Após mais um ano de intenso trabalho de investigação sobre os desvios
de recursos da Petrobras, a Operação Lava Jato, iniciada em 2013, já
conseguiu recuperar R$ 1,8 bilhão desviados da estatal. Desde então, 75
investigados foram condenados. A soma das penas dos envolvidos chega a
mais de 626 anos de prisão.
Em entrevista à Agência Brasil,
o procurador da República Roberson Pozzobon, um dos integrantes da
força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) que atua nas
investigações, fez um balanço da atuação do MPF e avalia que a população
brasileira está mais consciente sobre os efeitos da corrupção.
Para
o procurador, a ampla divulgação feita pela imprensa das etapas da
investigação e a crise econômica no país tornaram a população mais
sensível aos desvios bilionários que ocorreram na Petrobras. “Hoje, o
que vislumbramos é uma população que não está inerte frente a estes
desvios bilionários que decorrem dessas práticas corruptas. Hoje, a
população se insurge, vai às ruas, protesta contra a corrupção e dá
passos no sentido de combatê-la”, afirma.
De acordo com Pozzobon,
uma iniciativa que merece destaque em 2015 é o projeto de lei promovido
pelo MPF que estabelece dez medidas de combate à corrupção. O projeto
conta com mais de 1,1 milhão de assinaturas de populares. São
necessárias 1,5 milhão para apresentar a proposta à Câmara dos
Deputados.
“Mais de um milhão de cidadãos brasileiros assinam
hoje contra a corrupção e a importância desse despertar, a importância
dessa postura ativa frente a corrupção, ela é incalculável porque ao
mesmo tempo em que o cidadão busca tomar consciência do projeto,
verificar as medidas, ele toma consciência, como um todo, dos efeitos
danosos da corrupção”.
Na entrevista, Pozzobon também disse que
os procuradores da Lava Jato ainda têm uma série de ilícitos que
precisam ser apurados e pessoas que serão responsabilizadas nas próximas
fases da operação em 2016.
“Trata-se de um trabalho que não é
uma corrida de 100 metros rasos. É um trabalho que demanda fôlego, é um
trabalho que deve ser feito de forma consciente, tranquila, dando passos
seguros para que não haja nenhuma responsabilização inadequada, para
que somente os fatos sejam revelados na medida das suas verdades”,
argumenta.
De acordo com o balanço mais recente da
Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a atuação na Operação Lava
Jato, foram realizadas, em todas as fases da investigação, 360 buscas a
apreensões, 166 prisões, sendo 61 prisões preventivas e 55 temporárias.
Trinta e cinco acordos de delação premiada foram assinados com
investigados que tornaram-se colaboradores.
Confira os principais trechos da entrevista:
Agência Brasil: O senhor poderia fazer um balanço da operação em 2015?
Roberson Pozzobon:
Eu creio que as fases que foram desencadeadas na operação, os processos
que foram instaurados, as ações que já foram julgadas, o montante que
já foi recuperado e revertido em prol dos cofres públicos, os agentes
que já foram condenados em primeiro grau, todos os fatos que vieram à
tona, e o fato de que pessoas da mais alta esfera política e econômica
do país estão sendo sim responsabilizadas perante a justiça criminal
pelos atos que praticaram. Eu creio que todos estes fatores nos mostram
que o balanço da operação no ano é bastante positivo.
Agência Brasil: O que o senhor destacaria das fases que foram realizadas neste ano?
Pozzobon:
Eu acho que é difícil destacar porque cada uma destas fases tem sua
importância, elas se sucedem de forma a permitir que o caso avance, que
os fatos sejam esclarecidos. Então, não é porque em uma determinada fase
da operação foram cumpridos "X" mandados de prisão, ou eventualmente
foram presas determinadas pessoas que ela é mais ou menos importante que
outra fase da operação. Elas se complementam. Essas fases trazem novas
provas e novas evidências que permitem que todos os fatos sejam
plenamente esclarecidos.
Agência Brasil: Para 2016, como está sendo pensada a linha de atuação da operação?
Pozzobom: Em
2016 haverá a continuidade da operação. Existem frentes investigativas
em andamento, existem fatos que ainda precisam ser melhor apurados,
existem outros fatos que já estão mais amadurecidos e que culminarão na
propositura de novas denúncias. Então, 2016 será, com certeza, um ano de
bastante trabalho.
