Todo o mundo quer saber se - e por que - os irmãos
Tsarnaev detonaram duas bombas durante a Maratona de Boston, na semana
passada. E uma altamente treinada equipe de interrogadores espera obter
essas respostas.
Curiosamente, a melhor ferramenta de interrogatório pode ser uma lata de Coca-Cola na mesa.E, assim que o interrogador cria vínculo com o suspeito, as coisas ficam mais fáceis.
"Você tende a conversar com pessoas amigáveis", diz Bowman.
Independentemente de quais sejam os métodos usados pelos investigadores do atentado em Boston, eles parecem ter funcionado até agora. O único suspeito vivo, Dzhokhar Tsarnaev, de 19 anos, aparentemente começou a se abrir.
Ainda hospitalizado com ferimentos a bala, ele informou, segundo a polícia, que ele e seu irmão Tamerlan (que morreu em confronto com policiais) agiram sozinhos.
Disse também, pelo que uma autoridade governamental informou à rede CNN, que seu irmão foi o idealizador dos ataques e que este queria "defender o Islã".
Grupo de elite
Consultado pela BBC, FBI não quis confirmar nem negar os supostos detalhes do interrogatório.Mas sabe-se que os interrogadores do caso são parte de uma equipe de elite, chamada de Grupo de Interrogatório de Detentos de Alto Valor, criado em 2009 por ordem presidencial.
O grupo é formado por "equipes móveis de interrogadores experientes, analistas, especialistas no assunto em questão e linguistas, para interrogar terroristas de alto valor", dizem documentos do governo americano.
Equipe de interrogadores de elite foi encarregada do caso
O grupo foi idealizado para ter gente treinada e pronta para o caso de os EUA capturaram vivo Osama Bin Laden, explica um especialista forense que tem acesso ao grupo e que pediu anonimato.
"Não acho que seja um exagero", disse ele, questionado quanto à convocação do grupo de elite para lidar com Tsarnaev. "O (governo) quer mostrar seu brinquedo novo."
Abordagem
Enquanto a equipe tenta obter mais informações sobre o caso de Boston, médicos e enfermeiras tentam fazer com que o suspeito sinta-se confortável.A abordagem dos interrogadores parece humana, sobretudo se comparada à forma como autoridades americanas já trataram suspeitos de terrorismo.
Anos atrás, surgiram suspeitas de que a CIA teria usado técnicas controversas de interrogatório em um acusado de terrorismo, Abu Zubaydah, um agente sênior da Al-Qaeda. Suspeita-se que a CIA tenha tirado suas roupas, mantido-o em um quarto frio e submetido-o a simulações de afogamento.
Vídeos do interrogatório gravados pela CIA supostamente mostram o suspeito gritando e vomitando.
Aparentemente, ele deu poucas informações aos interrogadores. Mais tarde, agentes especiais do FBI o deixaram mais à vontade e, com o tempo, descobriram novos fatos sobre a organização extremista. Até hoje membros da CIA e do FBI ainda discutem as circunstâncias envolvendo o interrogatório de Zubaydah.
Ao mesmo tempo, a abordagem tradicional do FBI - aprender o máximo possível sobre o suspeito e criar um elo de confiança - reflete a filosofia da agência em obter dados de inteligência.
"As entrevistas mais bem-sucedidas são as em que o interrogador tem já 90% do que quer obter", diz Mike German, ex-agente do FBI que atuou em casos de contraterrorismo doméstico.
Humilhação e espancamento
German e outros especialistas creem que os métodos mais agressivos de interrogatório, como humilhação e espancamentos, são menos eficientes. Deixando de lado questões morais e éticas, dizem eles, infligir dor raramente é uma boa estratégia."As pessoas não reagem bem a métodos coercivos", diz Bowman.
Interrogatório de José Padilla até hoje causa polêmica
"Eles o entrevistaram durante seis meses, sem conseguir nada", prossegue Bowman. "Mas aí o FBI teve uma chance (de interrogá-lo), e ele falou por quatro horas."
Padilla foi condenado em 2007, por conspiração para terrorismo.
Esse episódio, como outros de extremismo doméstico, entretanto, é complexo. Autoridades governamentais rebatem críticas de que o caso foi tratado de maneira ineficiente. E, passados anos desde sua prisão, o caso Padilla ainda desperta polêmicas e tem perguntas nunca respondidas.
Gentileza não é o único método. Interrogadores devem adequar sua abordagem ao suspeito, algo que pode demandar mais agressividade para obter informações, dizem especialistas.
"Se for um sujeito dócil, e você manda (um interrogador) de 1,80 metro parecido com um jogador de futebol americano, gritando, 'daqui a um ano você será executado', ele pode se desestabilizar e contar tudo", diz o especialista forense.
No caso de Tsarnaev, os investigadores estão em posição de força - e podem não sentir a necessidade de gritar.
"O interrogatório pode ajudar a descobrir detalhes", diz German. "Mas a maioria das informações já é conhecida."
O especialista forense concorda: "Para ser sincero, eles não precisam que (Tsarnaev) lhes diga tudo o que sabe. Mas seria bom."
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