quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Coreia do Norte anuncia realização de terceiro teste nuclear

A Coreia do Norte disse que irá realizar um terceiro teste nuclear em resposta ao endurecimento de sanções por parte da ONU e testar também foguetes com capacidade para atingir o que chamou de seu ''inimigo'', os Estados Unidos.
O anúncio coincidiu com a visita à Coreia do Sul do negociador americano para a península coreana, Glyn Davis.
As sanções da ONU de 2006 e 2009 proíbem o país de desenvolver mísseis ou tecnologia nuclear.
Os norte coreanos não especificaram quando pretendem realizar os testes.

Bioluminescência abre novos caminhos na pesquisa científica

A bioluminescência, ou o processo biológico pelo qual animais, como o vaga-lume e a água-viva, emitem luz a partir de suas células, já provocou revoluções importantes na ciência, especialmente na área da saúde.
As proteínas da bioluminescência foram usadas como ferramentas na descoberta de novos medicamentos e têm sido aplicadas amplamente na pesquisa biomédica, na qual são usadas para estudar os processos biológicos das células vivas.
Mas, agora, muitos cientistas estão tentando aplicar os conceitos dessa "luz natural" em atividades como a melhoria do cultivo de alimentos, a detecção da poluição ou até mesmo a iluminação pública.
Uma das ideias, por exemplo, é desenvolver árvores que emitam luz e, dessa forma, possam ser usadas para iluminar as ruas de uma cidade.

Darwin

Charles Darwin, o pai da Teoria da Evolução, foi um dos primeiros cientistas modernos a documentar o processo.
Na noite de janeiro de 1832, próximo à costa de Tenerife, na Espanha, o jovem Darwin vagava pelo convés do navio HMS Beagle.
Enquanto olhava distraído para o mar, ele foi surpreendido por um brilho sobrenatural vindo de dentro do oceano.
"O mar estava iluminado por inúmeros pontinhos que, no rastro do navio, deixavam uma cor levemente leitosa, quase uniforme", escreveu Darwin.
"Quando a água era colocada em uma garrafa, soltava umas faíscas por alguns minutos, antes de se encolher", acrescentou.
Darwin estava quase certo ao descrever a luz emitida pelos minúsculos organismos marinhos chamados dinoflagelados.
A análise do pai da Teoria da Evolução sobre o fenômeno foi trazida à tona anos depois pelo professor Anthony Campbell, que analisou as notas manuscritas de Darwin guardadas na Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
Depois de Darwin, demorou mais de um século até que um experimento prático fosse feito para estudar a bioluminescência.
Campbell, da Universidade de Cardiff, no País de Gales, realizou uma pesquisa pioneira durante os anos 70 e 80, levando à descoberta de que criaturas vivas produzem luz usando enzimas especiais, chamadas luciferases.
Charles Darwin / Getty
Relatos de bioluminescência já foram encontrados em manuscritos de Charles Darwin
Essas enzimas participam de uma reação química nas células, que são responsáveis pela emissão de luz.
"Quando eu comecei a pesquisar bioluminescência 40 anos atrás, na escola de medicina de Cardiff, muitas pessoas me olharam estranho e disseram: "Que diabos esse sujeito está fazendo ao trabalhar com animais marinhos? Ele veio de Cambridge para fazer pesquisa médica", conta Campbell.

Mercado amplo

Mas o cientista estava prestes a explicar o potencial daquele fenômeno. Tendo descoberto as enzimas envolvidas na bioluminescência, ele percebeu que combinando luciferases com outras moléculas, era possível aproveitar a emissão de luz para mensurar processos biológicos.
Isso pavimentaria o caminho para uma revolução na pesquisa médica e no diagnóstico clínico.
Campbell identificou, por exemplo, que, ao unir a enzima da luminescência a um anticorpo - ou seja, a molécula produzida pelo sistema imunológico humano para autoproteção -, podia diagnosticar uma doença.
Isso permitiu aos médicos dispensar os marcadores radioativos que até então eram usados nesses testes.
"Esse mercado é agora avaliado em 20 bilhões de libras (R$ 65 bilhões). Qualquer um que vá a um hospital e se submeta a um exame de sangue que meça proteínas virais, proteínas do câncer, hormônios, vitaminas, proteínas de bactérias, drogas, com certeza, estará usando essa técnica", afirmou Campbell à BBC.
"Um departamento universitário que não recorra a tais técnicas, não pode ser considerado atualmente de ponta."

Problemas de contaminação

Outras aplicações do processo ainda estão sendo pesquisadas. Na Universidade de Lausanne, na Suíça, o professor Jan Van der Meer desenvolveu um teste para detectar a presença de arsênio na água potável, usando para isso uma bactéria geneticamente modificada.
"A bioluminescência já permitiu grandes descobertas na biologia e na medicina, além de ter criado um mercado de bilhões de dólares."
Steven Campbell, professor da Universidade de Cardiff
A contaminação por arsênio nos lençóis freáticos é um problema grave em algumas partes do mundo, especialmente em Bangladesh, na Índia, no Laos e no Vietnã.
Os micróbios de Van der Meer foram concebidos para emitir luz quando tivessem contato com componentes em que o arsênio estivesse presente.
O experimento consistiu em injetar água potencialmente contaminada em frascos, ativando a bactéria geneticamente modificada dormente.
O ponto em que as bactérias emitem luz foi então medido para determinar uma indicação das concentrações da substância mortal na água.
O trabalho de Van der Meer está sendo agora comercializado pela empresa alemã Arsoluz. Segundo ele, os kits baseados na bactéria podem ser usados para amostras múltiplas, requerem menos materiais do que outros kits tradicionais e são mais fáceis de preparar.
Mas obstáculos regulatórios ainda impedem o uso desse tipo de exame nesses países. Diz Van der Meer: "No fim das contas, trata-se de razões mercadológicas (...) coisas que vão além do seu trabalho como cientista."
As chamadas proteínas arco-íris (um subproduto do trabalho com a bioluminescência), que mudam de cor em resposta a componentes específicos, também são uma opção para detectar toxinas, ou potentes agentes de terrorismo, como o antraz.

Aplicações práticas

Há inúmeras aplicações para a bioluminescência: uma companhia americana recorreu ao processo para produzir bebidas que brilham para venda em casas noturnas.
Outros pesquisadores chegaram até a modificar as plantas para que possam emitir luz. Assim, elas podem indicam quando precisam de água ou nutrientes, um sinal de doença ou uma infestação.
No entanto, a controvérsia em torno dos alimentos transgênicos até agora fez com que essas ideias não alçassem voos mais altos.
Há alguns anos, uma equipe de estudantes de graduação da Universidade de Cambridge pesquisou a ideia das árvores luminescentes que atuam como "luminárias" naturais.
Esforços anteriores de criar em laboratório plantas que emitem luz se concentraram em usar o gene luciferase derivado de vaga-lumes.
Mas essas plantas só podiam produzir luz quando alimentadas com uma substância química cara chamada luciferina.
O método usado pela equipe de Cambridge, entretanto, baseou-se em agrupamentos de bactérias que produzem seus próprios compostos de bioluminescência e que, por isso, é mais barato, porque permite às plantas se alimentarem de nutrientes normais.

Plantas e árvores

Bioluminescência em rua
Poderão um dias as árvores substituir os postes de luz nas ruas?
Em 2010, uma outra equipe de pesquisadores publicou um estudo em que dizem ter demonstrado que tais métodos podem ser usados para criar plantas que emitem luz sem a necessidade de suplementos químicos.
O grupo, formado por cientistas israelenses e americanos, inseriu genes emissores de luz de uma bactéria nos cloroplastos das plantas - as estruturas em suas células responsáveis pela conversão da energia solar em luz.
Sanderson, que agora trabalha no Instituto Sanger, perto de Cambridge, disse que o experimento foi uma escolha acertada, pois os cloroplastos são essencialmente bactérias que foram incorporadas às células das plantas e, portanto, podem ser facilmente ativar o gene da bioluminescência sem a necessidade de outras alterações.
Mas os pesquisadores precisarão ainda encontrar formas de aumentar a emissão de luz de tais organismos de laboratório para que árvores geneticamente modificadas possam iluminar aglomerações urbanas.
Campbell diz que o potencial das proteínas luminescentes na descoberta de novas drogas e na pesquisa médica ainda não foi totalmente aproveitado e, por isso, ele está atualmente colaborando com um projeto para usar a substância luciferase na investigação sobre a doença de Alzheimer.
As criaturas bioluminescentes também podem fornecer meios para estudar as mudanças climáticas nos oceanos. Alguns animais obtêm os compostos químicos responsáveis pela emissão de luz de outros organismos dos quais eles se alimentam.
Assim, o estudo das interações entre essas espécies podem ajudar os cientistas a detectar alterações nas faunas marinhas.
Apesar do impacto no diagnóstico clínico e na pesquisa, Campbell desta que ele só recebeu uma única doação financeira por sua pesquisa sobre a bioluminescência.
"No entanto, trata-se de um tema que já permitiu grandes descobertas na biologia e na medicina, além de ter criado um mercado de bilhões de dólares."

