Uma ação da Polícia Civil deixou três mortos na comunidade do
Jacarezinho, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, na manhã de hoje
(30). Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil, eles foram
baleados em confronto com os agentes e chegaram a ser levados para o
hospital, mas não resistiram aos ferimentos.
Polícia civil realiza uma grande operação na comunidade do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro.
Foto: José Lucena/Futura Press
Cerca de 300 agentes de várias delegacias fazem nesta terça-feira uma
ação no Jacarezinho, com o objetivo de cumprir mandados de prisão contra
integrantes da quadrilha que controla a venda de drogas na comunidade,
inclusive os suspeitos de matar o delegado Fábio Monteiro e o agente
Bruno Guimarães Buhler.
Até o início da tarde de hoje, 12 pessoas tinham sido presas na ação. O
delegado Fábio Monteiro foi assassinado na comunidade em 12 de janeiro
deste ano, enquanto o agente Bruno Buhler morreu durante uma ação
policial em agosto do ano passado.
A Operação Mãos à Obra é um desdobramento da Rio 40 Graus, que revelou esquema de propina na Secretaria Municipal de Obras.
Policiais federais (PF) e integrantes do Ministério Público Federal
(MPF) cumprem nesta terça-feira(23) seis mandados de prisão e 18 de
busca e apreensão contra suspeitos de fraudes em obras no Rio de
Janeiro. A Justiça decretou a prisão preventiva do ex-secretário
municipal de Obras Alexandre Pinto, do ex-subsecretário Vagner de Castro
Pereira e do doleiro Juan Luis Bertran Bitllonch.
Os outros três mandados de prisão são temporários. Os agentes também cumprem seis intimações para depoimento na delegacia.
A
Operação Mãos à Obra é um desdobramento da Rio 40 Graus, que revelou
esquema de propina na Secretaria Municipal de Obras em outubro do ano
passado.
A Mãos à Obra identificou a cobrança
de propina em seis obras municipais: na restauração da linha Vermelha;
no programa Asfalto Liso; entorno do Maracanã; BRT Transoeste; BRT na
Transcarioca; e BRT Transbrasil.
Segundo o MPF,
parte dos recursos obtidos por Alexandre Pinto foi remetida ao exterior
por meio de empresas offshore operadas por terceiros e com recursos à
disposição do ex-secretário. Juan Bertran teria sido o responsável por
realizar as operações de dólar que abasteceram a conta da Centovali,
offshore que concentrava os recursos de Alexandre.
Vagner
de Castro Pereira também teve importante papel no esquema, de acordo
com o MPF. Os pagamentos do Consórcio Dynatest-TCDI, responsável pelas
atividades de monitoramento dos contratos de obras e serviços
relacionados à implantação do Transbrasil, corredor exclusivo de BRT que
liga o centro da cidade do Rio de Janeiro ao bairro de Deodoro, eram
feitos diretamente ao subsecretário.
“As
investigações revelaram que o consórcio foi formado por indicação de
Alexandre Pinto, que solicitou a inclusão da TCDI, de propriedade de
Wanderley Tavares da Silva, que por sua vez auxiliava na liberação de
recursos do Ministério das Cidades para o município do Rio de Janeiro.
Com isso, a Dynatest tinha participação de 80% no contrato e a TCDI de
20%”, diz nota do MPF.
Ainda de acordo com o
Ministério Público, o esquema contava com a participação dos fiscais que
supervisionavam, que cobravam cerca de 3% do valor total. Com isso,
estima-se que apenas na prestação de serviço de monitoramento das obras
do Transbrasil tenham sido pagos R$ 1,8 milhão, sendo R$ 1 milhão
recebidos por Vagner de Castro em nome de Alexandre Pinto e R$ 392,5 mil
pelos fiscais.
Em entrevista à BBC Brasil, Sérgio Fausto reconhece que desgaste
trazido pelo Lava Jato está afetando desempenho do PSDB nas pesquisas de
voto para o Planalto.
O cientista político Sérgio Fausto, superintendente-executivo da
Fundação Fernando Henrique Cardoso, disse à BBC Brasil que não coloca o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado federal Jair
Bolsonaro no mesmo patamar.
