Em entrevista à BBC Brasil, Maria do Rosário defendeu fim de megapresídios
Diante da divulgação de um
relatório que acusa o Brasil de violações de direitos humanos,
especialmente em matéria de segurança, a ministra-chefe da Secretaria de
Direitos Humanos, Maria do Rosário, reconheceu os maus tratos ocorridos
no país e afirmou ser preciso acabar com os megapresídios, como o de
Pedrinhas.
"Para lidar com a questão da segurança no Brasil
é preciso trabalharmos em uma outra lógica, pois já ficou claro que o
encarceramento massivo não tem provocado a diminuição dos crimes no
Brasil", disse a ministra, em entrevista à BBC Brasil, horas após a ONG
Human Rights Watch ter divulgado seu balanço anual sobre a situação dos
direitos humanos em cada país.Pedrinhas
Segundo ela, casos como o do Complexo de Pedrinhas, no Maranhão - onde foram registradas mais de 60 mortes em 2013 – revelam a inviabilidade das grandes unidades prisionais."Esses complexos amplos não são aceitáveis. Reverter a existência [desses complexos] é uma meta importante do país. Já temos diretrizes para investir na descentralização e na construção de unidades menores, afirmou Maria do Rosário, dizendo que tais presídios podem fortalecer grupos criminosos, além de impedir a ressocialização.
"A lei prevê que os apenados cumpram suas penas próximos à família, o que é fundamental para a recuperação de alguém que cometeu um crime. Portanto, as grandes unidades afastam os apenados e penalizam suas próprias famílias."
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Presos provisórios
Caso Kaique
No dia 11 de janeiro, o adolescente
Kaique Augusto Batista dos Santos, de 17 anos, foi encontrado morto sob
um viaduto no Centro de São Paulo.
Familiares e
Na última terça-feira, no entanto, a mãe do adolescente reconheceu que o filho havia se suicidado.
Familiares e
amigos disseram, primeiramente,
que ele havia sido morto porque era homossexual. Rapidamente, o caso
gerou repercussão uma vez que a Polícia Civil de São Paulo, responsável
pelas investigações, afirmou se tratar de suicídio.
Após a divulgação do boletim de
ocorrência com a hipótese de suicídio, a Secretaria de Direitos Humanos
soltou um comunicado em que demonstrava solidariedade à família da
vítima e condenava o "assassinato brutal" de Kaique.
Na nota, o órgão também afirmou que havia designado um servidor para acompanhar pessoalmente o caso.Na última terça-feira, no entanto, a mãe do adolescente reconheceu que o filho havia se suicidado.
Questionada pela reportagem da
BBC Brasil sobre o posicionamento inicial da Secretaria, a ministra
Maria do Rosário afirmou que "lançamos uma nota dura e firme porque é
nossa missão enfrentar toda violência, mas especialmente os crimes de
ódio e intolerância".
"Agora, houve uma mudança...Nossa
nota foi baseada no posicionamento da família, que pediu apoio à
Secretaria. Mas hoje [terça-feira] a família mudou os aspectos da sua
percepção. É uma família que também é vítima".
"E a Secretaria pede às autoridades de São Palo que esgotem todas as possibilidades sobre o caso", finalizou.
"Diante do rigor da legislação brasileira na contratação de serviços de construção, estamos constituindo procedimentos mais ágeis para que os Estados possam fazer as construções necessárias para lidar com a superpopulação", afirmou ela à BBC Brasil.
No entanto, para Maria do Rosário, pouco adianta a criação de novos presídios se não for assegurado aos presos o cumprimento das regras de direito à defesa e a um julgamento justo.
"Mais de 200 mil presos no Brasil estão em situação provisória. Não bastam mutirões carcerários. É preciso rever o processo de encarceramento maciço sem que garantias processuais fossem fornecidas a esses presos."
A ministra também cobrou posições mais efetivas do Judiciário e do Legislativo. "Esses órgãos lidam com leis que buscam endurecer a responsabilidade penal e que não buscam fazer cumprir as diretrizes de execução da pena baseado em direitos humanos.
No caso específico da situação carcerária do Maranhão, Maria do Rosário não quis comentar possíveis atritos entre a sua pasta e a governadora Roseana Sarney, ressaltando a importância da formação de um comitê conjunto - entre Ministério da Justiça e governo maranhense - para lidar com a crise no Estado.
Avanços
Maria do Rosário reconheceu violações de direitos humanos
Para a ministra, esse é um bom exemplo de como o Brasil está começando a reverter o quadro de impunidade entre as forças de segurança - um dos pontos mais criticados pela ONG.
"Há outros muitos indicativos positivos na política brasileira, como o enfrentamento ao trabalho escravo, à violência, inclusão social para a econômica."
Maria do Rosário rebateu ainda a crítica feita pela ONG dizendo que seria contraditório o Brasil querer assumir um papel de liderança nos debates internacionais de direitos humanos, enquanto não consegue resolver problemas sistemáticos.
Além dos aspectos positivos que citados no documento, a ministra destacou um outro trunfo do Brasil: "Mesmo nos aspectos que ainda há violações dos direitos humanos, não vamos negá-los nem deixar de enfrentá-los."
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