
Alcatraz viveu a sua fuga mais célebre 50 anos atrás, em parte porque nunca mais se soube o paradeiro dos três detentos que escaparam. E também porque, depois disso, o governo americano ordenou o fechamento da penitenciária. Mas a lenda construída em torno do local seguiu se alimentando de relatos orais e de filmes de Hollywood.
Há cinco pontos-chave para entender as razões pelas quais a prisão se tornou um centro de peregrinação para milhões de turistas.

Uma prisão modelo

Localizada em uma ilhota árida e rochosa no Pacífico Norte, a primeira fortificação de Alcatraz for construída por volta de 1850 e utilizada como uma prisão militar. Autoridades locais avaliaram que o presídio fornecia segurança suficiente para frustrar qualquer tentativa de fuga. O argumento deles é de que seria impossível sobreviver na costa por causa das fortes correntes ou das baixas temperaturas das águas.
Em 1912, ali foi erguido o, à época, maior edifício de concreto armado em todo o mundo. Mas foi o ano de 1933 que selou a fama de Alcatraz como uma prisão diferente. Ela se converteu na ''prisão das prisões'', como a chamou a agência americana de prisões. O que significava isso na prática? Que ela passaria a receber a população carcerária considerada demasiadamente indisciplinada para outros centros de detenção nos Estados Unidos.
Ela também serviu como modelo para o sistema de prisão chamado de 1 x 3, com um guarda designado para cada três detentos. Esse padrão logo passaria ser empregado em outras prisões federais. O primeiro guarda da prisão foi James Johnston, que considerava a penitenciária como um espaço de disciplina extrema, mais que um espaço de reabilitação e reinserção social dos detidos.
Sob a autoridade de Johnston, cada detido ganhou uma cela individual. A medida não se tratou de um luxo. O confinamento solitário era uma forma de evitar complôs e tentativas de fuga.
A mais severa regra em vigor, segundo relataram detentos, era ter de manter silêncio extremo. Os presidiários só podiam conversar durante os recreios dos finais de semana. E os que demonstravam uma conduta considerada inapropriada eram enviados ao chamado ''buraco'', um espaço subterrâneo em que os punidos chegavam a ficar confinados por semanas inteiras.

Detentos famosos

Al Capone | Foto: AP
O mafioso Al Capone foi um dos presos mais famosos de Alcatraz; sífilis forçou transferência
De acordo com agência americana de prisões, a população carcerária de Alcatraz se manteve sempre abaixo da capacidade máxima do recinto. Em média, ela abrigou entre 260 e 275 prisioneiros, representando apenas 1% do total de presos em cárceres federais. Mas foram os personagens atrás das grades que ajudaram a consolidar a lenda de Alcatraz, sobretudo figuras de destaque do crime organizado na época da Grande Depressão no país.
O mais famoso foi sem dúvida o mafioso Al Capone, líder de uma organização contrabandista com base em Chicago. Ele foi enviado ao presídio porque, segundo as autoridades americanas, sua reclusão anterior, em Atlanta, não o havia impedido de continuar comandando a máfia.
O mafioso ficou em Alcatraz por pouco mais de quatro anos, até ser diagnosticado com sífilis e transferido para outra prisão.
Outro detento que ficou conhecido é Alvin Karpowicz, apelidado como "Creepy Karpis", que liderou o ranking dos "mais procurados" do FBI nos anos 1930 e tornou-se o preso com a mais longa estadia na ilha: 25 anos e um mês.
Também passaram pelo local o gângster George "Machine Gun" Kelly Barnes e Rafael Cancel Miranda, membro do Partido Nacionalista de Puerto Rico e responsável por um ataque armado contra o Congresso americano nos anos 1950.

Fugas frustradas

Cela de Alcatraz | Foto: BBC
Detentos tinham celas individuais no presídio de Alcatraz, na Califórnia
Nem os mais sofisticados mecanismos de segurança da época foram suficientes para impedir que alguns detentos tentassem fugir. A administração do presídio contabilizou 14 tentativas de fuga envolvendo 36 pessoas durante mais de 30 anos. Destes, 23 foram recapturados, seis morreram baleados durante a fuga e outros dois afogados.
Cinco deles, no entanto, jamais foram reencontrados e passaram a integrar uma lista de "desaparecidos".
A primeira tentativa de fuga ocorreu ainda em 1936, só dois anos após a inauguração da penitenciária. Jow Bowers escalou o muro de segurança mas acabou sendo baleado. Em 1945, John Giles chegou a sequestrar um barco militar e chegar ao continente, mas foi detido novamente.
Os últimos a tentarem fugir foram Frank Morris, Clarence Anglin e Jogn Anglin, em 1962, e John Scott e Darl Parker, no mesmo ano. A prisão foi desativada pouco depois.

