A trégua aceita pelo governo na quarta-feira não durou; Ao menos 22 pessoas morreram nos novos confrontos
Ministros de Relações Exteriores
da União Europeia (UE) decidiram impor sanções a autoridades
ucranianas, consideradas "responsáveis pela violência e pelo uso
excessivo da força". Dezenas de pessoas morreram no confronto entre
policias e manifestantes nos últimos dois dias.
O número exato de vítimas é conflitante. Baseado
no relato de testemunhas, agências falam de 21 a 27 corpos de
manifestantes espalhados nas ruas que ficam nos arredores da Praça da
Independência, também conhecida como Maidan. A agência Associated Press
fala em até 70 mortos, citando o médico-chefe da equipe que trata os
manifestantes. Segundo as autoridades, um policial também morreu.Ao sair da reunião, a chefe de política internacional da UE, Catherine Ashton, acrescentou que estão proibidas as exportações para o país de qualquer material que possa ser usado para reprimir as manifestações. Ashton ainda acrescentou que o presidente Viktor Yanukovych deve ser o "principal responsável" pelo diálogo entre os dois lados do conflito.
Segundo a agência de notícias Unian, o chefe de gabinete de Yanukovych disse que as sanções iriam piorar ainda mais a situação na Ucrânia, citando o “perigo de o país ser dividido em dois”.
Em razão dos conflitos, os Estados Unidos já havia anunciado o cancelamento de vistos de 20 membros do governo ucraniano, mas não citaram nomes.
Já na Rússia, o primeiro-ministro Dmitry Medvedev disse nestas quinta-feira que o país quer “um governo forte” na Ucrânia, para que as pessoas não limpem seus pés nas autoridades como se elas fossem um capacho”.
Violência nas ruas
Até o momento, a União Europeia vinha preferindo incentivar o diálogo entre o governo e a oposição, pedindo que ambos os lados façam concessões. A mudança de postura veio após mais um dia sangrento nas ruas da capital Kiev.Pessoas presentes na praça da Independência, reduto da oposição, contaram ter visto tiros e o uso de coquetéis molotov e canhões d’água. Sirenes de ambulâncias ressoam a todo momento no centro de Kiev, enquanto manifestantes circulam pelas ruas com tacos e bastões. Hospitais estão cheios de feridos.
Em relato à BBC, um profissional de saúde disse haver 12 corpos no necrotério improvisado no saguão do Hotel Ukraine. A área vinha sendo usada como um centro de triagem dos feridos nos confrontos, que já duram três meses.
Manifestantes – alguns deles armados – pediram cobertores aos hóspedes para usá-los como bandagens. Segundo Kevin Bishop, jornalista da BBC presente no local, um padre foi visto no saguão.
Trégua?
Na quarta-feira, o presidente Viktor Yanukovych havia anunciado uma trégua com a oposição para dar fim ao derramamento de sangue. O líder virou alvo de críticas de outros líderes internacionais por sua recusa no diálogo com os manifestantes.
Testemunhas disseram ter visto entre 21 e 27 corpos de manifestantes na Praça da Independência, em Kiev
Líderes da oposição taxaram a violência como “uma provocação” por parte das autoridades. Já integrantes do setor de extrema direita do grupo que lidera as manifestações afirmaram não ter assinado nenhuma trégua e que não havia “nada a negociar”.
Segundo membros do partido de oposição Udar, liderado por Vitaly Klitschko, as negociações com o presidente Yanukovych devem ser retomadas ainda hoje, mas não está claro se essas conversas seguirão em frente diante dos novos confrontos e acusações mútuas.
Ucranianos carregam o corpo de um manifestante pelas ruas da região central da Capital Ucraniana
Esta quinta-feira foi declarada como dia de luto pelos mortos nos confrontos da última terça-feira, considerado até então o dia mais violento da crise na Ucrânia, iniciada em novembro passado. Naquele dia, foram registrados 25 mortos e mais de 200 feridos.
Rússia ou Europa?
Os protestos começaram após o presidente Yanukovych rejeitar um acordo comercial com a União Europeia. Em vez disso, ele preferiu estabelecer laços mais fortes com a Rússia.Milhares de pessoas foram às ruas. Uma maior integração com a Europa, com a perspectiva de se tornar membro da União Europeia, é uma antiga reivindicação de parte da sociedade ucraniana.
Desde então, os protestos se espalharam pelo país e se intensificaram depois da violenta resposta da polícia. Foram criadas leis anti-protestos e houve o registro de sequestro e espancamento de manifestantes. Na Praça da Independência, reduto da oposição, uma das principais demandas é a convocação de novas eleições presidenciais e parlamentares.
O ponto central da disputa é futuro da Ucrânia. Para que lado vai pender a nação do leste-europeu? Vai se voltar ao oeste, como Polônia e Hungria, e se integrar com a União Europeia? Ou vai se voltar à Rússia, com quem tem laços históricos?
Os conflitos na Ucrânia vêm se intensificando desde novembro do ano passado
A União Europeia, por seu lado, transforma-se num empecilho à Rússia ao expandir sua influência no antigo quintal soviético. O resultado é uma Ucrânia dividida, inclusive geograficamente.
O oeste do país, onde a população fala ucraniano, pende para a Europa, com quem tem laços culturais e históricos. Os protestos já se espalham por esta parte do país.
No leste, onde houve colonização russa e parte da população fala russo como primeira língua, os ucranianos pendem para Moscou.
Cidadãos da parte ocidental argumentam que uma maior integração com a Europa trará prosperidade e ordem à Ucrânia. Eles lembram que em 1990 a Ucrânia tinha um Produto Interno Bruto (PIB) maior do que o da Polônia, que entrou na União Europeia em 2004. Hoje a economia polonesa é três vezes maior que a ucraniana.
Os líderes europeus também acreditam que a proximidade ajudaria a diluir a abordagem a autoritária do atual governo da Ucrânia em questões que envolvam direitos humanos.
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