Os inspetores encarregados de supervisionar a destruição do arsenal
químico da Síria são esperados na terça-feira em Damasco, de onde saíram
nesta segunda-feira os especialistas da ONU que investigam o suposto
uso de armas químicas no conflito.
O presidente sírio, Bashar al-Assad, declarou que o país acatará a
resolução das Nações Unidas sobre armas químicas adotadas na sexta-feira
pela ONU e destruirá o arsenal sob a supervisão da Organização para a
Proibição de Armas Químicas (OPAQ).
Mas novas divergências entre russos e ocidentais no Conselho de Segurança poderiam comprometer o andamento dos trabalhos.
Nesta segunda-feira, o Conselho deve analisar um projeto de
declaração pedindo a Damasco para facilitar o acesso à população pelas
agências humanitárias da ONU.
No campo de batalha, os ataques aéreos do regime prosseguem sobre
posições rebeldes nas províncias de Homs (centro) e Aleppo (norte),
enquanto um carro-bomba "matou e feriu uma dezena de membros das forças
de Assad" em uma barreira ao oeste de Damasco, segundo o Observatório
Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Os seis especialistas em armas químicas da ONU deixaram a Síria nesta
segunda-feira, ao fim da investigação sobre a suposta utilização deste
tipo de armamento em sete locais perto de Damasco e no norte do país.
Os especialistas, liderados por Aake Sellström, já haviam investigado
um ataque com armas químicas em 21 de agosto, perto de Damasco, que
provocou quase 1.500 mortes, segundo Washington. Em seu relatório,
publicado em meados de setembro, eles destacaram o uso de gás sarin em
larga escala no ataque, sem apontar os responsáveis.
Durante a atual missão, os especialistas "receberam vários documentos
e amostras e realizaram várias entrevistas", segundo a ONU.
Os especialistas da ONU abrem espaço para um grupo de 20 inspetores
da OPAQ, que desembarcaram nesta segunda-feira em Beirute, antes de
viajar para Damasco na terça-feira para inspecionar locais de produção e
armazenamento de armas químicas na Síria.
"Até o momento, não temos razões para duvidar das informações fornecidas pelo regime sírio", declarou um funcionário da OPAQ.
Damasco forneceu à OPAQ em 19 de setembro uma lista de locais de
produção e de armazenamento de seu arsenal, como parte de um acordo
russo-americano de desarmamento químico da Síria.
De acordo com especialistas, a Síria tem mais de 1.000 toneladas de armas químicas, incluindo gás sarin e mostarda.
O governo alemão reconheceu nesta segunda-feira ter autorizado a
exportação para a Síria de 360 toneladas de produtos que poderiam servir
para a fabricação de armas químicas entre 1998 e 2011.
Diante da Assembleia Geral da ONU, o ministro sírio das Relações
Exteriores, Walid Mouallem, repetiu que seu país cumprirá "plenamente"
seus compromissos em matéria de desarmamento químico. Ele voltou a
acusar os países ocidentais de fornecer produtos tóxicos a grupos da
oposição e de submeter a Síria a sanções "desumanas".
A resolução também cobra a realização de uma conferência
internacional em Genebra para decidir uma solução política para o
conflito.
Durante uma entrevista à rede italiana Rai 24, Assad assegurou que respeitará a decisão da ONU.
"Nossa história demonstra que sempre respeitamos nossa assinatura em todos os tratados que firmamos".
Assad, no entanto, disse que a Europa não tem a capacidade necessária
para desemprenhar um papel-chave nas negociações de paz sobre a Síria.
"Sinceramente, a maioria dos países europeus não tem a capacidade de
desemprenhar um papel na Genebra 2 (conferência de paz sobre a Síria),
já que não possui o que é necessário para ter sucesso neste papel",
afirmou.
Quanto a oposição, Assad ressaltou que para ele, "os homens armados são terroristas".
"Não importa qual partido político participe da conferência de
Genebra, mas não podemos, por exemplo, conversar com organizações
ligadas à Al-Qaeda ou com terroristas. Não podemos negociar com pessoas
que pedem uma intervenção militar na Síria", declarou, em referência à
Coalizão Nacional de oposição síria.
Outro ponto que pode dificultar os próximos passos é o projeto de
"declaração da presidência" proposto por Luxemburgo e Austrália.
Ele prevê autorizar comboios de ajuda a partir de países vizinhos.
Segundo diplomatas, a Rússia pode se opor, já que a ajuda chegaria
diretamente à oposição.
Em Genebra, o comitê executivo do Alto Comissariado da ONU para os
refugiados (Acnur) falou de uma catástrofe humanitária e alertou para a
desestabilização a longo prazo dos países vizinhos da Síria, que já
receberam mais de dois milhões de refugiados, no "maior deslocamento
populacional no mundo" em 30 anos.
O governo sírio estimou que o conflito custou desde março de 2011
cerca de 1,5 bilhão de dólares ao setor de turismo, que representava em
2010 12% do PIB sírio e 11% dos empregos gerados.
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