quarta-feira, 11 de julho de 2012

A Fifa divulgou nesta quarta-feira um documento que confirma que o ex-presidente da entidade, o brasileiro João Havelange, e o ex-dirigente da CBF, Ricardo Teixeira, receberam uma soma equivalente a milhões de reais em propinas.
De acordo com o documento, entre 1992 e 1997, Teixeira recebeu pelo menos 12,74 milhões de francos suíços (equivalentes a R$ 26 milhões, nos valores de conversão atual) da empresa de marketing esportivo ISL (International Sports and Leisure), que pediu falência em 2001.
O documento mostra que Havelange recebeu 1,5 milhões de francos suíços (R$ 3,1 milhões) em 1997.
Clique Leia aqui o documento oficial da FIFA em inglês
Pagamentos feitos entre 1992 e 2000 e atribuídos a contas relacionadas aos dois totalizam quase 22 milhões de francos suíços (R$ 45 milhões).
A Fifa divulgou os documentos horas depois de a Suprema Corte Suíça ter decidido que a imprensa deveria receber detalhes do caso.
Teixeira e Havelange foram os dois únicos ex-dirigentes da entidade cujas identidades foram reveladas.
Em nota divulgada também nesta quarta-feira, a Fifa expressa "satisfação" com a decisão da Justiça suíça e diz que ela está de acordo com o processo de reformas iniciado pela instituição no ano passado, para torná-la mais transparente.

Demissão

Em março, Teixeira deixou o Comitê Executivo da Fifa e as presidências da CBF e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2014 "em caráter irrevogável".
A gestão de Teixeira na CBF foi marcada por denúncias de irregularidades.
Clique Leia mais sobre as denúncias contra Ricardo Teixeira.
Em 2010, uma reportagem do programa de televisão Panorama, da BBC, revelou que a Fifa impedia a divulgação de um documento que revelaria a identidade de dois dirigentes da entidade forçados a devolver dinheiro de propinas em um acordo para encerrar uma investigação criminal na Suíça, em 2010.
Segundo o programa, um dos dirigentes era Teixeira e o outro, Havelange, informações confirmadas na divulgação desta quarta-feira.
O acordo encerrou uma investigação sobre propinas pagas a altos dirigentes da Fifa na década de 1990 pela ISL.
Até a falência em 2001 a ISL comercializava os direitos de televisão e os anúncios publicitários da Copa do Mundo para anunciantes e patrocinadores.
Em 27 de dezembro de 2011, a Justiça suíça ordenou que a Fifa abrisse em até 30 dias os documentos do caso ISL, o que não ocorreu. Também em 2011, a Polícia Federal brasileira abriu investigação sobre a denúncia.

terça-feira, 10 de julho de 2012

A decisão da Secretaria Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) de não adotar retaliações contra o Paraguai pela deposição do ex-presidente Fernando Lugo, no dia 22 de junho, deixou um diplomata de sorriso no rosto: o representante paraguaio na entidade, Bernardino Hugo Saguier Caballero.
O resultado da missão da OEA ao país joga um balde de água fria na postura dos órgãos sul-americanos, o Mercosul e a Unasul, que suspenderam o Paraguai de seus quadros alegando "ruptura" política no país, sem que um representante de Assunção sequer estivesse presente à reunião onde a medida foi decidida.
Analistas especulam se o isolamento político do Paraguai do Mercosul poderia levar o país a procurar alternativas de integração – inclusive uma maior relação com os Estados Unidos, um dos países por trás da decisão da OEA de não adotar sanções.
Por ora, a avaliação dos analistas é que é difícil ver um futuro para o país longe de esquemas de integração com seus vizinhos. No entanto, em entrevista à BBC Brasil, o embaixador paraguaio disse que a decisão do bloco "feriu" o seu povo e amargou a relação do país com o Brasil.
Durante a sessão da OEA, Hugo Saguier se mostrou particularmente ofendido quando o representante brasileiro no órgão, Breno Dias da Costa, disse que o colega paraguaio estava ali "por generosidade" – indicando que fazia parte de um governo ilegítimo. Quando a OEA não seguiu a decisão do Mercosul, Hugo Saguier sentiu-se vingado.
"Saibam medir as suas consequências, vocês são como um elefante metido dentro de uma loja de cristal: quando se movem, quebram tudo", disse o representante paraguaio à BBC Brasil.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil – O sr. acha que as medidas do Mercosul podem afastar de vez o Paraguai do bloco?
Hugo Saguier – Nós não nos afastamos, eles é que nos afastaram. Nos afastaram sem nos dar o direito sequer de estar presente, violando a letra e o espírito -que é o mais importante- de todos os tratados do bloco.
BBC Brasil – Mas agora o Paraguai tem a opção de tentar se aproximar ou continuar se afastando do Mercosul.
Saguier – Nesse momento, o Paraguai iniciou uma ação nos Tribunais do Mercosul questionando as decisões, já que foram feitas sem a nossa presença. Por outro lado, o presidente Federico Franco manifestou que não iniciará nenhuma medida em seu governo para se separar do Mercosul, já que ele considera que em seu período, que é curto, não pode estar hipotecando uma decisão do futuro presidente. Me parece uma atitude séria e responsável. No entanto, há muitos setores da opinião pública paraguaia e setores políticos que se sentem muito incomodados com o Mercosul hoje em dia.
BBC Brasil – Ou seja, o Mercosul será um grande tema das eleições paraguaias.
Saguier – Sem dúvida nenhuma. Mercosul e Unasul serão temas centrais dentro dos programas internos dos partidos políticos e nas eleições nacionais. Será a primeira vez que temas internacionais serão mais importantes nas eleições que a agenda doméstica.
BBC Brasil – O sr. crê que o Mercosul chegou a um impasse ao fechar a porta com o Paraguai?
Saguier – Acho que sim. Acho que cometeram um erro, não mediram as consequências, e a prova está no profundo debate interno que se produziu no seu país.
BBC Brasil –O Brasil?
Saguier – Sim. Nós mesmos já não sabemos quem no Brasil é a favor ou é contra. O embaixador José Botafogo, que foi ministro da Integração, disse que é contra o procedimento do Mercosul. Eu tenho muitos colegas embaixadores brasileiros de quem recebi palavras de alento. Outros bloquearam o nosso número de telefone.
BBC Brasil – E como o sr. crê que sairemos desse impasse?
Saguier – Eu estou muito preocupado. A relação entre Brasil e Paraguai é um casamento forçado. Quando assinamos o Tratado de Itaipú, em 1973, um chanceler disse que os países haviam finalmente assinado um tratado de paz – cem anos depois da guerra. E assim fomos funcionando. Mas essa atitude prepotente, ilegal e irracional do Mercosul afetou e feriu o povo. O que tem o povo a ver com as decisões dos seus governantes? Saibam medir as suas consequências, vocês são como um elefante metido dentro de uma loja de cristal: quando se movem, quebram tudo.
BBC Brasil – Mas o Brasil desde o princípio manifestou que não queria e não quer sanções de ordem econômica contra o Paraguai.
Saguier – Pergunte às cidades fronteiriças como está o comércio nesse momento. Não vou dizer, o sr. mesmo pergunte para ver se não houve consequências econômicas.
Com quase meio século de duração, o conflito armado colombiano contribui para que a Colômbia seja considerada pela ONU o quinto país mais violento do mundo. Além dos milhares de homicídios, desaparecimentos e sequestros, o conflito causou o deslocamento interno de quase 4 milhões de pessoas.
A BBC Brasil ouviu especialistas na Colômbia para descobrir quem é quem nesta guerra de quase 50 anos. Ao longo dos anos, alguns componentes deixaram de existir, enquanto outros foram reformulados.
Entre os que "desapareceram", está o Movimento 19 de abril (M-19), voltado à guerrilha urbana e iniciado nos anos 1970, que atuou na tomada do Palácio da Justiça em 1985.
"Após um acordo, o M-19 deixou as armas em 1989. O mesmo caso é o do Exército Popular de Libertação (EPL), reintegrado nos anos 1990", conta o cientista político Álvaro Villarraga, presidente da Fundação Cultura Democrática.
Um caso de reformulação é do das Autodefensas Unidas de Colombia (AUC), que reunia diversos grupos paramilitares regionais de extrema direita para combater o crescimento das guerrilhas insurgentes. Formadas em 1997, as AUC desmobilizaram-se após acordo com o governo de Álvaro Uribe.
"Mas algumas facções não deixaram as armas e não se reintegraram. Daí surgiram as Bandas Criminais (Bacrim), também conhecidas como neoparamilitares", explica Villaparra.