Em artigo, Sérgio Fausto argumentou que Lula e Bolsonaro
apresentam 'falsas narrativas' como estratégia eleitoral | Fotos:
AFP/Reuters
Foto: BBCBrasil.com
Algumas lideranças do PSDB têm situado Lula e Bolsonaro no mesmo nível
de radicalismo. Empurrar os adversários para os polos poderia ser uma
estratégia eleitoral eficiente para colocar o candidato tucano como
opção de centro na disputa presidencial de 2018 - o provável candidato
do partido é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
"Posso te dizer por mim: eu não coloco Lula e Bolsonaro no mesmo
patamar. O Bolsonaro é um sujeito que ultrapassa todos os limites da
convivência democrática equilibrada", afirmou.
A vítima de febre amarela que foi diagnosticada com sinusite, infecção urinária e enxaqueca
À BBC Brasil, Fausto disse ainda que as acusações contra Lula "são
muito robustas", e que não há motivo para se "insurgir contra a decisão
do Judiciário" se ele for condenado em segunda instância e ficar
impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa. O julgamento de Lula no
caso tríplex do Guarujá está marcado para dia 24. "São as regras do jogo
às quais todos os brasileiros estão submetidos", argumentou.
Fausto e Fernando Henrique (no segundo plano da foto) têm
defendido união do centro como alternativa a discursos políticos
extremados | Foto: Divulgação/Fundação FHC
Foto: BBCBrasil.com
Já no caso do senador Aécio Neves, gravado pedindo R$ 2 milhões ao
empresário Joesley Batista, Fausto defendeu seu direito de se candidatar
pelo PSDB, já que não há condenação contra ele. Por ter foro
privilegiado, o caso de Neves está no Supremo. "Cabe ao eleitor de Minas
fazer o seu julgamento eleitoral", disse.
O superintendente da Fundação FHC também afirmou ver "todas as
qualidades" para que Alckmin se fortaleça e seja um candidato de centro
competitivo.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil - O PSDB perdeu as últimas quatro eleições presidenciais e
chega em 2018 atrás nas pesquisas. Por que o partido não empolga o
eleitorado?
Sérgio Fausto -
Acho que o PSDB terminou a eleição de 2014 derrotado eleitoralmente,
mas politicamente vitorioso. Perdeu por pouco e saiu da eleição com um
capital político grande. O partido perdeu grande parte desse capital
político ao longo desses anos.
A primeira razão, acho que acima de tudo, está o fato de que a Lava
Jato atingiu alguns quadros importantes do partido. Dado que o PSDB
fazia do tema da corrupção uma marca distintiva em relação ao PT, na
medida em que o PSDB se vê atingido pela Lava Jato, ainda que numa
extensão e numa profundidade menores do que o PT, isso tem um impacto
muito importante sobre o partido.
Agravado pelo fato de que, no caso mais recente do senador Aécio Neves,
o partido não soube responder a esse problema segundo as expectativas
dos seus próprios eleitores. Isso de alguma maneira prejudicou a imagem
que contrastava com o PT no plano da ética. Acho que isso é o fator
principal.
Um outro fator importante é que o partido tem mostrado uma oscilação
muito grande, uma dificuldade de votar em bloco em questões que chamam a
atenção da opinião pública. O partido muitas vezes se dividiu e
incorreu em contradições com medidas adotadas pelo governo do presidente
Fernando Henrique. Então, existe uma certa incongruência entre o que o
partido diz e o que o partido faz.
Esse conjunto de fatores: o fato de ter sido atingido pela Lava Jato e o
fato de ter se dividido em relação à agenda de reformas, às acusações
do presidente (Michel) Temer, isso custou ao PSDB uma parte muito
importante do capital político que o partido conseguiu amealhar no
processo eleitoral de 2014.
BBC Brasil - Fala-se que Aécio Neves estaria decidindo entre concorrer
à reeleição como senador ou se lançar para deputado federal. O PSDB
permitir sua candidatura não expressaria tolerância com a conduta que
ele adotou?
