Debates sobre metas a serem cumpridas nos próximos dez anos
estão sendo encobertas pela discussão de gênero. Poderes, entidades e
população têm de fiscalizar ações.
A tumultuada sessão em que vereadores aprovaram em primeira votação
os rumos da educação para os próximos dez anos na capital foi marcada
pela intolerância. Tanto por parte dos que manifestavam a favor da
manutenção de termos polêmicos, como gênero e sexualidade, quanto dos
integrantes do segmento religioso que, simultaneamente, vaiavam
parlamentares e defendiam a manutenção da estrutura familiar
tradicional.
Intolerância pelo fato de um grupo não ter respeitado o momento de
fala do outro, interrompendo especialmente com xingamentos e gestos
obscenos. Ambos, tão pouco deixavam os vereadores se pronunciarem
tranquilamente. E esses, que deveriam estar esclarecidos sobre o teor e
as reais demandas do Plano Municipal de Educação (PME), não o estavam,
pelo menos em partes. Foi assim por duas horas e 11 minutos.
Para que melhor exemplo do que o relator do projeto na Comissão de Constituição, Justiça
e Redação? Um vereador que mal se expressou durante os últimos dois
anos em plenário teve nas mãos o poder de decisão entre o “sim” e o
“não”. Pelo menos o parecer dele foi favorável, pois a Prefeitura de
Goiânia precisa de pressa. Se não, perde dinheiro do governo federal
para investir na educação da cidade.
Pontos importantes como a erradicação de vagas no ensino infantil, o
fim do analfabetismo funcional e a diminuição da evasão escolar
mereciam, sim, gritos de protesto. É como diz uma especialista:
podia-se cobrar mesmo é pelo cumprimento de metas básicas,
estabelecidas em sua maioria pela metade, em 50%, em uma década. Além
disso, o grande lance do plano é o preparo de profissionais docentes e
administrativos para combater a discriminação em todos os sentidos.
A chamada ideologia de gênero, para alguns vereadores, dá margem para
que estudantes — principalmente crianças — sejam absorvidas pela
possível dualidade entre ser menino, menina ou algo do meio. E a bancada
católica e evangélica destacou esse ponto para conduzir os debates
sobre o tema.
Mas o que dizem os artigos suprimidos na Câmara? Estruturar e
fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do acesso e da permanência
dos jovens beneficiários de programas de transferência de renda, no
ensino médio, quanto à frequência, ao aproveitamento escolar e à
interação com o coletivo, bem como das situações de discriminação,
preconceitos e violências, raciais, de gênero, orientação sexual
deficiência, intolerância religiosa e/ou qualquer outro tipo de
preconceito. Inclusive com o apoio da família.
E mais: implementar e apoiar políticas de prevenção à evasão motivada
por preconceito ou quaisquer formas de discriminação racial, gênero,
orientação sexual, deficiência, intolerância religiosa ou qualquer outro
tipo de preconceito; ampliar as políticas e programas de formação
inicial e continuada dos profissionais de educação sobre gênero,
sexualidades e promoção da igualdade racial; garantir nas políticas
públicas para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) o atendimento às
necessidades dos jovens, adultos e dos idosos, visando à promoção de
políticas implementação, compartilhamento e inclusão de temas do
envelhecimento e da velhice, e de sexualidades e de gênero nas escolas.
E, por fim, assegurar aos profissionais da educação a formação
continuada referente à inclusão de pessoas com deficiências, educação
das relações étnico-raciais, educação do/no campo, educação escolar
indígena, de gêneros, diversidade e orientação religiosa. Inclusive a
religiosa.
Temas tão complexos esses não poderiam ter passado como um carro de
Fórmula 1 entre Secretaria de Educação, Prefeitura de Goiânia e Câmara
de Vereadores. Acaba deixando um rastro de improviso na condução do
trâmite. Nenhum integrante dos poderes Executivo e Legislativo teve
tempo o suficiente para ler e discutir, em uma visão macro, o PME. Entre
a apresentação das novas metas e hoje se passaram 19 dias.
O momento é de reflexão, independente da raça, clero ou gênero: é
preciso atenção à aprovação final do projeto e ao cumprimento das metas
básicas, que devem ser aplicadas concomitantemente com ações
fiscalizadoras.
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