Quem foram os brasileiros que
mais se destacaram no noticiário internacional? A BBC Brasil elaborou
uma lista com dez desses personagens que fizeram história em 2013 e que
puseram o Brasil nos holofotes do mundo com suas conquistas, tragédias e
polêmicas.
A elaboração de uma lista do tipo não é uma
tarefa fácil. Cada vez mais, o que acontece no Brasil tem virado notícia
no exterior e não há como não usar critérios subjetivos para escolher
apenas dez entre o grande número de brasileiros que têm frequentado
páginas de publicações em várias línguas. A seleção se baseou não apenas
na frequência de menções como no grau de influência das publicações
revistas.
Outro critério adotado buscou
destacar personagens que não eram amplamente conhecidos do público
estrangeiro - portanto, ficaram fora da lista autoridades como a
presidente Dilma Rousseff, apesar das milhares de citações que recebeu
em questões polêmicas, como a reação do Brasil às denúncias de
espionagem pelos Estados Unidos.
Outros brasileiros, como a funkeira Anitta, chegaram a estampar páginas de veículos como a
Forbes,
mas não foram incluídos pelo alcance limitado das reportagens. "Será
que a última sensação musical, Anitta, pode ser a próxima popstar
global?", pergunta o site da revista. Se for, certamente, estará na
lista do ano que vem. Outro brasileiro que é forte candidato à próxima
lista é o surfista Carlos Burle, que apareceu em emissoras de várias
partes do mundo em sua dupla missão heroica. Salvou a colega Maya
Gabeira e enfrentou com sua prancha o que pode ser confirmada em 2014
como a maior onda já surfada.
Confira a lista deste ano:
Eike Batista
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'A dramática queda de Eike Batista' foi manchete no exterior
O empresário estampou a capa da revista
Business Week
em outubro sob o título "Como perder uma fortuna de US$ 34,5 bilhões em
um ano" – detalhando a derrocada do império X, que culminou com o
pedido de recuperação judicial da petroleira OGX e da empresa de
construção naval OSX.
"A dramática queda do brasileiro Eike Batista" foi o título, em outubro, da revista
Forbes
– a mesma que, não muito tempo atrás, trazia o empresário como o 7º
mais rico do mundo. O rápido processo de decadência do brasileiro foi
seguido pela imprensa internacional como uma novela em que o personagem
principal era o homem que, "com implantes de cabelo, carisma e gravatas
cor-de-rosa, era a cara do boom brasileiro", segundo o
Wall Street Journal.
E, ainda que as perdas de Eike Batista, não
tenham contaminado a economia brasileira, os pedidos de recuperação
judicial levaram jornais como o
Financial Times a perguntarem: "será que o naufrágio do império X arrastará outros títulos da região?"
David Miranda
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David Miranda foi detido durante 9 horas no aeroporto de Heathrow
Após revelar os documentos de espionagem vazados pelo ex-funcionário da CIA Edward Snowden, o jornal britânico
The Guardian noticiou, em agosto, a detenção do brasileiro David Miranda no aeroporto de Heathrow.
Miranda é companheiro do autor das reportagens,
Glenn Greenwald. Por isso, a detenção de Miranda – que teve seus
equipamentos eletrônicos apreendidos e foi mantido incomunicável por 9
horas – ganhou repercussão internacional. No mesmo dia, o Itamaraty
manifestou "grave preocupação" com o incidente. Em entrevista à rede
americana CNN, Miranda disse que foi interrogado sobre sua relação com
Greenwald, "mas não me perguntaram nada sobre terrorismo".
O
Guardian, em seguida, publicou
editorial criticando o abuso de poder resultante das leis antiterror. "O
caso Miranda", diz o jornal, "não envolve terrorismo em nenhuma
instância e sugere que o Estado nos toma por idiotas". A legalidade da
detenção está sendo questionada em uma ação na Justiça britânica.
Joaquim Barbosa

Barbosa desperta 'admiração e considerável resistência', diz o 'NYT'
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)
foi incluído entre as 100 pessoas mais influentes do mundo em 2013 pela
revista americana
Time (lista que também incluiu o chef Alex
Atala). A justificativa foi de que, ao ser o primeiro presidente negro
do STF e em meio ao julgamento do mensalão, "em um país que importou
mais escravos que qualquer outro das Américas e onde quase metade da
população se identifica como negra ou mestiça, ele simboliza a promessa
de um novo Brasil, comprometido com o multiculturalismo e a igualdade".
Barbosa também foi tema de um perfil no
New York Times,
que cita algumas das frases fortes do ministro – em uma delas, ele diz
que a "mentalidade dos juízes brasileiros é mais conservadora,
pró-status quo, pró-impunidade". "A trajetória de Barbosa e seus modos
abruptos despertam tanto ampla admiração quanto uma considerável
resistência", diz o
NYT.
Roberto Azevêdo

Azevêdo é o primeiro brasileiro a comandar a OMC
O diplomata Roberto Azevêdo virou notícia no
mundo inteiro ao se tornar, em maio, o diretor da Organização Mundial do
Comércio (OMC). No início deste mês, voltou a ganhar as manchetes
quando a organização concluiu, em Bali, seu primeiro acordo global.
Apesar de seus efeitos limitados, o acordo histórico deu novo fôlego à
OMC que, nas palavras do
Economic Times, da Índia, "lutava para sobreviver".
Azevêdo foi descrito pela agência chinesa Xinhua
como alguém que "conquistou a reputação de sempre buscar o consenso,
uma habilidade necessária na OMC, onde a opinião dos 159 membros tem de
ser levada em consideração". A agência listou o acordo de Bali como um
dos principais acontecimentos internacionais de 2013.
Amarildo