Sérgio Fausto -
Acho que não. Minha opinião estritamente pessoal: acho que o partido
errou ao não destituí-lo da presidência do partido, cargo de direção.
Tardou ao (inicialmente) afastá-lo apenas.
Agora, impedi-lo de concorrer sem que a Justiça tenha se pronunciado,
não há sequer condenação em primeira instância, acho que seria um
excesso. Cabe ao eleitor de Minas fazer o seu julgamento eleitoral.
BBC Brasil - Ele tem o foro privilegiado, então não tem como ter uma decisão de primeira instância.
Sérgio Fausto -
É verdade, bem lembrado.
Para Fausto, eleitor de Minas deverá fazer seu próprio
'julgamento eleitoral' diante de uma eventual candidatura de Aécio Neves
em 2018
Foto: Reuters / BBCBrasil.com
BBC Brasil - Voltando à discussão sobre por que o PSDB não está
empolgando o eleitorado. A bancada de deputados federais, por exemplo,
tem poucas mulheres e nenhum negro. Fica uma imagem de partido de elite?
Sérgio Fausto -
Eu acho que falta ao PSDB refletir a diversidade da população
brasileira. Embora exista dentro do partido o movimento de mulheres, o
movimento negro, na parte mais visível do partido, que é sua
representação parlamentar, chama atenção o fato de que predominam homens
brancos.
Isto faz com que a pecha de elitista grude mais facilmente no partido. É
bom lembrar que é uma pecha que o PT utilizou para estigmatizar o
partido, não foi uma pecha que caiu do céu. Agora, de fato, o partido é
vulnerável a esse estigma.
BBC Brasil - Alckmin tem uma base forte em São Paulo, maior colégio
eleitoral do país, mas para alguns analistas sua falta de carisma
dificulta que cresça no Nordeste, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Concorda?
Sérgio Fausto -
Carisma é uma coisa difícil de ser medida. Quem você pode dizer que é
um líder carismático hoje na política brasileira? Só tem um, é o Lula.
Nós não sabemos se ele disputará a eleição ou não.
Não acho que esse seja um fator decisivo num processo eleitoral.
Alckmin tem condições de criar uma conexão com o eleitorado brasileiro
porque ele responde bem algumas demandas que são do eleitorado do Brasil
no seu conjunto. Há uma demanda primeiro por simplicidade, por líderes
que tenham uma vida de não ostentação. Ele responde a essa demanda.
Outra demanda é que tenham uma gestão à frente do governo. Ele está no
governo há muitíssimos anos. Você pode discordar disso ou daquilo, mas é
uma gestão, contrastada com a média brasileira, extraordinariamente
responsável do ponto de vista financeiro.
Em um momento de grande polarização do Brasil, há uma demanda por uma
liderança tranquila. É um sujeito sereno, não é sectário, consegue ter
diálogo da esquerda à direita. Eu acho que ele reúne uma série de
qualidade que falta ao Brasil hoje.
BBC Brasil - Se Alckmin não se mostrar um competidor forte, talvez
seja melhor o PSDB apoiar outro candidato, como sugeriu o ex-presidente
Fernando Henrique?
Sérgio Fausto -
Eu acho que é importante o centro político ter um candidato
competitivo. O PSDB não oficializou, mas tem um candidato. Eu vejo todas
as qualidades, as possibilidades, para que o governador de São Paulo se
fortaleça, ocupe esse espaço.
Política é também compromisso com aquilo que um certo conjunto de
forças definiu. Então, não acho que deve fazer parte do horizonte de
quem respalda a candidatura do Alckmin cogitar outras opções e nem
cobrar da candidatura que em três meses ela esteja com força nas
pesquisas, porque esse período pré-eleitoral é um período que para todos
os candidatos será difícil se movimentar com força nas pesquisas.
Para cientista político, PSDB foi derrotado eleitoralmente em
2014, mas saiu politicamente vitorioso | Foto: Divulgação/Fundação FHC
Foto: BBCBrasil.com
BBC Brasil - Em artigo recente, Fernando Henrique fala em unir
Alckmin, Marina Silva, Henrique Meirelles, Joaquim Barbosa. Acha isso
viável? Como se daria essa união?