Farc e ELN

Líderes das Farc
As Farc são a maior e mais antiga guerrilha de esquerda na Colômbia
As guerrilhas de esquerda começaram a atuar na Colômbia nos anos 1960. A mais antiga e maior são as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Analistas independentes apostam na existência de 10 mil a 15 mil homens, mas para o governo, seriam cerca 8 mil mobilizados.
As Farc fortaleceram-se nos anos 1990 graças ao maior poder de autofinaciamento, resultado da associação ao narcotráfico e a uso do sequestro extorsivo (prática que prometeram abandonar em fevereiro deste ano).
Após o aumento da ofensiva militar a partir de 2001, as Farc foram enfraquecidas, mas continuam atuantes, financiadas pelo narcotráfico e, recentemente, pela mineração.
A segunda guerrilha em atividade é o Exército de Libertação Nacional (ELN). Criado em 1965, o grupo teria atualmente entre 3 mil e 4 mil homens.
O ELN "dialogou" com os últimos quatro governos da Colômbia e, segundo analistas, tem agido mais politicamente que militarmente, embora ainda não tenha fechado um acordo de paz.

Neoparamilitares ou Bacrim

As Bacrim são compostas de vários grupos de ação regional. Atualmente os cinco principais são Los Rastrojos, Los Urabeños, Los Paisas, o Exército Popular Anti-Subversivo da Colômbia (Erpac) e a "Nueva Generación".
Os três mais poderosos são Los Rastrojos, com cerca de 2 mil homens, e Los Urabeños e Los Paisas, cada um com aproximadamente mil integrantes.
Alguns grupos mantêm a estrutura de milícia uniformizada, e a característica comum entre eles é a associação ao narcotráfico, no controle, regulação, produção e distribuição de drogas.
Para alguns analistas, as Bacrim atuam contra as guerrilhas de maneira mais limitada que as AUC e tendem a se tornar delinquentes comuns.

Políticos, militares e opinião pública

Juan Manuel Santos
O presidente Juan Manuel Santos tem demonstrado interesse em buscar saída negociada com as Farc
O governo colombiano representa a parte legalmente institucionalizada, que tem como atores os políticos e os militares que executam as ações de combate, conforme as diretrizes dos governos.
Ao longo da história, o governo da Colômbia tem assumido diferentes posições com relação ao conflito. O ex-presidente Uribe defendia combater as Farc até sua rendição e, para isso, intensificou a ação militar.
Por outro lado, o atual presidente, Juan Manuel Santos, tem demonstrado interesse em buscar uma saída negociada com as Farc, enquanto chama as Bacrim de "grupo subversivo".
Com mais de 450 mil homens, o Exército é quem efetivamente participa do combate. Alguns setores mais progressistas das Forças Armadas enxergam uma saída negociada para o conflito, outros acreditam na manutenção da guerra até a rendição dos mobilizados.
Na classe política, a extrema direita tende a se posicionar contra saídas negociadas, e os partidos de centro e de esquerda apostam na possibilidade de negociação.
A opinião pública também sempre esteve presente na "discussão" de saídas negociadas para o conflito, mas atualmente a alternativa preferida é a ação militar.
"Hoje a sociedade prefere a derrota das guerrilhas pela via militar, ainda que no passado tenha estado favorável ao diálogo", avalia Jorge Restrepo, diretor do Centro de Recursos para a Análise do Conflito Armado.
"No papel de principal atingida, a sociedade parece ter se cansado de esperar pela conversa entre as partes" completa.
Depois de aguentar quase 72 horas de confrontos entre as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e tropas do Exército colombiano, a população civil do município de Toribío, no Departamento de Cauca (sudoeste do país) decidiu procurar os líderes da guerrilha para pedir um cessar-fogo.
No último domingo, líderes indígenas, camponeses e a população urbana da cidade de pouco mais de 26 mil habitantes falaram diretamente com as Farc.
De acordo com a contagem oficial, os ataques que começaram na sexta-feira deixaram cinco feridos, embora a população contabilize ao menos 13.
Entre os atingidos estão funcionários de uma missão médica que trabalhavam em um centro de saúde, alvo de um explosivo lançado por guerrilheiros baseados nas montanhas.
Além disso, pelo menos dez casas foram atingidas e 600 pessoas foram deslocadas por conta da ofensiva.
O líder indígena Gabriel Pavi contou à BBC Brasil que, apesar da presença do Exército na região, a situação estava incontrolável.
Segundo Pavi, no começo da tarde do domingo a comunidade se dividiu em quatro comitivas que caminharam a diferentes áreas rurais para falar com as Farc.
"Cada grupo levou entre uma e duas horas até chegar aos guerrilheiros. Nós conversamos com eles e exigimos que parassem de lançar bombas contra a cidade", explicou.
De acordo com o Pavi, a "missão civil" foi concluída com sucesso e, por volta de seis horas da tarde de domingo, os ataques cessaram.

Controle difícil

Além de ir atrás da guerrilha, a população local também protestou contra os militares. Nesta segunda-feira, um grupo de indígenas destruiu trincheiras usadas pelos militares para se proteger das investidas da guerrilha.
O prefeito da cidade, Ezequiel Vitonás, deixou transparecer em entrevistas a rádios e jornais colombianos que a situação ainda é delicada.
Ele contabiliza que a região foi atacada mais de 450 vezes pela guerrilha nos últimos dez anos.
Indígenas colombianos | Foto: Projeto Nasa
Civis colombianos decidiram procurar líderes guerrilheiros para negociar um cessar-fogo
Um dos maiores ataques ocorreu há exatamente um ano, quando as Farc instalaram em uma "chiva" (microônibus típico da região) explosivos que destruíram uma delegacia e afetaram 400 casas. Nesse incidente, três pessoas morreram e 70 ficaram feridas.
Os militares negam que haja falta de controle por parte do Estado. Para o Exército, as Farc estariam usando o lançamento de explosivos como estratégia para "despistar" o deslocamento de suas tropas no sul do país.
"Conhecemos esse truque, mas já recuperamos o controle", disse o coronel Martín Nieto.
Ele acrescentou que membros da guerrilha têm usado a população como escudo, escondendo-se em casas de civis e até mesmo vestindo roupas de civis. "Isso tem dificultado um pouco a ação", admitiu.

Impasse

Em meio à crise, o presidente Juan Manuel Santos convocou uma reunião emergencial do Conselho de Ministros na próxima quarta-feira na cidade de Toribío.
Para analistas, esse é um sinal do alerta que a ofensiva e a iniciativa de mediação civil geraram no governo federal.
"Santos não quer que a população civil se torne intermediária do conflito, pois pode parecer que o Estado perdeu capacidade de enfrentar o problema, avalia Ariel Ávila, estudioso da ONG Corporación Nuevo Arco Íris.
Ariel explica que, apesar de ser incomum, não é a primeira vez que a sociedade resolve agir por conta própria. Segundo ele, houve outros momentos assim, inclusive em Toribío.
"Essa população que vive diariamente cercada pelo conflito quer paz e está cansada dessa guerra irregular. Esse cansaço fica claro nestas circunstâncias", disse.