A Alcatraz de Hollywood

O filme A Rocha, de 1996, trouxe Nicholas Cage e Sean Connery como astros principais e mais uma vez destacou a prisão cuja fama e imagem foram tradicionalmente alimentadas por Hollywood ao longo do século 20.
Historiadores e documentaristas, no entanto, dizem que o retrato hollywoodiano da ilha nem sempre foi fiel à realidade.
"Alcatraz não foi a ‘prisão maldita’ dos Estados Unidos, como muitos filmes e livros a caracterizaram. Na verdade muitos presidiários consideravam que as condições de vida, como as celas individuais, eram superiores às de outras prisões federais no país", diz um porta-voz da agência americana de penitenciárias.
Outro filme famoso sobre a ilha é Fuga de Alcatraz, de 1979, protagonizado por Clint Eastwood e tendo como foco a última tentativa de escape do local, de Frank Morris e os irmãos Anglin.
Neste ano foi lançada também uma série de TV de nome Alcatraz, mas logo após sua primeira temporada acabou sendo cancelada.

Indígenas

Visão aérea de Alcatraz | Foto: Divulgação
Prisão de Alcatraz foi tema de muitos filmes de Hollywood, entre eles "A Rocha", de 1996
Além das tentativas de fuga, outro fator contribuiu para o fechamento do presídio de segurança máxima: seus altos custos de manutenção.
Em 1963 o Departamento de Justiça americano avaliou que era necessário um investimento de US$ 5 milhões (cerca de R$ 10 mihões) para reparar as estruturas danificadas pelo salitre. Além disso, cada preso custava R$ 10 mil por dia, valor acima da média para outros presídios do país.
Após seu fechamento oficial como presídio, no entanto, o local foi tomado por indígenas da organização "Aborígenes de todas as tribos". O objetivo era criar uma escola e um centro cultural na ilha que, segundo eles, tinha sido entregue pelo governo a chefes tribais no século 19.
O projeto encontrou muitas dificuldades e não teve continuidade.
Atualmente a ilha de Alcatraz é um dos pontos mais visitados de San Francisco, com cerca de 1,3 milhão de turistas por ano, e serve também de ponto de partida para uma cmpetição anual de triatlo, "Fuga de Alcatraz", em que centenas de atletas provam que, com treinamento e equipamento apropriados, é possível sair da ilha e chegar são e salvo à terra firme.
A morte de 108 pessoas, incluindo 49 crianças e 34 mulheres, na região de Houla, ao norte de Homs, na Síria, chocou a comunidade internacional pela brutalidade.
Tão logo surgiram as primeiras testemunhas, que conseguiram sobreviver ao massacre, o nome Shabiha passou a ser mencionado pelos ativistas de oposição.
Em árabe clássico, a palavra Shabh significa “fantasma” , mas na Síria moderna é usada para descrever “assassinos e vândalos”, conhecidos como a Shabiha – uma milícia pró-governo, formada em sua maioria por alauítas (minoria étnica síria que domina a política local). Mas sunitas e outros grupos também fazem parte do grupo.
A palavra provoca medo em Ahmed, de 27 anos, um sírio de Deir Al-Zor, no leste da Síria, que fugiu para o Líbano há dois meses, com medo de ser mais uma vítima da milícia pró-governo.
“Tive dois amigos que foram levados há três meses e não foram mais vistos desde então. Eles (shabiha) intensificaram suas ações. Não há lei para eles. Sua lei é o medo”, disse à BBC Brasil.
“Certa noite, estava na casa do meu irmão, com sua esposa e dois filhos, quando ouvimos gritos e vimos pela janela um grupo de oito homens armados com bastões, um deles com uma pistola. Vi quando arrastaram uma moça e um rapaz, os colocaram em um veículo. A moça voltou três dias depois, com marcas de tortura, o rapaz não foi mais visto”, contou Ahmed, que não terá o nome completo revelado por questão de segurança.
Segundo as Nações Unidas, em Houla, ao contrário de outras mortes por bombardeios de artilharia ou tanques, a maioria das pessoas foi morta a tiros em suas casas, facadas e até espancamento. Segundo uma investigação da ONU, várias vítimas tiveram suas gargantas cortadas e algumas crianças até tiveram seus crânios abertos.
O conflito na Síria, que iniciou com protestos populares antigoverno em março de 2011, já deixou mais de 10 mil mortos. A oposição e ativistas exigem a renúncia do presidente Bashar al-Assad.
Rebeldes do Exército Livre da Síria, formado por militantes e soldados desertores do Exército, e tropas leais ao governo se enfrentam em combates que castigam cidades pelo país. Assad declarou que o massacre de Houla, segundo ele, foi obra de criminosos.

