Nas últimas semanas, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva vem tentando, a todo custo, se desvencilhar das
denúncias do Petrolão. As investidas não têm sido bem-sucedidas. Por
mais que Lula lute para subverter os fatos, revelações comprometedoras
acabam por emaranhar ainda mais a defesa do ex-presidente. Três vieram
logo após a votação do impeachment na Câmara. Em depoimento na
segunda-feira 18, o ex-diretor da área Internacional da Petrobras,
Nestor Cerveró, vinculou o seu crescimento profissional na estatal à
gratidão de Lula por serviços de corrupção prestados. Na condição de
delator, Cerveró detalhou como tirou do papel uma operação ilícita para
quitar um empréstimo de R$ 12 milhões feito por José Carlos Bumlai,
compadre do ex-presidente, com o Grupo Schahin. Os recursos foram usados
para pagar dívidas do PT. Cerveró selou, em troca do perdão da dívida,
um contrato de cerca de US$ 1,6 bilhão entre a Schahin Engenharia e a
Petrobras para operar um navio sonda. A ordem, disse, veio do
ex-presidente da estatal Sergio Gabrielli. A generosidade de Lula,
afirmou Cerveró no depoimento, ficou clara quando ele quis trocar de
cargo na máquina pública. O ex-presidente não se furtou a ajudá-lo. Como
reconhecimento pela ajuda, autorizou a sua transferência do cargo de
diretor da Petrobras para uma chefia na BR Distribuidora.
TENSÃO
Lula deixa o diretório do PT em São Paulo: cada vez mais encrencado
Os relatos de Cerveró reforçam as
declarações de outro delator. Diogo Ferreira, assessor do senador
Delcídio do Amaral, apontou à Justiça que Lula fez parte da tentativa de
comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras preso pela Lava Jato. O
líder petista temia as revelações de Cerveró. Foram feitos três
pagamentos a familiares dele. O plano tinha até um roteiro espetaculoso
de fuga para o exterior. Acabou frustrado depois que o filho de Cerveró
entregou para autoridades gravações das tratativas conduzidas pelo
senador Delcídio do Amaral. Cerveró e o assessor Diogo Ferreira não são
os primeiros a citarem Lula em delações premiadas. Como ISTOÉ
antecipou, Delcídio confirmou o envolvimento de Lula na tentativa de
silenciar o ex-diretor. Na quarta-feira 20, o STF autorizou a inclusão
de trechos da delação do senador em que ele cita Lula, a presidente
Dilma e o vice, Michel Temer, em um inquérito que investiga a existência
de uma engrenagem criminosa na Petrobras.
Outro laudo da Polícia Federal coloca sob
suspeita a relação de Lula com empreiteiras investigadas pela Operação
Lava Jato. Ele indica que, das contas usadas pela construtora Andrade
Gutierrez para o pagamento de propina, saíram pagamentos a entidades
ligadas ao ex-presidente. Depósitos de 3,6 milhões entre os anos de 2011
e 2014. Parte do dinheiro foi destinada a doações ao Instituto Lula. O
restante a Andrade Gutierrez depositou nas contas da LILS Palestras,
empresa de Lula. Seriam pagamentos pela realização de conferências.
Sobre as plaestras de Lula, o juiz Sergio Moro já chegou a afirmar: “não
se pode concluir pela ilicitude das transferências às empresas do
ex-presidente, mas é forçoso reconhecer que trata-se de valores altos
para doações e palestras, o que no contexto do esquema criminoso da
Petrobras gera dúvidas sobre a generosidade das empresas.”
As apurações mais avançadas sobre Lula
envolvem a ocultação de um tríplex no Guarujá e de um sítio em Atibaia.
Promotores paulistas e procuradores que investigam o Petrolão possuem
depoimentos que reforçam que os imóveis em nome da OAS e de sócios do
filho de Lula pertencem, na verdade, à família do ex-presidente. Chama a
atenção o fato de tanto o apartamento como o sítio terem sido
reformados por empreiteiras envolvidas no Petrolão. A ex-primeira-dama
Marisa Letícia acompanhou as obras de perto. Durante as investigações, o
Ministério Público de São Paulo chegou a pedir a prisão de Lula. O
pedido foi negado pela Justiça paulista, que encaminhou o processo para o
juiz Sergio Moro. Em março, agentes da Polícia Federal ligados à Lava
Jato levaram o presidente coercitivamente para prestar depoimento sobre
as denúncias. Mas o caso foi tirado do Paraná após Lula ser nomeado
ministro da Casa Civil pela presidente Dilma Rousseff.
A nomeação de Lula é motivo de
investigação. Interceptações telefônicas indicam que ela ocorreu para
livrá-lo da Justiça Federal do Paraná. Como ministro, o ex-presidente
passou a ter foro privilegiado. Responde a eventuais denúncias no
Supremo Tribunal Federal. Em um dos diálogos, Lula fala com a presidente
Dilma Rousseff. Ela diz que está enviado um termo de posse para Lula
antes mesmo de ele assumir o cargo. Na prática, um salvo-conduto para um
eventual pedido de prisão decretado pelo juiz Sergio Moro. A nomeação
de Lula acabou suspensa preliminarmente por determinação do STF. A Corte
a julgaria na quarta-feira 20. Não é de estranhar que, diante de tantos
fatos novos, tenha adiado a sessão.
Procuram-se ministros
Governo enfrenta uma debandada na Esplanada dos Ministérios
Dilma Rousseff enfrenta um problema
inusitado. Faltam interessados em ocupar vagas de primeiro escalão em
seu governo. Mesmo siglas fisiológicas entregaram o comando de
ministérios. O PP devolveu o da Integração Nacional. Gilberto Kassab, do
PSD, demitiu-se da pasta das Cidades. Seguiram os rumos dos
peemedebistas Henrique Alves (do Turismo), Mauro Lopes (da Aviação) e
Eduardo Braga (Minas e Energia). Engrossam o número de ministérios sob o
comando de interinos. Um terço das pastas está nesta situação. Para
piorar, a petista não tem conseguido repor os quadros. Políticos e
partidos sabem que, com a iminência do afastamento dela, ficarão
semanas, no máximo, à frente dos cargos.
Dilma se confunde para preencher até
quadros estratégicos, como a Justiça. Indicou um ministro que foi
obrigado a deixar o cargo após o STF decidir que não poderia ocupar a
função por ser promotor. Colocou outro no lugar: um procurador da
República. Seis por meia dúzia. Uma guerra de liminares tira e põe
Eugênio Aragão da função.
Nenhum comentário:
Postar um comentário