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

EUA podem levantar veto a mulheres em operações militares de combate

O secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, deve remover o veto que impede que mulheres militares participem de operações de combate do país.
Segundo autoridades do Pentágono ouvidas pelas agências de notícias, o fim do veto é esperado para esta quinta-feira.
Com isso, milhares de mulheres que integram as Forças Armadas poderão ser alocadas para posições na linha de frente dos combates realizados pelos EUA - algo até então inédito.
Mas comandantes do Pentágono ainda poderão definir postos específicos que podem permanecer restritos aos homens.

Pesquisadores revelam a verdade por trás do mito do El Dorado

O sonho de encontrar El Dorado, uma mítica cidade de ouro perdida na selva sul-americana, levou muitos conquistadores a se aventurarem, inutilmente, por florestas e montanhas. Séculos depois, estudos arqueológicos revelam que "O Dourado" não era um lugar, e, sim, uma pessoa.
A chegada de Colombo à América, no ano de 1492, foi o primeiro capítulo de um choque de culturas que transformou o mundo, um embate brutal entre estilos de vida e crenças completamente opostos.
O mito europeu inspirado em El Dorado, o de uma cidade perdida, feita de ouro, à espera de ser descoberta por conquistadores aventureiros, condensa a sede infinita dos europeus pelo ouro e sua determinação em explorar financeiramente os novos territórios.
A versão sul-americana do mito, por outro lado, revela a verdadeira natureza deste território e dos povos que ali viviam. Para eles, El Dorado não era um lugar, mas um líder tão rico que se cobria de pó de ouro da cabeça aos pés todas as manhãs, e se lavava em um lago sagrado todas as noites.
Nos últimos anos, com base em textos históricos e pesquisas arqueológicas, especialistas desvendaram a verdadeira história por trás desses mitos.

Rito de Passagem

No âmago dessa história está um ritual, uma cerimônia realizada pelo povo muisca, que desde o ano 800 DC habita a região central da Colômbia.
Vários cronistas espanhóis que chegaram a essa região no início do século 16 escreveram sobre a cerimônia do Dourado. Um dos melhores relatos foi feito por Juan Rodrigues Freyle.
No livro de Freyle, La conquista y descubrimiento del reino de la Nueva Granada, publicado em 1636, ele nos conta que quando um governante do povo muisca morria, iniciava-se um processo de sucessão.
O novo líder escolhido, normalmente um sobrinho do governante anterior, passava por um longo processo de iniciação. O clímax desse processo era uma cerimônia em que o novo líder, em cima de uma jangada, entrava em um lago tido como sagrado - como, por exemplo, o lago Guatavita, na Colômbia Central.
Obra possivelmente retratando o Eldorado do Museu de Bogotá (BBC)
El Dorado seria uma mítica cidade de ouro perdida na selva
Rodeado por quatro sacerdotes enfeitados com penas, coroas de ouro e ornamentos, o líder - nu e coberto apenas por pó de ouro - entrava no lago para oferecer aos deuses objetos de ouro, esmeraldas e outras preciosidades, que ele jogava no lago.
As margens do lago circular ficavam repletas de espectadores ricamente enfeitados, tocando instrumentos musicais. Fogueiras queimavam, quase bloqueando a luz do dia. A jangada também levava quatro queimadores de incenso que jogavam nuvens de fumaça para o céu.
Quando a embarcação chegava ao centro do lago, um dos sacerdotes erguia uma bandeira para pedir silêncio à multidão. Isso marcava o momento em que o povo reunido em torno do lago prometia lealdade ao novo líder, emitindo gritos de aprovação.
É fascinante que muitos aspectos desta interpretação dos eventos históricos foram confirmados por meticulosas pesquisas arqueológicas - pesquisas que também revelam o excepcional volume e habilidade na produção de ouro na Colômbia no período em que os europeus chegaram, por volta de 1537.

Espiritualidade

O ouro da sociedade muisca - mais especificamente, uma liga contendo ouro, prata e cobre chamada tumbaga - era altamente procurado, não por seu valor material, mas por seu poder espiritual, sua conexão com divindades e sua capacidade de trazer equilíbrio e harmonia para a sociedade muisca.
Como explica Enrique Gonzalez - descendente dessa etnia -, para seu povo, o ouro não simboliza prosperidade.
"Para os muisca hoje, assim como para nossos ancestrais, o ouro não era nada mais do que uma oferenda", disse. "O ouro não representa riqueza para nós".
Pesquisas recentes feitas por Maria Alicia Uribe Villegas, do Museo Del Oro, em Bogotá, e Marcos Martinon-Torres, do UCL Institute of Archaeology, em Londres, mostram que na sociedade muisca esses objetos de "ouro" eram feitos especificamente como oferendas para os deuses, para incentivá-los a promover o equilíbrio do cosmos e assegurar um relacionamento estável entre o povo e seu meio ambiente.
Outro arqueólogo, Roberto Lleras Perez, especialista em crenças e ourivesaria muisca, disse que as técnicas de criação e o uso que os muisca faziam dos metais eram únicos na América do Sul.
"Nenhuma outra sociedade, até onde eu sei, dedicava mais de 50% de sua produção a oferendas comemorativas. Acho que isso é algo único", ele disse.
Os objetos de ouro, como a coleção de tunjos (oferendas, em sua maioria, figuras antropomórficas achatadas) expostos digitalmente no British Museum, foram feitos a partir de modelos de cera. A técnica consiste em criar-se moldes de barro a partir de delicados modelos de cera que depois são derretidos. Os moldes são então usados para a criação de objetos de ouro.
Uma vez que todos os objetos de ouro em cada oferenda tinham a mesma composição química e técnicas de manufatura, os especialistas concluíram que esses artefatos eram produzidos especificamente como oferendas e talvez tenham sido fabricados horas ou dias antes de ser ofertados.
Em 1969, três moradores de um vilarejo ao sul de Bogotá encontraram, dentro de uma caverna, uma jangada de ouro com uma gravura mostrando exatamente a cena descrita por Greyle: um homem coberto de ouro partindo em direção a um lago sagrado. Esta é a verdadeira história de El Dorado.
A forma como essa história foi sendo transformada para dar origem ao mito de uma cidade de ouro revela o valor que esse metal tinha para os conquistadores europeus, como fonte de riqueza material. Eles tinham pouca compreensão do valor real do ouro para a sociedade muisca. E ficaram fascinados simplesmente ao imaginar quanto ouro não teria sido jogado nas águas profundas do lago e enterrado em outros locais sagrados na Colômbia.

EM BUSCA DA TERRA DO OURO

800 D.C. A cultura muisca começou a florescer na região onde hoje está a Colômbia Central. Essa sociedade foi uma entre muitas a desenvolver técnicas excepcionais de ourivesaria na América do Sul pré-Colombiana
1532 Francisco Pizarro chega ao Peru para iniciar a primeira de três tentativas de conquistar o povo inca e colonizara América do Sul, armazenando grandes quantidades de ouro nesse processo
1537 Jimenez de Quesada explora o território muisca pela primeira vez
1541 Francisco de Orellana é o primeiro europeu a viajar pelo Amazonas em toda a extensão, segundo relatos, motivado pela busca de El Dorado
1594 Walter Raleigh faz a primeira de duas expedições em busca de El Dorado. Na segunda delas, acompanhado por seu filho Watt, que morreu durante a aventura, em 1617
1772 O cientista Alexander von Humboldt e a botânica Aimé Bonpland viajam para a América do Sul para, de uma vez por todas, colocar um fim ao mito de El Dorado
Eles retornam à Europa para disseminar sua conclusão, de que El Dorado não passou de um sonho dos primeiros conquistadores
Fonte: Leonora Duncan, British Museum
E foram histórias como essas que, em 1537, levaram o conquistador espanhol Jimenez de Quesada e seu exército de 800 homens a partirem em uma rota terrestre que cruzava o Peru e subia, pelos Andes, à procura da terra habitada pelo povo muisca.
Quesada e seus homens foram atraídos para territórios cada vez mais inóspitos e desconhecidos, onde muitos morreram. Mas o que encontraram os deixou atônitos. As técnicas de ourivesaria dos muisca eram diferentes de tudo o que os espanhóis conheciam. Os olhos europeus jamais haviam visto objetos de ouro tão deslumbrantes.

