Sete dirigentes da Fifa foram presos
na Suíça na manhã desta quarta-feira após serem acusados por suspeitas
de corrupção envolvendo um montante de até US$ 150 milhões.
Horas
depois, autoridades suíças anunciaram que fariam sua própria
investigação sobre o processo de escolha dos países-sede das Copas de
2018 (Catar) e 2022 (Rússia). A polícia suíça entrou na sede da Fifa, em
Zurique, e apreendeu provas eletrônicas.
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Por que isso é importante?
A
Fifa é o órgão responsável pelo futebol mundial. Nos últimos anos,
sofreu acusações de corrupção, particularmente no processo de escolha da
sede do Mundial de 2022 - o vencedor foi o Catar.
Em dezembro de
2014, a Fifa decidiu não divulgar sua própria investigação de corrupção -
que, segundo a entidade, disse que o processo de escolha foi isento. O
autor do relatório, o americano Michael Garcia, renunciou ao cargo.
A
Copa do Mundo gera bilhões de dólares em receita. As prisões e a
investigação lançam dúvida sobre a transparência e honestidade do
processo de escolha nos últimos torneios.
Como o Brasil aparece na investigação?
Três brasileiros estão implicados no esquema de corrupção, de acordo com o departamento de Justiça dos EUA.
Um dele é o ex-presidente da CBF José Maria Marin - a nota do Departamento de Justiça não detalha as suspeitas contra ele.
A
Justiça americana diz que José Hawilla, dono da Traffic Group, maior
agência de marketing esportivo da América Latina, confessou os crimes. A
Traffic é dona de direitos de transmissão, patrocínio e promoção de
eventos esportivos e jogadores, além de empresas de comunicação no
Brasil.
Leia mais: 'Dono do futebol brasileiro', réu confesso J. Hawilla terá de devolver US$ 151 mi
O
terceiro brasileiro investigado pelo FBI é José Lazaro Margulies,
proprietário das empresas Valente Corp. e Somerton Ltd., ambas ligadas a
transmissões esportivas.
A nota divulgada pela justiça
norte-americana afirma ainda que investiga suposto pagamento e
recebimento de suborno em um patrocínio "da CBF para uma grande empresa
de roupas esportivas dos EUA".
A Justiça americana também cita a Copa do Brasil, organizada pela
CBF, como uma das competições em que poderia ter havido corrupção na
negociação de direitos de transmissão e marketing.
A Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, não é citada especificamente no documento.
Como funcionaria o esquema?
A
denúncia afirma que, de 1991 até o momento, autoridades da Fifa se
envolveram em vários crimes, incluindo fraude, subornos e lavagem de
dinheiro. A Justiça afirma que duas gerações de dirigentes usaram suas
posições para fazer parcerias com executivos de marketing esportivo que
impediam outros de ter acesso a contratos e mantinham os negócios para
eles por meio do pagamento de propinas.
A maior parte dos
esquemas, de acordo com o departamento de Justiça, envolve recebimento
de propina de executivos de marketing para comercialização de direitos
de mídia e marketing de diversas competições esportivas - entre eles
Copa América, Libertadores e Copa do Brasil.
Quem são os acusados?
Foram presas figuras-chave do futebol na América Latina, América do Norte e Caribe.
Além
dos brasileiros implicados, foi preso o presidente da Concacaf, Jeffrey
Webb, visto com um provável sucessor do presidente da entidade, Joseph
Blatter.
Uma outra figura-chave é Charles "Chuck" Blazer,
ex-representante da Fifa nos EUA, que aparentemente se tornou informante
do FBI. Ele confessou ser culpado e já devolveu US$ 1,9 milhão.
Blatter foi preso?
Não.
O presidente da Fifa - e homem mais poderoso do futebol mundial - não
está entre os citados nos indiciamentos dos Estados Unidos. Mas a
justiça americana afirma que os envolvidos estavam a serviço da Fifa -
da qual ele é presidente. Até agora, ele não se pronunciou. Blatter tem
grandes chances de ser reeleito à Presidência da entidade na
sexta-feira.