Sérgio Fausto -
Primeiro, eu não quero me colocar aqui na posição de intérprete do presidente. Ele fala por si próprio.
Eu acho que essa declaração que ele faz se dirige mais aos eleitores
desses (possíveis) candidatos. O processo eleitoral vai filtrar de
alguma maneira essa oferta. Não vamos entrar em agosto com muitos
candidatos ocupando a posição de centro. Acho que o eleitor tenderá a
convergir em torno do candidato de centro que avaliar que melhor
responde as suas expectativas e que tem melhores chances de passar ao
segundo turno e vencer a eleição.
Diante de um quadro desse, se o eleitor não produzir essa convergência
nítida, acho que as lideranças dos partidos de centro devem ter a
maturidade de evitar a situação que por exemplo se produziu no Rio de
Janeiro em 2016: três candidatos de centro se canibalizaram e passaram
ao segundo turno o candidato da direita e o candidato da esquerda. Acho
que repetir esse erro seria trágico.
BBC Brasil - É melhor para a democracia que Lula possa concorrer?
Sérgio Fausto -
Em tese, eu acho que seria melhor para o país que Lula disputasse e
perdesse. Agora, nós vivemos num Estado democrático de Direito. Existem
leis, existe o sistema Judiciário, existem processos. Se o Lula for
condenado, me parece inteiramente descabido dizer que existe um complô
judiciário para inviabilizar sua participação na eleição.
As acusações contra ele são muito robustas, muito graves. Não é apenas
uma. É um conjunto de acusações. Elas têm tramitado segundo o devido
processo legal. Portanto, se ele for condenado, se houver infração da
lei que o tornaria inelegível, segundo a lei de inelegibilidade
modificada por uma emenda popular que foi a lei da Ficha Limpa, eu não
vejo nenhuma razão para se insurgir contra essa decisão do Judiciário.
Essas são as regras do jogo às quais todos os brasileiros estão
submetidos.
BBC Brasil - Se ele não concorrer, haverá o risco de parte da
população, que deseja votar nele, ficar descrente da legitimidade da
eleição?
Sérgio Fausto -
Esse risco existe, mas, de novo, é o primado da lei. A lei se sobrepõe
às preferências do eleitorado. Em uma democracia, o princípio da maioria
não se sobrepõe ao princípio da legalidade. E não é uma legalidade
criada autoritariamente, por um regime arbitrário, são as regras
definidas pela democracia brasileira.
BBC Brasil - Se Lula ficar fora da disputa, aumentam as chances de
outsiders se animarem a concorrer, como o apresentador Luciano Huck e
Joaquim Barbosa?
Sérgio Fausto -
Esse raciocínio faz sentido. Haverá uma grande massa de votos que
estará livre no mercado. Aumenta o estímulo para outras candidaturas.
BBC Brasil - Mais espaço para outras candidaturas não pode ser um cenário pior para o Alckmin?
Sérgio Fausto -
Se o Lula concorrer, só tem uma vaga no segundo turno. Então, haverá
menos candidatos, mas o funil estreita. No outro caso, haverá mais
candidatos, mas você tem duas vagas em disputa.
Acho que o que vale à pena ressaltar em relação aos outsiders é que,
por maior que seja a rejeição hoje à política tradicional, candidatos
que não dispuserem de tempo suficiente na TV, mínimo de estrutura, um
acesso significativo aos recursos do fundo eleitoral, terão uma enorme
dificuldade de se viabilizar. Então, outsiders podem aparecer, mas, se
não encontrarem abrigo em coalizões partidárias relativamente amplas,
terão pouca chance na disputa eleitoral.
'Carisma é uma coisa difícil de ser medida', diz Fausto sobre
críticas de que Alckmin teria pouca simpatia para o eleitorado
Foto: Reuters / BBCBrasil.com
BBC Brasil - Por esses fatores, Bolsonaro tende a perder força ao longo da campanha?