Alívio momentâneo

A população local diz estar aliviada com o fim do ataque prolongado do final de semana, mas tem dúvidas de que a trégua dure muito tempo.
"Eu já estou cansado de ter de sair da minha casa com meus filhos por causa desta guerra", contou à BBC Brasil o açougueiro Gonzalo Betancurt, 44 anos, nascido e criado em Toribío.
Gonzalo disse que, mesmo descrente, sente-se bem por não ouvir o barulho das bombas por um tempo. "É muito desgastante você estar em um lugar assim. No meio de uma guerra sem poder fazer nada", desabafa.
O açougueiro falou ainda que por causa dos ataques e enfrentamentos entre as Farc e o Exército, a população sofre e sempre arca com os prejuízos.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Uma fotografia mostrando uma mulher misteriosa ao lado do jovem líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, despertou uma série de especulações na mídia sul-coreana.
Ninguém sabe de quem se trata e alguns já acreditam que ela possa ser a mulher do herdeiro da dinastia.
As imagens foram veiculadas pela TV estatal norte-coreana no último domingo.
Na foto, Kim Jong-un aparece ao lado de uma mulher elegante, de cabelos curtos, vestida de preto e aparentemente na faixa dos 20 anos de idade durante uma cerimônia que marcou os 18 anos da morte do seu avô, Kim Il-sung, fundador do país.
Alguns dizem ser mais provável que ela seja a irmã mais jovem do líder, chamada Kim Yo-jong.
Por ser extremamente fechada ao mundo exterior, a sociedade norte-coreana não tem a tradição de divulgar dados pessoais de figuras públicas, e ninguém sabe se Kim Jong-um é casado, ou até mesmo sua idade exata, diz a analista da BBC Viv Marsh.
Acredita-se que ela seja a mesma mulher que apareceu em outra emissora norte-coreana, KRT, no sábado, chegando a um local onde se realizava um concerto também ao lado do líder.
Uma foto dos dois também foi publicada no jornal local Rodong Sinmun, informa a agência de notícias Associated Press.
O atual impasse entre a Justiça, os militares e Executivo do Egito, após a tentativa do novo presidente Mohammed Mursi de restaurar o Parlamento (dissolvido sob ordem dos militares no mês passado), voltou a acirrar a crise política no país. O novo capítulo do conflito de poderes, no entanto, deve ser resolvido sem confrontos.
Na visão de Jon Leyne, analista da BBC no Cairo, a posição da Suprema Corte, que nesta segunda-feira rejeitou o decreto de Mursi restaurarando o Parlamento, representa muito mais um desdobramento da tentativa do país de se ajustar a uma nova configuração de poder do que o início de um confronto aberto.
O especialista relembra que, semanas atrás, a Suprema Corte apenas julgou que parte das eleições parlamentares, vencidas pela Irmandade Muçulmana (partido de Mursi), era inconstitucional. A decisão de dissolver totalmente o Parlamento foi do Conselho Supremo das Forças Armadas.
Em um comunicado, o tribunal deixou claro que "não é uma parte interessada em nenhum confronto político".
Logo, o impasse seria muito mais focado entre uma tentativa dos militares, aliados a setores seculares, de esvaziar o governo, composto por setores religiosos, do que um embate direto entre o novo líder do Executivo e a mais alta corte egípcia.
Além de dissolver o Parlamento, os militares aprovaram uma declaração constitucional antes do anúncio das eleições, retirando qualquer poder do presidente sobre as Forças Armadas. Os comandantes também receberam poder de legislar, além de poderem vetar partes da futura Constituição, que ainda não possui um rascunho.

Disputa de poderes

Mursi pertence à Irmandade Muçulmana, partido com a maioria dos assentos no Parlamento eleito neste ano, o que tende a ser visto como fator de preocupação pelos militares, que no passado mantiveram muitos líderes do grupo presos ou exilados.
Apesar da crise, Mursi e o marechal Hussein Tantawi, que detém o poder militar, apareceram juntos em uma cerimônia de premiação de cadetes nesta segunda-feira.
"Superficialmente, o anúncio da Suprema Corte indica que o presidente Mursi e a Irmandade Muçulamana estão em um rumo de confronto tanto com os militares como com a Justiça, mas na prática não é tão simples. Tudo que a corte fez foi julgar que parte das eleições para o Parlamento foi inconstitucional. Então Mursi não está indo diretamente contra uma ordem judicial", diz Leyne.
"Quanto aos militares, eles não estão, nesse momento, atuando como se estivessem preparando um grande confronto com a Irmandade Muçulmana. Na verdade há mais indícios do contrário. A segurança em torno do Parlamento foi reduzida, e não aumentada".
Para o analista, o contexto aponta para chances de que a crise possa ser resolvida "sem um grande confronto".
Mesmo assim é provável que Mursi entre em novas disputas para ampliar seu escopo de governabilidade, já que foi eleito para liderar um país sem uma Constituição aprovada, sem uma definição clara de seus poderes como presidente e sem poder contar com o apoio entre os congressistas, cuja maioria detinha de acordo com os resultados das eleições parlamentares.

Instabilidade

Embora o recurso de Mursi tenha sido rejeitado pela Suprema Corte, o presidente do Parlamento, Saad al-Kathani (também da Irmandade Muçulmana), convocou os congressistas para uma reunião na terça-feira.
Unidades do Exército foram vistas deixando as portas do prédio, permitindo a entrada de alguns parlamentares.
Membros de partidos rivais criticaram o decreto de Mursi, que prevê o retorno dos trabalhos no Congresso e novas eleições parlamentares 60 dias após a nova Constituição ser aprovada em um referendo nacional.
Já os militares, que entregaram formalmente o poder a Mursi no dia 30 de junho, têm despertado cada vez mais desconfiança e insatisfação na população. Setores da sociedade os acusam de querer manter o poder mesmo após a revolução que derrubou o ex-líder Hosni Mubarak, que comandou o país por 30 anos.
Os brasileiros se mostraram os mais otimistas em uma pesquisa global conduzida em 13 países.
A enquete, encomendada pela Confederação Internacional do Comércio, revelou que 69% da população do Brasil acredita que o país esteja indo na direção certa, enquanto 31% está pessimista quanto aos rumos do país. Nesse quesito, os brasileiros foram seguidos pelos canadenses e pelos sul-africanos.
Os brasileiros também se mostraram os mais positivos ao responder uma pergunta avaliando o desempenho econômico do país: 71% dos brasileiros consideram que a situação econômica do país é boa ou muito boa.
Realizada sob o viés do estado da economia local e mundial, a pesquisa demonstrou grandes variações na percepção do futuro em países com situações bem diferentes.
Os gregos, que atravessam um momento de grandes sacrifícios por causa da imposição de um conjunto de medidas de austeridade, se mostraram os mais pessimistas da enquete: 91% dos entrevistados acham que o país está indo na direção errada.
As entrevistas foram conduzidas em Grécia, Japão, França, Reino Unido, Estados Unidos, Bélgica, Bulgária, México, Indonésia, África do Sul, Canadá, Alemanha e Brasil.
A Alemanha foi o único país europeu em que a maioria dos entrevistados achou que o país estava indo na direção certa.
A pesquisa, feita pela empresas TNS e Anker Solutions, ouviu cerca de 13 mil pessoas nos 13 países, que representam 20% da população mundial.
O tom geral foi de pessimismo. A pesquisa concluiu que 58% dos participantes disseram que seu país está indo na direção errada; 68% classificam a situação econômica do país em que vivem como ruim e 66% acreditam que num futuro pior para as próximas gerações.
A coleta de dados foi feita entre os dias 10 de abril e 6 de maio deste ano.

domingo, 8 de julho de 2012

A recontagem oficial dos votos das eleições presidenciais no México, ocorridas em 1º de julho, terminou neste domingo, dando vitória ao candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Enrique Peña Nieto.
Entretanto, esta é apenas a primeira etapa de um complicado processo eleitoral, uma vez que, embora vitorioso, ainda não se sabe se Peña Nieto realmente ocupará o palácio presidencial.
Para esclarecer as complexidades do sistema eleitoral no México e as dúvidas dos leitores, a BBC Mundo preparou uma lista de perguntas e respostas.

Enrique Peña Nieto é o presidente eleito do México?

Oficialmente não. De acordo com o Código Federal de Instituições e Procedimentos Eleitorais (COFIPE), é preciso, em primeiro lugar, solucionar todas as objeções apresentadas pelos partidos para definir o resultado final da eleição presidencial.
A revisão das queixas e denúncias contará com até três juízes do Tribunal Federal Eleitoral do Poder Judicial da Federação (Trife), a maior autoridade deste assunto no país.

O que o Instituto Federal Eleitoral (IFE) fez?

O IFE concluiu a recontagem dos votos depositados nas urnas durante o pleito realizado em 1º de julho deste ano, que incluía a eleição para presidente, 128 senadores e 500 deputados.
O processo incluiu a apuração de 78.469 urnas, mais da metade das 143.000 instaladas ao redor do país.
O resultado da averiguação revelou que Peña Nieto obteve larga vantagem na sondagem, com 19.226.784 votos, ou 38,21% do total.
Em segundo lugar, veio Andrés Manuel López Obrador, com 15.896.999 votos (31,59%), e em terceiro, Josefina Vázquez Mota, com 12.786.647 votos (25,41%).

Quem contesta o resultado da eleição?

