A lenda de um esconderijo nazista
na selva de Misiones, na Argentina, se arrasta há décadas mas, agora,
pesquisadores parecem estar prestes a confirmar a tese, mas com uma
importante ressalva.
O que se sabe é que a tal casa era composta
por três grandes prédios construídos em meio ao que agora é o parque
Teyú Cuaré, perto da fronteira com o Paraguai.Acreditava-se que as grossas paredes de pedra, de até 3 m de espessura, fossem vestígio de uma antiga missão jesuíta que foi reformada e chegou a acomodar o secretário pessoal de Adolf Hitler, Martin Bormann, que desapareceu após o fim da Segunda Guerra.
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Agora, pesquisadores da Universidade de Buenos Aires (UBA) disseram acreditar que estas paredes foram construídas por ordem da Alemanha para servir como refúgio para a hierarquia nazista no caso de uma eventual derrota na Segunda Guerra Mundial.
Entretanto, segundo Daniel Schavelzon, diretor do Centro de Pesquisa de Arqueologia Urbana (CAU) da UBA, a "Casa de Bormann" nunca alojou o secretário pessoal de Hitler, como dizia a lenda, e sequer chegou a ser habitada.
"A construção é, provavelmente, da década de 1940, ou seja, não há nada que seja jesuíta. E nunca foi usada: não há evidências de vida cotidiana, de vida doméstica", disse Schavelzon.
"Mas acreditamos - para nós é uma hipótese, não uma afirmação definitiva - que este pode ter sido um retiro nazista que nunca foi usado", disse ele à BBC Mundo.
Pratos de porcelana feitos na Alemanha, frascos e garrafas da década de 1940 são algumas pistas.
"Encontramos um conjunto de moedas do Terceiro Reich - alemãs, nazistas - colocadas sob o cimento da construção. Ou seja, foram colocadas antes de que as paredes fossem feitas", disse Schavelzon.
Área inacessível
Além disso, segundo o arqueólogo, as mesmas características do complexo, localizado numa área quase inacessível àquela época, também parecem confirmar que a sua finalidade era proteger e esconder."Não eram duas casas, como se pensava, mas três prédios bastante complexos: um deles é uma casa para poucas pessoas, outro é um depósito muito grande e complexo, e o terceiro, que está numa espécie de colina, é uma estrutura defensiva que não é para viver, mas para controlar todo o território".
"Há também alguns papéis, sobre os quais estamos trabalhando, que indicam que, já em 1941, o serviço secreto alemão já estaria preparando abrigos em locais secretos e inacessíveis", disse.
Em meados dos anos 1940, a floresta certamente se encaixava nessas características.
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Depois da derrota da Alemanha nazista, vários membros importantes do gabinete de Hitler se esconderam na Argentina.
Eles, no entanto, não precisariam se esconder nesta área remota da selva, a poucos minutos da fronteira com o Paraguai, já que eram bem recebidos pelo governo de Juan Domingo Perón.
Adolf Eichmann, por exemplo, oficial que supervisionou o Holocausto, viveu discretamente num subúrbio de Buenos Aires durante anos até ser capturado por agentes de Israel.
Sem ajuda
"Eles foram bem recebidos. Por isso, não teria sido necessário utilizar o esconderijo. É a única explicação que tenho", disse Schavelzon.Ele reconhece que, para provar sua hipótese, precisará trabalhar bastante - e que a certeza absoluta é uma possibilidade distante.
"Agora temos de estudar objetos, devemos analisar mais de 2 mil peças, uma a uma", disse ele.
"E, idealmente, precisaríamos de duas ou três temporadas de escavações e mais pesquisa documentais - e não tenho ideia de quando voltaremos (a Misiones), porque não temos nenhum centavo de subsídio ou qualquer coisa para fazer este trabalho".
"A verdade, porém, é que não me importo se levar uma ou duas gerações para se chegar a uma conclusão", disse ele.
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