Medo e intimidações

Segundo relatos, os membros da Shabiha usariam uniformes pretos e andariam armados, lutando inclusive ao lado de tropas governamentais. Mas testemunhas disseram à BBC Brasil que antes e depois do início do conflito na Síria os milicianos também usaram trajes civis, além das fardas militares.
“Qualquer pessoa pode ser da Shabiha, um amigo, um parente. Começam como informantes e depois passam a ter funções mais específicas. Geralmente, usam roupas civis, mas alguns até usam uniformes militares”, disse Mohamed, 33, natural de Homs e que trabalha como zelador em Beirute e também terá o sobrenome preservado.
Segundo ele, membros do Shabiha usam de sua posição para ter vantagens pessoais e cometer crimes como chantagem ou venda de "proteção".
“Muitas vezes eles ameaçam pessoas com acusações de serem antigoverno para que paguem. Quem não paga é acusado de realizar atividades ilegais e levado para a prisão, o último lugar em que um sírio gostaria de estar”, salientou Mohamed.
O amigo de Mohamed, Naher, de 28 anos, afirmou que a Shabiha aterroriza a população. “As pessoas têm mais medo da milícia do que de qualquer polícia secreta ou força de segurança do país. Isso se dá porque eles (Shabiha) não têm limites, não agem de acordo com as leis e não medem esforços para intimidar e aterrorizar as cidades onde estão presentes", afirmou Naher, de Homs, que também pediu para não ter o sobrenome publicado.

Gangues

Supostos milicianos da Shabiha
Imagem amadora mostra supostos milicianos da Shabiha em um bloqueio em Damasco
Embora a lealdade da milícia esteja associada com o governo de Assad, alguns estudiosos da política síria acham que não há uma relação muito clara. A Shabiha teria surgido nos anos 1970 na cidade costeira de Latakia, reduto alauíta, como uma forma de sindicato do crime.
Sírios falam que seus membros são escolhidos entre ex-presidiários, assassinos e rapazes conhecidos como arruaceiros nas escolas. Muitos, segundo eles, usam drogas e anabolizantes para ficarem fortes e com aparência mais intimidadora.
“Academias de musculação são lugares comumente frequentados por seus membros. A essência do Shabiha é o medo e a intimidação, seja pela força física ou psicológica”, disse o ativista sírio Daher, 38, natural de Damasco.
Na região ao norte e ao longo da costa síria, a Shabiha é associada com o crime organizado e contrabando de armas e drogas. Muitos líderes da Shabiha são membros da família do presidente sírio, incluindo seus primos Fawwaz e Munzir.
“Não está claro se o próprio presidente Assad tem um controle total sobre a Shabiha. Quando chegou ao poder, no ano 2000, ele até tentou coibir os excessos do grupo sobre a população. Mas com o levante popular, o governo parece que deixou a milícia cometer crimes e usar de força para reprimir protestos”, explicou Daher.
Ziad, 35, morador da cidade de Daraa, um dos berços do levante antigoverno, sentiu de perto o poder da Shabiha. No final do ano passado, ele viajava de ônibus até Damasco quando foi parado em uma barreira da milícia em uma estrada.
“Homens entraram e verificaram nossas identidades. Depois ordenaram que saíssemos e nos revistaram. Eu e outros fomos levados para aquele que parecia ser o líder, dentro de uma barraca improvisada. E após algumas perguntas, falaram que deveríamos pagar para sermos liberados”, afirmou.
Ziad disse à BBC Brasil que pagou o equivalente a US$ 50 (cerca de R$ 100) e que alguns soldados do Exército sírio estavam na estrada junto à barreira, mas não fizeram nada. Quando prosseguiram viagem, o ônibus foi parado em outra barreira da Shabiha e exigiram outro pagamento para que ele fosse liberado.
“O homem que chefiava a barreira falou que recebeu uma ligação da barreira anterior dizendo que estávamos com dinheiro. Ele exigiu sua parte também. Alguns dos passageiros pagaram, eu recusei. Fui levado para uma cela em uma cidade ali perto e espancado”, afirmou.
Solto no dia seguinte, Ziad decidiu que fugiria para o Líbano. “Levaram o resto do dinheiro que eu tinha. Liguei para um parente me buscar. Eu me senti humilhado e jurei que não voltaria a passar por isso de novo”, disse.

Extremistas

O governo culpou "terroristas" e gangues armadas pelas mortes ocorridas em Houla. Mas ativistas opositores do regime e rebeldes falam em outro método usado pelo governo de Assad.
“A maneira de justificar as mortes de civis, sem comprometer as tropas regulares, é usar a Shabiha, civis que podem cometer crimes. Assim o governo coloca a culpa em gangues armadas e terroristas”, afirmou o ativista, Maher, 29, residente de Aleppo.
Segundo ele, vários policiais e oficiais do Exército que se opuseram à matança de civis foram mortos pela Shabiha e a culpa foi colocada em rebeldes e "terroristas".
“O Exército bombardeia o local e depois membros da Shabiha entram para fazer a limpeza, punir aqueles que ousaram se opor ao presidente Bashar al-Assad”, disse Maher.
O governo sírio negou que estivesse usando milícias para lidar com manifestações e cometer crimes e atrocidades. Autoridades sírias continuam insistindo que terroristas e gangues armadas são responsáveis pela matança de civis, membros das forças de segurança, atentados à bomba e destruição de propriedades.
“As autoridades sírias não estão mentindo. De fato são gangues armadas e terroristas, mas são aquelas pró-governo como a Shabiha”, salientou Maher.