Século 21

Tragicamente, a busca desesperada por ouro continua viva na Colômbia. Arqueólogos que trabalham em instituições de pesquisa como o Museo del Oro, em Bogotá, lutam contra uma maré crescente de roubos.
Assim como os conquistadores europeus no século 16, os saqueadores modernos continuam a roubar o passado da América do Sul, privando a todos nós das histórias fascinantes por trás de cada um desses artefatos.
A quantidade de ouro descoberta pelos saqueadores continua a impressionar. Na década de 1970, quando novos sítios arqueológicos foram encontrados por caçadores de ouro no norte da Colômbia, houve uma quebra no mercado mundial do ouro.
Ao longo dos séculos, este saqueamento, inspirado no mito de El Dorado, resultou na destruição da maioria dos preciosos artefatos de ouro pré-colombianos, que foram derretidos. O valor real dos objetos, as pistas que poderiam oferecer sobre uma cultura antiga, estão perdidos para sempre.
Felizmente, no entanto, coleções de artefatos que sobreviveram hoje fazem parte dos acervos do Museo del Oro, em Bogotá, e British Museum, em Londres.

Coreia do Norte anuncia reforço de arsenal nuclear

A Coreia do Norte reagiu a uma resolução da ONU condenando o lançamento de um foguete norte-coreano dizendo que irá reforçar suas capacidades militares e nucleares.
O Conselho de Segurança aprovou por unanimidade a resolução, que expandiu as sanções contra o país na terça-feira (Dia 22).
Logo em seguida, em um comunicado, a Coreia do Norte disse que iria a reforçar suas estruturas de "dissuasão nuclear" e descartou a possibilidade de negociações sobre seu arsenal atômico.
Segundo Pyongyang, o foguete lançado em dezembro colocou em órbita um satélite de comunicações.
Mas países vizinhos e os EUA dizem que tratou-se de um míssil de longo alcance que utilizaria uma tecnologia proibida pela ONU depois dos testes nucleares feitos pela Coreia do Norte em 2006 e 2009.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Alto comparecimento de eleitores dá alento à centro-esquerda em Israel

As eleições gerais desta terça-feira, em Israel, têm registrado grande presença de eleitores. Até as 18h locais (14h do Brasil), a taxa de comparecimento era de 55,5%, mais de cinco pontos percentuais acima do pleito de 2009 e a maior taxa desde 1999, segundo a Comissão Eleitoral do país.
O partido de direita Likud-Beitenu, do atual premiê Binyamin Netanyahu, é apontado por pesquisas de opinião como o favorito para obter o maior número de assentos no Parlamento e chefiar a próxima coalização governamental.
No entanto, o alto comparecimento de eleitores surpreendeu e deu alento aos partidos de centro-esquerda, que em geral têm mais dificuldades em convencer seus eleitores a votar.
Segundo o jornal Haaretz, fontes indicaram que a votação em massa pode colocar o partido centrista Yesh Atid como o segundo mais votado.
Tradicionalmente, altas taxas de comparecimento às urnas são registradas apenas por parte do eleitorado ultraortodoxo e partidário de ideias nacional-religiosas. Assim, uma maior participação de outros setores do eleitorado pode gerar um resultado inesperado para Netanyahu.
O premiê convocou seus seguidores a "largar tudo" e sair para votar, depois que dados indicaram que a média de comparecimento eleitoral em seus bastiões políticos estava inferior à da média geral do país.
Os resultados preliminares do pleito devem ser divulgados nas próximas horas, mas a formação do governo deverá levar semanas.

Agenda doméstica

Ao contrário de eleições prévias, as campanhas eleitorais israelenses deste ano focaram principalmente em temas domésticos - sociais e econômicos -, em vez de nas perspectivas de um acordo de paz com os palestinos.
Israel tem registrado protestos até então inéditos contra o aumento do custo de vida, e um relatório recente apontou altos índices relativos de pobreza no país.
Ultraortodoxos votam em Israel
Voto ultraortodoxo tem peso considerável no pleito israelense
As pesquisas de opinião vinham indicando a possibilidade de Israel eleger parlamentares que formarão uma coalizão ainda mais à direita do que a atual e com menos disposição para fazer qualquer concessão que possibilite um acordo para um Estado palestino.
Se confirmadas as pesquisas, o Likud deverá ficar com o maior número de assentos do Knesset (o Parlamento israelense, com 120 cadeiras), manter sua coalizão com o ultradireitista Israel Beitenu (do ex-chanceler Avigdor Lieberman) e fazer acordos com outros partidos considerados seus "aliados naturais" – o religioso-nacionalista Habait Hayehudi (O Lar Judaico) e os ultraortodoxos Shas e Yahadut Hatorah.
Segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil, esses partidos formariam um bloco de direita, extrema-direita e partidos religiosos, que poderá obter 67-70 cadeiras no Parlamento.
Tal resultado não representaria um aumento dramático em relação ao número de assentos que a coalizão tem hoje - 65. Mas além desse aumento quantitativo, também é esperada uma mudança qualitativa, já que dentro do bloco governista se nota um fortalecimento da extrema-direita.
Para "equilibrar" o governo e ampliar sua base de apoio no Parlamento, Netanyahu poderá convidar o centrista Yesh Atid.

Fortalecimento da direita

Netanyahu votando
Netanyahu instou partidários a 'largar tudo' e votar
Mesmo antes dos resultados do pleito, o grupo dos colonos israelenses que moram em assentamentos nos territórios ocupados já é considerado o principal ganhador dessas eleições.
Para o analista politico Akiva Eldar, do portal Al-Monitor, os colonos "conseguiram conquistar posições de força dentro do Likud e também deram uma nova roupagem ao partido Lar Judaico, atraindo eleitores seculares".
Com isso, o Lar Judaico - cujo líder, Naftali Bennett, rejeita a solução de dois Estados e defende a anexação de grandes partes da Cisjordânia - passa a ter um papel político maior, desafiando a predominância do Likud.
Segundo Eldar, questões étnicas e culturais também ajudaram a impulsionar o fortalecimento da direita em Israel: o voto dos imigrantes da ex-União Soviética (que são quase 20% dos eleitores) e as tradicionalmente altas taxas de comparecimento eleitoral dos votantes ultraortodoxos e dos nacionalistas-religiosos.
Colaborou Guila Flint, de Tel Aviv para a BBC Brasil

Eleições em Israel: pesquisas indicam fortalecimento da extrema-direita

De acordo com as últimas estimativas, nesta terça-feira os israelenses deverão eleger um Parlamento cuja composição levará à formação de uma coalizão ainda mais voltada para a direita do que a atual e com menos disposição para fazer qualquer concessão que possibilite um acordo de paz.
As pesquisas de opinião indicam que o partido Likud-Beiteinu, do atual primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, deverá obter o maior número de votos e chefiar a próxima coalizão governamental.
Com expectativas de 34-37 cadeiras (entre 120) no Parlamento, o Likud-Beiteinu, que constitui uma junção do partido governista Likud com o Israel Beiteinu, liderado pelo ex-chanceler Avigdor Lieberman, deverá fazer acordos de coalizão com outros partidos considerados seus "aliados naturais" – o religioso-nacionalista Habait Hayehudi (O Lar Judaico) e os ultraortodoxos Shas e Yahadut Hatorah.
Esses partidos deverão formar um bloco de direita, extrema-direita e partidos religiosos, que poderá obter 67-70 cadeiras no Parlamento. Tal resultado não representaria um aumento dramático em relação ao número de assentos que a coalizão tem hoje - 65. Mas além desse aumento quantitativo, também é esperada uma mudança qualitativa pois dentro do bloco governista se nota um fortalecimento da extrema-direita.
O Lar Judaico, por exemplo, deverá dobrar sua força política, de 7 para pelo menos 14 cadeiras no próximo Parlamento, segundo as pesquisas. No Likud, os liberais, como o ex-ministro Dan Meridor, perderam as prévias para candidatos de extrema-direita que apoiam a anexação de parte da Cisjordânia, como Danny Danon e Tzipi Hotobeli.
Para "equilibrar" o governo e ampliar sua base de apoio no Parlamento, Netanyahu poderá convidar o partido de centro Yesh Atid, que tem a expectativa de obter 9-12 cadeiras, para fazer parte da coalizão.
Se esse quadro se confirmar, na oposição restarão cerca de 43 deputados de centro, de esquerda e dos três partidos que representam a minoria árabe de Israel.
Segundo as pesquisas, o Partido Trabalhista deverá liderar a oposição com uma expectativa de crescimento no número de seus deputados de 8 para 17. Durante a campanha o partido deu ênfase a questões socioeconômicas, praticamente ignorando o conflito israelense-palestino.
Nessas circunstâncias, o cientista político da Universidade Ben Gurion, Lev Grinberg, espera um "congelamento ainda maior" nas negociações de paz.
"A direita ganhou força atemorizando a população com ameaças externas - a ameça iraniana, a ameaça palestina - e quem consegue gerar mais medo obtém mais força política", disse Grinberg à BBC Brasil.

