A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, aprovada em primeiro
turno pela Câmara dos Deputados na noite de ontem (10), não resolve o
desequilíbrio fiscal e esvazia o poder da política econômica, segundo
avaliação da economista Laura Carvalho, professora da Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo
(USP).
A economista falou sobre a PEC hoje (11) em audiência
pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no Senado. Afirmou que a
crise fiscal não deriva de um crescimento maior de despesas e, sim, de
uma queda na arrecadação, decorrente da crise econômica. Segundo ela, o
ajuste fiscal de 2015, ainda no governo da ex-presidente Dilma Rousseff,
aprofundou essa queda.
“Em 2015 houve, sim, ajuste: uma contração
fiscal da ordem de 2,5% em termos reais. Temos uma queda de receita,
efeito, ao mesmo tempo, de uma recessão profunda e de políticas como a
desoneração fiscal, que impediram o crescimento dessa arrecadação. Além
disso, a gente viveu uma experiência de um ajuste fiscal mais profundo
do que esse que a PEC se propõe a realizar”, disse.
Ajuste tímido
Segundo
Laura Carvalho, o ajuste promovido pela PEC tende a ser mais tímido que
o do governo de Dilma Rousseff no curto prazo, em razão da perspectiva
de queda da inflação. A proposta de emenda vincula o crescimento dos
gastos públicos à inflação do ano anterior.
“Estamos, nos próximos
anos, em um período em que a inflação está caindo e tende a cair mais,
até convergir para meta de 4,5%, fixada pelo Conselho Monetário
Nacional. Isso sinaliza que, no curto prazo, a PEC autoriza um ajuste
real das despesas em lugar de queda. Não há nada que sinalize que o
ajuste será maior que o de 2015. Não que eu defenda esse ajuste”,
declarou a professora, que tem posição contrária à política de corte de
gastos em períodos de recessão.
A economista disse, ainda, que o
crescimento da dívida pública está mais associado à alta de juros do que
à elevação de gastos públicos. Por esse motivo, ela acredita que a
aprovação da PEC 241 não contribuirá para reduzir a dívida. “As emissões
líquidas, que são nova dívida, foram muito menores que o pagamento de
juros sobre a dívida anterior. A PEC em nada soluciona esse problema”.
Laura
Carvalho também acredita que, ao vincular os gastos à inflação, a PEC
engessa a política econômica. “Para que servem o Congresso, o Ministério
da Fazenda e o Planejamento se, independente do crescimento econômico,
você já está fixando o tamanho do Orçamento público? A PEC parece uma
demanda daqueles que não confiam nos representantes eleitos. É curioso
que esses mesmos parlamentares votem uma medida dessa natureza”, afirmou
a economista.
Por fim, Laura criticou a ausência de uma agenda de
crescimento econômico que inclua investimentos públicos. “Os
investimentos públicos são essenciais nessa retomada. Isso tem que estar
em qualquer agenda. Ao contrário do que se coloca, o Orçamento público
não é igual ao de uma família. Os gastos [públicos] que você faz
aumentam o quanto você ganha”, argumentou.
Versão do governo
O
secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda,
Mansueto Almeida, foi convidado para representar o governo na audiência
pública, mas não compareceu. Ontem (10), o Palácio do Planalto divulgou
vídeo em que Mansueto defende a proposta e afirma que as áreas da saúde e
educação estão protegidas no texto que está sendo discutido no
Congresso.
Mansueto disse que a nova regra não tem impacto na
educação para 2017, primeiro ano de vigência da PEC. Segundo ele, o
gasto na área vai seguir a regra constitucional prevendo que 18% de tudo
que o governo arrecada tem que ser aplicados em educação. No caso da
saúde, disse o secretário, o orçamento aumentará. A regra atual
determina que 13,7% da arrecadação devem ser aplicados na área.
Com
a PEC, de acordo com o secretário, o percentual de 15% previsto para
2020 passa a valer para o próximo ano. Ele ressaltou, contudo, que, a
partir de 2018, os pisos para educação e saúde passam a ser corrigidos
pela inflação do ano anterior.
A audiência pública foi requerida
pela presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, senadora Gleisi
Hoffmann (PT-PR). Além de Laura Cardoso, participou da discussão o
cientista político Jessé Souza, professor do departamento de Ciência
Política da Universidade Federal Fluminense.
Souza disse que os
favoráveis à aprovação da PEC têm uma visão imediatista e que os
parlamentares serão cobrados pelos eleitores. “No longo prazo, as
pessoas que vão sofrer com isso vão cobrar. Isso vai ser exigido. O ano
de 2018 não será igual a 2016. Em 2018 é um outro quadro”, afirmou.
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