Caso Amarildo chamou atenção 'à violência nos bairros pobres'
Os protestos no Brasil em 2013 inseriram o País
na cobertura da mídia internacional sob uma nova ótica. Diversos
personagens foram retratados nos mais diferentes meios de comunicação
ávidos por entender as razões do descontentamento em um país onde, por
um olhar distante, só havia motivo para se comemorar. O desaparecimento
de Amarildo e os desdobramentos do caso ganharam destaque na BBC, no
New York Times, na CNN, entre outros veículos internacionais.
Para o
Le Monde, o caso chamou atenção para a "violência sofrida pelos moradores de bairros pobres". Já a influente revista alemã
Der Spiegel resumiu o caso em um título: "Quando a polícia é pior do que os bandidos".
Fernanda Lima

Trajes de Fernanda Lima no sorteio da Copa foram censurados no Irã
A escolha de Fernanda Lima e seu marido Rodrigo
Hilbert para apresentar o sorteio da Fifa acabou levando para manchetes
em várias partes do mundo a polêmica sobre o suposto racismo da escolha
de um casal de pele clara em um país em que brancos são minoria. O furor
no Twitter gerado pelo caso foi retratado pela BBC. A polêmica, no
entanto, não parou por aí. A escolha pela Fifa de uma modelo sem
histórico no esporte para apresentar o sorteio foi classificada de
"machismo" em reportagem do britânico
Telegraph.
Uma apresentadora da BBC defendeu que a jogadora
de futebol Marta, "possivelmente a melhor do mundo", estivesse no lugar
de Fernanda. Os trajes da modelo também não agradaram a TV estatal
iraniana, que pixelava a tela toda vez que a jovem e seu decote
apareciam no ar. A "censura" gerou nova onda de discussões nas mídias
sociais. Já o argentino
Clarín não seguiu o tom crítico e chamou Fernanda de "deusa".
Marina Silva
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Marina Silva se aliou a Eduardo Campos
Marina Silva já era conhecida pela mídia
estrangeira, mas sua tentativa frustrada de lançar um partido e sua
posterior aliança com o PSB de Eduardo Campos criaram um fato novo na
política brasileira que não passou despercebido entre algumas das
publicações mais influentes do mundo.
Ainda em abril, quando buscava assinaturas para lançar a Rede Sustentabilidade, a
Forbes
questionava se a ex-ministra do Meio Ambiente conseguiria renovar a
política brasileira, mencionando que ela tem a seu favor a percepção de
que é desconectada dos tradicionais donos do poder no país.
Em outubro, a revista britânica
Economist publicou reportagem dizendo que a aliança de Marina Silva ao PSB "transformou a corrida presidencial" e, em novembro, o
Financial Times
destacou que a aliança dos dois ameaça a hegemonia da presidente Dilma
Rousseff em 2014 e traz a vantagem de os candidatos "serem novos sem
serem muito novos".
General Carlos Alberto dos Santos Cruz

General Santos Cruz comanda capacetes azuis na República Democrática do Congo
Após liderar as tropas da ONU no Haiti, o
general brasileiro começou a comandar em junho os capacetes azuis na
República Democrática do Congo, país altamente instável mesmo após um
acordo de paz em 2013.
Cruz é o chefe de uma força de quase 20 mil
soldados, cuja missão é conter grupos rebeldes que se estabeleceram no
leste do Congo – entre eles o LRA (sigla em inglês do Exército de
Resistência do Senhor) comandado por Joseph Kony.
A chegada de Cruz foi descrita pela revista
The Africa Report
como um "ingrediente-chave" na tentativa de pacificação ou como um
"passo agressivo" após anos de inércia e falta de proteção a civis,
segundo o sul-africano
The Sunday Independent. Mas os desafios
de Cruz são imensos. No último dia 18, redes como a Al Jazeera
noticiaram o massacre de 21 pessoas em uma área remota do país. À BBC,
Santos Cruz disse que a solução para o conflito não pode ser apenas
militar.
Marco Feliciano
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Declarações do pastor também foram notícia no exterior
A eleição do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) à
Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados não despertou
polêmica só no Brasil.
O site americano Huffington Post publicou texto
citando "pérolas de sabedoria" de Feliciano – autor de declarações de
conteúdo considerado racista e homofóbico – e criticando seu papel na
comissão.
"O comportamento de Feliciano é o exemplo
perfeito das dificuldades e perigos que surgem quando o zelo religioso
não é tratado de maneira apropriada no governo", diz o site.
O jornal britânico
Financial Times usou
a eleição de Feliciano para ilustrar as dificuldades da presidente
Dilma Rousseff "em lidar com um Congresso que é refem de diversos grupos
de interesse que podem mudar de alianças a qualquer momento".
E o blog gay Towleroad noticiou quando o pastor
pediu a prisão, em setembro, de duas garotas que se beijaram durante um
evento evangélico em São Sebastião (SP).
Dom Odilo Scherer

Odilo Scherer (centro) era um dos mais cotados para assumir o papado
Após a renúncia de Bento 16, no período de
Carnaval, começaram as especulações sobre quem seria o novo papa – e o
nome do arcebispo de São Paulo Odilo Scherer foi um dos mais cotados.
"Odilo Scherer é o favorito", noticiou a americana Fox News. A imprensa
internacional veiculou diversas análises sobre como seria seu papado,
sobre seu uso constante do Twitter e sobre o que representaria para a
Igreja escolher um papa da América Latina.
O espanhol
El País o descreveu como "conservador de modos suaves" e o italiano
Corriere Della Sera
disse que o brasileiro é "atento aos pobres, mas crítico à teologia da
libertação na política". Confirmando a má fama de previsões do tipo,
Jorge Bergoglio, que nem sequer aparecia em muitas das listas com
favoritos, foi escolhido e Scherer perdeu espaço nas manchetes.