O Supremo Tribunal Federal começou a julgar ontem (20) os recursos
que poderão livrar parte dos condenados por envolvimento no esquema do
mensalão, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, do crime de
formação de quadrilha. De acordo com integrantes do tribunal, a
tendência da Corte é reverter a condenação por esse crime. Mas o placar
será apertado.
Confirmada essa tendência traçada por ministros da
Corte, um dos símbolos do processo e fio condutor da narrativa do
mensalão deixa de existir: a acusação de que uma quadrilha foi montada
no Palácio do Planalto para a compra de voto de parlamentares. O efeito
prático da possível absolvição é a redução das penas impostas a oito
condenados.
Quatro votos são certos pela absolvição: Cármen Lúcia,
Rosa Weber, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. No julgamento do
mensalão, os quatro ministros votaram contra a condenação dos réus por
quadrilha. Argumentaram que os envolvidos não teriam se reunido de forma
estável e permanente para praticar vários crimes e de forma indistinta.
Rosa
Weber foi a primeira a votar no sentido de que os réus se reuniram
naquele momento para praticar crimes específicos e determinados. Assim,
não estaria configurado o crime de formação de quadrilha.
A tese
foi acompanhada pelos ministros Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso
quando a Corte julgou o processo do senador Ivo Cassol, também acusado
de formação de quadrilha. A decisão de hoje, portanto, dependerá do voto
dos dois.
NÚCLEO POLÍTICO – Na sessão do Supremo seriam ser
julgados os recursos do núcleo político do esquema: Dirceu, o
ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro da legenda Delúbio
Soares.
Se o tribunal decidir nesse novo julgamento derrubar a
condenação pelo crime de formação de quadrilha, as penas dos três serão
reduzidas. A pena imposta a Dirceu cairá de 10 anos e 10 meses para 7
anos e 11 meses. Delúbio Soares passará a cumprir pena de 6 anos e 8
meses, ao invés dos 8 anos e 11 meses definidos anteriormente. E a pena
imposta a Genoino passará de 6 anos e 11 meses para 4 anos e 8 meses.
Dirceu e Delúbio se livrariam definitivamente de cumprir a pena em regime fechado, pois as penas seriam inferiores a 8 anos.
E
um efeito adicional: se for confirmada a pena por quadrilha, e,
portanto o regime fechado, o ex-ministro perderá o direito a pleitear,
como está fazendo, o benefício de trabalhar fora do presídio durante o
dia, voltando para a cadeia à noite.
A favor da manutenção da
condenação, por outro lado, estão os ministros Joaquim Barbosa, Gilmar
Mendes, Celso de Mello e Marco Aurélio Mello. Os quatro consideram que
os réus se uniram de forma permanente para comprar votos no Congresso,
usando para isso dinheiro público desviado.
Essa associação só
teria sido rompida porque um dos envolvidos – o ex-deputado Roberto
Jefferson – denunciou a existência do esquema do mensalão.
O
julgamento de ontem dos chamados embargos infringentes, na realidade,
representa uma segunda chance para parte dos condenados. No ano passado,
a maioria dos ministros entendeu que os réus que tiveram quatro votos a
favor da absolvição tinham direito a novo julgamento.
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