A
prolongada ausência do presidente da Venezuela Hugo Chávez - internado
há dois meses em Cuba – aumenta o clima de incerteza no e impõe maior
pressão ao governo, que batalha por preencher o "vazio" deixado pelo
líder.
Desde que Chávez viajou à Havana, o Executivo
realiza um evidente esforço para mostrar que o governo continua
funcionando no mesmo ritmo, sem riscos à governabilidade.No entanto, há um "vazio simbólico" no país, que somente pode ser preenchido por Chávez, na opinião do cientista político John Magdaleno."O presidente conseguiu estabelecer um nível de contato e persuasão com a população muito importante", afirmou.
Sem Chávez, governo e oposição continuam gravitando em torno de sua liderança. Não há debate, por mais polêmico, capaz de superar a incógnita sobre o real estado de saúde de Chávez e seu retorno ao país.
"A característica que marcou a população nesses dois meses foi a incerteza e o temor sobre o futuro", afirmou à BBC Brasil o analista político Oscar Schemel, da consultoria Hinterlaces.
Entre os simpatizantes do governo há uma discussão aberta sobre o futuro da "revolução" e do chavismo sem Chávez, acompanhada da expectativa de seu retorno.
"Temos esperança que voltará curado para continuar liderando nossa revolução. Se a saúde não lhe permitir ficar na Presidência, será como um guia que continuará conduzindo o processo", afirmou à BBC Brasil a enfermeira Mirna Gutiérrez, no centro da capital.
Sucessão
Dia 8 de dezembro, Chávez admitiu que a reincidência de seu câncer poderia afastá-lo da vida política e apontou como sucessor político o vice-presidente, Nicolás Maduro.Desde então, Chávez não é visto ou ouvido em público. Membros de seu gabinete, no entanto, afirmam que ele continua à frente da Presidência e que está dando ordens.
A assinatura de Chávez em documentos - mostrada às câmeras de TV cada vez que uma nova decisão de governo tem de ser tomada - converteu-se numa espécie de "prova de vida" dada pelo governo, em resposta à frequentes críticas da oposição que colocam em dúvida a veracidade das informações sobre sua saúde.
"Afortunadamente nós estamos funcionando. Temos um presidente mandando e assinando (documentos). Com ele (Chávez), somos uma revolução no poder político", afirmou o vice-presidente Nicolás Maduro, minutos antes de mostrar a assinatura de Chávez em uma carta enviada à população que celebrava em Caracas, no dia 4 de fevereiro, um novo aniversário de sua fracassada tentativa de golpe de Estado em 1992.
Na manifestação, Maduro apareceu pela primeira vez com a jaqueta esportiva que leva os símbolos da bandeira venezuelana - vestimenta que se tornou um dos "uniformes" de Chávez.
"Maduro está tentando comunicar que é um herdeiro suficientemente legítimo, mas se observa limitações, como o hiper-radicalismo, recurso que era moderado taticamente por Chávez", afirmou Magdaleno.
Ausência prolongada
Quanto mais prolongada for a ausência do presidente, mais dificuldades o governo enfrentará para projetar um eventual sucessor, caso novas eleições tenham que ser convocadas.O obstáculo legal foi superado no início do ano, quando o Tribunal Supremo de Justiça decidiu adiar indefinidamente a data da posse do novo mandato para o qual Chávez foi reeleito em outubro passado, à espera de sua recuperação.
"Quanto mais o tempo passar, maior serão as pressões para que a condição de saúde do presidente seja esclarecida", afirmou Magdaleno.
A seu ver, esse cenário poderia contribuir para "esfriar" o clima favorável ao governo e prejudicar a imagem de Maduro como eventual sucessor.
De acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria GIS XXI, 54% dos venezuelanos afirmam que preferem esperar a recuperação de Chávez à "forçar" outro tipo de saída. Outros 38% dizem que o líder venezuelano deve renunciar ao cargo e convocar novas eleições. O restante aposta na intervenção de uma junta médica para avaliar as condições de saúde do mandatário.
Ajuste econômico
Na opinião de especialistas, a ausência de Chávez teria levado o governo a "atrasar" um ajuste fiscal considerado por economistas como "iminente" para reestruturar as finanças do país. A principal medida no campo econômico seria a desvalorização da moeda, o bolívar, com taxa de câmbio controlada há quase dois anos (4,3 bolívares por dólar).O cálculo estaria orientado na possibilidade de que novas eleições presidenciais tenham de ser convocadas - medida que poderia ser pouco popular para o governo no caso de novas eleições.
No entanto, o Executivo - que reiteradamente nega a possibilidade de ajustar o tipo de cambio - tem tomado medidas para aumentar a liquidez dos cofres públicos e amenizar o impacto da crise econômica.
Na semana passada, o governo decidiu modificar o esquema de arrecadação do excedente do lucro petroleiro, para aumentar o ingresso de divisas e amenizar o déficit da moeda estrangeira nos cofres públicos. Com a nova medida, a estatal PDVSA e suas empresas mistas devem pagar impostos de até 95% sobre o excedente do preço do petróleo ajustado a US$ 55 no orçamento deste ano.
Com a medida, o governo espera injetar US$ 2,5 bilhões às reservas do Banco Central da Venezuela. Por outro lado, o Fundo de Desenvolvimento Nacional (Fonden) - responsável pelo financiamento de boa parte dos programas sociais e de grandes obras de infraestrutura - sofrerá cortes de pelo menos US$ 3 bilhões.
Aliado a esta decisão, foi anunciado o incremento da Unidade Tributária, que serve de cálculo para a arrecadação da Receita Federal. Essas medidas são vistas como um primeiro passo para "sanear" as contas públicas.
será que chávez está morto?
ResponderExcluir