domingo, 15 de abril de 2018

Restrição de foro privilegiado em pauta no STF atinge apenas 1% dos 54.990 beneficiados

O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma no início de maio a discussão sobre mudança no modo como deputados federais e senadores são investigados, processados e julgados. Pelas regras atuais, eles estão submetidos apenas aos tribunais de instâncias superiores - o chamado foro privilegiado.
A discussão estava parada desde novembro do ano passado, quando o ministro Dias Toffoli pediu vista (maior tempo para análise) do processo. A maioria dos magistrados, no entanto, já se posicionou a favor da restrição dos privilégios para políticos, que passariam a ser exclusivos aos casos ocorridos durante o mandato e em decorrência dele.
A mudança atingiria 594 parlamentares, cerca de 1% do total de beneficiados pelo foro, 54.990, de acordo com um estudo divulgado pela Consultoria Legislativa do Senado no ano passado.
No dia 27 de março, Toffoli liberou o processo, conforme a assessoria de imprensa da corte. Nesta sexta-feira, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, o incluiu na pauta do dia 2 de maio.
O resultado parcial é de 8 a 0, com a ressalva de que Alexandre de Moraes apresentou divergências no voto em que concordou com o relator, Luís Roberto Barroso. Ele propõe restrição menor para o foro, que valeria também para crimes comuns, e não apenas aos relacionados à função.
Também em novembro do ano passado o assunto chegou a avançar na Câmara, quando a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 333/2017 foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A proposta teria impacto muito maior do uma eventual decisão do STF, já que prevê a extinção do foro especial para praticamente todas as funções que hoje gozam do benefício.
A PEC aguardava, sem previsão, votação em comissão especial e no plenário da Casa. A intervenção militar no Rio de Janeiro, contudo, colocou a medida na geladeira, já que, enquanto estiver em vigor, ela paralisa a discussão e votação de projetos que alterem a Constituição.

Quem tem direito?

A estimativa da Consultoria Legislativa do Senado é de que 54.990 autoridades tenham hoje foro privilegiado.
Assim, a mudança discutida pelo Supremo atingiria cerca de 1% dos beneficiados atuais - os 513 deputados federais e os 81 senadores. Barroso estima que, com a limitação discutida no STF, cerca de 90% dos casos envolvendo políticos que estão hoje na corte seriam enviados a instâncias inferiores.
O julgamento havia sido iniciado em junho de 2017, mas foi interrompido com o pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes, retomado em novembro e suspenso novamente por Toffoli.
Trata-se de uma questão de ordem relativa à Ação Penal 937, que analisa a situação do prefeito de Cabo Frio (RJ), Marquinho Mendes (PMDB).
Denunciado por compra de votos nas eleições de 2008, o político cumpriu o mandato, tomou posse da cadeira de deputado federal em 2015 como suplente de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e, em 2016, foi eleito pela terceira vez para a prefeitura de Cabo Frio, fazendo com que seu processo mudasse de foro diversas vezes.
Na primeira sessão, Luís Roberto Barroso, Marco Aurélio Mello, Rosa Weber e a presidente da corte, Cármen Lúcia, se posicionaram a favor da restrição. Na votação de novembro, Alexandre de Moraes, Celso de Mello, Edson Fachin e Luiz Fux também votaram pela limitação.
Apesar de já ter maioria do colegiado, a decisão do Supremo só tem validade quando todos os magistrados emitirem voto e a decisão for publicada em acórdão.
O texto que está na Câmara, por sua vez, prevê o fim do foro especial para praticamente todas as autoridades hoje previstas na lei. As exceções seriam o presidente da República, seu vice e os presidentes da Câmara, do Senado e do STF.
Ainda de acordo com o estudo da Consultoria Legislativa do Senado, 38.431 funções têm direito a foro, entre políticos, ministros de Estado, juízes, promotores. As Constituições estaduais preveem ainda o benefício para outras 16.559 mil funções, entre prefeitos, secretários, procuradores, vereadores e defensores.
A mudança discutida no STF é mais branda que a da Câmara, explica o assessor legislativo da Câmara Newton Tavares Filho, porque a corte não tem a prerrogativa de alterar a Constituição, mas apenas de interpretá-la. A extinção do foro, por exigir uma mudança da Carta, precisa passar pelo Legislativo.