A coalizão de partidos de esquerda, chamada 'Movimento Progressista', liderada por López Obrador, assim como o Partido de Ação Nacional, de Vázquez Mota denunciaram que muitos cidadãos receberam dinheiro ou vales para lojas de departamento em troca do voto para Peña Nieto.
As duas frentes de oposição também disseram que autoridades locais e integrantes do PRI teriam forçado a população a votar pelo candidato vitorioso.
A coalizão de esquerda pediu para investigar o suposto uso de dinheiro do governo para comprar votos por meio de programas sociais e de distribuição de alimentos.
Outra denúncia é de que o candidato do PRI gastou mais dinheiro em sua campanha do que o permitido por lei.

O que o tribunal vai revisar?

A partir da próxima segunda-feira, dia 9 de julho, o Tribunal receberá do IFE o relatório sobre o total da votação, bem como os detalhes sobre as denúncias e os protestos dos partidos políticos derrotados.
Os juízes do Trife vão, posteriormente, verificar se a votação dos candidatos foi obtida em conformidade com as leis eleitorais, além de determinar se as supostas irregularidades alteraram o resultado final.
As partes envolvidas no caso também terão o direito de apresentar diretamente suas objeções ao Tribunal.
A coalizão de esquerda pediu uma nova contagem dos votos depositados nas 143.000 urnas. Porém, de acordo com a lei eleitoral, elas já foram apuradas pelo IFE, que não poderá recontá-las.
Os juízes têm a capacidade de abrir ou não as urnas que não foram recontadas.
O Tribunal também tem o poder legal de abrir as urnas, se necessário, e recontar os votos depositados lá.
Segundo disse à BBC o conselheiro do IFE Lorenzo Cordova, uma vez feito tal processo, os juízes "farão a soma total dos votos" e emitirão uma declaração de validade da eleição presidencial.
O Trife também é responsável por declarar quem é o presidente eleito do México.

Qual é o prazo para essa revisão?

O COFIPE prevê que o prazo para declarar o processo válido e, portanto, ratificar a eleição de um novo presidente, é 6 de setembro.
No entanto, o Trife pode concluir sua revisão antes dessa data.
O 'dress code' em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, nem é sempre respeitado por estrangeiros. Nas últimas semanas, rumores circularam na cidade-estado de homens e mulheres em trajes de banho caminhando pela rua e fazendo compras em supermercados.
Cansados do que chamam de "falta de respeito à cultura local", dois moradores do pequeno emirado resolveram lançar uma campanha através do Twitter para pedir aos estrangeiros que se cubram em locais públicos.
Na rede social, eles postaram a hashtag #UAEDressCode para tentar convencer os turistas a andarem "vestidos".
Horas depois de ser lançada, a campanha angariou centenas de adeptos.
Entre os participantes, alguns sugeriram a criação de um departamento de polícia para receber queixas sobre roupas inapropriadas.
"Alguns centímetros de tecido a mais não vão te fazer mal", ironizou um usuário.

Campanha

Asma, de 23 anos, foi quem teve a ideia da campanha junto de um amigo. Vestida com um véu e calça legging dentro de sua casa, ela explicou à correspondente da BBC em Dubai, Katy Watson, por que quis se envolver diretamente na defesa da cultural local.
"A forma como algumas pessoas se vestem aqui é ofensivo para as nossas crenças", disse. "Os shoppings são locais públicos, onde há famílias e crianças", acrescentou.
Os vestidinhos de verão, segundo Asma, "são bons para a praia, mas não para fazer compras".
Todos os shoppings de Dubai têm avisos nas entradas pedindo aos clientes que cubram os ombros e os joelhos, mas Asma diz que isso não é suficiente.
Ela quer criar uma lei para garantir que seu 'dress code' seja cumprido.
Entretanto, a proposta esbarra em diversos obstáculos.
Nos Emirados Árabes Unidos, apenas 20% da população, estimada em 8 milhões de pessoas, nasceram no país.
Dessa forma, o governo tem de se equilibrar entre garantir os interesses da população local sem punir, em contrapartida, o turismo e o comércio com muitas regras.

Agitação Regional

Há também uma outra questão em jogo.
Embora os Emirados Árabes Unidos tenham se mantido praticamente imunes à turbulência regional, em muito devido a um sistema de previdência social generosa com seus cidadãos, o governo acompanha, com temor, os levantes revolucionários dos países vizinhos.
Mansoor Ahmed é um ativista pró-democracia e blogueiro cujas críticas ao governo lhe fizeram passar uma temporada na prisão no ano passado.
Ele acredita que, apesar da campanha pelo 'dress code' não ter fundo político, o governo dificilmente imporá aos habitantes e turistas uma lei sobre as regras de como eles devem se vestir, pois isso poderia enviar uma mensagem aos muçulmanos mais conservadores de que a opinião deles tem muito peso.
Entretanto, com a recente onda pró-democracia nos países árabes, os Emirados Árabes Unidos provavelmente se verão obrigados a ceder em determinados pontos, afirmou Ahmed.
Países doadores em uma conferência sobre o Afeganistão prometeram dar US$ 16 bilhões (R$ 32,5 bilhões) ao país durante quatro anos, como ajuda civil depois das retiradas das forças da Otan em 2014.
Os principais doadores, Estados Unidos, Japão, Alemanha e Grã-Bretanha, lideraram a oferta durante o encontro, que aconteceu em Tóquio.
O compromisso foi feito depois que o Afeganistão concordou com novas condições exigidas pelos países para lidar com a corrupção. Há receio de que o país volte a uma situação caótica após a saída da Otan.
A economia afegã depende fortemente de ajuda internacional para desenvolvimento e defesa. Segundo o Banco Mundial, as doações perfazem mais de 95% do PIB do país.
Neste domingo, no Afeganistão, duas bombas em estradas mataram 14 civis e feriram outros três no sul da província de Kandahar, segundo a polícia local.
A primeira bomba atingiu um carro e a segunda explodiu quando um trator chegou para resgatar os feridos. De acordo com autoridades locais, há mulheres e crianças entre os mortos.

Condições

Em seu discurso de abertura na conferência, o presidente afegão Hamid Karzai prometeu "lutar contra a corrupção com determinação".
Ele disse que apesar do progresso dos últimos dez anos, a economia do Afeganistão continua vulnerável e a segurança ainda é um grande obstáculo.
"Será preciso muitos anos de trabalho duro de nossa parte como afegãos, assim como apoio contínuo de nossos parceiros internacionais antes que o Afeganistão alcance a prosperidade e a autoconfiança", disse.
Soldados americanos em Kandahar. | Foto: AP
As unidades de treinamento da Otan permanecerão no país após 2014
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, ressaltou a necessidade de reformas para manter as mudanças já realizadas no país.
"Isso inclui lutar contra a corrupção, melhorar a governança, fortalecer as leis e aumentar o acesso a oportunidades econômicas para todos os afegãos, especialmente as mulheres", disse.
O encontro em Tóquio tem a presença de altos representantes de mais de 70 países e organizações internacionais.

Apoio militar

A ajuda civil conseguida em Tóquio se somará aos US$ 4,1 bilhões de ajuda militar para as Forças Armadas do Afeganistão prometidos em uma cúpula de líderes da Otan em Chicago, em maio.
De acordo com o plano reafirmado em Chicago, as forças da Otan irão entregar o comando militar para as forças afegãs em meados de 2013 e devem retirar totalmente seus soldados do país até o fim de 2014. Depois disso, só as unidades de treinamento permanecerão no país.
Em pronunciamento feito em Cabul no sábado, antes de sua ida a Tóquio, Hillary Clinton anunciou que os EUA deram ao Afeganistão o status de "grande aliado fora da Otan".
A designação dá ao país acesso prioritário à tecnologia militar avançada americana e estabelece a cooperação entre os dois países. O último país a receber o status foi o Paquistão, em 2004.

sábado, 7 de julho de 2012

Seis meses após a morte de Muamar Khadafi, enquanto a Líbia se prepara para suas primeiras eleições livres em 42 anos, neste sábado, os desdobramentos da revolução no país não se limitam a suas fronteiras.
A derrubada do coronel Khadafi, morto em outubro do ano passado, mudou "a equação de poder" em diversos países norte-africanos e da região do Sahel (faixa de território subsaariana que vai do leste ao oeste do continente), explica à BBC Brasil William Lawrence, diretor de África do Norte do International Crisis Group.
"Khadafi tinha um grande papel não apenas ao apoiar Estados, mas ao se envolver com a formação política de movimentos e tribos na região", diz Lawrence.
A seguir, o analista explica os principais efeitos que as mudanças na Líbia tiveram nos países ao seu redor:

Insurgências e nova dinâmica de poder

O Mali é um dos mais afetados por insurgências pós-Khadafi. Em 21 de março, um golpe realizado por tropas rebeldes derrubou o governo do presidente Amadou Toumani Touré. O norte do país virou um território parcialmente dominado por rebeldes da etnia tuaregue, que declararam a criação de uma região autônoma – armados provavelmente com armas que obtiveram após lutar ao lado de tropas de Khadafi.
"É difícil saber se o Mali não teria sofrido o golpe independentemente da queda de Khadafi ou não", aponta Lawrence. "Mas a morte do líder líbio deu poder aos tuaregues e enfraqueceu o governo malinense. Além disso, a reação ao golpe teria sido mais rápida se não tivesse havido a desestabilização na Líbia."
Agora, o norte do país enfrenta também uma insurgência islâmica: o grupo Ansar Dine, que teria ligação com a Al-Qaeda, assumiu o controle da cidade de Timbuktu no início de 2012.
No Chade, que faz fronteira com a Líbia ao norte, a tensão é com o grupo étnico seminômade tabu, que em sua maioria lutou ao lado dos rebeldes líbios. Agora, eles enfrentam a tribo zwai pelo controle da região, em confrontos que deixaram dezenas de mortos nas últimas semanas.
Mudanças na configuração de poder regional também afetaram as relações com o Sudão, cujo governo apoiou os rebeldes líbios. Ao mesmo tempo, Khadafi apoiava milícias que agiam na conflagrada região de Darfur. "Por isso, acordos de paz naquela região sempre envolviam Khadafi", afirma Lawrence. Agora, a situação ali tende a ficar mais volátil. "Além disso, corredores de ajuda humanitária a Darfur passam pela Líbia. Ficará mais difícil levar ajuda humanitária para lá."

Tráfico de armas e drogas; terrorismo

A ausência de um poder central linha-dura como o de Khadafi aumentou a volatilidade das fronteiras, abrindo novas rotas para o tráfico de drogas.
Mãe e filho vítimas da seca no Senegal, na região do Sahel. (AP)
Instabilidade é agravada por seca, que provoca uma crise de fome no Sahel
Lawrence afirma que rotas do narcotráfico originárias da América Latina agora estão passando pelo instável Mali, visto como um país de Estado fraco.
O mesmo vale para o tráfico de armas, com o agravante de que o armamento que pertencia ao Exército de Khadafi mudou de mãos e atravessou fronteiras.
"Muitos dos conflitos dessas fronteiras têm a ver com o controle de rotas de tráfico e o contrabando, agravados por disputas étnicas", afirma o analista do Crisis Group.
Há, ainda, mais um fator explosivo: o extremismo, que preocupa países como a Argélia. "O país é um dos que recebeu fluxos de armas contrabandeadas da Líbia e é de onde o braço da Al-Qaeda no Mali é controlado", explica Lawrence.

Tragédia humana

Os conflitos na Líbia e, em seguida, no Mali geraram grandes fluxos de refugiados a países como Níger, Mauritânia e Tunísia, provocando focos de crises humanitárias.
Ao mesmo tempo, há relatos de que milícias do sul da Líbia estariam detendo migrantes e praticando o tráfico de pessoas, aproveitando-se da sensação de "terra sem lei" vigente na região, segundo o especialista.
Para agravar a situação, a região do Sahel vive uma seca aguda, despertando temores de que passe por uma das mais graves crise de fome da atualidade, segundo a ONU.
Com a instabilidade e a insegurança das fronteiras, fica mais difícil para as agências humanitárias levarem ajuda às pessoas mais carentes.

'Falsa estabilidade'

Lawrence ressalta, porém, que todos esses problemas já estavam presentes na região – "mas poucos prestavam atenção neles. O que está acontecendo agora é que as dinâmicas regionais estão mudando".
Para ele, regimes linha-dura como o de Khadafi criavam "uma falsa sensação de estabilidade".
Ele diz ainda que a pacificação da Líbia e do seu entorno virá somente após um caminho árduo: "A solução não passa por voltar à ditadura, mas sim por governos firmes e legítimos no curto prazo, e desenvolvimento no longo prazo."

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Apesar da realização das primeiras eleições livres do país neste fim de semana, a Líbia vive um clima de incerteza quanto ao futuro de sua recém-nascida democracia e corre o risco de mergulhar em um caos generalizado, na opinião de analistas consultados pela BBC Brasil.
Os líbios vão às urnas neste sábado para eleger um Parlamento de 200 deputados que terá como principal tarefa elaborar a Constituição do país.
Mas, para analistas ouvidos pela BBC Brasil, as eleições dificilmente ajudarão a melhorar, a curto ou médio prazo, a situação política e social no país, ainda marcado por divisões e episódios de violência.
"O governo interino tem falhado até o momento em reconstruir as instituições estatais, e cada vez mais o país parece caminhar para um cenário de terra sem ou com pouca lei. Os líbios se mostram pouco otimistas vendo o pouco avanço em projetos para melhorar a vida da população", enfatizou o egípcio Gamal Ahmed, especializado em assuntos da Líbia do Centro de Estudos Al-Ahram do Cairo.
"O tribalismo e suas inúmeras milícias, que não se submetem ao poder do governo central, e a falta de segurança para as eleições são os principais fatores que contribuem para a incerteza dos líbios quanto ao futuro", disse o analista independente líbio Mohamad al-Qashawi.
A Líbia realiza sua primeira eleição livre depois de 42 anos de regime de Muamar Kadhafi, morto na guerra civil que eclodiu em fevereiro de 2011, no bojo dos movimentos civis por reformas da chamada Primavera Árabe.

Milícias tribais

Para o analista Mohamad al-Qashawi, de todos os fatores, o tribalismo é o mais perigoso para o futuro da Líbia. Segundo ele, muitos líderes tribais acusam os políticos do governo interino do Conselho Nacional de Transição (CNT) de seguir uma agenda própria e não atender aos interesses regionais.
"O país está sendo afetado por uma cadeia de conflitos regionais tribais, em que as facções estão usando artilharia pesada uns contra os outros e não medem esforços para alcançar seus ganhos".
Jabal al-Zintan, área montanhosa no oeste do país e próxima à capital Trípoli, é a região mais afetada por distúrbios tribais. E apesar da proximidade com o governo central, segundo al-Qashawi, está longe do controle do governo, com milícias vindas de Al-Zintan tomando controle de arredores da capital.
Como exemplo dos distúrbios, ele cita as constantes batalhas entre milícias de Al-Zintan e ex-revolucionários da cidade de Misrata, que fica ao leste de Trípoli.
Outros grupos, segundo ele, completam o cenário tribal do país: os nativos Amazigh (ou bérberes, não árabes), os Tuaregs (que vivem nas regiões desérticas e eram mais alinhados com Kadafi), os Tebou (outro grupo nativo), além das tribos do leste, da região de Bengazi.
"Muitos grupos já foram parte do mesmo Exército rebelde e tinham uma causa comum: a de derrubar Kadhafi. Agora, são milícias tribais que procuram defender os interesses de suas regiões", completou o líbio.
Al-Qashawi explicou que o controle a mão de ferro exercido por décadas pelo regime de Kadhafi garantia a lei e a ordem no país. Com o colapso do antigo regime e a debilidade do governo interino o país ficou sem uma instituição alternativa que zelasse pelo respeito de toda a população às leis.
"A cultural da lei não teve a oportunidade de se enraizar, a sociedade civil era fraca, quase inexistente. E liberdade foi confundida, na visão de alguns, com anarquia".
Com o colapso do Exército líbio, milícias afiliadas a tribos tomaram conta das ruas. Muitas têm um caráter mais islamista e são lideradas por gangues de jovens sem afiliação com uma autoridade ou liderança.
"Isso favoreceu o florescimento também do chauvinismo tribal, do fanatismo religioso e da militância anarquista combinados, o que pode fugir ao controle", completou Al-Qashawi.