domingo, 10 de junho de 2012

O candidato de centro-direita Henrique Capriles Radonski, desafiante do presidente venezuelano Hugo Chávez nas eleições de outubro, deu o pontapé oficial à sua campanha convertido no principal "produto" da oposição anti-chavista nos últimos anos.
Capriles, de 39 anos, oficializou sua candidatura no domingo diante de uma multidão. Ele reiterou sua principal proposta: unir a Venezuela, que, segundo ele, foi dividida por Chávez.
"Temos um governo que nos dividiu. Capriles vai unir a Venezuela e os venezuelanos. Também serei presidente dos vermelhos (cor que identifica o chavismo)", afirmou minutos antes de formalizar a candidatura presidencial ao Conselho Nacional Eleitoral.
Em discurso, o candidato da coalizão opositora repetiu slogans da campanha e não falou de seu plano de governo.
Ele foi escolhido com mais de 60% dos votos em uma inédita eleição primária realizada em fevereiro pela coalizão opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática) - na qual participaram mais de 3 milhões de eleitores. Mas, viu sua vitória ser ofuscada pelo anúncio da reincidência do câncer do presidente e a descoberta de um novo tumor.
"Pretendo ser um presidente que fale menos, que não invada a vida dos venezuelanos todos os dias, que não acredite ser imprescindível", disse Capriles durante a campanha.
Mas, com a agenda política e midiática centralizada na saúde de Chávez, Capriles tem encontrado dificuldades, para converter suas propostas de geração de empregos e de combate à insegurança e à inflação em temas de debate nacional.
Para mostrar juventude e saúde - diferencial que tem utilizado durante a campanha contra Chávez - Capriles caminhou no domingo cerca de 10 quilômetros, do leste ao centro de Caracas, onde está o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) cercado por uma multidão. Em outro ato de campanha, já havia comparado a vitalidade dos dois. "Aquele cavalo (Chávez) está cansado. Este aqui esta cheio de energia".
De acordo com analistas, a candidatura de Capriles Radonski representa o melhor momento da chamada "oposição democrática" desde que Chávez chegou ao poder, há 13 anos.
Muitos opositores afirmam que ainda existe uma ala "golpista" na oposição - cujas ações resultaram no fracassado golpe de Estado de 2002. Esse grupo não se dissolveu por completo, porém detém pouco poder político e de mobilização.
No entanto, enfrentar Chávez não será tarefa fácil. Apesar do desgaste de sua gestão ao longo de 13 anos de governo e de sua ausência da cena pública devido ao tratamento contra o câncer, pesquisas de intenção de voto revelam que o índice de intenção de votos a favor da reeleição do presidente flutua entre 17 e 20 pontos.
Contando hipoteticamente com todos os votos anti-chavistas, a coalizão opositora aposta cavalgar em uma suposta queda do "teto" de eleitores chavistas e atrair os "chavistas lights" com a promessa de realizar uma gestão mais eficaz.
Apoiado por setores políticos empresariais e por meios de comunicação privados, Capriles luta por livrar-se do rótulo de conservador.
Autodenominando-se "progressista" e de "centro-esquerda", Capriles afirma se inspirar no "modelo Lula" e promete dar continuidade aos programas sociais do governo Chávez, principal pilar da área social da chamada revolução bolivariana.
O programa apresentado pela MUD, no entanto, contradiz esse discurso. Entre outros aspectos, a proposta prevê eliminar o fundo de reservas (Fonden) que sustenta os planos sociais do governo, incrementar a participação privada na exploração petrolífera do país, reduzir a participação do Estado em projetos de desenvolvimento e devolver as terras desapropriadas para a reforma agrária aos antigos proprietários.
Na visão de alguns analistas, essas propostas abrem caminho para a restruturação do modelo neoliberal no país.

