Desembargadora nega primeiros pedidos de habeas-corpus feitos pelos
presos na Operação Lava Jato. Investigadores começaram ontem a ouvir os
depoimento dos acusados. No foco, o papel das empreiteiras na corrupção
na Petrobras.A sexta-feira ainda não acabou para os 23 presos na sétima fase da
Operação Lava Jato. Transferidos para Curitiba, centro das investigações
da Polícia Federal (PF), eles começaram ontem a ser ouvidos pela
autoridades envolvidas na apuração das denúncias de corrupção na
Petrobras. Nem a ordem nem o teor dos depoimentos foram divulgados até o
fechamento desta edição.
Entre os presos estão um diretor da
estatal, Roberto Duque (acusado de movimentar R$ 60 milhões em
propinas), e presidentes das maiores empreiteiras do país, acusadas de
agir em cartel para vencer licitações de contratos superfaturados da
Petrobras, corrompendo servidores públicos e pagando propinas a agentes
políticos.
A movimentação de advogados do lado de fora da sede da
PF na capital do Paraná foi intensa. Eles reclamavam que não tinham
acesso às acusações ou aos clientes, ao mesmo tempo em que tentavam agir
para encurtar o tempo de detenção dos executivos.
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A
Justiça Federal, porém, não se sensibilizou e rejeitou três pedidos de
habeas-corpus de dirigentes de empreiteiras. As decisões foram
proferidas pela desembargadora Maria de Fátima Freitas Labarrère, do
Tribunal Regional Federal de Porto Alegre (RS).
Nas petições, as
defesas de Eduardo Emerlino Leite, diretor da Camargo Corrêa, e de
Agenor Franklin Magalhães Medeiros e Jose Ricardo Nogueira Breghirolli,
ligados a OAS, alegaram que os decretos de prisão são ilegais por não
fundamentarem as participações dos acusados nos fatos.
Os
advogados de Eduardo Emerlino, que ainda não teve prisão confirmada pela
PF, também alegaram questões de saúde para pedir que a prisão
preventiva seja transformada em domiciliar. Segundo eles, o investigado é
portador de hipertensão arterial de “difícil controle”.
A
desembargadora indeferiu as liminares por entender que não há
constrangimento ilegal nas prisões. “Igualmente restou evidenciada a
necessidade da medida (prisão) por conveniência da instrução criminal.
Isto porque apresentados documentos falsos perante o juízo como forma de
justificar as transferências às empresas controladas por Alberto
Youssef”, escreveu a magistrada em sua decisão.
“Daí a
constatação no sentido de que se as empreiteiras, ainda em fase inicial
da investigação, não se sentiram constrangidas em apresentar documentos
falsos ao Judiciário, forçoso reconhecer que (a) integridade das provas e
do restante da instrução encontra-se em risco sem uma contramedida. Mas
não é só.
Segundo informações prestadas pela autoridade
policial e destacadas pelo juízo impetrado, emissários das empreiteiras
tentaram cooptar, por dinheiro ou ameaça velada, uma das testemunhas do
processo, o que desvela de forma concreta a necessidade da medida”,
concluiu a juíza.
Novas prisões
O
grupo de presos chegou a 23, ontem, depois que o presidente do conselho
de administração da construtora Camargo Corrêa, João Auler, e o
presidente da empreiteira, Dalton Avancini, se entregaram à Polícia
Federal. Contra eles, a Justiça decretou mandados de prisão temporária -
cinco dias. Um terceiro integrante da cúpula da empreiteira, o
vice-presidente Eduardo Leite, havia se entregado na noite da sexta.
Dois
acusados ainda estariam foragidos, Fernando Soares, conhecido como
Fernando Baiano e que seria o lobista indicado para arrecadar propinas
para o PMDB. O outro é Adarico Montenegro Filho, irmão do ex-ministro
das Cidades e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado da Bahia
Mário Negromonte.
CGU
As
empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras serão alvo
de processos administrativos movidos pela Controladoria-Geral da União
(CGU). A exemplo do que fez na apuração dos escândalos do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em 2012, a CGU vai
apurar irregularidades entre as empreiteiras e a estatal.
A
partir das provas encontradas, grandes construtoras correm o risco de
ter o mesmo destino dado pela CGU à Delta Construções: a declaração de
inidoneidade, situação que impede a empresa de concorrer em licitações
da administração pública por um determinado período.
Seria um
desfecho inédito e de efeitos ainda desconhecidos sobre o setor de
infraestrutura do país. A lista das empreiteiras envolvidas na Lava Jato
envolve nove gigantes da construção pesada: Camargo Corrêa, Engevix,
Galvão Engenharia, Iesa Óleo e Gás, Mendes Júnior, OAS, Odebrecht,
Queiroz Galvão e UTC.Empresas que prestam serviço ou são donas de
praticamente todas as concessões de rodovias e aeroportos realizadas
pelo governo, além de terem participação crucial nos projetos do setor
elétrico.
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