Mỹ Lai (em
vietnamita:
thảm sát Mỹ Lai) é o nome da
aldeia vietnamita onde, em
16 de março de
1968, centenas de civis, na maioria mulheres e crianças, foram executados por soldados do
exército dos Estados Unidos, no maior massacre de civis ocorrido durante a
Guerra do Vietnã.
Antes de serem mortas, algumas das vítimas foram estupradas e
molestadas sexualmente, torturadas e espancadas. Alguns dos corpos
também foram mutilados.
História
Na véspera da operação, integrantes da
Companhia Charlie, da 11ª
Brigada de
Infantaria, mandados à região por denúncias de que a área estaria servindo de refúgio para
guerrilheiros da FNL (Frente Nacional de Libertação do Vietnã), foram informados pelo comando norte-americano que os habitantes de
My Lai
e das aldeias vizinhas saíam para o mercado da região as sete da manhã
para compra de comida e que, consequentemente, aqueles que ficassem na
área seriam guerrilheiros vietcongs ou simpatizantes.
Como consequência, integrantes de um dos pelotões da companhia, comandados pelo
tenente William Calley, rumaram para o local. Muitos soldados dessa unidade haviam sido mortos ou feridos em combates, nos dias anteriores.
Quando as tropas penetraram na aldeia, o tenente Calley, lhes disse: "
É o que vocês estavam esperando: uma missão de procurar e destruir". Calley diria mais tarde ter recebido ordens para
"limpar My Lai", considerada um feudo dos combatentes da FNL. '
"As ordens eram para matar tudo o que se mexesse"', diria mais tarde um dos militares americanos ao jornalista
Seymour Hersh, que daria a conhecer ao mundo o horror praticado pelo exército dos EUA naquela aldeia
.
Sob o comando de Calley, o pelotão não poupou ninguém. Em apenas
quatro horas, mataram os animais, queimaram as choupanas, violaram e
mutilaram as mulheres, assassinaram homens e trucidaram as crianças.
Para sobreviver, alguns habitantes tiveram que fingir-se de mortos,
passando horas no meio dos cadáveres. No final do derramamento de
sangue, havia 504 cadáveres dos aldeões, em sua grande maioria idosos,
mulheres e crianças (cerca de 170), todos desarmados e assassinados a
sangue frio.
Ron Haeberle, fotógrafo militar que acompanhava o pelotão, encarregou-se de imortalizar a chacina .
No Ocidente, o episódio é conhecido como o massacre de My Lai, e no
Vietnã, como Son My, o nome do povoado a que pertenciam as quatro
aldeias, entre elas My Lai, que serviram de cenário para a orgia matinal
de atrocidades, celebrada pelos homens da Companhia Charlie, dirigida
pelo capitão Ernest Medina.
Cerca de vinte pessoas sobreviveram. As casas foram incendiadas, e as
quatro aldeias reduzidas a cinzas. Quando acabou a guerra, em
1975,
alguns voltaram para recomeçar a vida na terra de seus ancestrais. Seis
deles permanecem na comunidade, rebatizada pela República Socialista do
Vietnã como
Tinh Khe.
O massacre só foi interrompido graças à iniciativa heróica do piloto de
helicóptero,
Hugh Thompson, Jr.,
que vendo do alto a matança, pousou o aparelho e ameaçou atirar com as
metralhadoras de sua própria nave contra os soldados americanos.
Homem e criança assassinados. (Foto de Ronald L. Haeberle)
O crime só veio a público um ano depois, devido a denúncias saídas de
dentro do exército, por soldados que testemunharam ou ouviram os
detalhes do caso – e um deles, Ronald Ridenhour, escreveu a diversos
integrantes do governo americano, inclusive ao
Presidente Nixon
– e chegaram a órgãos de imprensa e às televisões. Jornalistas
independentes conseguiram fotos dos assassinatos e as estamparam na
mídia mundial, ajudando a aumentar o horror e os esforços dos pacifistas
a pressionar o governo Nixon a se retirar do
Vietnã.
Em março de
1970, 25 soldados foram indiciados pelo exército dos
Estados Unidos por
crime de guerra e ocultação de fatos e provas no caso de
My Lai. Comparado pela mídia aos genocídios de
Oradour-sur-Glane e
Lídice durante a
Segunda Guerra Mundial, que causou a condenação e execução de diversos oficiais
nazistas, apenas o tenente William Calley, comandante do
pelotão responsável pelas mortes foi indiciado e julgado.
Condenado à
prisão perpétua, Calley foi perdoado dois dias depois da divulgação da sentença pelo Presidente
Richard Nixon, cumprindo uma pena alternativa de três anos e meio em prisão domiciliar na
base militar de
Fort Benning, na
Geórgia.
Implicados no massacre
Oficiais:
- William L. Calley. 2º Tenente. Líder do 1º Pelotão da Companhia Charlie. Foi o único a ser condenado pelo massacre.
- Frank A. Barker. Tenente-Coronel, comandante da Força-Tarefa
Barker. Ordenou a destruição da aldeia e de seus habitantes. Foi morto
em combate no dia 13 de junho de 1968.
- Stephen Brooks. Tenente. Líder do 2º Pelotão da Companhia de Charlie.
- Oran K. Henderson. Coronel. Sobrevoou a aldeia em seu helicóptero e ordenou o ataque.
- Samuel W. Koster. General, comandante da Divisão Americal. Cuidou de encobrir o que acontecera em My Lai.