Islamistas e incertezas

O egípcio Gamal Ahmed, do Centro de Estudos Al-Ahram do Cairo, citou as falhas do governo de Trípoli em dar melhores condições de vida para a população, e de cumprir promessas, como outro fator que contribui para o caos no país.
Foto: Reuters
Policial participa da campanha da Líbia, onde grupos armados e tribalismo são ameaças
"Muitos jovens, desempregados, vêm acusando o governo de manipular a imagem do país para a comunidade internacional como uma democracia. Há uma crescente insatisfação com as autoridades em Trípoli".
Segundo Ahmed, o governo central tenta convencer seus aliados ocidentais de que as divisões raciais e tribais na Líbia são normais e funcionam como parte do mecanismo que governa o Estado. Mas, segundo o analista, as tensões políticas e sociais vêm tomando conta do país.
"Os islamistas, ajudados pelas falhas do governo em melhorar a qualidade de vida dos líbios, aparecem como favoritos para as eleições parlamentares, como correu na Tunísia e Egito".
"A democracia que o CNT prometeu aos líbios parece distante de se realizar. Com o aumento do tribalismo, o governo pouco pode fazer por projetos sociais, econômicos e de infraestrutura".
Segundo ele, as instituições e agências estatais são frágeis e ineficazes e a população apela para "soluções mais radicais e tribais" quando políticos de partidos recém criados oferecem quase nada de concreto em seus discursos.

Autonomia

Para agravar a situação, de acordo com Ahmed, o governo central enfrenta o movimento por mais autonomia na região Leste, conhecida como Cerenaica, cuja capital é Bengazi, berço do movimento revolucionário que derrubou Kadhafi.
Alguns políticos do governo veem ambições separatistas no movimento, outros defendem a ideia, e dizem que a concessão de mais autonomia em algumas regiões pode ajudar a garantem a unidade territorial da Líbia e a liderança central em Trípoli.
"No Leste estão as maiores reservas de petróleo do país, o que aumentou a importância do assunto. O governo teme perder a região, já recheada de rivalidades tribais, para um autoridade central em Bengazi", explicou Ahmed.
O movimento por autonomia divide as populações no Leste, região também marcada por episódios de violência nos últimos meses, alguns mais recentes envolvendo a destruição de material de campanha eleitoral.
Líderes pró-autonomia já pediram aos eleitores no Leste que boicotem as eleições, alegando que a região deveria receber mais cadeiras, além das 60 (do total de 200) que detém no Parlamento.

Medidas

Segundo Mohamad Al-Qashawi, ainda há algumas medidas que poderiam ser adotadas para evitar a deterioração e a fragmentação do país.
Ele disse que o CNT poderia lançar uma campanha para desmantelar as milícias, recrutando os jovens para um novo Exército nacional e recompensando militantes que entregassem as armas com dinheiro.
"Mas para isso, o governo precisa urgentemente reconstruir o Exército líbio e reviver a autoridade estatal, que não existe e só encoraja mais milícias e baderneiros", disse.
"Outros países árabes, como o Egito, poderiam contribuir em treinar soldados e oficiais líbios para o novo Exército".
Outra medida, segundo Ahmed, seria colocar em prática um sólido e urgente plano de desenvolvimento, em especial para as áreas mais marginalizadas do país, centros de contrabando de armas e de "foras-da-lei".
"E para atrair investimentos estrangeiros que gerariam empregos e aplacariam as mazelas sociais que só diminuem a importância do governo central, deve haver segurança no país. E segurança passa por um Exército e força policial capazes".
Al-Qashawi também acredita que segurança e desenvolvimento deveriam ser as prioridades do governo em Trípoli.
"Sem isso, os líbios se entregarão como sempre ao tribalismo e à autoridade das milícias. Se não houver ações, a Líbia pode se fragmentar e virar uma espécie de nova Somália. Só mais rica, com seu petróleo".

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O renomado físico britânico Stephen Hawking disse acreditar que perderá US$ 100 (R$ 200) por uma aposta que fez com um amigo se comprovada a descoberta do Bóson de Higgs, também chamado de 'partícula de Deus'.
Em entrevista à BBC, Hawking disse que pagará a quantia ao colega americano e também físico Gordon Kane, professor e diretor emérito da Universidade de Michigan, ao apostar que o elemento nunca seria achado.
Nesta quarta-feira, cientistas da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern), em Genebra, na Suíça, anunciaram que há fortes indícios de que a partícula foi finalmente encontrada.
Se confirmada, a descoberta coroaria uma das teorias físicas mais importantes de todos os tempos - chamada de Modelo Padrão, que ajudaria a completar o entendimento sobre o funcionamento do Universo.
Hawking também parabenizou as equipes envolvidas nos experimentos do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), um imenso acelerador de partículas localizado no subterrâneo da fronteira entre Suíça e França, através do qual o novo elemento foi encontrado.
O teórico britânico acrescentou que, caso seja comprovada a descoberta da Partícula de Deus, o cientista Peter Higgs, um dos primeiros a propor a teoria de como as partículas adquirem massa, mereceria ganhar o prêmio Nobel de Física por sua contribuição à ciência.
"Se tudo estiver em conformidade com nossos achados, teremos uma grande evidência do chamado Modelo Padrão. Esse é um importante resultado e deverá garantir a Higgs o Prêmio Nobel", afirmou Hawking.

Descoberta

O resultado desta quarta-feira foi considerado, entretanto, preliminar, mas um indicativo "forte e sólido" da existência da partícula.
Ainda assim, são necessárias mais pesquisas para comprovar se a partícula de Higgs foi realmente descoberta.
Os cientistas alegam ter encontrado uma "curva" nos dados sobre as variações de massa das partículas geradas no imenso acelerador de partículas Grande Colisor de Hádrons.
Essa "curva" corresponde a uma partícula que pesa 125,3 gigaelectronvolts (Gev) - cerca de 133 vezes mais pesada do que o próton existente no âmago de cada átomo.

Hawking

Considerado um dos principais teóricos da física moderna e sucessor de Albert Einstein, Stephen Hawking tem 70 anos e foi professor lucasiano de matemática da Universidade de Cambridge, posto que já havia sido ocupado pelo físico Isaac Newton.
Atualmente, ele dedica-se a pesquisas e palestras.
Hawking luta, há quase quatro décadas, contra o ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), doença degenerativa que paralisa os músculos de seu corpo e não tem cura.
Seu estado de saúde deteriorou-se nos últimos anos e seus movimentos estão quase que integralmente paralisados.
Cientistas do Cern (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear) anunciaram nesta quarta-feira terem descoberto uma nova partícula subatômica que pode ser o tão procurado Bóson de Higgs, conhecido como a "partícula de Deus" e considerado crucial para entender a formação do Universo.
"Confirmo que uma partícula foi descoberta e é consistente com a teoria do Bóson de Higgs", declarou John Womersley, executivo-chefe do Conselho de Ciência e Tecnologia em Londres, que está trabalhando com o Cern.
O resultado foi considerado preliminar, mas um indicativo "forte e sólido" da partícula. Ainda assim, são necessárias mais pesquisas para comprovar que o que eles viram é de fato a partícula de Higgs.
Os cientistas alegam ter encontrado uma "curva" nos dados sobre as variações de massa das partículas geradas no imenso acelerador de partículas Grande Colisor de Hádrons. Essa "curva" corresponde a uma partícula que pesa 125,3 gigaelectronvolts (Gev) - cerca de 133 vezes mais pesada do que o próton existente no âmago de cada átomo.
O que não se sabe é se a partícula descoberta é realmente o Bóson de Higgs, uma variante ou uma partícula subatômica completamente nova, que leve a reformulações das teorias sobre a formação da matéria.
"É de fato uma nova partícula. Sabemos que deve ser um bóson, e o bóson mais pesado já conhecido", disse o porta-voz dos experimentos, Joe Incandela. "As implicações são significativas, e é justamente por isso que precisamos ser diligentes em nossos estudos e checagens."
Entenda o que são as pesquisas e sua importância:

O que é o Bóson de Higgs?

