A repentina deterioração da saúde do presidente Hugo Chávez imprimiu maior importância às eleições regionais da Venezuela, neste domingo. Embora as escolhas sejam locais, o resultado das urnas pode redefinir o panorama político do país, diante das incertezas quanto ao futuro da Presidência.
Em 14 anos de governo, este é o primeiro pleito em que Chávez estará ausente. Ainda assim, ele é o foco das atenções e o motor do voto, tanto entre simpatizantes como entre os opositores.As diretrizes do partido PSVU (Partido Socialista Unido da Venezuela) aos militantes foi a de “assumir a tristeza” gerada pela recaída de Chávez “como motor para a luta e vitória”.
“Agora mais do que nunca estamos com Chávez e por ele será essa vitória”, discursou o candidato a governador Elias Jaua, ex-vice-presidente e um dos homens fortes do núcleo duro presidencial.
Jaua disputa a joia da coroa - o Estado de Miranda, o segundo mais populoso e rico do país – contra o ex-candidato presidencial Henrique Capriles, que foi derrotado por Chávez nas eleições presidenciais de outubro.
A disputa em Miranda será crucial. Para o governo, "recuperar" o Estado significará dar um duro golpe à oposição e desarticular uma de suas principais figuras eleitorais.
Para Capriles, uma vitória o consolidará como líder da coalizão opositora diante do instável cenário político que se aproxima.
Ele voltou a sonhar em ocupar a Presidência depois que Chávez surpreendeu a todos ao apontar o vice-presidente Nicolás Maduro como sucessor e candidato presidencial caso sua saúde o impeça de assumir o novo mandato, para o qual foi reeleito em outubro.
Capriles
Capriles precisa assegurar a reeleição no Estado de Miranda para se manter líder da oposição
“Este 16 de dezembro será uma espécie de (eleição) primária para a oposição. Capriles só será candidato (presidencial) se ganhar as eleições deste domingo”, afirmou à BBC Brasil o analista político Luis Vicente León, presidente da consultoria Datanalisis.
Caso contrário, em sua opinião, haverá uma nova disputa entre os opositores para eleger um novo candidato que possa enfrentar o chavismo.
Se Chávez ficar impossibilitado de dirigir o país, Maduro assumiria o cargo até 10 de janeiro, data marcada para a posse de Chávez. Depois disso, a Constituição determina que o presidente da Assembleia Nacional - atualmente Diosdado Cabello - assuma interinamente a Presidência e convoque eleições em 30 dias.
Outro Estado cuja disputa é acirrada é Zulia, maior colégio eleitoral do país. Ali disputa a reeleição o opositor Pablo Perez – um dos dirigentes que disputam com Capriles a liderança da coalizão opositora - e Francisco Arias Cárdenas, companheiro de Chávez no Exército.
‘Tensão’
A mais recente informação sobre a saúde de Chávez aponta “um processo progressivo, contínuo e paulatino de estabilização de sua condição geral”, segundo o ministro de Ciência e Tecnologia e genro do presidente, Jorge Arreaza, que acompanha o mandatário em Havana.Arreaza, admitiu, no entanto, que a família viveu “momentos de tensão” nas 48 horas consecutivas à cirurgia.
A declaração coincide com a trágica mensagem enviada pelo vice-presidente Nicolás Maduro, que alertou à população na última quarta-feira para se preparar para dias "duros, complexos e difíceis”.
Uma fonte do governo disse à BBC Brasil que se chegou a pensar que Chávez não resistiria à cirurgia, a quarta operação em 18 meses para combater um câncer na zona pélvica.
Críticas
Maduro foi apontado como sucessor de Chávez pelo próprio presidente
Nos encerramentos de campanha, o tom era “presentear” Chávez com uma “contundente vitória”.
“O comandante (Chávez) pode se recuperar tranquilo, nosso povo é consciente e sabe da importância dessas eleições”, disse à BBC Brasil a terapeuta Ely Reyes, enquanto aguardava em uma fila gigantesca na praça Bolívar, em Caracas, para receber uma camiseta do presidente com a frase “Agora mais do que nunca com Chávez”.
A exploração do estado de saúde de Chávez nos palanques governistas, em vez da discussão de projetos políticos, tem sido criticada pela oposição.
“Isso é outro assunto, porque ele (Chávez) não participa dessa contenda eleitoral”, reclamou Capriles, durante um ato de campanha na quarta-feira.
A oposição busca manter os sete Estados que governa, os mais ricos e populosos. Ao mesmo tempo terá de enfrentar o fantasma da abstenção, consequência do desânimo de seus eleitores que há pouco mais de dois meses foram às urnas e amargaram outra derrota.
Pouco mais de 17 milhões de venezuelanos estão convocados à eleger os governadores dos 23 Estados do país e os deputados dos Conselhos Legislativos Regionais. O voto na Venezuela é facultativo.
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