Mais de 1 mil manifestantes rivais,
alguns usando capacetes, se enfrentaram em um distrito densamente
povoado de Hong Kong neste sábado, reforçando preocupações de que o pior
conflito na cidade-Estado controlada pela China nas últimas décadas
possa aumentar.
Depois de uma noite de confrontos que resultou em 19 prisões,
os defensores da cidade com governo pró-Pequim marcharam próximos a
manifestantes pró-democracia em Mong Kok, um bairro operário perto do
popular bairro comercial de Tsim Tsa Shui.
Muitos residentes de Hong Kong manifestaram raiva e frustração
pela forma como a polícia lidou com os distúrbios, com algumas acusando
as forças de segurança de cooperar com quadrilhas de criminosos,
deixando de fazer prisões e ajudando alguns atacantes a sair do local
rapidamente.
"Nós condenamos a violência usada contra civis Hong Kong ontem", disse o líder estudantil Joshua Wong.
"Acho irônico como as pessoas nos acusam de ser violento e
radical e agora, depois de uma semana de protestos pacíficos, são elas
que usam a violência -- o governo que permite a Tríade (organização
criminosa) de cometer brutalidades contra manifestantes pacíficos."
Depois de uma semana de manifestações na maior parte pacíficas
pedindo que Pequim conceda a Hong Kong o direito irrestrito de escolher
seu próprio líder, o clima ficou tenso na sexta-feira à noite em uma
área notória por ser a casa da Tríade.
Uma agitada multidão de cerca de 2 mil pessoas encheu as ruas
estreitas de Mong Kok, uma das áreas mais densamente povoadas do mundo,
na madrugada de sábado e a atmosfera mudou quando a tropa de choque da
tentou mantê-la sob controle.
Entre os detidos pela polícia estavam oito supostos membros de
gangues. Dezoito pessoas ficaram feridas, incluindo seis policiais,
segundo a emissora local RTHK.
Ativistas estudantis, grupos de protesto e cidadãos comuns de
Hong Kong se uniram para mostrar a Pequim um dos seus maiores desafios
políticos, desde que esmagou violentamente os protestos pró-democracia
na Praça Tiananmen em 1989.
Dezenas de milhares de manifestantes permaneceram sentados em
toda Hong Kong na semana passada, exigindo que o líder pró-Pequim da
cidade, Leung Chun-ying, renuncie e que a China reverta uma decisão
tomada em agosto de escolher os candidatos para a eleição de 2017 para
governar Hong Kong.
Depois que a polícia disparou gás lacrimogêneo contra os
manifestantes em sua maioria estudantes na semana passada, as
manifestações têm sido em grande parte pacífica.
Mas neste sábado, alguns manifestantes pró-democracia -- com
guarda-chuvas na mão e usando capacetes de motociclistas, luvas e
jaquetas de couro preto -- se preparavam para confrontos. Dezenas de
sinais amarelos ao redor do local ocupado pelos manifestantes
pró-democracia diziam: "A polícia e a gangue trabalhando juntos - uma
violenta repressão alternativa."
O grupo pró-Pequim, Caring Hong Kong Power, que organizou o
comício em Mong Kok na tarde de sábado, disse que apoiava o uso de armas
pela polícia, se necessário, e também a mobilização do Exército Popular
de Libertação (EPL).
O líder de Hong Kong, Leung, disse que o uso dos soldados EPL não seria necessário.
Um dos principais grupos de estudantes por trás do movimento de
protesto "Occupy Central" disse que iria se retirar das negociações
planejadas com o governo de Hong Kong, porque acreditava autoridades
haviam conspirado nos ataques contra manifestantes em Mong Kok.
O secretário de Segurança Lai Tung-Kwok disse que as alegações de que a polícia estava cooperando com a Tríade eram falsas.
A gangue é conhecida por operar bares, discotecas e casas de
massagem por toda Mong Kok, uma área de blocos de apartamentos
arranha-céus ao longo do porto em um das principais áreas de protesto.
Algumas vezes na semana passada, a polícia saiu das ruas,
dizendo que queria aliviar as tensões, embora a razão de sua aparente
ausência nesta manhã de sábado não esteja clara.
A polícia defendeu sua atuação na área, dizendo que exerceu
"dignidade e contenção e tentou o melhor para manter a situação sob
controle".
Mas a Anistia Internacional divulgou comunicado criticando a
polícia por "(falhar) em seu dever de proteger centenas de manifestantes
pacíficos pró-democracia dos ataques de manifestantes rivais."
O clube dos correspondentes estrangeiros em Hong Kong, a
associação de jornalistas de Hong Kong e a emissora local RTHK
condenaram fortemente os ataques violentos contra membros da imprensa
durante confrontos de rua ao longo das últimos 24 horas.
"Hong Kong está em uma turbulência que não é vista desde os
confrontos de 1967. Sem um monitoramento eficaz dos meios de
comunicação, as condições só vão se deteriorar ainda mais, fazendo com
que qualquer discussão racional seja impossível", disse a associação em
um comunicado.
Cerca de 1 mil manifestantes mantiveram o bloqueio fora dos edifícios administrativos no centro da cidade.
"SONHO"
O Diário do Povo do Partido Comunista, em um editorial de
primeira página neste sábado, elogiou a polícia de Hong Kong por conter o
protesto que ele classificou como ilegal, incluindo "empurrões" contra
policiais com guarda-chuvas.
Os protestos nunca se alastrarão para o resto da China,
acrescentou o jornal. "Para a minoria de pessoas que querem fomentar uma
'revolução colorida' no continente por meio de Hong Kong, este é apenas
um sonho."
Enfrentando agitação separatista na longínqua e rica área de
reservas no Tibete e Xinjiang, Pequim está agindo firmemente em Hong
Kong, com medo de que os protestos pela democracia possam se espalhar
para o continente, especialmente se forem bem sucedidos.
Manifestações em toda Hong Kong oscilaram muito desde domingo
passado, quando a polícia usou spray de pimenta, gás lacrimogêneo e
cassetetes para dispersar a pior manifestação em Hong Kong desde que a
ex-colônia britânica foi devolvida à China em 1997.
Algumas vezes, dezenas de milhares de pessoas se reuniram para
bloquear estradas e edifícios em áreas centrais do centro financeiro
global, levando-as a uma paralisação virtual.
A China governa Hong Kong através de uma fórmula "um país, dois
sistemas", apoiado pela Lei Básica, que concede a Hong Kong alguma
autonomia e liberdades não obtidas no continente e que tem o sufrágio
universal como um objetivo final.
Mas Pequim decretou em 31 de agosto que vetaria candidatos que
quiserem concorrer ao cargo executivo na eleição em 2017, enfurecendo
ativistas da democracia, que tomaram as ruas.
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