Como funciona em outros países

Autor de um estudo técnico que compara o sistema brasileiro com o de 16 outros países, Tavares Filho afirma que no resto do mundo o foro especial é restrito a poucos líderes, um número que dificilmente passa de algumas dezenas - presidentes da República, do Senado, da Câmara, primeiros-ministros.
Ele é utilizado em diversos países sob a justificativa de proteger cargos públicos-chave de perseguição política. A ideia é permitir que autoridades sensíveis a represálias e intimidação sejam julgadas por tribunais isentos.
"A questão é que nós não temos provas concretas dessa isenção", pondera o especialista, ressaltando que Brasil é recordista no número de autoridades com foro privilegiado.
Em muitos casos, a prerrogativa se limita aos delitos relacionados ao cargo e não abrange os crimes comuns, como no Brasil. Os crimes de responsabilidade, que ensejam os processos de impeachment, têm um conjunto de regras à parte, que também varia a depender do país.
O sistema que mais se assemelha ao brasileiro é o da Espanha, onde todos os parlamentares têm direito a foro privilegiado e, por isso, são julgados apenas pela Câmara Penal do Tribunal Supremo. "Estamos falando de algumas centenas de pessoas, isso já é uma situação excepcional", diz Tavares Filho.
A lista também é longa na Colômbia, onde os congressistas - além de alguns magistrados, determinados agentes do Ministério Público, procurador-geral, controlador-geral etc. - estão sob a competência da Corte Suprema.
Os Estados Unidos são o extremo oposto. Nem o presidente americano tem prerrogativa de foro. Esse é um privilégio restrito a alguns diplomatas, embaixadores e cônsules - ou seja, é uma questão mais ligada ao direito internacional.
Na Alemanha, o foro existe apenas para o presidente, que é julgado pela Corte Constitucional em casos de impeachment, previsto para qualquer violação da lei constitucional ou da lei federal. Para ser aberto, o processo precisa passar por uma moção no Bundestag e no Bundesrat, equivalentes à Câmara e ao Senado.
A constituição francesa, por sua vez, dá imunidade ao presidente, que não pode ser sujeito a nenhuma ação, ato de instrução ou ato persecutório perante nenhuma jurisdição ou autoridade administrativa enquanto estiver no cargo. Os casos de impeachment tramitam em uma corte especial formada por membros do Congresso.
Em 1993, os ministros de Estado franceses perderam o foro privilegiado na Suprema Corte e passaram a ser julgados pela Cour de Justice de la République, formada por 12 parlamentares e 3 juízes, apenas nos casos em que os delitos estão diretamente ligados ao cargo. O órgão foi definido como "jurisdição de exceção" pelo presidente Emmanuel Macron, que é favorável à sua supressão, em declaração dada no fim do ano passado.

Como já foi no Brasil

Mas se hoje o Brasil se destaca pelo alcance das categorias com foro especial, a situação já foi ainda mais abrangente.
Até 1999, a prerrogativa de foro por função no Brasil valia mesmo depois do fim do exercício funcional - no caso dos políticos, do mandato. A previsão foi estabelecida pela Súmula 394, editada em 1964 e cancelada pelo próprio STF.
Foi ela que garantiu que o ex-presidente Fernando Collor fosse julgado em 1994 pelo Supremo na ação penal que apurava a prática de corrupção passiva. Ele foi absolvido por falta de provas.
A mudança na regra permitiu que as denúncias contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, fossem enviadas à primeira instância. Ele foi preso no último dia 7, depois de condenado a 12 anos e um mês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O presidente em exercício continua sendo processado e julgado pelos ministros do STF, mas apenas com autorização da Câmara dos Deputados. O caso que ganhou destaque no ano passado envolvendo Michel Temer é ilustrativo nesse sentido. Ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral de República (PGR) duas vezes, mas o plenário da Casa bloqueou o prosseguimento. O processo fica parado até o peemedebista deixar o Planalto e, depois disso, será enviado à primeira instância.
O ex-ministro do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) José Augusto Delgado lembra que até recentemente os governadores também gozavam da blindagem do Legislativo. Para que fossem processados no STJ, era preciso que as assembleias estaduais permitissem.
Duas decisões do STF de maio de 2017, uma delas envolvendo processo que tinha como réu o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), mudaram a jurisprudência sobre o assunto.
"Eu passei 17 anos no tribunal, recebi vários processos contra governadores. Em nenhum deles a assembleia permitiu que eles se tornassem réus", diz Delgado, que integrou o STJ entre 1995 e 2008.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Bolsonaro, Alckmin, Marina, Ciro: quem sai ganhando com eventual prisão de Lula?