- Eugene Kotouc. Capitão da inteligência militar. Forneceu as
informações sobre a aldeia atacada. Suspeito de ter participado de
torturas e execuções sumárias, após o episódio de My Lai.
- Ernest Medina. Capitão, comandante da Companhia Charlie. Planejou, autorizou e supervisionou as operações em My Lai.
- Michael Bernhardt. Sargento. Por ter se recusado a participar
da matança dos civis em My Lai, recebeu ameaças do capitão Medina. A
partir de então, foi designado para várias missões muito arriscadas, mas
saiu ileso delas. Foi uma das testemunhas no inquérito sobre o
massacre. Em 1970, recebeu o prêmio "Humanista Ético".
- Herbert Carter. Feriu-se acidental ou intencionamente (recebeu um tiro no pé), sendo retirado do local onde ocorria o massacre.
- Dennis Conti. No inquérito, declarou que, inicialmente,
recusou-se a atirar contra os camponeses de My Lai, mas depois disparou
com seu lançador de granada M79 sobre um grupo de pessoas que tentava
fugir do massacre.
- James Dursi. Matou uma mulher e sua criança, mas depois (segundo seu depoimento no Inquérito) negou-se a continuar matando.
- Ronald Grzesik. Líder de equipe. Participou do agrupamento dos moradores de My Lai, mas alegou ter se recusado a matá-los.
- Robert Maples. Afirmou, no Inquérito, ter se recusado a participar do massacre.
- Paul Meadlo . Inicialmente negou, mas depois admitiu sua participação na carnificina.
- David Mitchell. Sargento. Apesar do depoimento de testemunhas
que afirmaram tê-lo visto atirando sobre os civis de My Lai, foi
declarado inocente no Inquérito.
- Varnado Simpson . Suicidou-se em 1997, alegando não suportar o sentimento de culpa por ter cometido vários assassinatos em My Lai.
- Harry Stanley. Alegou ter se recusado a participar da matança.
- Ezequiel Torres. Torturou um velho aldeão de My Lai que ele
encontrou com uma perna enfaixada (considerada suspeita). Atirou contra
um grupo de dez mulheres e cinco crianças em uma cabana. Depois, recebeu
ordens de Calley para disparar sua M60 contra os civis da aldeia. Ele
teria disparado um única vez e depois se recusado a continuar. Então,
Calley lhe teria tirado a arma das mãos, disparando ele próprio.
- Frederick Widmer. No inquérito, descreveu com detalhes ter
matado um menino de My Lai que estava com um braço despedaçado por um
tiro. Ele olhou bem na cara da criança e disparou. “Gosto de pensar que pratiquei um ato de clemência. Mas sei que não foi direito” - declarou.
Citações
- "Eram muitos soldados, aproximaram-se da casa atirando nas galinhas e
os patos. Matavam tudo o que viam. Sentimos um medo atroz. Na casa,
estávamos minha mãe, minha filha de 16 anos, meu filho de seis e eu, que
estava grávida. Apontaram suas armas para nós e pediram que saíssemos e
fôssemos até o açude. (...) Havia muita gente no açude. Empurraram-nos
para dentro dele a coronhadas. Juntávamos as mãos e implorávamos para
que não nos matassem, mas eles começaram a disparar. Senti como se as
balas me mordessem nas costas e na perna, vi como elas arrancaram metade
do rosto de minha filha, e então desmaiei. O frio me devolveu a
consciência. Meu filho pequeno jazia a meu lado. Não conseguia andar.
Arrastei-me para chegar à minha casa e beber água porque estava com uma
sede terrível. No caminho encontrei os corpos nus de muitas jovens. Eles
as haviam violado e assassinado"
- - Ha Thi Quy, 83 anos em 2008.
- "Ainda ouço com nitidez os gritos dos soldados que irromperam em
minha casa naquela manhã. ‘Tudi maus, tudi maus!’ Não sei o que isso
queria dizer. Nem sei se era inglês ou uma imitação de vietnamita, mas
era o que gritavam enquanto apontavam para nós e faziam sinais para
sairmos. ‘Tudi maus, tudi maus!’ Minha mãe me disse para fugir e me
esconder. Minhas irmãs corriam atrás de mim seguidas pela minha mãe com
meus dois irmãos pequenos; o menor, tinha dois anos. Quando íamos entrar
no abrigo, nos metralharam. Seus corpos caíram sobre mim".
- - Cong Pham Thanh, que tinha onze anos no dia do massacre.
- "Sobrevoamos uma vala em que haviam sido mortos mais de cem
vietnamitas. Andreotta percebeu movimentos, então Thompson aterrissou
novamente. Andreotta foi diretamente até a vala. Teve que caminhar entre
cadáveres que chegavam à altura de sua cintura para resgatar um menino
pequeno. Eu fiquei de pé, em campo aberto. Ele se aproximou e me
entregou o menino, mas a vala estava tão cheia de cadáveres e de sangue
que ele não conseguia sair. Estendi o meu rifle para ele e o ajudei a
sair".
- - Larry Colbrun, artilheiro do helicóptero pilotado por Hugh Thompson .
- "Não se passa um só dia que seja em que eu não sinta remorsos pelo
sucedido em My Lai. Se me perguntar porque eu fiz aquilo, só posso dizer
que eu não passava de um segundo tenente a receber ordens do meu
superior hierárquico, e que obedeci".
- - Wiliiam Calley, citado por um diário da cidade de Columbus, na Georgia .