De porta em porta

Milhares participam de passeata pró-Capriles em Caracas neste domingo
Milhares participaram de passeata pró-Capriles em Caracas neste domingo
Outro elemento que dá ânimo à oposição na disputa contra Chávez é o crescimento de seu próprio núcleo eleitoral, que tem cerca de 5 milhões de eleitores de um universo de 18 milhões de inscritos. Os indecisos ou dos "não-alinhados", considerados como o fiel da balança, são estimados entre 4 a 5 milhões de eleitores.
Para angariar esses votos e fazer frente à "maquinária chavista", Capriles buscou o marqueteiro carioca Renato Pereira, responsável pelas campanhas do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e do prefeito Eduardo Paes.
Capriles deu início à sua campanha pelo interior do país em um percurso "casa por casa". Envolvido na política desde muito jovem, sua carreira foi centralizada em Caracas e no Estado de Miranda, do qual foi governador até quarta-feira passada.
Para se candidatar à Presidência, Capriles teve de deixar o cargo, que ocupava desde 2010.
Em 2004, o político esteve preso durante quatro meses, acusado de promover atos de violência contra a embaixada de Cuba em Caracas, durante o fracassado golpe de Estado contra Chávez, em 2002.
Na ocasião, era prefeito de Baruta, município do leste de Caracas. Cinco anos depois, ele derrotou nas urnas o candidato chavista Diosdado Cabello na disputa do governo de Miranda.
A projeção de Radonski na vida política começou no partido democrata-cristão Copei. Aos 25 anos assumiu o cargo de Presidente da extinta Câmara de Deputados, durante o governo de Rafael Caldera, antecessor de Chávez.
De origem judaica polonesa, sua família representa uma das mais tradicionais e ricas da elite venezuelana e está vinculada ao setor empresarial, incluindo a principal cadeia de cinemas do país, meios de comunicação, indústrias e imobiliárias.
Solteiro, Capriles utiliza esse detalhe como arma para captar o público feminino. Se chegar à Miraflores, prometeu dar à Venezuela uma "primeira-dama".
Eleitores franceses votam neste domingo no primeiro turno das eleições para a Assembleia Nacional, a câmara baixa do Parlamento.
O novo presidente do país, François Hollande, precisa que seu Partido Socialista ganhe o controle da Assembleia Nacional para conseguir aprovar suas novas políticas econômicas que, segundo ele, colocariam a busca do crescimento à frente da austeridade financeira.
A ultradireitista Frente Nacional espera repetir a boa votação na eleição presidencial para ganhar os primeiros assentos na assembleia desde os anos 1980.
Pela primeira vez nesta eleição, 11 membros da Assembleia serão eleitos para representar cidadãos franceses que vivem no exterior.
O segundo turno da votação ocorre no fim do mês.
A Uefa, órgão que dirige o futebol europeu, abriu neste sábado um procedimento disciplinar contra a Federação Russa de Futebol por "conduta imprópria" de seus torcedores durante a partida entre Rússia e República Checa, na sexta-feira, pela primeira rodada do grupo A da Eurocopa.
Quatro seguranças precisaram ser internados para tratamento após serem atacados por torcedores russos no Estádio Municipal de Wroclaw, na Polônia.
Além disso, grupos de torcedores são acusados de gritar afirmações racistas contra o defensor checo Theodor Gebre Selassie, que é negro.
O corpo de controle disciplinar da Uefa analisará o caso na quarta-feira.
Os países da zona do euro ajudarão a Espanha com um empréstimo de até 100 bilhões de euros (cerca de R$ 251,5 bilhões) para a recapitalização do setor bancário do país. Mas o governo do país faz questão de dizer que não se trata de um pacote de resgate, como os que receberam Grécia, Irlanda e Portugal, mas um empréstimo.
Diante da cifra milionária, muitos se perdem na discussão semântica, mas será que importa como a ajuda é chamada?
Após idas e vindas nas últimas semanas, o ministro da Economia da Espanha, Luis de Guindos, confirmou no final da tarde de sábado o que já se comentava há tempos nos bastidores.
A Espanha pediu ajuda financeira para sanear seu sistema bancário. Os países da zona do euro (que têm o euro como moeda comum) aceitam colocar à disposição do governo espanhol uma quantidade de até 100 bilhões de euros, sem impôr condições macroeconômicas nem fiscais à Espanha.
Essa diferença de conceito entre o que ocorreu neste sábado e o que passou anteriormente com Grécia, Irlanda e Portugal é o que faz com que o governo do primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy diga que isso é um empréstimo, ajuda ou apoio financeiro, enquanto a oposição afirma que se trata claramente de um resgate.

Cenário previsto

Uma equipe formada por representantes da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) viajará a Madri para avaliar as necessidades do setor bancário espanhol, segundo confirmou um porta-voz da zona do euro à BBC.
Ainda não se sabe qual é a quantidade exata que a Espanha receberá. Isso será decidido após serem conhecidos os resultados de várias análises especializadas.
As primeiras cifras serão divulgadas no dia 21 de junho, quando serão publicadas as conclusões do relatório das consultorias independentes Roland Berger e Oliver Wyman, contratadas para levantar os dados sobre as necessidades de capitalização do sistema bancário espanhol. Cada uma das consultorias emitirá um relatório.
Ambas as empresas usarão dois cenários para seus cálculos - o primeiro com base na situação "mais provável" e o segundo, uma previsão com um cenário mais "pressionado", em que se assume uma conjuntura econômica pior e uma queda mais significativa dos preços dos ativos imobiliários.
Além disso, quatro empresas auditoras, PwC, Deloitte, Ernst & Young e KPMG, estão avaliando as carteiras de crédito dos bancos espanhóis, não somente as imobiliárias, mas também as de crédito ao consumo, às empresas e às famílias, para avaliar os ajustes necessários.
A previsão é que essas empresas terminem seu trabalho no dia 31 de julho. Esse será o momento em que o governo espanhol terá que decidir sobre o volume de recursos que pedirá à Europa.