Segundo teorias da Física que aguardam comprovação definitiva, Higgs é uma partícula subatômica considerada uma das matérias-primas básicas da criação do Universo.
Existe uma teoria quase completa sobre o funcionamento do Universo, com todas as partículas que formam os átomos e moléculas e toda a matéria que vemos, além de partículas mais exóticas. Esse é o chamado Modelo Padrão.
Mas há um "buraco" na teoria: ela não explica como todas essas partículas obtiveram massa. A partícula de Higgs, cuja teoria foi proposta inicialmente em 1964, é uma explicação para tentar preencher esse vácuo.
Segundo o Modelo Padrão, o Universo foi resfriado após o Big Bang, quando uma força invisível, conhecida como Campo de Higgs, formou-se junto de partículas associadas, os Bósons de Higgs, transferindo massa para outras partículas fundamentais.

Por que a massa é importante?

Pesquisas do Bóson de Higgs no Cern
Bóson de Higgs pode preencher o 'buraco' na teoria chamada de Modelo Padrão
A massa é simplesmente uma medida de quanto qualquer objeto - uma partícula, uma molécula, um animal - contém em si mesmo. Se não fosse pela massa, todas as partículas fundamentais que compõem os átomos e os animais viajariam pelo cosmos na velocidade da luz, e o Universo como o conhecemos não seria agrupado em matéria.
A teoria em questão propõe que Campo de Higgs, permeando o Universo, permite que as partículas obtenham massa. Esse processo pode ser ilustrado com a resistência que um corpo encontra quando tenta nadar em uma piscina. O Campo de Higgs permeia o Universo como a água enche uma piscina.

Como se sabe que o Higgs existe?

A caça ao Higgs é uma das razões que levaram à construção do imenso acelerador de partículas Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), do Cern (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), na Suíça. A primeira vez que se falou da partícula foi em 1964, quando seis físicos, incluindo o escocês Peter Higgs, apresentaram uma explicação teórica à propriedade da massa.
O Modelo Padrão é um manual de instruções para saber como funciona o cosmos, que explica como as diferentes partículas e forças interagem. Mas a teoria sempre deixou uma lacuna - ao contrário de outras partículas fundamentais, o Higgs nunca foi observado por experimentos.
Agora, os pesquisadores do Cern dizem que descobriram uma partícula que pode ser o Bosón de Higgs, mas destacam que mais pesquisas são necessárias para confirmar a descoberta.

Como os cientistas buscam o Bóson de Higgs?

Ironicamente, o Modelo Padrão não prevê a existência de uma massa exata para o Higgs. Aceleradores de partículas como o LHC são utilizados para pesquisar a partícula em um intervalo de massas onde ela possa estar.
O LHC esmaga dois feixes de prótons próximos à velocidade da luz, gerando uma série de outras partículas. É possível que o Higgs nunca seja observado diretamente, mas os cientistas esperam que ele exista momentaneamente nessa "sopa" de partículas. Se ele se comportar como os pesquisadores esperam que ele se comporte, pode se decompor em novas partículas, deixando um rastro de provas de sua existência.

Quais evidências os cientistas podem encontrar?

O Bóson de Higgs é instável. Caso seja produzido a partir das bilhões de colisões no LHC, o bóson rapidamente se transformará em partículas de massa menor e mais estáveis. Serão essas partículas os indícios que os físicos poderão usar para comprovar a existência do bóson, que aparecerão como ligeiras variações - como a anunciada nesta quarta - em gráficos usados pelos cientistas. Portanto, a confirmação se dará a partir de uma certeza estatística.

E se o Bóson de Higgs não for encontrado?

Caso se comprove que o Bóson de Higgs não existe, a teoria do Modelo Padrão teria de ser reescrita. Isso poderia abrir caminho para novas linhas de pesquisa, que podem se tornar revolucionárias na compreensão do Universo, da mesma forma que uma lacuna nas teorias da Física acabou levando ao desenvolvimento das teses da mecânica quântica, há um século.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Militantes islâmicos atacaram uma das mais famosas mesquitas da cidade histórica de Timbuktu, no Mali, segundo informações de moradores da cidade.
Um morador disse à BBC que homens armados arrombaram a porta da mesquita Sidi Yahia, datada do século 15.
O grupo Ansar Dine, que teria ligação com a Al-Qaeda, assumiu o controle de Timbuktu no início de 2012.
Os militantes da organização extremista já destruíram vários templos da cidade alegando que as construções vão contra as interpretações mais severas da doutrina islâmica.
O porta-voz do Ansar Dine, Sana Ould Bamana, disse à BBC que o grupo já conseguiu alcançar 90% de seus objetivos de destruir todos os mausoléus que não seguem as regras islâmicas.
Segundo Bamana, a Sharia, a lei religiosa islâmica, não permite que as construções de túmulos ultrapassem os 15 centímetros.
As construções históricas da cidade são consideradas Patrimônio da Humanidade pela ONU.
A Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) e o governo no Mali já pediram para que o Ansar Dine suspenda a destruição do patrimônio.
A Unesco disse temer que artefatos e manuscritos valiosos possam ser contrabandeados para fora da região e pediu ajuda aos países vizinhos para evitar o contrabando das peças.
O novo promotor chefe da Corte Criminal Internacional, Fatou Bensouda, condenou no último domingo a destruição empreendida pelo grupo islâmico, afirmando que a ação do Ansar Dine é um “crime de guerra”, segundo a agência de notícias AFP.

Extremistas

A Organização da Conferência Islâmica, composta por 55 países, divulgou uma declaração na qual disse que os locais atacados pelo Ansar Dine são “parte do rico patrimônio islâmico do Mali e não se deve permitir que sejam destruídos e colocados em risco por elementos extremistas intolerantes”.
Sidi Yahia é uma das três grandes mesquitas de Timbuktu.
A cidade ganhou reconhecimento internacional devido ao seu papel como centro de aprendizado islâmico, baseado nas três grandes mesquitas da cidade, durante os séculos 15 e 16.
A porta que foi destruída tinha sido selada, pois dá acesso aos túmulos sagrados dos santos. Alguns moradores acreditam que a abertura da porta é um anúncio de desgraças.
De acordo com a agência de notícias AFP, algumas testemunhas da ação do grupo islâmico choraram quando viram os danos.
Timbuktu também é conhecida como a “Cidade dos 333 Santos”, da qual se origina a tradição sufista islâmica.
Mas a crença professada pelo Ansar Dine, que é salafista, condena a veneração de santos.
O grupo assumiu o controle de Timbuktu em abril.
Inicialmente, o Ansar Dine estava trabalhando junto com rebeldes seculares tuaregues, exigindo a independência dos territórios do norte do Mali.
Os grupos, entretanto, entraram em choque recentemente e as forças islâmicas controlam, agora, os três principais centros do norte do país africano, Timbuktu, Gao e Kidal.

domingo, 1 de julho de 2012

Os mexicanos aguardam os resultados das eleições gerais deste domingo, marcadas pela economia e o combate ao narcotráfico.
Milhares de policiais foram mobilizados para proteger quase 80 milhões de eleitores de possíveis atos de violência de cartéis em zonas eleitorais. Autoridades mexicanas afirmaram que a votação transcorreu pacificamente na grande maioria do país.
Enrique Peña Nieto é o favorito para levar seu partido, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) que governou o país de 1929 a 2000 de volta ao poder após 12 anos.
Seu maior rival, o socialista Andres Manuel Lopez Obrador, do PRD, ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais de 2006.
À época ele se recusou a reconhecer a vitória do então presidente Felipe Calderón e liderou uma série de protestos.
Desta vez todos os candidatos prometeram respeitar o resultados do pleito, que não prevê um segundo turno.
Além de seu novo presidente, os eleitores mexicanos escolhem neste domingo novos congressistas, alguns governadores e prefeitos, numa eleição marcada pelo debate econômico e pela guerra às drogas.
No campo econômico, as questões mais prementes são a pobreza extrema - que afeta quase um terço dos mexicanos - e a sensação, de grande parte da população, de perda de poder aquisitivo, apesar das taxas de crescimento recentes do país (entre 3% e 4%).

