quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Recuo de Berlusconi garante sobrevivência de governo italiano


ROMA, 2 Out (Reuters) - O primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, obteve o voto de confiança do Parlamento nesta quarta-feira depois que Silvio Berlusconi, enfrentando uma revolta em seu próprio partido, voltou atrás em sua ameaça de derrubar o governo.
À medida que dezenas de senadores de centro-direita se prepapavam para desafiar seu líder e magnata da mídia e salvar a coalizão de esquerda e direita liderada por Letta, Berlusconi recuou abruptamente e disse que também apoiaria o premiê de centro-esquerda, poucos dias depois de desencadear a crise retirando seus ministros do gabinete de Letta.
Após um debate no Senado, acalorado em alguns momentos e no qual recebeu repetidas acusações de semear o caos na tentativa de deter sua expulsão iminente do parlamento na esteira de uma pena por evasão fiscal, Berlusconi disse: "Decidimos, não sem alguma luta interna, apoiar o governo".
O mercado financeiro reagiu positivamente. As ações da Bolsa de Milão subiram quase 2 por cento e os ganhos nos títulos de dez anos do governo caíram para 4,34 por cento, patamar mais baixo do dia.
Mas a solução da crise, sete meses após uma eleição inconclusiva, deixa grandes pontos de interrogação a respeito da habilidade de Letta de lidar com problemas profundos na economia da Itália que atormentam seu parceiros no euro.
A declaração de apoio tardia de Berlusconi causou um sorriso de espanto no primeiro-ministro, que àquela altura parecia certa da vitória com o apoio de rebeldes da centro-direita.
Berlusconi escondeu o rosto com as mãos depois de falar. No que pode ser um de seus últimos atos no Senado antes dos procedimentos para sua remoção começarem, na sexta-feira.
O bilionário de 77 anos depositou seu voto junto com os 235 outros para manter Letta no cargo. Mais tarde, quando saía, ele foi assediado por observadores.
Letta, apoiado por seu próprio Partido Democrata (PD) e por Berlusconi e seu Povo da Liberdade (PDL), só teve a oposição de outros partidos, que amealharam 70 votos contra ele.
O premiê, que assumiu em abril após um pleito sem maioria clara em fevereiro, disse que irá seguir adiante com um programa de medidas fiscais para manter as depauperadas finanças públicas italianas sob controle e reformas para controlar a pior recessão em 60 anos.
Ele também se comprometeu com uma reforma da amplamente criticada lei eleitoral, que dá às duas casas do Parlamento poderes iguais e torna difícil para qualquer partido obter uma maioria funcional.
Entretanto, a natureza surpreendente da vitória deixa uma série de perguntas sem resposta a respeito da estabilidade do governo e do futuro do movimento político de centro-direita na Itália, que chegou perto da implosão à medida que a votação se aproximava.
Tendo começado como voto de confiança em Letta, o dia se tornou um teste para Berlusconi, cujo controle outrora inquestionável sobre a ala conservadora do espectro político enfrentou sua maior ameaça desde que entrou na política duas décadas atrás.
Sua declaração a favor de Letta coroou um dia que oscilou entre o drama de alta voltagem e o que um político centrista chamou de farsa, já que uma rebelião partidária inédita persuadiu o três vezes ex-prêmie de que não fazia sentido continuar resistindo.

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