Presidente afastada disse que País teria saído "mais facilmente" da crise econômica que atravessa se, em 2015, os opositores ao seu governo "não tivessem criado junto uma crise política"
Dilma afirmou que está trabalhando para reverter processo de afastamento no plenário do Senado
A presidente da República afastada, Dilma
Rousseff, afirmou nesta segunda-feira (27) que a perícia feita pelo
corpo técnico do Senado atesta a inexistência de crime de
responsabilidade nos atos que embasam o pedido de impeachment em
tramitação no Congresso. "Hoje ficou caracterizado que os motivos pelos
quais eles me acusam não caracterizam crime. Nós viemos dizendo isso há
muito tempo, mas agora a própria perícia constatou isso", disse em
entrevista concedida à Rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul.
O
documento do corpo técnico do Senado responsabiliza a petista pela
liberação de créditos suplementares por meio de decreto, sem o aval do
Congresso, mas isenta Dilma da atuação nas pedaladas fiscais. Sobre os
decretos ela disse que não foi constatada nenhuma participação dolosa de
sua parte. "Não há, em nenhum momento, um alerta ou um parecer técnico
que diga 'presidenta, se você assinar este decreto estará comprometendo a
meta fiscal'. Por isso fica cada vez mais claro que este processo de
impeachment não tem base legal, não tem fundamentação", afirmou.Na entrevista, Dilma reafirmou que está trabalhando para reverter o processo de afastamento no plenário do Senado, na votação que deve ocorrer em agosto. "Não só tenho esperança como tenho sistematicamente feito tratativas nesta direção, conversando com senadores e discutindo também com os movimentos sociais", disse.
Dilma não sabe se vai pessoalmente defender seu mandato na Comissão Especial do Impeachment
A presidente afastada também afirmou que, caso
seja absolvida no processo de impeachment, ela ainda não sabe se
chamaria um plebiscito para a convocação imediata de novas eleições
presidenciais. "Ainda não há consenso entre as diferentes forças que me
apoiam", disse. Segundo ela, a certeza que se tem no momento é que a
volta "plena e irrestrita" de seu mandato é condição essencial para a
manutenção do processo democrático. "Caso contrário estaremos sempre na
ilegalidade, que é a ruptura democrática sem causa. É como rasgar a
Constituição."
Dilma comentou que não sabe se vai pessoalmente
defender seu mandato na Comissão Especial do Impeachment no Senado.
Segundo ela, essa questão está sendo avaliada. "Teria oportunidade de
falar ao Senado em duas circunstâncias: uma delas é na comissão, mas
creio que seria mais solene falar ao plenário, a todos os senadores",
citou.
Ao longo da entrevista, que durou cerca de 40
minutos, a presidente afastada voltou a denunciar "vazamentos seletivos
da Operação Lava Jato" com o intuito de atingir seu governo. Ela ainda
criticou medidas tomadas pelo presidente em exercício, Michel Temer,
como a extinção do Ministério da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos
e o não pagamento do reajuste do Bolsa Família.
SolidezSobre
a situação econômica, Dilma comentou que a trajetória de desaceleração
da inflação e a "robustez econômica" recentemente exaltada pelo
Ministério da Fazenda são mérito da gestão do PT. "Se a inflação hoje se
projeta para a meta, deve-se ao que nós fizemos", disse.
A
presidente citou o fato de o Ministério da Fazenda ter dito, na semana
passada, por meio de nota, que o Brasil tem uma situação econômica
sólida e segura, com fundamentos robustos, e que, portanto, está
preparado para atravessar com segurança períodos de instabilidade
externa, referindo-se às possíveis consequências da decisão dos
britânicos de deixar a União Europeia. "Quem é que construiu esta
robustez? O governo provisório, interino e ilegítimo nos último mês e
meio ou nós nos últimos anos? Nós nos últimos anos", ressaltou a
presidente afastada.
Na entrevista, Dilma afirmou ainda
que o Brasil teria saído "mais facilmente" da crise econômica que
atravessa se, em 2015, os opositores ao seu governo "não tivessem criado
junto uma crise política". Ela lembrou a atuação do então presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Ele não só barrava a
reforma fiscal como fazia com que tivéssemos obrigações, as chamadas
pautas-bomba", falou. "Criaram empecilhos para uma reforma que, naquele
momento, em 2015, teria sido mais suave."
Sobre o sistema político
brasileiro, Dilma opinou que é impossível governar um país com a
quantidade de partidos que existe hoje no Brasil - que, segunda ela,
leva a uma inevitável fragmentação. "No período FHC, se fazia maioria
simples com três partidos. No governo do presidente Lula, eram
necessários oito partidos. No meu governo, 14 faziam maioria simples",
falou.
Dilma ainda admitiu que pode ter cometido erros
no diálogo com o Congresso. Ela ponderou que fez o possível para tratar
com os parlamentares temas de interesse nacional, mas que não se
arrepende de ter evitado "certo tipo de conversa" com políticos. "Uma
certa conversa que leva a negociações que muitas vezes não são
republicanas de fato eu não gosto. Podem me chamar de dura ou do que
for. Não faço esse tipo de conversa porque eu acho que não é correto",
destacou.
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