Recentemente, ele foi forçado a negar rumores de que estaria evitando viajar para os EUA porque temia ser preso.
Por que eles foram presos?
O
FBI está investigando a Fifa há três anos. As investigações tiveram
início por causa do processo de escolha dos países sedes das copas de
2018 e 2022 (Rússia e Catar), mas foi expandida para analisar os acordos
da Fifa nos últimos 20 anos.
A acusação do Departamento de
Justiça dos EUA diz que a corrupção era planejada nos EUA, mesmo quando
era efetuada em outros locais. O uso de bancos americanos para
transferir dinheiro é uma peça-chave da investigação.
Por que a Suíça?
É a sede da Fifa - o registro da entidade como instituição de caridade faz com que pague impostos reduzidos.
A
Suíça é conhecida como um país onde empresas pouco transparentes são
bem-vindas, principalmente em relação a impostos. Mas seu acordo de
extradição com os EUA é claro: pessoas envolvidas em crimes podem ser
enviadas aos EUA.
Aparentemente, autoridades americanas
aproveitaram o que o congresso anual da Fifa fez com que todos se
reunissem em um país que não colocaria obstáculos à extradição.
Os
suíços também parecem estar indo atrás da Fifa, com três investigações
em curso - incluindo uma anunciada horas após as prisões, sobre a
escolha das cidades-sede das próximas Copas.
Quanto dinheiro está envolvido?
Muito, supostamente.
A
denúncia dos EUA alega a corrupção envolveu US$ 150 milhões, e isso não
inclui outras transações pelo mundo. Um relatório anterior sobre
corrupção no Caribe, que vazou, afirma que propinas de US$ 40 mil foram
pagas a autoridades em envelopes cheios de dinheiro.
Quase toda a
renda da Fifa vem da Copa do Mundo, o evento esportivo mais lucrativo do
mundo - superando as Olimpíadas. A Copa do ano passado custou ao Brasil
cerca de US$ 4 bilhões, e a Fifa lucrou mais de US$ 2 bilhões.
O custo das duas próximas Copas deve ser superior: a Copa do Catar deve custar mais que US$ 6 bilhões.
Só
concorrer a sediar a Copa já tem um custo enorme: a federação inglesa
gastou 21 milhões de libras para concorrer à Copa de 2018.
As Copas da Rússia e do Catar serão feitas em outros países?
Isso é improvável, mas não impossível.
A
denúncia dos EUA aborda casos de corrupção no passado - a Copa de 2010
na África do Sul, por exemplo, é mencionada - mas não futuros. As
investigações da Suíça devem ser mais frutíferas em relação a isso, mas
seria preciso ter provas contundentes para fazer a eleição outra vez.
Mudar a Copa da Rússia seria difícil. Poucos países têm estádios,
infraestrutura e dinheiro para sediar o evento em um prazo tão curto. A
melhor opção seria a Alemanha, que sediou a Copa de 2006.
O Catar é
bem mais vulnerável e foi inundado com denúncias e alegações de
corrupção desde que foi escolhido como sede. Mas, mesmo depois de ter
visto vários escândalos de corrupção, uma mudança inédita de um torneio
de verão para inverno e um escândalo sobre mortes de trabalhadores
migrantes, há chances de que eles ainda sediem a competição de futebol
mais importante do mundo.
Mas, segundo o procurador americano Kelly T. Currie, a investigação não vai parar por aí.
"Após
décadas, segundo a denúncia, de corrupção descarada, o futebol
internacional organizado precisa de um novo começo - uma nova chance
para suas instituições fazerem uma vigilância honesta e apoiarem um
esporte amado pelo mundo. Deixe-me ser claro: essa denúncia não é o
último capítulo da nossa investigação", afirmou.