Trinta e sete anos após ter sido atribuída a um ataque cardíaco, a
morte do ex-presidente João Goulart, o Jango, ocorrida no exílio, em 6
de dezembro de 1976, volta a chamar a atenção da mídia e da população.
Para prestar honras a Goulart, nessa quarta-feira, dia 13 de novembro,
os restos mortais do ex-presidente serão exumados de seu jazigo na
cidade de São Borja (RS). De lá, o corpo segue para Brasília, onde será
homenageado e, após isso, passará por exames para finalmente tentar
desvendar o mistério por trás de sua morte.
Após um pedido da família de Goulart, realizado no dia 18 de março, a
Comissão Nacional da Verdade (CNV) decidiu investigar a morte do
ex-presidente. Uma portaria, assinada pela ministra dos Direitos
Humanos, Maria do Rosário, e publicada no dia 7 de novembro no Diário Oficial da União, criou o grupo composto por representantes da própria secretaria, da CNV e da Polícia Federal para coordenar as investigações.
Exilado pela ditadura militar na década de 60, Jango morou no Uruguai e
depois na Argentina, onde veio a falecer. A causa oficial da morte
nunca convenceu a família, que acusa o governo militar da época, de
Ernesto Geisel, de ter envenenando o ex-presidente.
A suspeita de assassinato ganhou força há quase uma década. Em 2006,
Mario Neira Barreiro, um uruguaio que atuou na repressão militar em seu
país, declarou à Polícia Federal que teve participação na morte de
Jango. Ele afirmou que o ex-presidente foi envenenado tendo seus
comprimidos, que tomava por conta de um problema cardíaco, adulterados.
Mario disse que atuou com apoio da CIA, através de seu chefe em
Montevidéu em 1976, o agente Frederick Latrash e de Sergio Paranhos
Fleury, o caçador de opositores e chefe do Dops (Direção de Ordem
Política e Social).
"Lutamos durante anos para conseguir a exumação, no começo, sozinhos, e
consideramos que é um avanço importante o fato de que seja realizada
com o respaldo da presidente Dilma (Rousseff), a quem reconhecemos o
apoio dado (...) uma vez que temos todos estes indícios, por que
teríamos de descartar a possibilidade de que, na verdade, ele foi vítima
de um crime. Se é algo que até parece óbvio?", afirmou João Vicente
Goulart, filho de Jango, em uma entrevista à ‘Carta Maior’.
Apesar das expectativas, a conclusão sobre o caso pode ocorrer somente
no futuro, quando surgirem novas tecnologias, pois tudo vai depender do
estado em que se encontram os restos mortais do ex-presidente. A
procuradora Suzete Bragagnolo, que investiga a morte de Jango, disse à
Folha de São Paulo que admite ser baixa a probabilidade de encontrar uma
resposta na perícia: "Hoje não seria mais possível detectar algumas
substâncias. Para outras ainda haveria chance. Depende do estado do
corpo e outros fatores".
A perícia será feita pela Polícia Federal brasileira, que será
supervisionada por especialistas cubanos, indicados pela família, que
dirigiram a recuperação dos restos de Che Guevara na Bolívia nos anos
90, a Equipe Argentina de Antropologia Forense e representantes da Cruz
Vermelha Internacional.
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