Colonos

Mesmo antes dos resultados do pleito, o grupo dos colonos israelenses que moram em assentamentos nos territórios ocupados já é considerado o principal ganhador dessas eleições.
Para o analista politico Akiva Eldar, do portal Al-Monitor, os colonos formam um "grupo homogêneo e disciplinado que trabalhou em duas frentes, tanto dentro do próprio Likud como por intermédio do Lar Judaico."
"Eles (os colonos) conseguiram conquistar posições de força dentro do Likud e também deram uma nova roupagem ao partido Lar Judaico, atraindo eleitores seculares com a imagem moderna de Bennet", disse Eldar à BBC Brasil.
O fortalecimento do Lar Judaico é atribuído à imagem de Naftali Bennet, líder do partido. Bennet é um milionário bem sucedido na área da tecnologia e ex-comandante de uma unidade de elite do Exército – características que levaram eleitores seculares a apoiá-lo.
Na lista de candidatos do Lar Judaico encontram-se ativistas de extrema-direita, como Jeremy Gimpel, que já defendeu abertamente a explosão da mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém.

Causas

Segundo Eldar, questões étnicas e culturais ajudaram a impulsionar o fortalecimento da direita em Israel.
Uma dessas questões seria o voto dos imigrantes da ex-União Soviética (que são quase 20% dos eleitores) em partidos de direita.
"Os imigrantes têm menos tendência para visões liberais e tolerantes", afirmou Eldar. "A maioria deles vota na direita".
Outra grande fatia da população é o público ultraortodoxo, que vota nos partidos indicados por seus lideres espirituais, os rabinos, e constitui cerca de 15% dos eleitores.
A votação em massa dos ultraortodoxos e dos nacionalistas-religiosos, com um índice de cerca de 80% de comparecimento às urnas, também contribui para o fortalecimento do bloco da direita.
Já os seculares, que não obedecem a líderes espirituais como os religiosos, apresentam um índice de participação bem inferior.
Em Tel Aviv, cidade considerada reduto dos liberais israelenses, o índice de participação nas eleições anteriores, em 2009, foi de apenas 58%.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Cigarro é proibido em trechos de praias argentinas

Um município argentino inaugurou dois trechos de 200 metros de suas praias como áreas em que fumar é proibido.
A medida veio após o sucesso do projeto piloto iniciado em uma dessas praias no ano passado, em Partido de la Costa, um conhecido reduto de turistas da classe média argentina.
As praias, Santa Teresita e San Bernardo, ficam a 300 quilômetros de Buenos Aires.
Em entrevista à BBC Brasil, o prefeito, Juan Pablo de Jesús, conta que houve resistência inicial ao projeto. A prefeitura, no entanto, aposta na conscientização da população através de uma campanha, intitulada "A Costa Respira".
"Fizemos uma experiência piloto e ela deu certo e por isso decidimos manter a medida em Santa Teresita e aplicá-la agora em San Bernardo. No início, houve alguma resistência à medida, mas agora não", disse.
A medida não prevê multas. A campanha contou com a distribuição, nas praias, de folhetos que abordavam os males do fumo e a importância de evitar o cigarro na frente de crianças, "para que elas não repitam os hábitos dos pais".
"O que queremos é que o verão seja um o início de um processo para que a pessoa deixe o hábito do cigarro", disse o prefeito.
Partido de la Costa é o segundo destino turístico argentino no verão e recebe cerca de 2,5 milhões de turistas do país nesta época do ano, segundo informações oficiais. San Bernardo e Santa Teresita são as principais praias do município, banhado pelas águas mais frias do Atlântico Sul.
Segundo o prefeito, o objetivo é ampliar a cada verão as áreas isentas de fumo. O município Partido possui catorze praias distribuídas em cem quilômetros de orla.
"Não sou médico, mas nosso objetivo é que o turista saia daqui mais preocupado em cuidar da sua saúde. Por isso, já iniciamos projeto para que as praças da cidade também sejam livres da fumaça do cigarro", afirmou.

Internação à força de viciados divide especialistas

Sob uma forte polêmica, começa a funcionar nesta segunda-feira um acordo entre autoridades de São Paulo que tornará mais ágil a internação forçada de usuários de crack em clínicas de desintoxicação.
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil disseram esperar que a ação não se revele mais uma operação repressiva como já ocorreu no passado na Cracolândia – com o intuito aparente de apenas tirar os dependentes de drogas do centro da cidade, sem uma forma efetiva de tratamento.
A ação é baseada em um termo de cooperação técnica assinado pelo governo do Estado de São Paulo, Tribunal de Justiça, Ministério Público e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Ela cria uma equipe integrada por médicos, assistentes sociais e juízes sediados no Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas), no Parque da Luz, próximo a região da Cracolândia.
Segundo o desembargador Antônio Carlos Malheiros – responsável pela parte do TJ na parceria – os dependentes químicos serão levados ao local a fim de passarem por avaliação médica. Caso o usuário necessite de uma internação e se recuse a submeter-se a ela, promotores pedirão a um juiz de plantão que decida sobre uma internação compulsória.
Hoje a lei brasileira prevê três tipos de internação: voluntária, involuntária (por determinação do médico e familiares, se o paciente não tiver condições de decidir) e compulsória (por decisão judicial).
Por ordem do juiz, os dependentes de crack que necessitarem serão imediatamente levados contra sua vontade para uma clínica especializada conveniada com o o governo. Todo o processo deve acontecer em poucas horas.
Ao anunciar a parceria na semana retrasada, o governador Geraldo Alckmin afirmou que o Estado dispõe de aproximadamente 700 leitos especializados para atender os dependentes químicos, a maioria em clínicas conveniadas.