Agência Brasil: Pessoas do
alto escalão foram denunciadas e estão sendo investigadas. Como o senhor
vê a questão do envolvimento dessas pessoas com relação aos partidos
políticos? Isso causa um impacto grande nos partidos?
Pozzobom:
Essa questão política não é um fator que nós consideramos aqui em
nossas decisões e nossos atos. Nós apuramos fatos criminosos que foram
praticados independentemente de quais pessoas participaram, se elas
fazem parte dessa ou daquela outra agremiação política. É lógico que
quando se responsabiliza pessoas que atuam na condução da coisa pública,
agentes políticos, isso acaba repercutindo também nessa esfera, mas
são fatores que nós não podemos levar em consideração em nossa tomada de
decisões, pois nos pautamos única e exclusivamente por critérios
jurídicos. Então, não temos como sequer estancar esses efeitos políticos
muito menos por sopesar eles de forma a produzir mais ou menos. Eles
são, digamos, efeitos reflexos de uma investigação que atinge agentes
muito poderosos.
Agência Brasil: Até pouco tempo
não se pensava em ver certas pessoas que estão sendo investigadas e
presas, sendo responsabilizadas. Esse é um dos méritos da operação?
Pozzobom:
Eu creio que o sistema jurídico brasileiro penal tenha iniciado uma
caminhada, principalmente com o processo do mensalão, e hoje consolida
essa caminhada no caso Lava Jato e em outras grandes operações, no
sentido de que a lei penal também é uma lei que vale para todos, que
inclusive agentes políticos podem ser responsabilizados. Que inclusive
grandes agentes econômicos, as pessoas que conduzem as maiores
corporações do país, se elas fizerem algo de errado, se elas praticarem
crimes, elas também podem ser chamadas a serem responsabilizadas por
estes atos. Creio que esta escalada, esta maturidade que o sistema
jurídico vem atingindo é algo bastante importante para a democracia
brasileira, para a República como um todo. Mostrar que a Justiça, e
principalmente neste caso, a justiça penal, ela não é uma justiça que
tenha somente um espectro pessoal de limitação. Ela é uma justiça que
vale para todos e eu creio que seja bastante importante, é um dos
aspectos positivos, sem dúvida, da investigação.
Agência Brasil: E é isso que vai continuar acontecendo, em termos de operação no próximo ano?
Pozzobom:
As investigações prosseguem. Existe ainda uma série de fatos ilícitos a
serem apurados, pessoas a serem responsabilizadas, recursos desviados
que devem ser recuperados, que devem ser revertidos à população
brasileira novamente e isso é lógico, trata-se de um trabalho que não é
uma corrida de 100 metros rasos. É um trabalho que demanda fôlego, é um
trabalho que deve ser feito de forma consciente, tranquila, dando passos
seguros para que não haja nenhuma responsabilização inadequada, para
que somente os fatos sejam revelados na medida das suas verdades.
Agência Brasil: Mais alguma coisa que o senhor gostaria de acrescentar?
Pozzobom:
Eu acho que este ano também nos mostra que a população brasileira,
hoje, está muito mais consciente dos efeitos danosos da corrupção. Os
cidadãos brasileiros veem hoje, seja pela própria existência da operação
e pelo importante papel da imprensa que a mídia vem fazendo de divulgar
estes fatos, seja pelo fato de que infelizmente hoje passamos por uma
crise econômica, então as pessoas ficam sensíveis a estes desvios
bilionários. Hoje o que vislumbramos é uma população que não está inerte
frente a estes desvios bilionários que decorrem dessas práticas
corruptas. Hoje a população se insurge, vai as ruas, protesta contra a
corrupção e dá passos no sentido de combatê-la.
Então creio que o
combate à corrupção efetivo, ele se dá não apenas na esfera judicial,
na esfera da repressão mas também por meio do despertar da população
para o exercício da democracia. Dentro dessas regras do jogo, visando
corrigir eventuais falha que o sistema tenha e otimizar o sistema para
que algo parecido não aconteça novamente, que esse grande esquema de
corrupção cesse, que se construa um país melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário