Fora do governo há seis anos, desde que deixou de ser presidente, Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta inquéritos, denúncias e ações penais
na Justiça.
Ele já foi alvo de quatro denúncias da Procuradoria-Geral da República e
responde a três ações penais, sendo duas no Distrito Federal e uma na
Lava Jato em Curitiba. Paralelamente, também é investigado pela Polícia
Federal.
Na segunda, o petista foi novamente indiciado, desta vez ao lado da
mulher, Marisa Letícia, do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e de
outras quatro pessoas. O indiciamento significa que a investigação
policial, envolvendo a empreiteira Odebrecht, aponta indícios de que
Lula cometeu crime - neste caso, corrupção passiva. Os demais citados
são suspeitos de lavagem de dinheiro.
Apesar disso, segundo o último levantamento do Datafolha, ele lidera as
pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno das eleições de
2018. Mas também tem a segunda maior rejeição (44%) entre todos os
possíveis candidatos, atrás apenas do presidente Michel Temer (45%).
Confira as acusações e suspeitas contra o petista - ele nega ter cometido qualquer irregularidade.
Ações Penais
- Obstrução da Justiça (Operação Lava Jato)
Em julho deste ano, Lula tornou-se réu acusado de tentar obstruir a
Justiça comprando o silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras e
um dos delatores do esquema de corrupção envolvendo a estatal.
Além do ex-presidente, respondem ao mesmo processo outras cinco
pessoas: o ex-senador Delcídio do Amaral, o ex-chefe de gabinete de
Delcídio Diogo Ferreira, o banqueiro André Esteves, o advogado Édson
Ribeiro, o pecuarista José Carlos Bumlai e o filho dele, Maurício
Bumlai.
A denúncia foi oferecida pela Procuradoria da República no DF e aceita pelo juiz federal Ricardo Augusto Leite, de Brasília.
Na ocasião, foi a primeira vez que Lula se tornou réu na Lava Jato.
O que diz a defesa de Lula?
Advogados do ex-presidente dizem que ele "jamais interferiu ou tentou interferir em depoimentos relativos à Lava Jato".
Segundo eles, "a acusação se baseia exclusivamente em delação premiada
de réu confesso e sem credibilidade (Delcídio Amaral), que fez acordo
com o Ministério Público Federal para ser transferido para prisão
domiciliar".
- Corrupção e lavagem de dinheiro (Operação Lava Jato)
Quase dois meses depois, em 19 de setembro, Lula voltou a tornar-se réu
acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Lava Jato.
A denúncia da força-tarefa do Ministério Público Federal foi aceita pelo juiz federal Sergio Moro.
Os procuradores afirmam que a empreiteira OAS pagou R$ 3,7 milhões de
propina a Lula. A propina se deu por meio da reserva e reforma de um
triplex no Guarujá, no litoral de São Paulo, e pelo custeio do
armazenamento de seus bens depois que o petista deixou a Presidência.
O que diz a defesa de Lula?
Lula nega ser proprietário do imóvel e que tenha recebido propina da OAS.
Advogados do ex-presidente dizem que ele é vítima de "um histórico de
perseguição e violação às garantias fundamentais pelo juiz de Curitiba".
"Nem mesmo os defeitos formais da peça acusatória e a ausência de uma
prova contra Lula, como amplamente reconhecido pela comunidade jurídica,
impediu que o referido juiz levasse adiante o que há muito havia
deixado claro que faria: impor a Lula um crime que jamais praticou",
afirmaram na ocasião os advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto
Teixeira.
- Tráfico de influência internacional (Operação Janus)
Em outubro, Lula tornou-se réu pela terceira vez acusados pelos crimes
de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influência
e organização criminosa.
A denúncia foi oferecida pela Procuradoria da República no Distrito
Federal e aceita pelo juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, de
Brasília.
Lula é acusado de usar sua influência junto ao BNDES e a outros órgãos
sediados em Brasília para favorecer a empreiteira Odebrecht em contratos
e obras de engenharia em Angola.
Em contrapartida por ter sido contratada pelo governo angolano, a
Odebrecht teria repassado cerca de R$ 30 milhões à empresa do sobrinho
do ex-presidente, Taiguara Rodrigues.
O que diz a defesa de Lula?
Em depoimento à PF, Lula diz que "não chegou a tratar, em nenhum
momento, nem quando era presidente ou depois, das relações comerciais
vinculadas a Taiguara".
Denúncias
- Tráfico de influência (Operação Zelotes)
Na semana passada, Lula foi denunciado à Justiça pelos crimes de
tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
As acusações envolvem "negociações irregulares que levaram à compra de
36 caças do modelo Gripen pelo governo brasileiro e à prorrogação de
incentivos fiscais destinados a montadoras de veículos por meio da
Medida Provisória 627".
A denúncia, que foi oferecida pela Procuradoria da República no DF, ainda não foi aceita pela Justiça.
Segundo os procuradores, os crimes teriam sido praticados entre 2013 e
2015 quando Lula, já na condição de ex-presidente, "integrou um esquema
que vendia a promessa de que ele poderia interferir junto ao governo
para beneficiar as empresas MMC, grupo Caoa e SAAB, clientes da empresa
Marcondes e Mautoni Empreendimentos e Diplomacia LTDA (M&M)".
Em troca, o casal de lobistas Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, donos
da M&M, teria repassado ao filho mais novo de Lula, Luis Cláudio
Lula da Silva, pouco mais de R$ 2,5 milhões.
