Os chefes da diplomacia dos Estados Unidos e da Rússia se reuniram
esta segunda-feira, em Paris, para delinear os contornos de uma
conferência de paz sobre a Síria, enquanto em Bruxelas a União Europeia
fracassava em alcançar um acordo sobre o embargo de armas.
O secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro russo das
Relações Exteriores, Serguei Lavrov, iniciaram um encontro crucial em um
luxuoso hotel de Paris para analisar detalhes de uma conferência
internacional sobre a paz na Síria, com a participação das partes em
conflito.
O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, tinha
previsto retornar em caráter de urgência de Bruxelas, onde os 27 países
europeus discutiram sem sucesso o fim do embargo de armas para a
oposição síria, para se reunir com Kerry e Lavrov durante um jantar de
trabalho em Paris.
Os ministros das Relações Exteriores dos 27 países europeus
discutiram a possibilidade de suspender o embargo de armas para poder
armar os rebeldes, mas não chegaram a um acordo.
"Condeno que não tenha sido possível chegarmos a um compromisso com a
França e a Grã-Bretanha", disse o ministro austríaco das Relações
Exteriores, Michel Spindelegger, cujo país se opôs firmemente às
pressões de Londres e Paris para suspender o embargo a favor dos
opositores ao regime de Bashar al Assad.
Antes de viajar de Bruxelas a Paris, Fabius disse haver "suspeitas
crescentes" sobre o "uso localizado" de armas químicas no conflito na
Síria, embora tenha acrescentado que ainda seria necessário "uma
verificação detalhada" para confirmar esta informação.
Enviados especiais do jornal francês Le Monde, presentes na Síria em
abril e maio, insistiram esta segunda-feira no uso de armas químicas
contra as forças rebeldes nas proximidades de Damasco.
O uso de armas químicas já tinha sido objeto de suspeitas há várias
semanas e em diversas regiões da Síria, mas até agora isto não pôde ser
comprovado.
A ONU tem pedido a Damasco de forma insistente que permita a
especialistas investigar as acusações recíprocas entre o governo e
grupos rebeldes sobre o uso destas armas.
Neste contexto, a comunidade internacional se concentra na conferência de paz, por enquanto denominada Genebra 2.
Em Paris, as discussões a portas fechadas na noite desta
segunda-feira deveriam permitir - segundo um diplomata francês - fazer
esclarecimentos sobre os participantes da conferência, prevista para uma
data em junho, ainda não definida. Também discutem o mandato desta
conferência.
O governo sírio, apoiado pela Rússia, já anunciou sua decisão "de
princípio" de participar da conferência, ao mesmo tempo em que a
oposição, reunida desde a quinta-feira em Istambul, permanecia
profundamente dividida ao ponto de não poder se pronunciar até agora.
A oposição, no entanto, havia pedido à UE que suspenda o embargo às
armas, alegando que as forças governamentais tinham retomado a ofensiva e
ganhavam terreno em áreas controladas pelos insurgentes.
Apoiado por combatentes do grupo libanês Hezbollah (que sofreu pelo
menos 79 baixas em uma semana), o exército sírio travava combates na
segunda-feira para recuperar a cidade de Qousseir, no centro do país.
Yara Abbas, uma jornalista de 26 anos, que trabalhava para a rede
síria de televisão Al Ikbariya, morreu perto do aeroporto de Dabaa, a 6
km de Qousseir.
Em Homs, no centro do país, pelo menos quatro pessoas morreram e
dezenas ficaram feridas na explosão de um carro-bomba, segundo o
Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay,
advertiu esta segunda-feira para o "pesadelo" que se desenha na Síria.
Uma "catástrofe humanitária, política e social já está ocorrendo e um
verdadeiro pesadelo nos espera", disse.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse por sua vez sentir-se
"profundamente inquieto" diante do papel crescente do Hezbollah na
Síria.
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