Em todo o ano passado, 55 casos de violações à liberdade de expressão
foram registrados no Brasil, segundo um relatório divulgado hoje (3),
no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, pela organização Artigo 19, que
trabalha pelo direito da liberdade de imprensa.
Segundo o
relatório Violações à Liberdade de Expressão – Relatório Anual 2014, o
número de casos de violações registrados em 2014 representou um aumento
de 15% em relação ao ano anterior, quando ocorreram 45 casos. Em todos
eles as pessoas foram vítimas de violação em função de atividades
ligadas à liberdade de expressão, seja pela publicação de uma matéria,
seja pela mobilização de uma comunidade ou a organização de uma
manifestação.
O relatório foi feito com base na repercussão dos
casos de violações na imprensa, associações de comunicadores e
organizações de direitos humanos, que foram apurados por meio de
entrevistas com as vítimas e outros contatos relacionados aos casos.
Dos
55 casos registrados em 2014, 15 foram homicídios contra comunicadores
(jornalistas, blogueiros, etc) ou defensores de direitos humanos
(lideranças rurais, indígenas e quilombolas etc). Houve também 11
tentativas de assassinato, 28 ameaças de morte e um crime de tortura.
Entre
os comunicadores ocorreram 21 casos de violação à liberdade de
expressão, queda em relação ao ano anterior quando foram registrados 29
situações de violência, seis deles contra mulheres. Desse total, três
foram homicídios, quatro tentativas de assassinato e 14 ameaças de
morte.
“Os três profissionais de comunicação assassinados em 2014
eram muito envolvidos com a política local de suas cidades, questionavam
as autoridades públicas e eram reconhecidos por isso. Pedro Palma era
proprietário de um jornal chamado Panorama Regional, Geolino Xavier era
um antigo radialista e chegou a ser vereador de seu município e Marcos
Guerra mantinha um blog sobre a gestão pública de sua cidade. Os três
foram assassinados a tiros na presença de outras pessoas que não foram
alvo dos disparos, o que demonstra a intencionalidade de executar
somente os comunicadores”, diz o relatório da organização.
A maior
parte dos comunicadores que sofreram violações são de veículos
comerciais 17 deles. Segundo a organização, houve uma mudança
significativa no perfil das vítimas pois, nos anos anteriores, a
violação era praticada principalmente contra comunicadores, enquanto
neste ano as principais vítimas são defensores dos direitos humanos.
Quanto
aos motivos que estariam por trás das violações, nove delas seriam em
razão de alguma denúncia feita; sete por conta de uma investigação como
apuração de informações para reportagem e cinco em função de
manifestação de críticas e opiniões. Os agentes do Estado aparecem como
os principais autores das violações contra comunicadores no país, sendo
responsáveis por 16 dos 21 casos. Entre os agentes, políticos estavam
envolvidos em nove casos.
Em relação aos defensores dos direitos
humanos, ocorreram 34 violações, das quais 12 foram homicídios. A maior
parte dos casos relaciona-se com conflitos de terra 23 casos, sendo
que 15 vitimaram lideranças rurais, quatro foram contra lideranças
indígenas e quatro contra lideranças quilombolas. Houve casos de
violações contra três militantes políticos e três lideranças LGBTI
(Lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais), seguidos por
violações a lideranças comunitárias e advogados, com dois casos cada.
Houve também um caso contra uma política em exercício.
Entre os
perfis de possíveis autores das violações contra defensores dos direitos
humanos, destaca-se a figura do fazendeiro ou grileiro, com 17 casos,
metade do total; em seguida vem os empresários (11% dos casos),
políticos (9%) e policiais (6%). Além disso, não fazem parte de nenhum
desses perfis típicos os possíveis autores de três casos e não foi
possível apurar o perfil do autor em cinco outros casos.
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