Presidente é tachado de machista e antiquado ao dizer que mulheres têm grande participação na economia porque vão aos supermercados.
Um discurso de dez minutos do presidente Michel Temer, durante a
cerimônia do Dia Internacional da Mulher na quarta-feira (08/03), gerou
uma enxurrada de críticas em redes sociais e veículos de imprensa. Temer
foi chamado de "machista", "antiquado" e foi acusado de ter feito uma
"anti-homenagem" ao explicitar uma visão arcaica sobre o papel feminino
na sociedade.
No discurso em Brasília, Temer disse que as mulheres têm uma grande
participação na economia porque "ninguém mais é capaz de indicar os
desajustes, por exemplo, de preços em supermercados do que a mulher". O
presidente também louvou "o quanto a mulher faz pela casa, o quanto faz
pelo lar, o que faz pelos filhos".
A fala destoou completamente das centenas de manifestações organizadas
no dia, que pedem mais igualdade entre homens e mulheres no mercado de
trabalho. O presidente disse, por exemplo, que "hoje homens e mulheres
são igualmente empregados", apesar de dados do IPEA divulgados no início
da semana apontarem que o trabalho doméstico faz com que as mulheres
trabalhem 7,5 horas a mais que os homens por semana.
Dados do instituto também apontam que o desemprego entre as mulheres é mais alto do que os homens em todas as regiões do País.
O presidente também declarou que "o número de mulheres que comandam
empresas" é imenso e que atuação delas no Legislativo é
"extraordinária", apesar de levantamentos apontarem que as mulheres
estão subrepresentadas em cargos executivos de grandes empresas
brasileiras e ocupam apenas 11% das 594 vagas do Congresso.
Críticas
Nas redes sociais, usuários reclamaram da fala do presidente de 75 anos
e ironizaram a sua visão. "Acho que o Michel Temer pegou o discurso de
dia da mulher que o marechal Deodoro deixou na gaveta", escreveu a
quadrinista Alexandra Moraes no Twitter.
O escritor Marcelo Rubens Paiva, por sua vez, chamou Temer de
"imbecil". "Que imbecil esse Michel Temer. Quem faz supermercado é
mulher? Na minha casa eu que faço. Há muitos anos". Ele disse ainda que
"está provado que Temer é um vampiro que nasceu há 200 anos e pensa como
se estivesse no século 18"."
O jornalista Josias de Souza escreveu em seu blog que Temer "parece não
enxergar a evolução ao redor". "Seu discurso talvez fosse bem recebido
pelas Amélias da década de 1940, mulheres que não tinham 'a menor
vaidade', cantadas por Mário Lago e Ataulfo Alves. Ao transportar essa
mulher com aroma de passado para 2017, Temer produziu uma hedionda
anti-homenagem. Perdeu uma excelente oportunidade de perder uma
oportunidade."
A colunista Eliane Brum também recriminou o presidente em um texto
publicado na sua conta do Facebook: "Enquanto as mulheres ocupavam as
ruas do Brasil, Temer provava mais uma vez que não compreende o país que
governa por força de um impeachment. (...) Este momento do Brasil não é
apenas triste. É constrangedor. E é boçal. Ao discursar, Temer nos
envergonha."
O colunista da Folha de S.Paulo Bernardo Mello Franco escreveu que "desta vez não há como jogar a culpa no marqueteiro".
A controvérsia gerada pelo discurso do presidente foi rapidamente
explorada por figuras da oposição e antigos membros das administrações
petistas. A ex-ministra Maria do Rosário disse no Twitter "avisem Temer
que é 2017. A gente lava roupa, cozinha e arruma casa porque não há
igualdade. Mas somos mais do que isso. Ganhamos até Presidência, e no
voto." Já o ex-ministro Carlos Minc chamou Temer de "troglodita" e a
ex-deputada Luciana Genro disse que o presidente é "machista".
Deputadas da base aliada, porém, defenderam Temer. Shéridan (PSDB-RR)
disse "isso não diminui a mulher em nada". Já Soraya Santos (PMDB-RJ)
defendeu a linha argumentativa do presidente afirmando que "as primeiras
pessoas a sentirem a crise são as mulheres que administram a casa,
porque fazem a compra e a contabilidade do dia a dia".
Controvérsias
Temer já havia provocado uma onda de críticas no início do seu governo
quando nomeou um ministério sem nenhuma mulher - algo que não acontecia
desde o governo Geisel (1974-1979). Ele também extinguiu a Secretaria de
Políticas para as Mulheres e passou as atribuições da pasta para o
Ministério da Justiça. À época, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu
Padilha, disse que "não foi possível" nomear mulheres. No final do
governo Dilma (2011-2016), seis mulheres comandavam ministérios.
Temer só nomeou a primeira mulher para o alto escalão do governo após
quatro meses - Grace Mendonça, que passou a comandar a Advocacia-Geral
da União (AGU). O presidente também não foi o único membro do governo a
dar declarações desastradas sobre mulheres. Em agosto do ano passado, o
ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse que "homens trabalham mais, por
isso não acham tempo para cuidar da saúde". Ele posteriormente pediu
desculpas pela declaração.
Nesta quinta-feira (09/03), um dia após a controvérsia gerada pelo
discurso, Temer usou as redes sociais para adotar outro tom. No Twitter,
disse: "Meu governo fará de tudo para que mulheres ocupem cada vez mais
espaço na sociedade e (...) tenham direitos iguais em casa e no
trabalho. Não vamos tolerar preconceito e violência contra a mulher."
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