Tribunal conclui que vítima, que foi morta com um tiro na cabeça quando
estava ferida e imobilizada no chão, não representava qualquer ameaça
aos soldados israelenses. Veredicto gera protestos.Um soldado israelense
que matou com um tiro na cabeça um agressor palestino que estava ferido
e imobilizado no chão foi condenado por homicídio nesta quarta-feira
(04/01), num julgamento que dividiu o país. Os juízes do tribunal
consideraram que a vítima não representava qualquer ameaça.
O soldado Elor Azaria, que estava sendo julgado desde maio do ano
passado, foi defendido por políticos de direita, apesar de os altos
escalões militares do país condenarem suas ações. A pena que ele deverá
cumprir ainda será decidida. Ele poderá receber até 20 anos de prisão.
Dezenas de manifestantes entraram em atrito com a polícia nas
proximidades do quartel-general onde o veredicto foi anunciado, em Tel
Aviv, entre gritos contra os árabes e contra a esquerda israelense, que
apoiou a condenação do militar. Após a leitura do veredicto, uma
familiar do condenado foi expulsa da sala após gritar contra os juízes e
afirmar que a sentença era "uma vergonha".
A controvérsia em torno do caso aumentou após a aparição de vídeos na
internet que mostram o palestino Abdul Fatah al-Sharif, de 21 anos,
deitado no chão após ferir levemente, com uma faca, um soldado. Sem
qualquer provocação aparente, Azaria se aproxima e dispara contra a
cabeça de Sharif.
Seus advogados afirmam que o soldado teria pensado que a vítima
carregava explosivos, mas outros envolvidos no caso dizem que o
palestino já havia sido revistado. Nenhuma das pessoas que aparece no
vídeo aparenta agir com cautela antes de Sharif ser alvejado.
A presidente do tribunal militar, Maya Heller, afirmou que não havia
motivos para que Azaria atirasse, já que a vítima não representava
qualquer ameaça. Ela criticou o testemunho "evasivo" dado pelo réu, que
tinha 19 anos na época do episódio, ocorrido em 24 de março de 2016 em
Hebron, na Cisjordânia ocupada. Azaria permaneceu calmo durante e depois
da leitura da sentença, que foi inusualmente longa e que os integrantes
do tribunal aprovaram por unanimidade.
O episódio desencadeou um debate em todo o país, com muitos políticos
de direita saindo em defesa do soldado. O primeiro-ministro israelense,
Benjamin Netanyahu, chegou a telefonar aos pais de Azaria para expressar
seu apoio.
Antes de se tornar Ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman
demonstrou apoio a Azaria, comparecendo a algumas das audiências do
julgamento. Desde que assumiu o cargo, ele procurou se manter afastado
do caso. Após o veredicto, Lieberman disse que não concorda com a
decisão dos juízes, mas pediu que fosse respeitada.
O episódio ocorreu em meio a uma onda de ataques por parte de
palestinos, deflagrada em outubro de 2015. As forças israelenses são
acusadas empregar uso excessivo da força em diversas ocasiões, apesar de
as autoridades afirmarem que os militares agem adequadamente para
proteger os civis e a si próprios. Nos últimos meses, porém, os atos de
violência diminuíram.
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