Foto de Daniel Zamudio está cercada de homenagens no cemitério
O túmulo de um jovem homossexual morto depois de ser atacado por quatro homens em 2012 se transformou em um santuário no Chile.
A gaveta temporária que abriga o corpo de Daniel
Zamudio no Cemitério Geral de Santiago está coberto de frases como
"Dani lindo, anjinho bonito, cuide de nós", ou "Daniel, onde estiver,
rogue por nós. Respeito para você", "Cuide de nós e nos liberte, nos
ajude a seguir em frente".A comoção causada pelo crime levou à aprovação de uma lei contra a discriminação que leva o nome de Zamudio. No entanto, esta lei não tem aplicação retroativa.
Por isso, os agressores responsáveis pela morte de Zamudio não enfrentarão o agravante de discriminação pela condição sexual. A promotoria pede penas que variam entre oito anos e prisão perpétua para os agressores e a condenação deve ser determinada no dia 28 de outubro.
'Animita'
Entre outros golpes, os agressores acertaram Zamudio com os chutes, socos, cortes e queimaduras, desenharam suásticas no abdome da vítima com cacos de vidro e, com uma pedra de oito quilos, fraturaram a perna direita de Zamudio.O jovem foi encontrado por um guarda na manhã do dia 3 de março de 2012. O guarda declarou que "nunca havia visto uma agressão tão brutal".
Ele permaneceu em coma em um hospital público durante quase um mês.
Movilih pretende construir memorial permanente para Zamudio
Mais de um ano depois da morte, os funcionários do cemitério sabem onde fica seu túmulo e dão informações aos visitantes que querem deixar suas homenagens ao jovem. Entre os frequentadores estão estudantes, casais, homens e mulheres.
"Rezam, falam com ele, se benzem, pedem coisas", contam os funcionários, que já conhecem bem o fenômeno chamado no Chile de "animitas", a criação de lugares de peregrinação, geralmente ligados a mortes violentas ou injustas.
"Daniel Zamudio tem todos os elementos para se transformar em uma animita", afirma Claudia Lira, pesquisadora de cultura popular e tradicional da Universidade Católica de Santiago.
"É uma morte cruel, inesperada, onde há muito derramamento de sangue, há uma tragédia. As pessoas sentem que esta morte é injusta, porque ele era uma pessoa discriminada, morreu indefeso, na rua", acrescentou.
"Na cosmovisão chilena, mesmo que exista um processo judicial, ele se converte em um mártir, uma concepção que vem do catolicismo e que se junta com a idiossincrasia chilena; a pessoa pode estar mais próxima de Deus porque o sofrimento a transformou e, portanto, se pode pedir coisas a esta pessoa", afirmou.
Cartas
Parte dos bilhetes deixados no túmulo de Daniel Zamudio são guardados pelo Movimento de Integração e Liberação Homossexual do Chile, o Movilh.
Uma cruz marca o local onde Zamudio foi atacado no parque
"A última vez que contei tínhamos entre 150, 200 (cartas)", disse o ativista, que espera incorporar os textos de alguma forma ao túmulo e memorial à diversidade que o movimento está construindo no Cemitério Geral de Santiago e para onde pretende levar de forma definitiva os restos de Zamudio.
"Não temos vínculos com nenhuma religião ou crença. Somos ateus, entre outros motivos, pelo papel da Igreja Católica na difusão e promoção da homofobia no nível cultural", afirmou.
"Mas se as pessoas sentem uma proximidade com Daniel a partir desta lógica, respeitamos. E no túmulo memorial haverá espaço para que as pessoas continuem deixando suas cartas e as coisas que que hoje levam, presentes, brinquedos, corações."
O Movilh também planeja instalar algum memorial no parque onde Zamudio foi atacado.
Atualmente apenas uma cruz e flores marcam o local do ataque.
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