A Comissão Municipal da Verdade, discutiu hoje (13), as acusações de
enterro, como indigentes ou não reclamados, de pessoas identificadas. De
acordo com o Ministério Público do Estado de São Paulo, que aderiu ao
Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (PLID), cerca
de 3 mil pessoas com nome conhecido foram sepultadas pelo Serviço de
Verificação de Óbitos da Capital (SVOC) com essa classificação na cidade
de São Paulo de 1999 até hoje.
Para a promotora de Justiça Eliana
Vendramini, a discussão do assunto na Câmara Municipal é essencial para
mudar a forma como trabalham a Delegacia Especializada de Desaparecidos
e o Serviço de Verificação de Óbitos da Capital. Segundo ela, os dois
órgãos erraram contra seres humanos que têm direitos a serem reparados.
“Essas 3 mil pessoas foram enterradas como indigentes. Por que o SVOC,
tendo uma verba pública para identificação e procura das famílias, não
faz isso com o nome da pessoa?”, questionou.
O Ministério Público
abriu um inquérito civil para coibir novas práticas como essa e punir os
casos ocorridos nos últimos anos. Os procuradores tentarão firmar um
termo de ajuste de conduta com os dois órgãos para conseguir a exumação
dos corpos, traslado, sepultamento digno e reparação de dano moral.
“Para
mudar essa realidade, propomos uma comissão para a elaboração de um
projeto de lei para que tudo fique alinhado com as normas federais.
Também queremos uma investigação no Grupo de Combate ao Crime Organizado
para conhecer bem o destino dos órgãos e corpos que foram usados para a
pesquisa”, explicou a promotora.
Segundo Eliana, a prefeitura de
São Paulo não cumpre a lei federal 8.501, de 1992 ,que determina que
corpos de indigentes não reclamados usados para estudo tenham os nomes
publicados por dez dias em jornais de grande circulação, além de
fotografias em arquivos. Ela destacou que a comparação com bancos de
material genético também ajudaria a prevenir o enterro de pessoas
identificadas como indigentes.
“Temos um banco de material
genético muito bom da Universidade de São Paulo para crianças e
adolescentes desaparecidos. O ideal seria que o IRGD [Instituto de
Identificação Ricardo Gumbleton Daunt], que só nos identifica
criminalmente, tenha um banco datiloscópico de desaparecidos para cruzar
os dados quando um corpo aparecer”, declarou.
O presidente da
Comissão Municipal da Verdade, Gilberto Natalini, reforçou que o grupo
se interessou pelo assunto devido aos numerosos corpos enterrados na
Vala de Perus, local onde foram deixados corpos de presos e torturados
políticos mortos pela ditadura. Ele proporá que os vereadores façam um
ofício ao governo estadual para que o nome das pessoas enterradas como
não reclamadas nos últimos dez anos seja publicado nos jornais.
“O
assunto é muito complexo e deprimente porque enterrar, durante décadas,
como indigentes pessoas com identificação e procuradas pela família é
gravíssimo. O que nos parece é que está havendo um desentrosamento entre
os órgãos responsáveis do estado e do município diretamente envolvidos
em receber os corpos e dar a destinação correta. A comissão está se
debruçando sobre isso e temos um compromisso para ajudar a articular
esses órgãos”, criticou Natalini.
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