A França convivia com a incerteza neste sábado (22), véspera do
primeiro turno da eleição presidencial mais imprevisível em décadas e
que acontecerá sob forte vigilância policial poucos dias depois de um
novo atentado no país.
A votação de domingo promete ser a mais disputada da história recente
da França, com uma pequena diferença nas pesquisas entre quatro dos 11
candidatos e um elevado nível de indecisão dos eleitores.
De acordo com as pesquisas, 25% dos eleitores se declaram indecisos, e muitos preveem uma taxa de abstenção alta.
O centrista Emmanuel Macron e a líder da extrema direita Marine Le
Pen lideram as intenções de voto, mas o conservador François Fillon e o
esquerdista Jean-Luc Mélenchon estão próximos.
A diferença entre os quatro candidatos é tão pequena que está dentro
da margem de erro das pesquisas, o que significa que todos têm chances
de passar para o segundo turno de 7 de maio.
Parte dos franceses que moram em territórios de ultramar e no
exterior, incluindo na América Latina e nos Estados Unidos, começaram a
votar neste sábado, um dia antes que os eleitores em território
metropolitano.
A reta final da campanha foi abalada por um atentado na emblemática
avenida Champs-Elysées de Paris, que deixou em alerta um país
traumatizado por uma onda de ataques extremistas que deixaram mais 230
mortos desde 2015.
Karim Cheurfi, um criminoso reincidente de 39 anos, abriu fogo na
quinta-feira à noite na movimentada avenida comercial e matou um
policial, além de ter deixado outros dois feridos, antes de ser abatido
pelas forças de segurança. O grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou o
ataque.
Apesar da dificuldade de medir o impacto do ataque na eleição, alguns
analistas acreditam em que poderia reduzir a brecha nas intenções de
voto entre os principais candidatos.
"Se [o ataque] beneficiar alguém seria Marine Le Pen, que concentrou
sua campanha na segurança, ou François Fillon, por sua estatura
presidencial", afirmou a diretora do instituto de pesquisas BVA,
Adélaïde Zulfikarpasic.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o atentado
terá um grande impacto na eleição e "provavelmente beneficiaria" Le
Pen.
Os políticos consideram "provável" um comparecimento às urnas maior do que o esperado em reação ao ataque.
- Vigilância máxima -
A campanha oficial terminou na sexta-feira à meia-noite (19h de
Brasília), o que proíbe a imprensa de divulgar pesquisas, ou declarações
dos candidatos, até o fim do horário de votação no domingo.
Em um clima de tensão máxima, o presidente socialista François
Hollande afirmou que o governo não poupará recursos para garantir a
segurança dos eleitores. No domingo, as autoridades mobilizarão mais
50.000 policiais e agentes em todo o país, apoiados por 7.000 militares.
"Nada deve prejudicar o encontro democrático", afirmou o primeiro-ministro francês, Bernard Cazeneuve.
Neste sábado, um homem armado com uma faca provocou momentos de
pânico na estação do Norte de Paris. O homem foi detido pela polícia.
Depois, declarou que foi agredido na entrada da estação, alegando que a
faca era de seus agressores.
Também hoje cerca de 200 mulheres de policiais foram protestar na Champs-Elysées.
Dois dias antes do tiroteio nessa avenida, a polícia prendeu em
Marselha, no sul do país, dois homens suspeitos de planejarem um
atentado.
No último dia de campanha, os candidatos de direita e de extrema
direita endureceram o discurso no tema de segurança, com pedidos de
reforço da luta contra o terrorismo.
"Há dez anos, sob os governos de direita e de esquerda, se faz de
tudo para perder a guerra contra o terrorismo", denunciou Le Pen em tom
belicoso.
Abalado por um escândalo de empregos-fantasma para a mulher e para os
filhos, François Fillon afirmou que está determinado a combater o
terrorismo "com mão dura".
"Parece que alguns ainda não entenderam a magnitude do mal que nos ataca", afirmou, em uma crítica ao atual governo.
As declarações dos candidatos foram condenadas pelo governo
socialista, que os acusou de "instrumentalizar" o atentado e "agitar sem
vergonha o medo" dos franceses com objetivos exclusivamente eleitorais.
A segurança e o desemprego são os dois temas que mais preocupam os
franceses, mas a campanha foi marcada por problemas judiciais de alguns
candidatos e não aprofundou o debate.
Nenhum comentário:
Postar um comentário