Convencimento

Grupo usa drogas na Cracolândia, no centro de São Paulo (foto: Getty Images)
Grupo usa drogas à luz do dia na Cracolândia, no centro de São Paulo
Malheiros disse que passou mais de seis meses visitando diariamente a Cracolândia para estudar o assunto. Ele diz acreditar que a solução para o problema do crack em São Paulo não é uma política higienista, de recolhimento em massa.
Para ele, a internação compulsória dos dependentes é necessária, mas deve ser usada apenas como "um exceção a regra".
O magistrado afirmou à BBC Brasil que estratégias do governo usadas no ano anterior – nas quais a Polícia Militar dispersou usuários de drogas do centro – não são as mais adequadas.
O ponto que mais preocupa especialistas é como serão feitas as abordagens aos dependentes químicos na Cracolândia a partir desta segunda-feira: por convencimento ou coerção.
Segundo Malheiros, a ideia da parceria é que a PM esteja presente, mas não participe das abordagens – que devem ser feitas apenas por assistentes sociais e agentes de saúde.
Porém não está claro como usuários contrários à própria internação serão levados espontaneamente para a avaliação médica.
Malheiros afirmou que alguns familiares estão se organizando para convencer e levar seus parentes usuários de crack ao Cratod.
Segundo o magistrado, o tempo de internação forçada determinado pelo juiz será de acordo com a orientação dos médicos.
Leia abaixo as opiniões dos médicos psiquiatras Ronaldo Laranjeira e Dartiu Xavier da Silveira, ambos da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) sobre o tema da internação forçada:
Para o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, a internação forçada é negativa, de maneira geral. Ela se justifica apenas em aproximadamente 5% dos casos, quando o dependente de crack também apresenta um problema mental grave. Segundo ele, o tratamento de usuários de drogas mais efetivo é voluntário e envolve visitas regulares a clínicas e centros especializados.
Silveira é um renomado professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), onde coordena o Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes.
Segundo ele, há situações específicas, do ponto de vista médico, nas quais se justifica a internação involuntária. Isso acontece quando o paciente apresenta psicose (delírios de perseguição e alucinações) ou risco iminente de suicídio.
"Essa pessoa pode não ter um juízo crítico da realidade e então cometer um absurdo, mas não é o crack que faz isso com ele, é o problema mental", disse.
Ele afirmou ainda que, embora os estudos sobre o tema sejam controversos, a taxa de recuperação dos dependentes é maior em um contexto ambulatorial do que no de uma internação.
"É relativamente fácil alguém ficar longe da droga quando está internado, isolado, em condições ideais. O difícil é se manter longe da droga quando você volta para o convívio com a família, com o emprego, com os problemas", disse.
"A consequência é que a grande maioria recai no primeiro mês depois da internação. Além do custo ser muito maior que um tratamento ambulatorial, a eficácia é menor".
Ele afirmou que a população de rua pode ser tratada de forma ambulatorial. Essa abordagem já é usada com frequentadores da Cracolândia. "Isso já é empregado de uma forma muito bem feita", disse.
O psiquiatra defende ainda que sejam oferecidos aos usuários o benefício das moradias assistidas – chamadas no exterior de "halfway houses", hoje ainda insuficientes no Estado -, onde eles receberiam além do teto, acompanhamento médico e ajuda para conseguir emprego e se restabelecer socialmente.
Sobre as críticas de que o número de dependentes na região não diminui ao longo dos anos, Silveira explica que o problema da Cracolândia é majoritariamente social e não médico.
"A condição de miséria da população de rua é decorrência de uma omissão do Estado, da falta de acesso a moradia, à saúde, à educação. O estado de vulnerabilidade em que eles se encontram os torna suscetíveis a se tornar dependentes químicos, mas a droga é consequência e não causa".
Segundo ele, frequentemente as autoridades fazem operações massivas na Cracolândia nas quais prevalece o caráter agressivo e repressivo em detrimento do tratamento por meio do convencimento. Ele citou como exemplo ações ocorridas no início do ano passado – onde policiais militares apenas espalharam os frequentadores da Cracolândia pelo centro da cidade.
"(Essas medidas) destroem anos de trabalho de confiança estabelecida entre o agente de saúde e o morador de rua".
"A gente precisa começar a dar a essa população condições mínimas de cidadania, de qualidade de vida. Isso é uma coisa que o Estado não quer encarar. (A atual ação) me parece mais uma tentativa de tomar uma medida com um impacto midiático, político".
"Mas a gente sabe que isso não vai resolver o problema. Um tipo de proposição dessa ordem é algo que não seria aceito em um país de primeiro mundo".


domingo, 20 de janeiro de 2013

A bomba atômica que os EUA perderam na Espanha

Em uma manhã ensolarada de 1966, dois jatos da Força Aérea americana colidiram e derrubaram quatro bombas nucleares perto do vilarejo de Palomares, no sul da Espanha. Não houve uma explosão nuclear, mas plutônio foi espalhado em uma área ampla. Quase cinco décadas depois, a Espanha pede aos Estados Unidos que termine a limpeza do local.
Os Estados Unidos chamam as bombas nucleares que se perdem de "Broken Arrows" (setas quebradas). No dia 17 de janeiro de 1966, Palomares recebeu quatro delas.
A 9.500 metros de altura, um bombardeiro americano B-52 colidiu com um avião-tanque KC-135 durante um serviço de reabastecimento aéreo de rotina e se rompeu. Três das bombas-H do bombardeiro caíram no entorno de Palomares, e uma quarta caiu a cinco quilômetros da costa, no Mediterrâneo.
O acidente não provocou nenhuma vítima em solo, mas os quatro ocupantes do avião-tanque e três dos sete ocupantes do B-52 morreram. Os demais conseguiram se ejetar e pousar com paraquedas.
Em 1966, Palomares não tinha água encanada e possuía apenas um telefone, mas os céus da região eram cruzados diariamente pelas máquinas de guerra mais modernas do mundo.
Era o auge da Guerra Fria. Em uma operação de codinome Chrome Dome (Cúpula de Cromo, em tradução livre), os Estados Unidos mantinham entre 12 e 24 bombardeiros B-52 no ar 24 horas por dia, em uma tentativa de conter um possível ataque soviético.
Havia diferentes rotas de voo para os B-52 em diferentes partes do mundo. O B-52 envolvido no acidente de Palomares estava voando na rota do sul, em um circuito a partir de sua base na Carolina do Norte e em volta do Mediterrâneo.
O avião-tanque havia partido de uma base próxima, na Espanha, para reabastecer o bombardeiro antes de seu retorno aos Estados Unidos.

Sem paraquedas

Marinha dos EUA fizeram uma grande operação de resgate para encontrar as bombas
O resultado do acidente poderia ter sido incomensuravelmente pior se as bombas estivessem armadas. Por sorte não estavam, por isso não houve explosão nuclear.
Em teoria, os paraquedas conectados às bombas deveriam ter ajudado a baixá-las suavemente ao chão, evitando qualquer contaminação. Mas dois dos paraquedas não abriram.
Poucos dias após a colisão, a praia de Palomares se tornou a base para uma grande operação militar envolvendo cerca de 700 homens da Força Aérea americana e cientistas.
O objetivo deles era encontrar as bombas e protegê-las.
As duas que caíram sem a proteção dos paraquedas se romperam com o impacto, espalhando poeira radioativa de plutônio altamente tóxica - um grande risco à saúde de qualquer um que a inalasse.
"O que eles decidiram fazer foi remover a sujeira contaminada das áreas mais contaminadas", conta a escritora Barbara Moran, autora do livro The Day We Lost the H-Bomb ('O dia que Perdemos a Bomba-H').
Eles retiraram as três polegadas superiores do solo, fecharam a terra em barris e enviaram para um depósito nos Estados Unidos.
"Eles tinham um plano, mas foi desenvolvido para funcionar em um terreno plano ideal nos Estados Unidos, não em solo estrangeiro, onde ninguém falava inglês e havia agricultores e bodes circulando", comenta Moran.
Conforme o trabalho de limpeza avançava, as autoridades dos Estados Unidos e da Espanha tentavam convencer o mundo de que não havia perigo. O embaixador americano Biddie Duke até voou de Madri para a região para um mergulho no mar em frente às câmeras de TV.
Quando questionado por um repórter se havia detectado radioatividade na água, Duke respondeu com uma risada: "Se isso é radioatividade, eu adoro!".

Consternação

Embaixador americano foi mergulhar no local para mostrar que não havia riscos à saúde
As duas bombas rompidas e uma das que pousou com segurança foram localizadas em 24 horas. Mas houve uma grande consternação sobre a quarta, que caiu no mar e se tornou conhecida como a bomba-H "perdida".
A Marinha americana enviou mais de 20 embarcações, incluindo desmontadores de minas e submarinos, numa tentativa de encontrá-la.
"O desenho dessas bombas era um segredo máximo", diz Moran. "Quando eles estavam procurando, havia também navios espiões soviéticos circulando - e os soviéticos tinham tecnologia submarina", afirma.
Quatro meses depois, quando o trabalho de limpeza do solo estava terminando, a bomba perdida foi finalmente resgatada de uma profundidade de 869 metros. Barbara Moran diz que a Marinha americana calculou o custo total de suas buscas no mar em mais de US$ 10 milhões - a operação de resgate mais cara da história da Marinha americana até então.
Em Palomares, os Estados Unidos e a Espanha concordaram em financiar exames anuais nos moradores e monitorar o solo, a água, o ar e os cultivos locais.
Nunca houve evidências de que alguém tenha desenvolvido problemas de saúde em consequência do acidente. A água e os alimentos se mantêm limpos.
Quase todos já haviam se esquecido de Palomares, exceto os moradores da cidade. Segundo eles, a operação de limpeza americana esqueceu de algumas áreas de contaminação.

