Policiais foram denunciados pelo Ministério Público na terça-feira.
A Justiça abriu processo contra os 15 policiais militares denunciados
pelo Ministério Público na terça-feira (22) por envolvimento no sumiço
do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, no último dia 14 de julho, na
Rocinha, zona sul do Rio. O TJ-RJ já havia aceitado a denúncia, em 4 de
outubro, contra outros dez integrantes da UPP (Unidade de Polícia
Pacificadora) da comunidade, que estão detidos. Entre eles, o major
Edson, ex-comandante da unidade. Dos 15 novos acusados, três já tiveram a prisão preventiva decretada.
Em coletiva na manhã de terça-feira, o Ministério Público anunciou o
total de 25 denunciados por envolvimento na tortura e morte de Amarildo.
Os crimes listados são tortura, ocultação de cadáver, fraude processual
e formação de quadrilha.
De acordo com o MP, o ajudante de pedreiro foi torturado por cerca de
40 minutos. Além de receber choques elétricos, Amarildo teria sido
afogado em um balde e sufocado com saco plástico na boca e na cabeça.
Agentes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado)
do Ministério Público colheram depoimentos de policiais militares ao
longo das últimas semanas. Ao menos cinco confirmaram que Amarildo foi
torturado próximo à sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da
Rocinha. Disseram, inclusive, que os gritos podiam ser ouvidos
claramente.
Segundo a promotora Carmem Elisa Bastos, do Gaeco, quatro PMs teriam
sido efetivamente os torturadores de Amarildo: tenente Luiz Medeiros, o
sargento Gonçalves e os soldados Maia e Vital. De acordo com os
depoimentos, 11 policiais receberam ordem do tenente para permanecer
dentro do contêiner e puderam ouvir as agressões. Outros 12 vigiavam o
local. Os policiais ouvidos também disseram que o major Edson Santos,
ex-comandante da UPP que hoje está preso no complexo de Bangu, ficou em
seu escritório, no andar de cima do contêiner, em frente ao local da
tortura. As testemunhas também disseram ter ouvido o pedido para trazer
uma capa de moto para cobrir o corpo, o corpo sendo retirado do depósito
pelo telhado em frente à mata.
Ainda segundo o MP-RJ, mais 15 policiais militares, entre eles três
mulheres, foram denunciados pelo órgão, totalizando 25 acusados pelo
crime.
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No início do mês, o Gaeco havia informado que escutas telefônicas
autorizadas pela Justiça do Rio ajudaram a Divisão de Homicídios nas
investigações que levaram à prisão preventiva de dez PMs, os primeiros denunciados. Os dez agentes tiveram os telefones celulares grampeados e monitorados.
Uma escuta revelou conversa de um PM com a namorada três dias após a
reprodução simulada na Rocinha, que refez as versões dos PMs da noite em
que Amarildo desapareceu. Segundo o delegado Rivaldo Barbosa, o acusado
disse à mulher: "Eles já sabem o que aconteceu, só não têm como
provar".
Para atrapalhar as investigações, um dos PMs tentou se passar por um traficante conhecido como Catatau.
Segundo a polícia, o acusado telefonou para um celular apreendido que
vinha sendo monitorado e assumiu a autoria da morte de Amarildo, como se
fosse Catatau. Entretanto, segundo a delegada Elen Souto, ficou provado
que a voz não era do traficante.
Em seguida, de acordo o Gaeco, a voz das gravações foi comparada com a
de 34 policiais militares. Foi então que concluiram que seria um soldado
identificado como Marlon Campos Reis.
As gravações das conversas dos acusados ainda mostraram, segundo a
polícia, que eles combinavam versões sobre o crime na tentativa de não
cair em contradição diante dos investigadores. Em uma das delas, o major
Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, liga para um dos PMs
acusados, segundo Barbosa.
— O major Edson tenta combinar depoimentos com o soldado Vital. Quando o
soldado Vital sai da DH, ele [Edson] liga para o soldado Vital e
pergunta: 'Vital, você disse na DH que foi lá embaixo só para buscar o
Amarildo?'
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