Sérgio Fausto -
Sim. E o que se vem revelando a respeito do Bolsonaro e sua família
destrói um dos principais ativos que ele procurou mobilizar: a ideia de
que ele é diferente da média dos políticos. Reportagem recente da Folha
de S.Paulo mostra uma evolução patrimonial da família que dificilmente
se explica em função dos rendimentos recebidos pelo clã Bolsonaro como
representantes do povo carioca.
Por hora, a campanha tem se dado exclusivamente na internet, e ele
montou uma operação competente nas mídias sociais, conseguiu capitalizar
o lado mais bruto dos brasileiros, que têm uma tremenda bronca com
relação (aos políticos), às vezes por bons motivos. Mas acho que esse
fenômeno, na hora que outros fatores mais institucionais entrarem no
jogo, tempo de televisão, recursos para campanha, etc, é um fenômeno que
tende a perder força.
BBC Brasil - Você, assim como Fernando Henrique, tem se referido a Lula como populista. O que o faz populista?
Sérgio Fausto -
Eu acho que o Lula não é um populista clássico, no sentido de que à
frente do governo, na área econômica, ele não adotou o receituário
clássico do populismo latino-americano. Agora, na forma pela qual se
dirige à população brasileira, ele se vale de uma retórica típica do
populismo, qual seja, de opor povo e elite e dizer 'eu encarno os
interesses do povo contra os interesses da elite'. Isso é tipicamente
populista, e é uma narrativa falsa.
As políticas do governo Lula são políticas que atenderam em alguma
medida o que se convencionou chamar de andar de baixo, mas foram também
extraordinariamente favoráveis ao andar de cima. E não apenas alguns
setores do andar de cima, mas, de maneira mais grave, um punhado de
empresas favorecidas por contratos com o Estado e que, não por
casualidade, se tornaram os grandes financiadores da coalização de
governo dominada pelo PT.
BBC Brasil - Em artigo recente, você diz que Lula e Bolsonaro adotaram
narrativas falsas como estratégias eleitorais. No caso do petista, essa
narrativa seria se colocar como vítima de uma conspiração das elites
para impedi-lo de concorrer. No caso do deputado, seria se colocar como
candidato liberal. Também não é uma estratégia eleitoral, do PSDB e de
outras legendas no momento, colocar Lula e Bolsonaro no mesmo nível de
radicalismo e se apresentar como opção de centro?
Sérgio Fausto -
Posso te dizer por mim, eu não coloco Lula e Bolsonaro no mesmo
patamar, por maiores as críticas que eu tenho ao Lula e ao PT, o PT e o
Lula não representam aquilo que representa o Bolsonaro. O Bolsonaro é um
sujeito que ultrapassa todos os limites da convivência democrática
equilibrada. Eu não estabeleço equivalência entre o Lula e o Bolsonaro.
BBC Brasil - Mas não é uma estratégia eleitoral criar esse espaço de
centro entre Lula e Bolsonaro, em que está sendo colocado o candidato do
PSDB e outros nomes?
Sérgio Fausto -
Eu acho que isso como estratégia eleitoral é muito insuficiente. O
centro não pode ser uma espécie de ponto equidistante vazio entre Lula e
Bolsonaro. Essa geometria é uma geometria primária. O centro tem que se
afirmar como centro substantivamente, com base nas suas propostas. E é a
partir desse centro que os extremos se definem. É o inverso.
'As políticas do governo Lula são políticas que atenderam em
alguma medida o que se convencionou chamar de andar de baixo, mas foram
também extraordinariamente favoráveis ao andar de cima', diz Fausto
Foto: AFP / BBCBrasil.com
BBC Brasil - Não está clara ainda qual é essa proposta de centro?
Sérgio Fausto -
Tem linhas gerais, falta detalhá-las. O que um pensamento de centro
acredita necessário em relação ao papel do Estado na economia?
Certamente não é uma visão falsamente ultraliberal, abraçada pelo
Bolsonaro oportunisticamente. Mas certamente é uma posição crítica em
relação às políticas que o PT adotou, sobretudo no governo Dilma, mas
que já vinham do governo Lula, que é um ressurgimento do velho nacional
estatismo.