No futebol, este domingo será de clássicos: Corinthians e Palmeiras disputam a final do Campeonato Paulista, e Vasco e Botafogo decidem quem será o campeão carioca de 2018. Na política, porém, o principal "jogo" do primeiro semestre foi concluído nesta 4ª feira: por 6 votos a 5, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram negar o pedido de habeas corpus (HC) apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A conclusão do julgamento no STF mobilizou "torcidas" dignas de uma final de Copa do Mundo. Juízes, integrantes do Ministério Público e advogados se mobilizaram contra e a favor da prisão após a segunda instância, com abaixos-assinados de milhares de nomes. Manifestantes pró e contra Lula foram às ruas em Brasília e outras cidades.
Apesar dos abaixo-assinados e das falas de alguns ministros, o STF decidiu ontem apenas sobre o pedido específico da defesa de Lula - o de que ele não fosse preso depois de esgotados seus recursos ao Tribunal Federal Regional da 4ª Região (TRF-4), e pudesse recorrer em liberdade até a última instância. O STF também não disse nada a respeito da possibilidade - cada vez mais remota - de Lula concorrer nas eleições presidenciais deste ano.
Mesmo assim, o resultado de quarta-feira é uma sinalização sobre como a maioria dos ministros deve votar em duas ações que questionam a prisão após a segunda instância - os processos são relatados pelo ministro Marco Aurélio Mello e podem efetivamente mudar o entendimento do STF. Não há data marcada para esse julgamento, mas, nos bastidores, a presidente do tribunal, Cármen Lúcia, está sendo pressionada a pautar o tema.
Com a decisão do Supremo, Lula fica cada vez mais próximo de ir para a cadeia. Segundo a assessoria do TRF-4, a defesa do petista tem até a próxima terça-feira (10 de abril) para apresentar os chamados "embargos dos embargos".
Só depois que este possível recurso for decidido pelos três desembargadores da 8ª Turma do TRF-4, que condenaram Lula em janeiro, o tribunal enviará um ofício ao juiz federal Sérgio Moro informando que o trâmite no TRF-4 acabou. Caberá a Moro então assinar o mandado de prisão.
Mas como ficaria a corrida eleitoral sem Lula no páreo? Veja abaixo, as possíveis implicações disso no cenário atual.

