![Bolsa de Tóquio, nesta quarta-feira (Reuters)](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_uc0NLc1QmDFe3fYo2sUFYCYbYJuX95zzyOA6BimXwwg0c7CxDyjT6NSgeKG6jE-PZTEcCSnw5lD1D5RLIAFESvX1TY-EP5lB7Jtjt_AxsmhzMHivpi9Z8Y2ksDxws5D6ED7RGwxHkO1hrq9_uinEN7jykXaT0r7fSMfSRUWfYC8y0LQwO40ocLohC_QA=s0-d)
Redução dos estímulos monetários nos EUA tem afetado mercados financeiros
Antes considerados um dos
motores do crescimento mundial, os países emergentes deram sinais de
instabilidade econômica nas últimas semanas. Brasil, Turquia, África do
Sul e Índia tiveram de elevar suas taxas de juros enquanto a Argentina
viu sua moeda sofrer uma forte desvalorização perante o dólar.
Por trás da turbulência estão tanto problemas
internos desses emergentes como uma mudança na conjuntura internacional -
sobretudo nos Estados Unidos.
Nesta quarta-feira, o Fed (banco
central americano) anunciou mais uma redução em seus estímulos
financeiros: vai cortar sua compra mensal de títulos do patamar atual,
de US$ 75 bilhões, para US$ 65 bilhões. O motivo é o fortalecimento da
economia americana, que tem precisado de menos estímulos para voltar a
crescer.
Mas, na prática, isso tem impacto significativo
nos países emergentes: de um lado, há menos dinheiro sendo injetado no
mercado; de outro, o fortalecimento americano provoca fuga de capitais
de economias menos desenvolvidas, já que o investidor ruma aos EUA em
busca de mais segurança.
No Brasil, o dólar chegou nesta quarta a R$
2,435, uma das maiores altas dos últimos anos; outras moedas
estrangeiras também perderam valor perante o dólar.
Mas qual a origem dessa instabilidade? Ela pode
levar a uma crise maior, como a que derrubou economias emergentes no
final da década de 1990? Veja o que dizem especialistas consultados pela
BBC Brasil:
Por que os mercados emergentes estão sofrendo?
Depois de terem atraído investidores no
pós-crise de 2008, quando países desenvolvidos se tornaram pouco
atraentes, os países emergentes já não são o destino favorito do
dinheiro que circula no mercado financeiro.
De um lado, os EUA estão se recuperando,
diminuindo seus estímulos financeiros e abrindo caminho para elevar suas
taxas de juros - elementos que atraem os investidores, em busca de um
porto seguro para seus investimentos.
"Isso leva a uma fuga de capitais, que por sua
vez afeta o câmbio (desvalorizando as moedas perante o dólar) e gera um
processo inflacionário (encarecendo produtos importados)", diz André
Pereira Perfeito, economista-chefe do Gradual Investimentos.
A reação dos bancos centrais é aumentar as taxas
de juros, para atrair investidores oferecendo uma rentabilidade mais
alta. Mas é o efeito colateral o que esfria a economia - fica mais caro
pegar dinheiro emprestado para abrir um negócio, por exemplo.
De outro lado, a China já não cresce na mesma velocidade, diminuindo suas compras de
commodities de economias emergentes como Brasil e Argentina.
"Esse esfriamento desequilibra as balanças
comerciais e o país perde a capacidade (de reter) moeda estrangeira",
explica Otto Nogami, professor de economia do Insper.
Fora isso, persistem os problemas internos
desses países, de infraestrutura à falta de confiança na habilidade de
governos em administrar economia, que acabam perdendo a atratividade
perante os olhos de investidores externos.
Os emergentes enfrentam problemas semelhantes?
O Brasil é apontado pelos especialistas como
muito mais sólido do que outras economias emergentes, apesar de seus
problemas conjunturais.
"Ao contrário da Argentina, que não tem
conseguido gerar investimentos, o Brasil avançou no varejo, na
construção civil, nos setores automotivo de de infraestrutura", opina
André Perfeito, agregando que as reservas internacionais brasileiras são
bem mais robustas - ou seja, o país tem mais capacidade de se manter
solvente.
Segundo o economista, as reservas atuais
brasileiras seriam suficientes para bancar, sozinhas, um ano e meio de
importações (as da Argentina, por exemplo, durariam pouco mais de quatro
meses).
Além disso, diz ele, a elevação de juros tem
ocorrido de forma bem mais controlada - ao contrário da Turquia, que
dobrou sua taxa de juros na última terça-feira, de 4,5% para 10%, um
"ato de desespero" para evitar uma fuga maior de capitais, na visão do
analista.
"O conjunto de emergentes é muito heterogêneo, e a situação dos países deve ser vista caso a caso", agrega Perfeito.
Na terça-feira, o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, disse que a instabilidade atual é parte de um momento de
acomodação da economia mundial.
Existe o risco de uma crise maior?
As turbulências despertaram especulações quanto a
um possível contágio financeiro semelhante ao que derrubou, em efeito
dominó, as economias emergentes no final da década de 1990.
Para Nogami, do Insper, esse risco existe se os
países não tomarem medidas para evitar um ciclo de recessão (em que a
alta de juros freie a economia e a inflação tire o poder de compra das
pessoas).
"Para reverter o ciclo, os governos precisam
equilibrar seus gastos, controlar a inflação e resgatar sua
credibilidade para atrair investimentos", diz. No entanto, para Samy
Dana, professor da FGV-SP, o cenário mudou muito desde os anos 1990:
"Nossas reservas internacionais estão muito maiores do que eram",
explica. Ou seja, temos um "colchão" maior para conter uma eventual
crise.
O mesmo vale para outros países emergentes, cujas dívidas em dólar também não são tão grandes.
Além disso, no caso do Brasil, a moeda local
está muito mais consolidada (nos anos 1990, o real era uma moeda nova e
recém-estabilizada), explica Perfeito.
"Não acho que o cenário seja tão ruim o quanto
estão pintando", diz o economista. "Até porque não vale a pena para os
EUA manterem sua moeda tão valorizada (perante moedas emergentes) num
momento em que tenta se recuperar economicamente."
A Argentina, porém, vive situação muito mais
frágil, com baixas reservas internacionais, uma economia bem menos
diversificada que a do Brasil e sinais de esgotamento do modelo adotado
pelo governo Kirchner.
O diretor do departamento Monetário e de Mercado
de Capitais do FMI, José Viñals, declarou à imprensa nesta sexta-feira
que "a situação não é de pânico" e que a turbulência nos emergentes
ocorre porque os emergentes "ainda não se ajustaram a condições externas
mais voláteis".