Onze pessoas foram presas em operação da Polícia Civil acusadas de venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo; autoridades querem encontrar responsável dentro da Fifa.Polícia Civil do Rio de Janeiro já deu o primeiro passo para identificar um possível membro da Fifa que estaria envolvido no esquema de desvio de ingressos para cambismo, que na última quarta-feira levou à prisão onze pessoas envolvidas num esquema que faturava até R$ 1 milhão por partida da Copa do Mundo de 2014. José Massih, advogado e braço direito do argelino Lamine Fofana, um dos cabeças da possível quadrilha, de acordo com a PC-RJ, foi o único dos indiciados que optou por falar em depoimento e indicou que um membro da Fifa poderia ser o líder do bando e repassava, dentro da entidade, ingressos para serem comercializados.
Tal dirigente, ou mesmo membro da Fifa, estaria
hospedado no hotel Copacabana Palace, em Copacabana, na zona sul do Rio
de Janeiro, junto a outros membros de alto escalão da entidade, como o
próprio presidente Joseph Blatter. "O depoimento está sob sigilo. Ele
teve intenção de ajudar. Ele está querendo falar e indicar a pessoa,
trocando essa informação de forma de delação premiada", destacou o
delegado Fábio Baruck, titular da 18a DP (Praça da Bandeira) que está à
frente do inquérito instaurado para investigar o desvio de ingressos.
"Eu conversei com ele. Eu sozinho não posso oferecer a
liberdade, tem que ter aval do Ministério Público e do judiciário, que
vão avaliar essa informação que ele passou, que é valiosa. A gente não
poderia ter (sem esse depoimento). Isso está sendo avaliado. Vamos ver
se alcançamos essa pessoa", disse, sem dar maiores detalhes sobre quem
seria esse membro da Fifa, até para não atrapalhar as investigações
ainda em curso pela Polícia Civil do Rio, com auxílio da Polícia
Federal.
Ainda de acordo com Barucke, tal membro da entidade seria um estrangeiro "que estaria pronto para deixar o Brasil assim que a Copa do Mundo
acabar". Daí a necessidade da celeridade das investigações de forma a
impedir que esse possível integrante da quadrilha possa evadir-se do
País.
"Ele não sabe dar todos esses elementos e por isso será
imprescindível a ajuda da Fifa. Falta a qualificação completa",
complementou o delegado sobre o depoimento de Massih, outro personagem
que tem longo currículo no mundo do futebol - ele chegou, por exemplo, a
ser agente do jogador Elano, com passagem pela Seleção Brasileira, e que atualmente veste a camisa do Flamengo.
A porta-voz da Fifa, Délia Fischer, falou nesta
quinta-feira sobre o suposto envolvimento de membros da Fifa na revenda
de ingressos. “É necessário identificar quem, quando, onde e porquê. Em
vários processos dizem que é a Fifa que está envolvida, porque é muito
fácil uma pessoa dizer que é da Fifa. Mas às vezes não é da Fifa.
Estamos avaliando e esperando informações adequadas e só depois vamos
divulgar algo”, esclareceu.
A Polícia Civil divulgou que espera agora a colaboração
da entidade nas investigações, e sobre isso, a porta-voz disse aos
jornalistas, no briefing diário da Copa do Mundo, que "sempre foi uma
prioridade proteger os torcedores da revenda e dizemos sempre que é
apenas no site oficial da Fifa que se pode comprar ingressos sem risco".
Sobre punições a possíveis membros envolvidos, “a Fifa está analisando
isso atentamente e estamos tomando medidas necessárias. Não posso dizer
que ações. Temos que esperar e não podemos mais dizer nada”.
Demais envolvidos
Até o presente momento, a Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou nesta quinta-feira que já teve acesso apenas a metade do material de escutas telefônicas autorizadas pelas Justiça - num total de 50 mil chamadas grampeadas. Diante deste fato, o delegado responsável pelas investigações acreditam que novos membros envolvidos no esquema possam surgir, além de outros sete já detectados e que ainda não foram presos.
Até o presente momento, a Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou nesta quinta-feira que já teve acesso apenas a metade do material de escutas telefônicas autorizadas pelas Justiça - num total de 50 mil chamadas grampeadas. Diante deste fato, o delegado responsável pelas investigações acreditam que novos membros envolvidos no esquema possam surgir, além de outros sete já detectados e que ainda não foram presos.
"Temos que alcançar essas pessoas desde o baixo escalão,
quem fica na porta do estádio vendendo, até pessoas como o (argelino
Lamine) Fofana, o de maior escalão. Precisamos achar as pessoas acima
dele. Acreditamos que ele era o integrante da Fifa, uma vez que ele
tinha livre acesso aos lugares privados (o veículo de Fofana possuía
credencial de acesso livre a qualquer evento da Fifa). Mas com o
aprofundamento percemos que não, e estamos tentando identificar quem
seria a origem primária", explicou Barucke.
"Essas fontes (de bilhetes para os jogos) são
facilitadas pela forma de distribuição, pela própria Fifa, que grande
parte são destinadas a agências, ONGs, jogadores de futebol, e
especialmente uma nova fonte que surgiu que foi o argelino, uma pessoa
altamente influente que conseguia ingressos mais valiosos. Os ingressos
'hospilaties' (que garantem mais comodidade), e são mais valiosos, e
garantiam mais fundos", complementou ainda.
Diante
disso, existe uma celeridade junto ao poder judiciário afim de que
novos membros da quadrilha não fujam do país antes do término das
investigações - um possível suspeito, de origem chinesa, foi
identificado como chefe da quadrilha em São Paulo para o repasse dos
ingressos para as partidas na Arena Corinthians.
Ainda de acordo com a PC-RJ, a quadrilha agia há quatro
Copas do Mundo, uma vez que informações já obtidas nas escutas
telefônicas indicaram isso plenamente. Isso passava pela própria boca
dos investigados no momento de identificação. "Algumas pessoas
desconfiavam (na tentativa de compra de ingressos) e ele (Lamine)
falava: 'estou nessa há quatro Copas do Mundo'. Um dos presos se
declarou jornalista na Copa de 98. Essas ligações foram ricas. Um deles
dizia que trabalhava como cambista havia mais de 30 anos."
Segunda também os grampos telefônicos obtidos, ficou
constatado que os criminosos, que podem, dependendo de cada caso, pegar
até 18 anos de prisão, tiveram dificuldade de trabalhar no Brasil,
diferentemente do que haveria ocorrido na África do Sul (2010), Alemanha
(2006) e Japão e Coreia (2002). "Todas essas apreensões deixaram eles
com medo. Eles diziam que não sabiam o que estava acontecendo, que só no
Brasil isso acontecia. Eles citavam que ao redor do Maracanã estrava
impossível e que isso era uma situação inédita para eles", finalizou
Barucke.
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