No PT: prioridade para os deputados

Sem Lula na corrida, o mais provável é que o PT foque na eleição da maior bancada possível de deputados federais - cada novo representante na Câmara significa uma fatia maior dos fundos Partidário e Eleitoral, além de mais espaço de televisão durante as próximas disputas.
Em resumo, trata-se de defender a sobrevivência do partido - cuja cúpula é alvo de pesadas acusações de corrupção pelo menos desde 2015, na esteira da Lava Jato.
A discussão sobre o eventual substituto para Lula na corrida presidencial depende do próprio ex-presidente, dizem interlocutores no partido. Mesmo antes da condenação do petista, alguns nomes importantes do partido já tinham sugerido que a sigla começasse a pensar em alternativas a Lula - foi o que disseram os gaúchos Tarso Genro e Olívio Dutra. A sugestão foi rejeitada pela maioria da direção partidária, apurou a BBC Brasil.
Até o momento, inclusive, o PT mantém a intenção de registrar a candidatura de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no dia 15 de agosto, mesmo que as chances dele realmente concorrer às eleições sejam pequenas.
Em dezembro passado, o Diretório Nacional petista decidiu criar um Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE), com a missão de formular uma proposta tática para a sigla nas eleições. O documento está pronto, e deve ser votado pelo Diretório em abril, diz o líder do partido na Câmara, Paulo Pimenta (RS). Esta proposta coloca como prioridade do partido a eleição presidencial e, logo abaixo dela, a disputa por vagas na Câmara.
"Em 2014, a gente votou na resolução (eleitoral) priorizar a Câmara e o Senado. Foi dada uma prioridade política às candidaturas ao Senado. Mas percebemos que, por serem candidaturas majoritárias (apenas os dois mais votados são eleitos em cada Estado), são onerosas.
Agora, nesse processo do golpe (o impeachment de Dilma em 2016), percebemos que a Câmara teve uma importância muito maior", diz uma integrante da Executiva Nacional petista, sob condição de anonimato.
A defesa de Lula pode ainda apresentar recursos com a finalidade de permitir a ele participar das eleições, mas o resultado é incerto.

Bolsonaro

As últimas pesquisas de institutos como o Datafolha e o Ibope mostram Jair Bolsonaro (PSL) liderando a disputa nos cenários sem Lula. Os indícios são mesmo de que, mesmo levando apenas pequena parte da fatia dos votos que iriam para Lula, ele mantém a liderança.
O site de notícias jurídicas Jota, por exemplo, calcula que Lula teria hoje 18,5% dos eleitores - Bolsonaro conta com 10,5% dos votos. O levantamento usa apenas pesquisas espontâneas (em que o próprio eleitor diz em quem pretende votar, sem opções dadas pelo entrevistador), publicadas desde o fim do ano passado e feitas por instituto como MDA, Ibope e Datafolha.
"O mais provável é que esses votos (de Lula) sejam disseminados, em parte (menor), para a candidatura de (Jair) Bolsonaro (PSL), e em parte para votos nulos, brancos e abstenções. Eu diria que quem vota em Lula, se for frustrado e não tiver Lula ou (outro candidato do) PT na cédula eleitoral, muito provavelmente vai se dirigir para a anulação dos votos. É o que as pesquisas têm demonstrado", diz o professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP) Lincoln Secco, que estudou a trajetória do PT.
Secco acredita que só uma parte menor dos eleitores de Lula migrará para Bolsonaro - e o fará por ver no militar da reserva uma opção de voto de protesto. Apesar de ser deputado desde 1991, o candidato do PSL é visto como alguém "de fora" do sistema político.
Mas para o cientista político e professor emérito da UFMG, Fábio Wanderley Reis, Bolsonaro não seria beneficiado caso Lula saia da corrida: o capitão da reserva do Exército está construindo sua candidatura como uma oposição ao PT e à esquerda de forma geral. Sem Lula, Bolsonaro perde uma de suas principais bandeiras. Essa avaliação também já foi feita por aliados do político do PSL, como o deputado Alberto Fraga (DEM-DF).
"Bolsonaro certamente se mostrou mais 'viável' do que parecia há algum tempo; manteve a força eleitoral mesmo depois de começar a ser questionado na imprensa, por exemplo. Mas me parece que a força dele (Bolsonaro) tem a ver com esse antagonismo (com Lula). Com Lula fora, ele tende a perder força", diz o cientista político Fábio Wanderley Reis.