Plutônio latente

Moradores locais temem a publicidade negativa para a cidade quando caso é divulgado
José María Herrera é um jornalista local que vem investigando o acidente desde os anos 1980. Ao lado de uma encosta com vista para três áreas cercadas ainda contaminadas, ele aponta para uma cratera, onde uma das bombas caiu.
"Dá para extrair ao menos 200 gramas de plutônio daquele solo hoje", diz.
Na realidade, a quantidade real de plutônio ainda no local é difícil de ser determinada, porque os Estados Unidos nunca disseram quanto as bombas carregavam no início.
O pesquisador espanhol Carlos Sancho estima que entre 7 e 11 quilos do material acabou no solo. Mas Sancho, responsável pela região de Palomares no Departamento de Energia da Espanha, afirma que não há riscos à saúde.
"A terra não pode ser movida lá porque o plutônio está latente no solo", diz. "Se perturbarmos o solo, o plutônio pode ser dispersado."
Em Palomares, não se pode andar, plantar ou construir na área cercada. Os moradores locais reclamam de que a simples menção à história na mídia prejudica o turismo e que sem a publicidade negativa, Palomares poderia ser tão popular quanto sua vizinha mais famosa, Marbella.
A comunidade se sente presa. Se os moradores reclamam, o acidente volta às manchetes e há uma queda no número de visitantes e uma queda nos preços que os agricultores locais conseguem para sua produção.
O vice-prefeito da cidade, Juan José Pérez, diz esperar que a tragédia possa se converter em algo positivo e diz que gostaria de construir um museu para explicar como tudo aconteceu.
"Talvez até possa ter a forma de um bombardeiro B-52", diz. "Poderíamos oferecer caminhadas pelas áreas afetadas."
Mas afirma que para que isso ocorra, primeiro tem que haver um fim para a história. E para ele, esse fim adequado seria que os americanos voltassem e terminassem o trabalho de limpeza.
* The World é um coprodução de rádio do Serviço Mundial da BBC com a americana PRI e a emissora WGBH, de Boston.
Palomares ainda tem áreas cercadas cuja descontaminação não foi concluída

Palomares ainda tem áreas cercadas cuja descontaminação não foi concluída

Gregos protestam contra partido radical de direita

Mais de 3 mil pessoas participaram de um dia de eventos antiracismo em Atenas, na Grécia, neste sábado. As ações foram uma resposta ao crescimento do partido neofacista Golden Dawn.
O Golden Dawn explorou a raiva da população em relação à crise financeira - que forçou o país a adotar uma política severa de austeridade - e ganhou 18 vagas no Parlamento em junho do ano passado.
O partido de extrema direita é um dos mais radicais da Europa e já foi acusado de ataques a imigrantes. Porém, agremiação política nega envolvimento em qualquer atividade violenta.
Durante as manifestações, o caixão de um imigrante paquistanês assassinado por extremistas de direita foi exibido.
Shehzad Luqman, de 27 anos, foi esfaqueado até morrer por dois motoqueiros no bairro de Petralona, na manhã da última quarta-feira.
Mais de 80% dos imigrantes ilegais da Europa entram no bloco pela Grécia.
O dia de manifestações visava mostrar a outra face da Grécia, segundo o correspondente da BBC em Atenas, Mark Lowen.
De acordo com ele, a hospitalidade grega é muito conhecida, mas a crise financeira está levando o país para a direita e ameaçando o futuro dos imigrantes.

Arte

Fora de Atenas, manifestantes usaram meios artísticos para divulgar sua mensagem: uma peça teatral protagonizada por crianças.
A representação conta a história de uma família grega que encontra iranianos e paquistaneses durante as férias. Os medos e desconfianças iniciais são abordados na medida em que todos aprendem a conviver juntos.
"A peça é sobre preconceito, racismo, xenofobia e mostra como podemos superar tudo isso com bom senso, humor e justiça acima de tudo", disse à BBC o diretor da peça Vassilis Koukalani.

sábado, 19 de janeiro de 2013

EUA e Reino Unido prometem caçar autores de atentado terrorista na Argélia

Os líderes de Defesa não deram detalhes sobre como a resposta deles vai ocorrer.
Londres - Os líderes de Defesa dos EUA e do Reino Unido prometeram neste sábado (19) caçar os responsáveis pelos ataques terroristas na Argélia e os militantes islâmicos no norte do Mali. Em entrevista conjunta à imprensa com seu colega britânico, o secretário de Defesa americano, Leon Panetta, disse que nenhum grupo terrorista pode atacar os EUA e "escapar".
"Assim como não podemos aceitar ataques terroristas contra nossas cidades, não podemos aceitar ataques contra nossos cidadãos e nossos interesses no exterior", afirmou Panetta. "Nem podemos aceitar redutos na Al-Qaeda em nenhum lugar do mundo."

Philip Hammond, o ministro de Defesa britânico, anunciou neste sábado que a crise dos reféns na Argélia havia terminado. "A situação dos reféns agora chegou ao fim por meio do ataque das forças da Argélia que resultou em mais perdas de vidas", afirmou. Da mesma forma que Panetta, Hammond prometeu perseguir aqueles que planejaram e executaram o atentado contra o campo de gás natural da Argélia. "Os líderes serão responsabilizados por suas ações", disse Hammond. "A força dos EUA, do Reino Unido e dos países africanos vai se abater sobre eles."

Os líderes de Defesa não deram detalhes sobre como a resposta deles vai ocorrer. Autoridades americanas disseram nos últimos dias que o ataque na Argélia talvez requeira um passo a mais na campanha de contenção do terrorismo contra grupos militantes na África, eventualmente com a inclusão de operações de forças especiais ou o aumento da vigilância com drones (aviões não tripulados).

Banha de porco da 2ª Guerra aparece em praia da Escócia

Banha de porco / SNHQuatro grandes pedaços de banha de porco oriundos da 2ª Guerra Mundial apareceram em uma praia da reserva natural de St Cyrus, na Escócia, devido às fortes chuvas que recentemente atingiram o Reino Unido.
Acredita-se que a gordura tenha emergido dos destroços de um navio mercante bombardeado durante o conflito.
Segundo o Scottish Natural Heritage, órgão responsável pelas reservas naturais da Escócia, a banha de porco ainda brilhava e cheirava "tão bem que dava até para fritá-la".
Naquela época, era comum que a banha de porco fosse armazenada em barris de madeira.

Achados

Não é a primeira vez que suprimentos da 2ª Guerra Mundial foram encontrados em praias do território.
Angus McHardy, um morador local e pescador aposentado, diz que se recorda de episódios similares no início da década de 40.
"Alguns desses barris estavam cheios; em outros só havia vestígios de alimento. As pessoas os recolhiam da praia. Minha avó depois fervia a banha para tirar a areia. Era ótimo porque tínhamos dificuldade em encontrá-la durante a guerra".
"Eu via os comboios de navios mercantes quando ia de casa para a escola. Os alemães atacavam esses comboios praticamente toda a noite", explica.
McHardy acrescenta que "depois de uma tempestade no fim dos anos 60 e no início dos anos 70, a banha imergiu de novo. Foi um baita presente para as gaivotas".
Therese Alampo, diretora da reserva de St Cyrus, disse: "A profundidade das ondas durante as tempestades do fim do ano devem ter quebrado os destroços dos navios e provocado a emersão da banha."
"A banha de porco estava totalmente coberta de mariscos. Nunca tinha visto algo assim. Animais, como o meu próprio cachorro, adoraram ter encontrado o alimento na praia. Inacreditavelmente, também ainda cheira bem o suficiente para ser fritada".

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Equipe da BBC vê sinais de massacre em cidade síria

Uma equipe de reportagem da BBC enviada à cidade de Hawasiya, na Síria, viu sinais de um massacre no local.
A equipe ouviu relatos de que pelo menos cem pessoas foram mortas e queimadas em suas casas entre terça e quarta-feira na cidade, próxima a Homs, na região central do país.
Há relatos divergentes sobre quem estaria por trás das mortes.
Relatos do massacre começaram a ser divulgados na quinta-feira por opositores do regime de Bashar Al-Assad, mas ainda não foi possível confirmar as informações.
Soldados do Exército sírio disseram à BBC que todos os corpos já haviam sido retirados do local, mas a correspondente Lyse Doucet diz ter encontrado o cenário de um massacre.
"Três corpos carbonizados estavam dentro de uma casa. Um rastro de sangue manchava o chão", disse Doucet.
"Na cozinha, onde xícaras de porcelana estavam dispostas com capricho em uma estante, mais de uma dúzia de cartuchos de balas se espalhavam pelo chão tomado de sangue", relata Doucet.
"Em outro quarto, dois outros cadáveres carbonizados estavam próximo a uma cama quebrada."

Relatos

Moradores locais, ainda visivelmente chocados, disseram à BBC que pelo menos cem pessoas foram mortas naquele dia.
Soldados que acompanhavam a equipe da BBC disseram que centenas de militantes de um grupo rebelde islâmico, o Nusra Front, cometeram os assassinatos.
Uma mulher disse a mesma coisa à BBC.
Mas quando nos afastamos dos soldados sírios, outra mulher disse que o Exército estava presente no momento das mortes e que alguns soldados chegaram a pedir desculpas pelos assassinatos, dizendo que outros haviam agido por conta própria.
Esse testemunho condiz com as acusações feitas em sites da oposição, que afirmam que o massacre foi obra da milícia pró-governo Shabiha.
Homs e as áreas ao redor foram palco de alguns dos piores episódios de violência do conflito na Síria. A população de maioria sunita da cidade foi alvo de grandes bombardeios por parte das forças do governo sírio.

Países pobres são destino 'de 80% do lixo eletrônico de nações ricas'

Os países em desenvolvimento são o destino de 80% do lixo eletrônico produzido nas nações ricas, mas carecem da infraestrutura, de tecnologias de reciclagem apropriadas e da regulamentação legal para absorver essa vasta quantidade de detritos.
Essa é uma das conclusões de um relatório divulgado nesta sexta-feira pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Segundo o documento O Impacto Global do Lixo Eletrônico: Lidando com o Desafio, boa parte do lixo eletrônico exportado para as nações em desenvolvimento é enviado ilegalmente, e estes detritos acabam indo parar em plantas de reciclagem informais, predominantemente em países como China, Índia, Gana e Nigéria.
Especificamente em relação à América Latina, o documento afirma que a maior parte dos países da região ''ainda precisa elaborar uma legislação para o lixo eletrônico''.
O documento afirma que houve avanços recentes na região, como na Costa Rica, o primeiro país latino-americano a criar uma legislação nacional específica sobre o tema.

Ônus

De acordo com o estudo, ''as nações em desenvolvimento estão tendo de lidar com o ônus de um problema global, sem ter a tecnologia para lidar com isso. Além disso, os países em desenvolvimento estão eles próprios cada vez gerando maiores quantidades de lixo eletrônico'.
O estudo afirma que está havendo um aumento rápido na geração de lixo eletrônico doméstico produzido na China, no Leste Europeu e na América Latina.
Um total de 40 bilhões de toneladas de lixo eletrônico é produzido anualmente. Estima-se que 70% dos produtos eletrônicos descartados e exportados todos os anos vá parar na China e que esta proporção estaria aumentando.
Muitas vezes, esse lixo exportado para a China é reexportado para outros países do Sudoeste asiático, como Cambodja e Vietnã.
De um modo geral, as exportações de pequeno porte são destinadas a países da África Ocidental. Mas o relatório diz que essa proporção deverá crescer, devido à adoção de leis mais duras por parte dos países do Sudeste Asiático, que costumavam absorver parte desse comércio.
Entre os principais problemas ligados ao lixo eletrônico, de acordo com o relatório, estão a ausência de regulamentações para assegurar a segurança dos que lidam com esses produtos descartados e a falta de incentivos financeiros para reciclar detritos eletrônicos de forma responsável.
A manipulação desses detritos traz vários riscos à saúde pela presença de materiais tóxicos.
Entre as recomendações feitas no documento da OIT, está a adoção de legislações apropriadas por parte dos países em desenvolvimento, a regularização do setor informal de reciclagem e a organização de trabalhadores que lidam com detritos eltrônicos em cooperativas.

Diretor artístico do teatro Bolshoi é vítima de ataque com ácido

O diretor artístico do popular teatro Bolshoi, da Rússia, Sergei Filin, está internado em um hospital de Moscou após ter sofrido um ataque com ácido, que o deixou com graves queimaduras no rosto, informou a polícia nesta sexta-feira.
O ataque, realizado por um homem mascarado, aconteceu na noite da última quinta-feira, enquanto Filin, um bailarino premiado mundialmente, voltava para casa, no centro da capital russa.
Os médicos, agora, concentram seus esforços para salvar sua visão.
Segundo a agência de notícias russa Interfax, Filin será enviado para tratamento em uma clínica no exterior.
Um porta-voz do teatro afirmou que o bailarino, de 42 anos, vinha sofrendo ameaças havia meses.
O correspondente da BBC em Moscou, Steve Rosenberg, diz que a suspeita recai sobre rixas internas entre diferentes grupos de bailarinos do Bolshoi.
Segundo um comunicado divulgado pelo teatro, o agressor gritou o nome de Filin enquanto ele se aproximava do portão de seu prédio, para, em seguida, jogar ácido no rosto do diretor artístico da instituição.
O informe acrescenta que Filin teria pedido ajuda a um guardador de carros nas proximidades do edifício.
O diretor-executivo do teatro, Anatoly Iksanov, disse à televisão russa que o bailarino foi "intransigente" em seu estilo de gestão.
"Se ele achasse que o artista estivesse despreparado para desempenhar um certo papel, ou fosse incapaz de fazê-lo, Filin não permitia que ele pisasse no palco", disse.
As tensões no Bolshoi sobre seu programa artístico têm sido divulgadas nos meios de comunicação russos.
Em 2011, duas estrelas do balé - Natália Osipova e Ivan Vasilyev - renunciaram a seus cargos em protesto contra o novo repertório do Bolshoi.
Outro artista célebre, Nikolai Tsiskaridze, criticou duramente Filin no início de 2012.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Novas regras tentam reduzir letalidade da PM de SP

Após registrar uma alta de 24% no número de mortes cometidas por policiais militares em 2012, o Estado de São Paulo começou a implementar medidas para coibir homicídios ilegais cometidos pelos agentes da lei - de acordo com recomendações feitas por sua ouvidoria.
Segundo dados da Ouvidoria da Polícia, os PMs de São Paulo mataram 506 pessoas entre janeiro e novembro de 2012 - 99 casos a mais que o registrado no mesmo período de 2011. Os dados de dezembro só devem ser divulgados pelo governo no fim deste mês.
O número também é o maior para o período registrado nos últimos cinco anos.
A alta dos casos começou principalmente a partir do mês de setembro de 2012 - quando se acirrou uma onda de confrontos entre policiais militares e membros da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
O mês que mais registrou mortes foi novembro, com 79 casos - uma alta de 75% em relação ao ano anterior, segundo a Ouvidoria.
Nesse mesmo mês, o número geral de vítimas de homicídio no Estado aumentou 44% - de 340 vítimas em 2011 para 534 no ano passado.
A explosão no número de mortes culminou na demissão do então secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, no fim de novembro.
Seu substituto, Fernando Grella, adotou neste mês duas novas medidas para tentar acabar com o conflito.
Uma delas impede que, após tiroteios entre policiais e criminosos, os próprios PMs levem os suspeitos baleados para um hospital. O resgate passou a ser feito por socorristas da Prefeitura ou do Corpo de Bombeiros.
O Ouvidor da Polícia, Luiz Gonzaga Dantas, disse à BBC Brasil que eram comuns antes da medida as denúncias ao órgão sobre resgates médicos usados para acobertar assassinatos.
"A pessoa, em confronto com a polícia, levava um tiro no braço ou na perna, era socorrida pela polícia e depois chegava no hospital já morrendo, quando não morria no trajeto", disse.
Uma fraude dessa natureza gerou grande repercussão em novembro de 2012, na zona sul de São Paulo - por ter sido filmada por um cinegrafista amador.
Ele flagrou PMs retirando o servente Paulo Batista do Nascimento, de sua casa. Ele já estava dominado e desarmado quando levou um tiro de um policial e foi colocado em um carro da corporação. Foi levado em seguida para um hospital, onde chegou morto.
Dantas também afirmou ter recebido denúncias de que policiais forjavam resgates de feridos só para prejudicar a cena do crime - removendo corpos ou sumindo com objetos e cápsulas de munições do local do confronto, para dificultar a investigação do caso.
Para Marcos Fuchs, diretor da ONG Conectas Direitos Humanos, a medida é muito positiva, mas o serviço de ambulâncias deve estar pronto para chegar mais rápido para socorrer as vítimas baleadas.
"Deveria ser estabelecido que uma ambulância seja chamada pela central de PM logo que começa um tiroteio e não só quando alguém é baleado", disse.

