segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Investigação da ONU vincula Assad a crimes de guerra na Síria

Pillay e Assad (AP)
Para Pillay, escalada de crueldade envolve altos escalões do governo, incluindo Assad
A chefe do escritório de direitos humanos da ONU, Navi Pillay, afirmou que uma investigação reuniu evidências de que crimes de guerra foram autorizados por membros de alto escalão do governo sírio – incluindo o presidente Bashar al-Assad.
Essa é a primeira vez que o órgão de direitos humanos da ONU implica Assad de forma tão direta.
A alta comissária Pillay afirmou que seu escritório preparou uma lista de pessoas consideradas suspeitas no inquérito.
A ONU estima que mais de 100 mil pessoas morreram no conflito.
De acordo com Pillay, a comissão de investigação produziu "evidências massivas... de diversos crimes sérios, crimes de guerra, crimes contra a humanidade".
"A escala da crueldade dos abusos perpetrados por elementos dos dois lados é quase inacreditável", ela disse.
As evidências apontam para responsabilidade sobre os crimes "no mais alto nível do governo, incluindo o chefe de Estado".

Rebeldes

A mesma comissão de investigação já havia afirmado ter evidências de que forças rebeldes da Síria também seriam culpadas de abusos de direitos humanos.
Entretanto, os investigadores sempre disseram que o governo sírio parecia ser responsável por grande parte dos abusos. Isso porque, em sua opinião, a natureza sistemática dos crimes apontavam para uma política governamental.
O vice-chanceler sírio, Faisal Mekdad, desconsiderou as afirmações de Pillay.
"Ela tem falado coisas sem sentido por muito tempo e não a escutamos", disse ele à agência Associated Press.
Segundo a correspondente da BBC em Genebra, Imogen Foulkes, figuras de alto escalão do governo e das forças armadas estão na lista de suspeitos feita pela ONU.
Damasco (AP)
Civis compõem mais de um terço das vítimas da guerra síria
Mas por enquanto as evidências específicas contra cada suspeito estão sendo mantidas em sigilo, até que autoridades do TPI (Tribunal Penal Internacional) decidam se elas serão processadas por crimes de guerra e contra a humanidade.
Anteriormente, Pillay já havia pedido ao Conselho de Segurança para levar o caso ao TPI. Isso porque a Síria não faz parte da corte internacional e por causa disso qualquer investigação estrangeira sobre o país depende de mandato do Conselho de Segurança.
Entretanto, Rússia e China têm direito a veto – o que torna muito complicada a aprovação desse tipo de pedido.

'Mortos passam de 125 mil'

As declarações de Pillay são uma lembrança da gravidade da situação na Síria, enquanto são feitas as preparações para uma conferência de paz em Genebra, marcada para o próximo mês.
Tanto o governo quanto a oposião "Coalisão Nacional" afirmaram que participarão do encontro. Porém, o chefe do grupo rebelde Exército Livre da Síria, financiado pelo Ocidente, disse que seus combatentes continuarão lutando durante as negociações.
A Coalisão Nacional disse rejeitar categoricamente qualquer papel para o presidente Assad em um governo provisório. O regime, por sua vez, afirma que não negociará uma "transferência de poder".
Também na segunda-feira, o Observatório Sírio de Direitos Humanos, um grupo contrário ao regime baseado na Grã-Bretanha, disse estimar que o número de mortos atingiu a cifra de 125.835 – sendo mais de um terço das vítimas civis.
Cerca de 28 mil rebeldes teriam sido mortos. Do lado do governo, as baixas teriam sido mas de 50 mil, incluindo forças regulares e milícias favoráveis ao regime. Os últimos números da organização ainda incluem quase 500 mortos nas fileiras do Hezbollah libanês e de outras milícias xiitas.
O grupo afirmou, porém, que essas estatísticas são inferiores ao número real de baixas, uma vez que os dois lados não costumam relatar todas as perdas que sofreram.

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