Representantes das entidades da sociedade civil que apoiaram o Marco
Civil da Internet comemoraram hoje (23) a sanção do projeto pela
presidenta Dilma Rousseff. Eles ressaltaram, porém, que o ato não
encerra o debate sobre o que está previsto no projeto de lei, que
precisa agora de regulamentação.
Segundo a coordenadora do
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, Beatriz Barbosa, a
grande conquista do marco civil foi deixar para trás um debate sobre a
criminalização de atitudes na internet e chegar a um projeto que
garante, em sua essência, os principais direitos dos usuários, a
privacidade, liberdade de expressão e neutralidade da rede. “A sanção da
lei no NET Mundial [Encontro Global Multissetorial sobre o Futuro da
Governança da Internet, aberto hoje em São Paulo] é simbólica porque é
quando o mundo todo está discutindo essa questão, o mundo todo está
olhando para o que o Brasil fez com a internet”, disse Beatriz.
Para
ela, alguns assuntos foram retirados conscientemente do projeto, como a
questão dos direitos autorais e dos dados pessoais. “O marco civil não
tinha pretensão de esgotar o assunto, mas de garantir os direitos
fundamentais dos usuários”, acrescentou a representante do Intervozes,
explicando que alguns pontos conflitantes ainda podem ser debatidos
durante a regulamentação.
Segundo Beatriz, o principal deles diz
respeito ao Artigo 15, que obriga as empresas de telecomunicações a
guardar por seis meses todos os dados de tráfego na rede dos usuários.
Ela explicou que o marco civil prevê que eles só podem ser acessados por
decisão judicial, mas, mesmo assim, a obrigação “viola a privacidade do
usuário, acaba levando ao risco de uma vigilância em massa e é uma
limitação à própria liberdade de expressão. O fato de saber que toda sua
movimentação na internet está sendo armazenada para eventuais
investigações faz com que a pessoa se comporte de forma diferente”.
A
guarda dos dados foi uma questão defendida principalmente pelas
autoridades policiais durante a tramitação do projeto no Congresso
Nacional. No entanto, alerta o coordenador-geral do Sindicato dos
Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, Jonas Valente, isso fere a
presunção de inocência dos indivíduos e pressupõe que todo mundo vai
cometer um delito. “Motivado pela vigilância institucionalizada de um
evento internacional, o governo aprova uma lei avançada, mas em que o
simples fato de guardar os dados viola a minha privacidade”.
Jonas
Valente lembrou ainda que defensores da medida comparam a guarda de
dados a uma câmera de vigilância. “Quando eu estou em um bar, estou
socializando, as outras pessoas estão vendo, quando acesso um site é
uma atividade privada, só minha, não estou socializando. Então, não tem
sentido que essas informações sejam armazenadas mesmo com todos os
mecanismos de segurança”, completou o jornalista.
Também a
advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec),
Veridiana Alimonti, entende que não deveria haver guarda prévia dos
dados. Ela disse, porém, que, apesar desse artigo, este é o momento de
comemorar, já que a sanção do marco civil foi de encontro a muitos
interesses de poderosos do setor de telecomunicações, principalmente em
relação à neutralidade da rede.
A rede neutra prevê que as
operadoras não podem interferir no tráfego de dados, limitando a
acessibilidade a conteúdos específicos mediante pagamento. “A
neutralidade foi o ponto mais polêmico e, quando for regulamentar, ainda
vai haver uma disputa das empresas sobre o assunto”, diz a advogada.
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