A Operação Zelotes apura um esquema de compra e venda de Medidas Provisórias e sonegação de impostos.
O que diz a defesa de Lula?
Advogados do ex-presidente classificaram a denúncia como "fruto de um
novo devaneio de alguns membros do Ministério Público que usam das leis e
dos procedimentos jurídicos como forma de perseguir Lula e prejudicar
sua atuação política".
"Nem o ex-presidente Lula nem seu filho participaram ou tiveram
conhecimento de qualquer ato relacionado à compra dos aviões caças da
empresa sueca SAAB, tampouco para a prorrogação de benefício fiscais
relativos à Medida Provisória nº 627/2013, convertida na Lei nº
12.973/2014", afirmaram em nota os advogados Cristiano Zanin Martins e
Roberto Teixeira.
"Luis Claudio recebeu da Marcondes & Mautoni remuneração por
trabalhos efetivamente realizados e que viabilizaram a realização de
campeonatos de futebol americano no Brasil", acrescentaram.
Indiciamentos/Inquéritos/Investigações
O ex-presidente também é alvo de inquéritos (investigações em curso) e
indiciamentos (quando o inquérito aponta indícios de crimes).
- Corrupção e lavagem de dinheiro (Lava Jato)
Na noite de segunda-feira, Lula foi indiciado sob a suspeita de crime
de corrupção passiva na Lava Jato. Segundo a polícia, ele teria recebido
propina da empreiteira Odebrecht por intermédio do ex-ministro da
Fazenda Antonio Palocci.
De acordo com a investigação, o dinheiro foi para comprar um terreno,
que seria usado para a construção de uma sede do Instituto Lula, e um
apartamento em frente ao que mora em São Bernardo do Campo, na Grande
São Paulo.
Os dois casos corriam em inquéritos diferentes, mas o delegado
responsável pelo caso, Márcio Adriano Anselmo, considerou que deveria
unir as duas investigações por se tratarem de "fatos correlatos".
O apartamento foi comprado por Glaucos da Costamarques, primo do
pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula e já condenado na Lava
Jato, e depois alugado ao petista por um contrato no nome de sua mulher,
a ex-primeira-dama Marisa Letícia.
A polícia ressalva, contudo, que nunca houve qualquer pagamento por
parte do ex-presidente, que utiliza o imóvel pelo menos desde 2003.
Investigadores afirmam que a operação foi realizada para ocultar o verdadeiro dono do apartamento, que seria Lula.
O ex-presidente também é investigado sob a suspeita de corrupção e
lavagem de dinheiro na compra e reforma de um sítio em Atibaia (SP),
frequentado por ele e por sua família; nos pagamentos para a LILS -
empresas de palestras do petista - e nas doações para o Instituto Lula,
além da instalação de uma antena telefônica da Oi próxima ao sítio.
O sítio está no nome de Fernando Bittar e Jonas Suassuna, amigos da
família e sócios de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, outro filho de Lula.
O local foi reformado pelas empreiteiras OAS e Odebrecht e José Carlos
Bumlai, amigo do ex-presidente. A reforma teria sido realizada, segundo
as investigações, para abrigar o acervo do petista.
- O que diz a defesa de Lula?
A defesa de Lula informou que o ex-presidente aluga o apartamento
vizinho ao seu. Além disso, acrescentou que o Instituto Lula funciona no
mesmo local há anos e que o petista nunca foi proprietário do terreno
em questão.
Segundo os advogados do ex-presidente, a transação seria um "delírio acusatório".
Lula também nega as outras acusações. Diz, por exemplo, que não é dono
do sítio de Atibaia e que Bumlai se ofereceu para reformá-lo.
Já em relação aos valores referentes às palestras e as doações, a
defesa do petista afirma que "foram devidamente contabilizados,
declarados e recolhidos os impostos devidos". Também negou que os
pagamentos tenham qualquer relação com os contratos da Petrobras.
A Oi afirma que a antena foi instalada "para atender ao bairro todo e
que eventuais problemas de sinal podem ser relatados à companhia".
- Formação de quadrilha (Lava Jato)
Ainda na Lava Jato, o ex-presidente foi apontado pelos investigadores
como comandante da uma quadrilha responsável pelo esquema de corrupção
na Petrobras envolvendo políticos de partidos como PT, PMDB e PP entre
2003 e 2014. No total, mais de 40 nomes são investigados.
O que diz a defesa de Lula?
Lula nega qualquer envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.
Em diversas ocasiões, afirmou ser perseguido e ter seus direitos
violados pelos procuradores da Lava Jato e pelo juiz Sergio Moro.
"Os procuradores da operação Lava Jato iludem a sociedade brasileira ao
afirmar que têm provas para incriminar o ex-presidente Lula", disse em
uma das notas divulgadas sobre o assunto neste ano.
- Tráfico de influência internacional
Lula também é investigado por suspeita de tráfico de influência internacional.
Ele teria atuado junto ao BNDES para ajudar a empreiteira Odebrecht a
obter contratos na América Latina e na África com recursos do banco
público, afirmam os investigadores. O caso ainda está sendo apurado.
O que diz a defesa de Lula?
Lula nega o tráfico de influência e afirmou que "jamais interferiu na
autonomia do BNDES e nas decisões do banco sobre as concessões de
empréstimos".
"Presidente e ex-presidentes do mundo inteiro defendem as empresas de
seus países no exterior", afirmou em nota divulgada pelo Instituto Lula.
Nenhum comentário:
Postar um comentário