Como os bancos de debilitaram

Luis Guindos, ministro da Economia da Espanha
Ministro Luis Guindos admitiu que empréstimo será contabilizado como dívida pública
O dinheiro servirá para dar um impulso às finanças dos bancos espanhóis com mais dificuldades, que sofreram perdas de bilhões de euros com os chamados "créditos podres" resultantes do estouro da bolha imobiliária e à recessão que se seguiu.
Alguns desses bancos pediram emprestadas grandes quantidades de dinheiro aos mercados internacionais para, por sua vez, poder conceder créditos a construtores e compradores de imóveis, uma estratégia que era mais arriscada do que financiar os empréstimos com depósitos de poupanças.
Quando chegou a crise de crédito, o setor financeiro espanhol se viu envolvido no que o FMI descreveu como "uma crise sem precedentes".
Os bancos precisavam se desfazer de cerca de 200 mil propriedades hipotecadas em um momento em que os preços dos imóveis haviam caído, em média, 25%.
O governo já injetou mais de 33 bilhões de euros no sistema bancário para tentar reforçá-lo, segundo o FMI. Além disso, nacionalizou o Bankia, o quarto maior banco do país, que no mês passado solicitou uma ajuda de mais de 18 bilhões de euros.

De onde vem o dinheiro

O governo espanhol vem se esforçando para assegurar que qualquer ajuda externa seja direcionada aos bancos, e não ao governo central.
Como resultado, os empréstimos serão feitos à agência de reestruturação bancária, o chamado Fundo de Reestruturação Ordenada Bancária (FROB), que funciona como agente intermediário do governo. Ainda assim, o crédito será considerado de todas as formas como dívida pública, segundo afirmou o ministro Luis de Guindos.
Em seu comunicado, o grupo de países da zona do euro declarou: "O FROB, que atua como agente do governo espanhol, poderia receber os fundos e repassá-los às instituições financeiras envolvidas. O governo espanhol manterá a total responsabilidade pela ajuda financeira".
O dinheiro virá de dois fundos criados para ajudar os membros da zona do euro que se encontram em dificuldades financeiras: o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), já em funcionamento, e o Mecanismo de Estabilidade Europeu (MEE), que entra em vigor no mês que vem.
O ministro da Economia espanhol não soube afirmar que proporção será coberta por cada um desses fundos, já que alguns parlamentos de países da zona do euro ainda não ratificaram a criação do MEE.
O fato de que o empréstimo será repassado através do FROB faz com que as taxas de juros e os prazos de devolução do dinheiro sejam extremamente favoráveis, segundo o ministro.

Resgate?

Segundo observa o correspondente da BBC em Madri Tom Burridge, a maior parte dos analistas e especialistas qualificariam o anunciado neste sábado como um resgate financeiro.
Burridge reconhece, porém, que é um resgate diferente do que receberam Grécia, Portugal e Irlanda, já que a Espanha não será submetida a condições tão duras e o dinheiro será gerenciado pelo FROB.
Mas, considerando que o FROB é uma instituição pública, a dívida contraída por esse empréstimo acabará contabilizada nas contas do governo espanhol.
As autoridades espanholas recusavam comentar a possibilidade do empréstimo até o último momento. Alguns ministros, inclusive, negaram no próprio sábado que a Espanha fosse pedir ajuda.
"A impressão que temos é que a Espanha é conduzida por uma mão externa para acelerar o processo de pedido de ajuda internacional", conclui Burridge.

sábado, 9 de junho de 2012

Um correspondente da BBC, que acompanha monitores da ONU na Síria, viu nesta sexta-feira evidências de um massacre na aldeia de Qubair, que teria ocorrido dois dias antes.
Paul Danahar encontrou marcas de sangue, restos humanos, prédios destruídos e queimados na aldeia, abandonada, localizada perto da cidade de Hama.
Danahar descreveu "o cheiro de carne queimada no ar" da vila abandonada. Os animais de criação dos moradores também foram mortos.
O correspondente diz que, segundo monitores da ONU, a única dica sobre quem fez o massacre eram as marcas de veículos militares deixadas no chão.
Não está claro o que aconteceu com os corpos, desaparecidos, de dezenas de vítimas relatadas.
A oposição culpou a milícia alawita shabiha, aliada de Bashar al-Assad, pelo massacre em Qubair. O governo acusou "terroristas" de matar civis.
As vítimas parecem ser principalmente muçulmanos sunitas, que constituem a maioria da população.

Guerra

Não há consenso sobre o número de mortos em Qubair. A oposição reconhecida internacionalmente, o grupo Conselho Nacional, fala em 78, mas uma outra organização, o Observatório Sírio para Direitos Humanos, com sede na Grã-Bretanha, afirma que "pelo menos 55" pessoas morreram. A mídia estatal deu uma figura de nove.
Homem carrega criança/AFP
Ocorreram cenas de violência em Damasco nesta sexta-feira
Condenando o massacre de Qubair, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou para o perigo de guerra civil iminente. O enviado especial da ONU à Síria, Kofi Annan, disse que seu plano de paz de seis pontos não está sendo implementado.
Analistas dizem que o principal risco é que a Síria seja vítima do mesmo tipo de violência sectária que ocorreu Líbano por décadas.
A violência continuou nesta sexta-feira por toda a Síria, com relatos de bombardeios em Homs e ataques a bomba contra as forças de segurança em outros lugares. Alguns relatos falam que 40 pessoas morreram neste dia.
A Cruz Vermelha alertou que 1,5 milhão de pessoas precisam de ajuda humanitária.
China e Rússia, aliados da Síria, já vetaram resoluções do Conselho de Segurança da ONU contra o governo de Assad.
A ONU diz que pelo menos 9 mil pessoas morreram desde que protestos pró-democracia começaram em março de 2011. Em abril, o governo da Síria informou que 6.143 cidadãos sírios foram mortos por "grupos terroristas".
A ONU tem 297 observadores desarmados na Síria, para verificar a implementação do plano de Annan.
A Espanha deve receber até 100 bilhões de euros em empréstimos de fundos da eurozona para socorrer seus bancos em dificuldades.
A ajuda foi negociada em uma reunião de emergência dos ministros das finanças da zona do euro após uma conferência realizada neste sábado.
O ministro da economia espanhol Luis de Guindos disse que seu país deve fazer em breve um pedido formal de assistência.
Ele enfatizou que a ajuda deve ser usada para socorrer apenas o sistema financeiro, e não a economia como um todo.
O governo espanhol vinha relutando em pedir um pacote de resgate como o oferecido à Grécia, à Irlanda e a Portugal porque esse tipo de ajuda exige elevação de impostos e cortes de gastos.
Guindos afirmou que os empréstimos devem ser concedidos aos bancos mediantes condições, tais como reestruturações. Porém, "condições-micro econômicas", não devem ser impostas à Espanha. Ou seja, a sociedade não deve ser diretamente afetada.
"Esperamos que como resultado dessas injeções (de capital) famílias e empresas terão bancos mais solventes e capazes de oferecer crédito, o que eles não são capazes de fazer atualmente", disse Guindos.

Fundos

O grupo europeu de ministros das finanças elogiou a decisão da Espanha, a quarta maior economia europeia, de pedir ajuda.
A Espanha fez questão de assegurar que qualquer assistência será enviada diretamente aos seus bancos, e não ao governo central.
Por causa disso, todos os empréstimos serão enviados para o Fundo de Reestruturação Ordenada bancária (FROB), a agência de reestruturação bancária do país. Mas, ainda assim serão considerados uma dívida de de Estado, segundo Guindos.
O Eurogrupo de ministros afirmou considerar que "o Fundo para Reestruturação Ordenada Bancária (FROB), agindo como um agente do governo espanhol pode receber os fundos e canalizá-los para as instituições financeiras adequadas. O governo da Espanha terá total responsabilidade pela assistência financeira".
Não foi decidido de onde virão exatamente os recursos para os empréstimos. Guindos sugeriu que eles sejam retirados de fundos de socorro europeus, como o EFSF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira) e o ESM (Mecanismo Europeu de Estabilidade).
A estrutura militarizada da Polícia Militar é uma herança do século 19, segundo o sociólogo Luís Flávio Sapori, ex-secretário da Defesa Social de Minas Gerais e hoje professor da PUC-MG.
"Desde o final do século 19, as PMs eram efetivamente militares e participavam de revoltas internas, como a Revolução Constitucionalista de 1930", disse.
Segundo ele, na medida em que a República se consolidava com autonomia das províncias e relativa falta de poder da União, os governos regionais organizavam das forças públicas, mais parecidas com exércitos do que com polícias.
Clique Leia mais: PM mata seis vezes mais que Polícia Civil em SP
Essas unidades, segundo Sapori, eram usadas por governadores que disputavam o poder.
De acordo com o sociólogo, essa tendência militarista começou a diminuir a partir dos anos 1960, durante o regime militar, quando o poder era altamente centralizado.
"Na prática, esses exércitos começaram a aprender a ser polícias nos últimos 40 anos", disse.
Porém, de acordo com ele, a cultura militar não é a explicação de abusos de poder.
"As PMs são muito diversas, têm trajetórias distintas. A realidade de São Paulo e do Rio não é a mesma de Minas Gerais ou do Rio Grande do Sul", disse.
"A dimensão de preparo para a guerra foi diminuindo na trajetória recente das PMs do Brasil. O preparo para o confronto com o inimigo perdeu espaço nas polícias brasileiras", disse ele, mencionado também o desenvolvimento do conceito de polícia comunitária.

