A CPI que investiga irregularidades no Conselho Administrativo de
Recursos Fiscais (Carf), apontadas pela Operação Zelotes, da Polícia
Federal, só conseguiu colher, nesta quinta-feira (5), o depoimento de um
dos dois investigados convocados a prestar esclarecimentos. O silêncio
foi a opção do advogado Eduardo Gonçalves Valadão, que foi sócio de
escritório de advocacia de José Ricardo da Silva, um dos ex-conselheiros
do órgão implicados na apuração sobre a venda de sentenças para
favorecer empresas.
"Respeito o trabalho dessa Casa, mas já existe
uma ação judicial sobre os fatos e prefiro me defender perante a
Justiça, usando esse direito que me é garantido", afirmou.
Chamado
a falar logo em seguida, Halysson Carvalho Silva, assim como Valadão,
encontra-se em prisão provisória, em Brasília. Residente no Piauí, ele
responde por suspeita de extorsão contra o empresário Eduardo Souza
Ramos, representante da Mitsubishi Motors no Brasil, para obter US$ 1,5
milhão.
Halysson Silva negou envolvimento com pessoas e fatos
investigados pela Operação Zelotes, a operação deflagrada pela Polícia
Federal sobre o Carf. A suspeita é de que, por meio de intermediários,
conselheiros do Carf cobravam propina para anular autuações fiscais ou
reduzir o valor dos tributos devidos. Agora, a PF investiga a
participação de duas das consultorias mais atuantes no Carf também em
negociações para aprovar medidas provisórias favorecendo empresas
automobilísticas, mediante pagamento de propinas, inclusive
parlamentares.
As duas empresas são as SGR Consultoria Empresarial
e a Marcondes & Mautoni Empreendimentos, que têm em seus quadros
José Ricardo da Silva e Mauro Marcondes Machado, parceiros do lobista
Alexandre Paes dos Santos, que também está preso. Os senadores
confrontaram Halysson Silva com mensagens que partiram de endereços de
e-mails supostamente seus, dirigidos a esses investigados, sobre viagens
a São Paulo e até sobre acertos de valores a serem cobrados de
empresários.
"Coloco-me à disposição da comissão, mas está havendo
algum engano. Meu advogado diz que estou preso por extorsão, mas não
tenho nada a ver com isso", afirmou.
De todos os citados, Hallyson
Silva confirmou que esteve apenas com Mauro Marcondes, por duas vezes,
em São Paulo. Sobre o motivo do encontro, ele disse que não se lembrava.
Halysson foi também indagado sobre mensagem destinada a Alexandre Paes
dos Santos por Raimundo Lima, que integra seu círculo de amigos no Piauí
e participou de sua campanha a deputado nas últimas eleições. Afirmou
que sequer conhecia Lima pelo nome próprio, mas apenas pelo apelido de
“Júnior Piranha”, e mais uma vez disse não ter como explicar o fato.
O
depoente também não acreditar que amigos seus estejam envolvidos com os
acusados e possam ter usado seus e-mails em para atividades
relacionadas ao esquema criminoso. Antes, a hipótese foi levantada pelo
advogado que o acompanhou Hallyson na audiência.
Os
questionamentos ao depoente foram feitos pelo presidente da CPI, senador
Ataídes Oliveira (PSDB-TO), a relatora, senadora Vanessa Grazziotin
(PCdoB-AM), e Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Nenhum se mostrou totalmente
convencido com as explicações apresentadas por Hallyson Silva.
"Ou o senhor é muito esperto ou estão lhe confundido com outra pessoa", observou Vanessa Grazziotin.
Ataídes
Oliveira lembrou ao depoente que, caso estivesse tentando proteger
terceiros, ele poderia estar se complicando. Para Randolfe, as palavras
de Hallyson não pareciam “corresponder aos fatos”. Observou que a
tendência é que sua prisão temporária seja prorrogada. Porém, se
decidisse por colaborar, ainda que fosse com a PF ou o Ministério
Público, poderia contar com vantagens legais.
Logo no início do
depoimento, Hallyson Silva informou que já trabalhou com promoção de
shows e outros eventos. Agora, é sócio de pequena distribuidora de
bebidas em Teresina. Ele teve ainda uma passagem por Brasília, quando
atuou como comissionado no gabinete de Frank Aguiar, no período em que o
cantou exerceu mandato de deputado federal.
Agora em 2015, por
poucos meses, ocupou cargo comissionado na Fundação Cultural Piauí,
indicado pelo então deputado estadual Francis Lopes (PRP), também
cantor. No passado, chegou a ser empregado e, depois, sócio de empresa
que forneceu mobiliário e equipamentos aos Correios. Sem receber
pagamento, retirou da agência um ar condicionado, o que motivou a
estatal a mover contra ele ação por apropriação indébita. Não há
condenação final no caso, que está em fase de recurso no Superior
Tribunal de Justiça.
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