A ordem executiva do presidente americano, Donald Trump, sobre
imigração para os Estados Unidos de cidadãos de países devastados pela
guerra, está causando pânico entre refugiados.
A medida, assinada na última sexta-feira, interrompe a admissão de
refugiados em solo americano durante 120 dias, suspendendo a entrada de
pessoas vindas de seis países, sendo a maioria muçulmanos, incluindo
Iraque, Síria, Iêmen e Líbia. No caso dos sírios, o veto é válido
indefinidamente.
Trump afirma que a intenção é "mander terroristas radicais islâmicos
fora fos Estados Unidos". Grupos de direitos humanos condenaram o veto,
dizendo que não há, por exemplo, ligações entre os refugiados sírios nos
EUA e o terrorismo.
Tom Jensen, um advogado de Washington especialista em imigração, passou
boa parte da última quarta-feira no telefone com um cliente frenético
no Iraque.
O homem - que Jensen não quis revelar a identidade - e sua família
conseguiram ser admitidos nos Estados Unidos por meio de um programa de
vistos especiais destinados a iraquianos e afegãoes que trabalharam para
os militares americanos durante as guerras naqueles países, normalmente
como tradutores ou intérpretes.
O cliente de Jensen foi ameaçado repetidas vezes, primeiro por insurgentes e depois pelo autoproclamado Estado Islâmico.
Em dezembro de 2016, após um processo de três anos, o homem e sua
família receberam a aprovação para se estabelecer nos Estados Unidos.
Eles deveriam embarcar para o país em 7 de fevereiro.
Mas a última quarta-feira vazou para a imprensa de um rascunho da ação
executiva do presidente Trump sobre os refugiados imigrantes de países
muçulmanos. Isso causou pânico entre refugiados, suas famílias e
advogados.
O cliente de Jensen considerou gastar uma grande quantidade de dinheiro
para embarcar no dia seguinte para tentar evitar o veto.
Mas como a ordem não foi assinada na quarta-feira nem na quinta-feira, o cliente de Jensen decidiu esperar.
"Eu estou me sentindo frustrado e um pouco envergonhado que o nosso
governo engane as pessoas dessa forma", diz Jensen. "Um homem que
arriscou a vida para ajudar os militares americanos durante a guerra -
eu sinto como se estivessemos devendo a ele".
Trump assinou a ordem na tarde de sexta-feira, mas a versão final não
veio à público imediatamente. Ela é um pouco diferente do rascunho, mas
os princípios básicos foram mantidos.
O rascunho intitulado "Protegendo a Nação de Ataques Terroristas de
Estrangeiros" está sendo agora minuciosamente analisado por advogados
que tentam prever o que está por vir.
As determinações mais dramáticas listadas no rascunho suspendem a
admissão de todos os refugiados por quatro meses (com a exceção de
"minorias religiosas"), barra indefinidamente a entrada de refugiados
sírios e suspende as entradas nos Estados Unidos de cidadãos, mesmo com
vistos, de sete países por 90 dias. Esses países têm população
predominantemente muçulmana e seriam Síria, Irã, Iraque, Somália, Líbia,
Sudão e Iêmem.
Becca Heller, diretora do Projeto de Assitência Internacional a
Refugiados, passou a quarta-feira respondendo a uma enxurrada de e-mails
e ligações de todo o país,
"Todos estão em pânico. Ninguém sabe o que isso significa. Nós temos
clientes cujas vidas estão seriamente em risco, que têm vistos aprovados
e entregues, simplesmente esperando a hora de viajar"., disse Heller.
"Muitas dessas pessoas estão em risco porque têm laços com a América -
porque têm família aqui ou porque trabalharam com as forças americanas".
Sari Long, uma advogada de imigração que trabalhou por meses para
reunir uma família iraquiana - o pai entrou nos Estados Unidos em 2012
com um visto especial após ter trabalhado como intérprete com o
Exército, com fuzileiros navais e comforças de segurança americanas
terceirizadas. Ele tenta trazer os filhos e sua mulher para o país há
anos.
Long não sabe se os familiares serão afetados pela suspensão de 30 dias
de cidadãos iraquianos que têm vistos americanos ou se serão
classificados como "refugiados" em vez de "imigrantes" e terão que
esperar por 120 dias.
Também há dúvidas sobre o que acontecerá com imigrantes que estavam em
voo em direção aos Estados Unidos no momento da assinatura da ordem.
Compromisso
Apesar dos rumores frenéticos sobre o que pode acontecer, Kay Bellor,
vice-presidente de programas da Lutheran Immigrant Refugee Services, uma
agência de reassentamento de refugiados, disse que todos os seus
clientes que estavam agendados para chegar no país nesta semana não
tiveram problemas.
Ela diz esperar que a situação volte ao normal depois que a
administração conseguir revisar todos os processos de verificação de
imigrantes.
"Eu acho que vamos superar isso. Uma ordem executiva não pode acabar
com o programa de refugiados americanos ou com o compromisso americano
com os refugiados", disse.
Mas tanto ela com outros advogados de refugiados acham que fechar a
porta do país para refugiados e especialmente para ex-aliados que
ajudaram os Esatdos Unidos em conflitos é na realidade uma ameaça à
segurança nacional.
"Eu acho que vai realmente prejudicar nossa posição no mundo. Qualquer
que seja nossa próxima aventura na política internacional, vamos
precisar de apoio local. Se abandonarmos nossos aliados nessa, teremos
dificuldade em encontrar novos aliados."
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