Não demoraram a surgir as reações internacionais ao anúncio feito
pelo presidente americano, Donald Trump, nesta sexta-feira (13), de não
certificar no Congresso dos EUA o acordo nuclear com o Irã, uma decisão
que pode colocar o pacto em risco.
Irã e Rússia se manifestaram duramente contra a decisão de Trump e garantiram que continuarão a respeitar o acordo.
Em pronunciamento transmitido pela televisão, o presidente iraniano,
Hassan Rohani, declarou que "os Estados Unidos estão mais sozinhos do
que nunca contra o acordo nuclear e mais do que nunca em seus complôs
contra o povo iraniano".
"Pode um presidente sozinho anular um acordo multilateral e
internacional? Aparentemente, não sabe que este acordo não é um acordo
bilateral entre o Irã e os Estados Unidos", alfinetou Rohani.
"O acordo nuclear não é modificável, não se pode acrescentar a ele
nenhum artigo, nenhuma nota", ensinou, garantindo que, "enquanto
responder aos nossos interesses, permaneceremos no acordo nuclear e
cooperaremos com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)".
"Mas, se um dia nossos interesses não forem satisfeitos, não hesitaremos um único segundo e reagiremos", advertiu.
Classificando-a de "retórica agressiva e ameaçadora", o Ministério
russo das Relações Exteriores denunciou a estratégia e ressaltou que o
acordo segue "intacto".
Em
nota, a Chancelaria considerou que a decisão de Trump "não terá impacto
direto sobre a aplicação" do texto, sendo "um elemento do debate
doméstico" nos EUA.
União Europeia (UE), Paris, Berlim e Londres também se disseram "comprometidos" com o quadro atual.
"Permanecemos comprometidos com o JCPOA (acrônimo do acordo) e com
sua plena aplicação por todas as partes", afirma um comunicado conjunto
da primeira-ministra britânica, Theresa May; da chanceler alemã, Angela
Merkel; e do presidente francês, Emmanuel Macron.
"Estamos preocupados com as implicações que poderão se derivar",
acrescentaram, referindo-se à decisão de não certificação por parte de
Trump.
"Incentivamos o governo e o Congresso americano a levarem em conta as
implicações que sua decisão teria para a segurança dos Estados Unidos e
para seus aliados", advertiu o texto conjunto.
Na mesma linha, a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini,
testemunhou que o acordo nuclear com o Irã "está funcionando e mantém
suas promessas" e que o presidente americano, Donald Trump "não tem" o
poder de pôr fim à iniciativa P5+1 (EUA, Rússia, China, França,
Grã-Bretanha e Alemanha).
"Não podemos nos permitir, como comunidade internacional, e em
particular a Europa, desmontar um acordo que funciona e mantém suas
promessas", ressaltou Mogherini, poucos minutos depois do anúncio de
Trump.
"O presidente dos Estados Unidos tem muitos poderes, mas não este",
apontou, explicando que "este acordo não é um acordo bilateral, nem é um
tratado internacional".
"Que eu saiba, nenhum país no mundo pode pôr fim sozinho a uma
resolução adotada no Conselho de Segurança das Nações Unidas, e adotada
por unanimidade", completou a chefe da diplomacia europeia.
Mais diplomático, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse
esperar que o acordo nuclear iraniano sobreviva à decisão de Trump.
"O secretário-geral realmente espera que se mantenha", assegurou o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.
Guterres - completou seu porta-voz -, considera que o pacto "é uma
conquista muito importante para consolidar a não-proliferação nuclear e
avançar para a paz e a segurança globais".
- Israel e sauditas aprovam -
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, celebrou a "corajosa decisão" de Trump.
"Felicito o presidente Trump por sua corajosa decisão de enfrentar o
regime terrorista iraniano", afirmou Netanyahu, em um vídeo divulgado em
inglês pouco depois do discurso do presidente dos EUA.
"Se o acordo nuclear com o Irã continuar sem mudanças, uma coisa é
certa: em alguns anos, o pior regime terrorista disporá de um arsenal de
armas nucleares, o que constitui um enorme perigo para nosso futuro
coletivo", advertiu o primeiro-ministro.
Netanyahu alega que o acordo permitirá ao Irã desenvolver seus
programas nucleares, escondendo-se atrás do que foi firmado. Diante
desse quadro, o premiê pede que seja anulado, ou profundamente
modificado.
"O presidente Trump simplesmente criou a oportunidade para remodelar
esse mau acordo, de repelir a agressão iraniana e de fazer frente a seu
apoio criminoso ao terrorismo", insistiu Netanyahu.
Para Riad, tratou-se de uma "estratégia firme".
"A Arábia Saudita apoia e saúda a estratégia firme proclamada pelo
presidente Trump em relação ao Irã e a sua política agressiva", declarou
o governo em um comunicado.
O reino saudita reiterou seu "compromisso para trabalhar junto com
seus sócios nos Estados Unidos e em todo mundo para enfrentar os perigos
da política iraniana sobre a paz e sobre a segurança mundiais".
"O Irã se aproveitou economicamente da suspensão das sanções", após o
acordo, para "desestabilizar a região e reforçar seu programa
balístico", completou o reino.
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