São políticas incompatíveis como uma economia moderna e que desviam
recursos que deveriam ser dirigidos a serviços públicos essenciais que,
aí sim, beneficiam os mais pobres. Acho que aí é uma visão de centro
progressista em relação ao papel do Estado.
O Brasil precisa reduzir desigualdade ou aumentar produtividade? A
gente precisa fazer as duas coisas ao mesmo tempo. E elas não são
incompatíveis. Te dou um exemplo concreto: saneamento básico. No Brasil
50% dos domicílios não têm esgotamento sanitário. Ampliar esse acesso é
fundamental para reduzir desigualdade social e também para melhor a
eficiência da economia, porque saneamento ruim é saúde ruim, isso tem
efeitos sobre a produtividade da mão de obra.
Há uma série de áreas em que é possível mostrar de modo bem concreto
que uma atuação correta do Estado permite atingir ao mesmo tempo esses
dois objetivos que não são incompatíveis.
BBC Brasil - Para alguns analistas, o PSDB nasceu como centro-esquerda
e, desde o governo FHC, caminhou para direita, ao adotar políticas
econômicas liberais. Além disso, o partido flertou com o conservadorismo
ao filiar nos últimos anos políticos como o Coronel Telhada (deputado
estadual em São Paulo). Há uma tentativa com a candidatura Alckmin de
voltar um pouco para a esquerda?
Sérgio Fausto -
Eu discordo frontalmente de que o partido se moveu para a direita no
governo Fernando Henrique. A ideia de que fazer privatizações
significava adotar políticas de direita mostra como a esquerda perdeu a
noção de qual é o interesse público e de como o interesse público se
movimenta ao longo da história.
Pega o caso da Telebrás. A Telebrás que foi privatizada era composta de
28 empresas estatais que era uma espécie de terreno de caça privado das
oligarquias locais, onde se fazia politicagem. A privatização permitiu
uma enorme democratização do acesso à telefonia celular e à internet.
Ao mesmo tempo em que o Fernando Henrique adotou política de
privatizações com esse sentido, de universalizar acesso a bens públicos,
adotou programas de transferência de renda, tirou do papel e botou na
prática o Sistema Único de Saúde.
Depois do governo Fernando Henrique, houve dificuldade de o PSDB
entender essa herança. O PSDB acabou caindo na ladainha petista de que
havia ali uma herança maldita contaminada por uma adesão ao
neoliberalismo. Aí o partido se esvazia programaticamente, perde
capacidade de liderar a discussão político-ideológica.
No período mais recente, como a sociedade brasileira, em reação ao PT
em boa medida, se tornou mais conservadora, isso se refletiu dentro do
PSDB. Como você mencionou, alguns representantes (tucanos) são
claramente ligados a pautas bastante conservadoras na área de segurança
pública, em alguns casos na área dos costumes. Eu acho que a candidatura
do governador recria um certo equilíbrio dentro do partido mais ao
centro. O governador é um homem muito menos conservador do que a média
dos seus críticos acredita que ele seja.
O delegado Fábio Monteiro, de 38 anos, foi assassinado a poucos
metros da entrada da Cidade da Polícia, complexo que reúne várias
delegacias especializadas da Polícia Civil fluminense. O policial saiu
para almoçar na tarde desta sexta-feira (12), e seu corpo encontrado no
porta-malas de um carro, na favela do Jacarezinho, poucas horas depois.
A
Cidade da Polícia reúne 13 delegacias especializadas, além da
Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), e fica exatamente entre duas
grandes favelas que estão há anos dominadas por quadrilhas armadas.
Nos
fundos do complexo, está o conjunto de favelas de Manguinhos. À frente,
está a comunidade do Jacarezinho, onde o delegado foi morto.
A
chamada Cidpol foi inaugurada em setembro de 2013, com a proposta não só
de reunir várias unidades especializadas em um único espaço, mais
moderno e amplo. Mas fazia também parte de uma estratégia do governo
fluminense de aproximar unidades policiais de comunidades dominadas por
quadrilhas armadas.