Marina e Alckmin

Lincoln Secco, da USP, e o cientista político e professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Rui Tavares Maluf, divergem sobre a viabilidade de Marina Silva (Rede), mas concordam que ela dificilmente herdará os votos de Lula, de quem chegou a ser ministra do Meio Ambiente (2003-2008).
"Ela (Marina) nunca foi carta fora do baralho. É uma figura difícil de atacar no plano pessoal, na questão da ética. Mas ela se afastou muito do petismo nas últimas duas eleições (em 2014, apoiou Aécio Neves, do PSDB). Pode herdar votos, mas não esses (de Lula)", diz Maluf.
Para Secco, Marina "não representa nenhum posicionamento relevante hoje na sociedade. Então acho muito difícil que ela herde os eleitores. Ela apoiou Aécio Neves (PSDB) nas últimas eleições e se posicionou pela condenação de Lula no julgamento do TRF-4 de Porto Alegre", diz ele.
E Geraldo Alckmin? Antes mesmo de assumir a presidência do PSDB e se tornar o virtual candidato presidencial do partido, em dezembro passado, o tucano começou a fazer acenos à esquerda.
Em outubro de 2017, por exemplo, o governador de São Paulo apareceu em um evento da corrente socialista do PSDB - chamada Esquerda Pra Valer - e disse que "O laissez-faire, esse liberalismo completo, é a incivilização, porque é o grande querendo comer o pequeno, o forte massacrar o fraco".
Rui Tavares Maluf lembra que Alckmin já estava tentando construir pontes com a esquerda antes da campanha eleitoral - o tucano levou adiante projetos que beneficiaram assentados do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), por exemplo. Em uma cerimônia em 2016, recebeu elogios de dirigentes do movimento social.
"Não é muito difícil imaginar ele se movimentando para a esquerda e para a direita sem parecer um 'estranho no ninho'. Esse caráter mais centrista da candidatura dele permite isso", diz Maluf. Se isso será suficiente para abarcar votos de ex-eleitores de Lula, é cedo para dizer, segundo o cientista político.
Já para Lincoln Secco, Alckmin cometeu um erro dentro da estratégia de se aproximar do eleitorado lulista ao dizer que os tiros que atingiram um ônibus da caravana de Lula na semana passada foram culpa dos próprios petistas. Na última sexta-feira, Alckmin disse que os seguidores de Lula estavam "colhendo o que plantaram".
"Eu acho que ele terá, como nas eleições anteriores que disputou (em 20060), uma dificuldade enorme de penetração no Nordeste. E sem o Nordeste ele não ganha as eleições. Vai ter o apoio de São Paulo e do Centro-Sul, mas muita dificuldade tanto em Minas Gerais, quanto no Nordeste", diz.

E os outros candidatos de esquerda?

A eleição de 2018 promete ter o maior número de candidatos desde a disputa presidencial de 1989 - até agora, 25 pessoas já anunciaram a intenção de concorrer à presidência da República em outubro - a quantidade de postulantes será significativa mesmo que a maior parte desses nomes não chegue à urna eletrônica.
Nos bastidores, políticos de vários partidos (não só os de esquerda) veem a saída de Lula do pleito como algo positivo para os demais candidatos - significaria uma possível vaga no segundo turno da disputa.
Para Rui Tavares Maluf, o mais provável é que os votos de Lula sejam divididos entre os outros competidores. "Não tenho dúvida de que a tendência é de 'espalhamento'. O grosso dos votos de Lula não é tão ideológico, é muito mais centrado na pessoa dele. As bandeiras (de Lula) são um pouco genéricas (como o crescimento econômico ou a redução da desigualdade)", diz.
Dentro do campo da esquerda, diz Maluf, é Ciro Gomes (PDT) quem está mais bem posicionado para abocanhar uma fatia maior dos votos. O cientista político faz a ressalva, porém, de que o mecanismo de transferência de votos não é perfeito - mesmo que Lula pedisse votos para Ciro ou outro candidato, dificilmente ele ou ela herdaria 100% dos eleitores do petista.
"Há outros candidatos que têm até mais afinidade ideológica com o PT, como (Guilherme) Boulos (PSOL) ou Manuela D'Ávila (PCdoB). Mas essa afinidade (de esquerda) tende a reduzir os votos. Só uma pequena franja dos eleitores do Lula está disposto a votar em alguém tão à esquerda", diz.
Para Lincoln Secco, da USP, a candidatura do PSOL tem pouca viabilidade neste momento. "Boulos só está se candidatando neste momento porque pretende futuramente constituir um novo partido de extrema-esquerda com algum apoio eleitoral e alguma importância social no Brasil. Mas é um projeto de longo prazo."