Violência

Para o advogado Eduardo Baker, da organização de direitos humanos Justiça Global, o fim da Polícia Militar não pode ser visto como a solução da violência ilegal cometida pela polícia.
"O problema é a mentalidade que vê a violência como parte da atuação normal da polícia", disse.
Segundo ele, a noção militarista de enxergar o criminoso como o "inimigo" não é particular à PM. Isso acontece em outras instituições, afetando inclusive parte da mídia.
Para ele, o abuso da violência na polícia só diminuirá quando for efetivamente condenado e punido pelas entidades da sociedade.

Unificação

Para o deputado Chico Lopes (PC do B-CE) a solução para diminuir a letalidade da PM é a unificação das polícias.
A nova instituição civil teria um código de conduta e um curso de formação único e patamares de salários unificados.
Segundo Sapori, a unificação das instituições foi tentada entre 2003 e 2007 em Minas Gerais, período em que ele participou do governo.
Como os níveis salariais já eram semelhantes entre policiais civis e militares, a maior dificuldade foi o choque cultural das instituições.
"O maior problema é a resistência que cada uma tem de se aproximar e ser 'contaminada' pela outra. Principalmente do lado da PM, que via a Polícia Civil como instituição sem disciplina e afetada pela corrupção", disse.
Entre avanços que foram obtidos, segundo ele, estão a integração de alguns cursos de preparação e a adoção de colegiados para o trabalho de corregedoria, elaboração de estudos e planejamento de operações conjuntas.
O corpo minúsculo e extremamente leve do mosquito cumpre papel chave para a sobrevivência do inseto quando voa na chuva, segundo cientistas americanos.
A equipe, do Georgia Institute of Technology, na Georgia, Estados Unidos, filmou colisões entre insetos e gotas de chuva.
O filme mostrou que seus corpos oferecem tão pouca resistência que, em vez de a gota de água parar repentinamente, o mosquito simplesmente 'pega carona' na gota e os dois continuam a cair juntos.
Os pesquisadores descrevem sua investigação na revista científica Proceedings of the National Academy of Science, PNAS.
Além de ajudar a explicar como insetos sobrevivem em ambientes molhados, o estudo pode, no futuro, ajudar pesquisadores a projetar minúsculos robôs voadores que são tão impermeáveis aos elementos quanto os insetos.
"Espero que isso faça as pessoas pensarem sobre a chuva de forma um pouco diferente", disse o líder da equipe, David Hu.
"Se você é pequeno, ela pode ser muito perigosa. Mas parece que esses mosquitos são tão pequenos que estão seguros".

Família bem sucedida

Existem 3.500 espécies reconhecidas na família dos mosquitos
Sua minúscula massa corporal também os ajuda a morder animais e humanos sem que sejam detectados
Ao morder, o inseto injeta saliva que contém um anti-coagulante para evitar que os seus sugadores fiquem entupidos

Tai Chi
Hu quer entender todos os "truques" que insetos minúsculos usam para sobreviver.
Após várias tentativas do que ele descreve como o jogo de dardos mais difícil da história, ele e seus colegas conseguiram atingir mosquitos voadores com gotas de água e filmar o resultado.
Cada gota tinha entre duas e 50 vezes o peso de um mosquito, então o que os cientistas viram os deixou surpresos.
Descrevendo os resultados, Hu citou a arte marcial chinesa Tai Chi.
"Existe a filosofia de que se você não resiste à força do seu oponente, você não vai senti-la", ele explicou.
"É por isso que eles não sentem a força, simplesmente se unem à gota, (os dois) tornam-se um e viajam juntos".
Quando um objeto em movimento se choca contra outro, a interrupção repentina do movimento produz a força destruidora. Por exemplo, quando um carro viajando a 50 km por hora atinge uma parede, a parede e o carro têm de absorver toda a energia carregada pelo carro em movimento, provocando estragos.
O truque, para um mosquito, é que ele provoca pouquíssima ou praticamente nenhuma diminuição na velocidade da gota e absorve quase nada de sua energia.
Para o pequenino mosquito, no entanto, o drama não termina quando ele sobrevive à colisão com a gota.
Ele ainda tem de escapar do casulo de água antes dele se arrebente contra o chão, a mais de 32 km por hora.
Nesse ponto, entra em ação uma outra técnica de sobrevivência do inseto: os pelos que cobrem seu corpo são impermeáveis à água.
Todos os mosquitos estudados pela equipe americana conseguiram se separar da gota de água antes de ela atingir o solo.