Resistência

Outra prática que está sendo mudada por uma medida de Grella é a forma de registrar os homicídios cometidos por policiais durante o serviço.
Até recentemente, eles eram registrados oficialmente na categoria de "resistência seguida de morte" - que pressupõe uma reação do suspeito.
Devem passar agora a figurar como "morte decorrente de intervenção policial". A diferença é que só uma investigação determinará se a ação do policial foi legítima ou não.
Segundo Fuchs, essa mudança é importante porque deve implicar em uma melhor investigação do caso - que em tese receberá atenção de peritos e de unidades especializadas da polícia.
Além disso, o registro de casos como "resistência seguida de morte", segundo Dantas, fazia com que muitos casos de homicídios fossem enviados para a varas comuns da Justiça - ao invés do Tribunal do Júri, dedicado apenas aos assassinatos.
Tais medidas podem ajudar a esclarecer mais casos como o do adolescente Wallace Victor de Oliveira Souza, de 16 anos, assassinado no último domingo, na zona leste de São Paulo.
Registrado segundo as novas diretrizes, o caso foi investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) e pela Corregedoria da PM. Agentes desses órgãos ouviram testemunhas que disseram que a vítima foi baleada em um terreno baldio por PMs quando já estava rendida e desarmada.
O resultado foi a detenção de quatro policiais sob acusação de simular um confronto e depois matar a vítima.

Iniciativa

O ouvidor Dantas disse que esses dois procedimentos são comuns no exterior e já vinham sendo defendidos pela Ouvidoria desde 2009.
Uma fonte na Secretaria de Segurança afirmou que Grella consultou, além da Ouvidoria, uma série de especialistas em segurança e policiais experientes para tomar sua decisão.
"As ações do novo secretário são valentes, importantes e começam a colocar um freio na PM", afirmou Fuchs.
Porém, segundo ele, sozinhas elas não resolvem o problema da letalidade da corporação ou o conflito com o PCC.
Fuchs afirma que ainda será preciso fazer muitos investimentos nos setores de investigação de homicídios - com investimentos principalmente na área de pesquisa e tecnologia para a perícia. A ideia é esclarecer mais casos e diminuir a impunidade.

Novas propostas

Dantas elogiou a determinação do novo secretário e disse que agora pretende apresentar à pasta novas medidas para dificultar o abuso de direitos humanos praticado por maus policiais.
Uma delas deve ser a instalação de um sistema integrado de câmeras de segurança e GPS (sistema de posicionamento global por satélite) nos carros de polícia. A ideia é monitorar o tempo todo a conduta dos policiais, para evitar abusos.
Outra medida defendida por ele é que uma comissão de especialistas de universidades façam avaliações psicológicas em todos os policiais que atuarem em casos que envolvam mortes. Esses analistas decidirão se o policial tem condições ou não de voltar a trabalhar nas ruas.
Dantas defende ainda que o Estado pague indenizações para familiares de vítimas mortas por policiais. A ideia é forçar o governo a aumentar a repressão aos desvios de conduta dos agentes da lei para evitar os pesados gastos com indenizações.
Ele diz porém, que tais medidas não serão totalmente efetivas se não forem acompanhadas por aumentos salariais para os policiais - que precisam ser valorizados e ter condições de parar de fazer bicos nos horários de folga.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Unesco cobrará explicações sobre decisão de demolir Museu do Índio

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) enviará uma carta ao governo brasileiro solicitando explicações sobre o plano de demolição do antigo Museu do Índio, nos arredores do Maracanã, disse à BBC Brasil um porta-voz da entidade.
O governo do Rio de Janeiro, com apoio da prefeitura da cidade, estaria decidido a demolir o prédio para a construção de um estacionamento no local como parte das obras de modernização do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014, contrariando a orientação do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural, que pede a preservação do prédio, de 150 anos.
"Vamos verificar se a área do prédio que deve ser demolido integra a região do Rio de Janeiro que faz parte da lista do patrimônio mundial da Unesco", afirma Roni Amelan, do Setor de Relações Externas e Informações Públicas da Unesco.
Em julho do ano passado, as paisagens urbanas do Rio de Janeiro "entre a montanha e o mar" se tornaram Patrimônio da Humanidade.
As regiões protegidas do Rio pela Unesco são inúmeras e reúnem áreas como o Parque Nacional da Tijuca, o Jardim Botânico, o Corcovado e as paisagens de Copacabana.
Na prática, se o espaço ocupado pelo antigo museu do Índio não se situar na região protegida pelo patrimônio mundial da Unesco, a entidade não poderá agir nesse caso "para não interferir na soberania nacional" do Brasil, afirma Amelan.
"Se o prédio estiver na área inscrita na lista do patrimônio, o Brasil tem a obrigação legal de preservá-la", diz.

Obrigação moral

"Mas a Unesco lembra que o Brasil assinou a convenção do patrimônio mundial, cultural e natural, de 1972, e, por este motivo, tem também a obrigação moral de respeitar o patrimônio de maneira geral", afirma.
Ele também ressalta que o comitê do patrimônio mundial da Unesco defende há anos a necessidade de incluir as comunidades locais no processo de preservação do patrimônio cultural, associando-as à proteção do local.
"No passado, houve casos em que, para preservar um prédio, comunidades foram afastadas da área. A preservação do patrimônio deve levar em conta as populações locais", diz Amelan.
O antigo prédio do Museu do Índio é ocupado por dezenas de índios de diferentes etnias e integrantes dos movimentos sociais, ameaçados atualmente de expulsão.
A carta solicitando informações será enviada à representação diplomática do Brasil na Unesco, em Paris.
A resposta das autoridades brasileiras será examinada pelo comitê do patrimônio mundial da Unesco, que se pronunciará sobre a questão.
O Ministério Público Federal entrou com recurso contra a demolição do antigo Museu do Índio. Os ocupantes do prédio pedem uma audiência com o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes.

Cão perdido é localizado após 2 anos a 3 mil km de distância nos EUA

Um casal da Flórida, no sul dos Estados Unidos, foi surpreendido nesta semana com a notícia de que seu animal de estimação, um cachorro da raça mastim napolitano, foi encontrado no Wisconsin, no norte do país, a quase 3.000 quilômetros de distância, após ficar quase dois anos desaparecido.
O cão Endo, de mais de 50 quilos, foi identificado por uma ONG de proteção aos animais graças a um chip eletrônico instalado embaixo de sua pele. Os donos de Endo já o davam como morto havia muito tempo.
Os funcionários da organização Animal Allies Humane Society na cidade de Superior, no Wisconsin, se disseram surpresos ao descobrir o histórico do cachorro.
Os donos do animal, Denise e Tom Hartzog, da cidade de Cape Coral, na Flórida, tinham obtido o cachorro no final de 2010, após responder a um anúncio de uma família do Kentucky, no centro-leste do país, oferecendo um animal de graça.

Ataque de crocodilo

Endo viveu por alguns meses com os Hartzog até fugir um dia em companhia de outro cão do casal, o labrador Duke.
"Há um canal em frente à nossa casa, que foi o último lugar em que os havíamos visto. Nós os procuramos por uma semana, até que um vizinho disse ter visto nosso labrador ser atacado por um crocodilo. Como não vimos mais Endo, assumimos que a mesma coisa havia acontecido com ele", contou Tom.
Segundo Denise, a família ficou imensamente feliz e surpresa quando recebeu a ligação da ONG do Wisconsin contando sobre o paradeiro de Endo. "Ele é um cachorro muito legal. Estamos muito ansiosos para vê-lo novamente", disse.
Ainda não se sabe como o cachorro foi da Flórida, no extremo sul do país, ao Wisconsin, no extremo norte, onde viveu pelos últimos 20 meses.
A ONG agora pretende enviar Endo de volta à Flórida até o final da semana, com a ajuda de voluntários que se dispuseram a transportar o cachorro.
Segundo a gerente do abrigo da Animal Allies na cidade de Superior, Betsy Bode, o caso mostra a importância de as pessoas instalarem microchips em seus animais de estimação.
"Instalar um microchip em seu cão ou gato é uma maneira segura e responsável de garantir que seus animais de estimação retornem se fugirem ou se perderem", observa.