Também fizeram parte dessa estratégia a
implantação de um complexo da Polícia Militar, na comunidade da Maré,
para abrigar a Coordenadoria de Operações Especiais.
Tanto o
complexo da Polícia Civil quanto o da Polícia Militar foram implantados
em uma época em que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) prometiam
acabar com o controle territorial armado em várias favelas do Rio de
Janeiro.
A instalação de duas UPPs, uma no Jacarezinho e outra em
Manguinhos, prometiam garantir um cinturão de segurança para que os
agentes, delegados e peritos conseguissem entrar e sair da Cidade da
Polícia sem arriscar suas próprias vidas.
Mas quatro anos depois,
a UPP mostrou-se incapaz de garantir o controle efetivo do Estado nas
duas favelas e acabar com o controle territorial por quadrilhas armadas.
Tanto em Manguinhos quanto no Jacarezinho, as UPPs ainda existem, mas a
polícia hoje exerce pouquíssimo controle sobre tais territórios.
O
secretário estadual de Segurança do Rio de Janeiro, Roberto Sá, não
confirmou se Fábio Monteiro foi assassinado por ser policial. No
entanto, a morte de mais de 130 policiais militares no ano passado,
muitos deles vítimas de assalto, mostra que ser policial é uma profissão
de risco, mesmo quando o agente está de folga.
Durante o enterro
do delegado hoje, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, o
secretário disse que vai estudar medidas para garantir a proteção dos
policiais que chegam e saem do trabalho na Cidade da Polícia e que
precisam passar em frente às duas comunidades.
“Vamos fazer uma
reunião na segunda-feira (15) para fazer um diagnóstico do entorno da
Cidade da Polícia, nessas áreas conflagradas e no seu entorno, para a
gente verificar, com o que a gente tem, como é possível tentar evitar
que isso ocorra de novo, melhorando a ostensividade, chamando a
prefeitura para fazer o ordenamento urbano”, disse.
A informação é da própria funcionária, que deve processar Cristiane por ter lhe demitido enquanto estava licenciada.Mesmo após a nova ministra do Trabalho, Cristiane Brasil (PTB-RJ), ter
saído da Secretaria Especial do Envelhecimento Saudável do Rio, a
funcionária Aline Lucia de Pinho continuou prestando serviços
particulares para a ex-deputada, nomeada e recebendo pela pasta.
A informação é da própria
funcionária, que deve processar Cristiane por ter lhe demitido enquanto
estava licenciada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), por
acidente de trabalho - ocorrido, segundo ela, quando prestava serviços
particulares para Cristiane. Cristiane deixou a secretaria, onde
foi nomeada em 2015 pelo ex-prefeito do Rio Eduardo Paes, para assumir o
mandato como deputada federal. Por indicação sua, quem ocupou a sua
vaga na secretaria foi Carolina Chaves de Azevedo, filha de Vera Lúcia
Gorgulho Chaves de Azevedo, secretária parlamentar de seu gabinete
quando deputada federal. Em uma edição do Diário Oficial do
Município de abril de 2016, consta o nome de Aline no cargo de assessora
III na pasta já liderada por Carolina. Segundo Aline, que era motorista
particular e também prestava serviços particulares para Cristiane, ela
recebia cerca de R$ 3 mil como comissionada na secretaria, apesar de
nunca ter trabalhado no local.Carolina também foi indicada por Cristiane em novembro passado para
assumir a vaga de diretora-geral do Arquivo Nacional, cargo ligado ao
Ministério da Justiça, onde está até hoje. A mãe de Carolina,
Vera Lúcia Gorgulho Chaves de Azevedo, também é apontada como a pessoa
que fazia os repasses de uma indenização trabalhista contra Cristiane
por um motorista. Vera colaborou com uma doação de R$ 5 mil em cheque
para a campanha de Cristiane para vereadora em 2008. A assessoria
da nova ministra ainda não respondeu à reportagem sobre o caso.
Carolina foi procurada pela reportagem por meio da assessoria de
imprensa do Arquivo Nacional, mas ainda não respondeu.