Drogas

O outro grande tema é a insegurança, no momento em que o México vive sua maior onda de violência ligada ao narcotráfico, com casos de chacinas, sequestros e desaparecimentos ligados a disputas entre cartéis, e entre narcotraficantes e autoridades.
São estimados 50 mil mortos desde 2006, quando o presidente conservador Felipe Calderón foi eleito e abriu uma ofensiva contra o narcotráfico.
No entanto, independentemente de quem assuma a Presidência após Calderón, não é esperada uma mudança radical na política de repressão ao tráfico, nem a retirada do Exército das ruas do país.
Clique Leia também na BBC Brasil: México teme 'narcovoto' nas eleições deste domingo
Outro tema em debate é o papel regional do México. O correspondente da BBC Mundo no país, Ignacio de los Reyes, explica que, para muitos mexicanos, é hora de o país tentar recuperar seu protagonismo na América Latina, perdido ao Brasil nos últimos anos.
Veja a seguir o perfil dos três principais candidatos que disputam a Presidência mexicana neste domingo:

Enrique Peña Nieto (PRI)

Peña Nieto/AP
Penã Nieto casou com uma famosa atriz da TV mexicana em 2010
Pesquisas de intenção de voto dão até 17 pontos de vantagem para o advogado de 45 anos sobre o segundo colocado. Peña Nieto já foi governador do Estado do México e prometeu reduzir a violência do narcotráfico e fomentar a criação de empregos para jovens. Também se apresenta como a "nova cara" do tradicional PRI.
O candidato é a esperança do PRI para voltar ao poder após 12 anos na oposição; no entanto, no Estado de Tamaulipas - um dos mais afetados pela guerra às drogas - a legenda foi afetada por denúncias de corrupção e de manter elos com narcotraficantes.
Apesar de ter formalizado sua candidatura há meses, ele há mais de dois anos lidera as pesquisas de intenção de voto com folga.
Tiveram pouco impacto junto a seu eleitorado as revelações, do início do ano, de que tinha filhos com outras duas mulheres e a admissão de ter traído sua primeira esposa.
Sua imagem foi mais prejudicada quando teve dificuldades para citar três livros que o tivessem influenciado, durante um evento literário. Viúvo em 2007, casou-se em 2010 com uma popular atriz da TV mexicana.
Oponentes criticam sua ligação com grupos empresariais e a mais poderosa rede de TV do país, a Televisa. Também dizem que a volta do PRI ao poder significaria um retorno ao autoritarismo.

Obrador
O carismático esquerdista já perdeu as eleições de 2006

Andres Manuel Lopez Obrador (PRD)

Espera-se que o carismático líder de esquerda termine o pleito na segunda posição, como nas eleições de 2006, mas com uma distância maior para o vencedor.
Natural do Estado de Tabasco, ele é conhecido por seus inflamados discursos contra oligarcas poderosos - ainda que tenha adotado um tom mais conciliador na atual campanha.
Ele prometeu diminuir a participação militar no combate ao narcotráfico, criar 7 milhões de empregos e promover crescimento na casa dos 6% anuais.
Obrador, de 58 anos de idade, é criticado por ser temperamental e acusado de pouco democrático.
A acusação vem da eleição presidencial passada, quando perdeu por poucos votos para Calderón, mas não aceitou a derrota e conclamou seus simpatizantes a paralisar partes da capital por meses.

Josefina Vazquez Mota (AFP)
Brigas internas de seu partido atrapalharam a campanha da conservadora

Josefina Vazquez Mota (PAN)

É a candidata da situação. Conservadores atualmente no poder apostaram que Vazquez se tornaria a primeira presidente do país. Mas divisões partidárias internas impediram que sua candidatura decolasse.
Aos 51 anos e no papel da primeira candidata mulher por um partido majoritário, Vazques Mota tentou conquistar o voto feminino, mas estancou na terceira posição nas pesquisas de intenção de voto.
Um de seus principais desafios é agradar os mexicanos que se sentem desencantados com o PAN, após 12 anos do partido no poder.
Ela é contra o aborto, mas também condena a prisão de mulheres que abortam, prática que ocorre em partes do México.
Eleitores mexicanos estão comparecendo às urnas neste domingo para escolher seu novo presidente, com pesquisas de opinião dando a liderança para Enrique Peña Nieto, do PRI.
O Partido Revolucionário Institucional, que esteve no poder no México entre 1929 e 2000, poderia, assim, voltar ao poder após um hiato de 12 anos.
O pleito não prevê um segundo turno.
Além de seu novo presidente, pouco menos de 80 milhões de eleitores mexicanos escolhem neste domingo novos congressistas, alguns governadores e prefeitos, numa eleição marcada pelo debate econômico e pela guerra às drogas.
No campo econômico, as questões mais prementes são a pobreza extrema - que afeta quase um terço dos mexicanos - e a sensação, de grande parte da população, de perda de poder aquisitivo, apesar das taxas de crescimento recentes do país (entre 3% e 4%).
O outro grande tema é a insegurança, no momento em que o México vive sua maior onda de violência ligada ao narcotráfico, com casos de chacinas, sequestros e desaparecimentos ligados a disputas entre cartéis, e entre narcotraficantes e autoridades.
São estimados 50 mil mortos desde 2006, quando o presidente conservador Felipe Calderón foi eleito e abriu uma ofensiva contra o narcotráfico.
No entanto, independentemente de quem assuma a Presidência após Calderón, não é esperada uma mudança radical na política de repressão ao tráfico, nem a retirada do Exército das ruas do país.
Clique Leia também na BBC Brasil: México teme 'narcovoto' nas eleições deste domingo
Outro tema em debate é o papel regional do México. O correspondente da BBC Mundo no país, Ignacio de los Reyes, explica que, para muitos mexicanos, é hora de o país tentar recuperar seu protagonismo na América Latina, perdido ao Brasil nos últimos anos.
Veja a seguir o perfil dos três principais candidatos que disputam a Presidência mexicana neste domingo:

Enrique Peña Nieto (PRI)

Peña Nieto/AP
Penã Nieto casou com uma famosa atriz da TV mexicana em 2010
Pesquisas de intenção de voto dão até 17 pontos de vantagem para o advogado de 45 anos sobre o segundo colocado. Peña Nieto já foi governador do Estado do México e prometeu reduzir a violência do narcotráfico e fomentar a criação de empregos para jovens. Também se apresenta como a "nova cara" do tradicional PRI.
O candidato é a esperança do PRI para voltar ao poder após 12 anos na oposição; no entanto, no Estado de Tamaulipas - um dos mais afetados pela guerra às drogas - a legenda foi afetada por denúncias de corrupção e de manter elos com narcotraficantes.
Apesar de ter formalizado sua candidatura há meses, ele há mais de dois anos lidera as pesquisas de intenção de voto com folga.
Tiveram pouco impacto junto a seu eleitorado as revelações, do início do ano, de que tinha filhos com outras duas mulheres e a admissão de ter traído sua primeira esposa.
Sua imagem foi mais prejudicada quando teve dificuldades para citar três livros que o tivessem influenciado, durante um evento literário. Viúvo em 2007, casou-se em 2010 com uma popular atriz da TV mexicana.
Oponentes criticam sua ligação com grupos empresariais e a mais poderosa rede de TV do país, a Televisa. Também dizem que a volta do PRI ao poder significaria um retorno ao autoritarismo.

Obrador
O carismático esquerdista já perdeu as eleições de 2006

Andres Manuel Lopez Obrador (PRD)

Espera-se que o carismático líder de esquerda termine o pleito na segunda posição, como nas eleições de 2006, mas com uma distância maior para o vencedor.
Natural do Estado de Tabasco, ele é conhecido por seus inflamados discursos contra oligarcas poderosos - ainda que tenha adotado um tom mais conciliador na atual campanha.
Ele prometeu diminuir a participação militar no combate ao narcotráfico, criar 7 milhões de empregos e promover crescimento na casa dos 6% anuais.
Obrador, de 58 anos de idade, é criticado por ser temperamental e acusado de pouco democrático.
A acusação vem da eleição presidencial passada, quando perdeu por poucos votos para Calderón, mas não aceitou a derrota e conclamou seus simpatizantes a paralisar partes da capital por meses.

Josefina Vazquez Mota (AFP)
Brigas internas de seu partido atrapalharam a campanha da conservadora

Josefina Vazquez Mota (PAN)

É a candidata da situação. Conservadores atualmente no poder apostaram que Vazquez se tornaria a primeira presidente do país. Mas divisões partidárias internas impediram que sua candidatura decolasse.
Aos 51 anos e no papel da primeira candidata mulher por um partido majoritário, Vazques Mota tentou conquistar o voto feminino, mas estancou na terceira posição nas pesquisas de intenção de voto.
Um de seus principais desafios é agradar os mexicanos que se sentem desencantados com o PAN, após 12 anos do partido no poder.
Ela é contra o aborto, mas também condena a prisão de mulheres que abortam, prática que ocorre em partes do México.