domingo, 30 de junho de 2013

Manifestantes conseguem furar cerco para protestar em frente ao Maracanã

Nem mesmo o cerco policial no entorno do estádio do Maracanã na manhã deste domingo, antes da partida entre Brasil e Espanha pela final da Copa das Confederações, impediu que algumas pessoas conseguissem realizar pequenas manifestações em frente ao local, o que é em teoria proibido pelas regras da Fifa.
Bem em frente à entrada reservada à mídia na rua Professor Eurico Rabelo, que passa por uma das laterais do estádio, um pequeno grupo de profissionais da área da saúde, de aventais brancos, erguia um grande cartaz protestando contra o fechamento de hospitais públicos pelo governo do Estado.
"Chegamos cedo, por volta das 10h, sabendo que tentariam impedir a chegada de manifestações perto do estádio", comentou um dos manifestantes, o protético Isaac Ferreira Sena, de 41 anos, que segurava uma das pontas do cartaz.
Do outro lado, estava o acupunturista Antonio Carlos, de 54 anos, que pediu que seu sobrenome não fosse divulgado por temer represálias por parte do governo. "Percebemos que aqui é um ponto estratégico para termos visibilidade", disse.
Ele disse que manteria o protesto na porta do Maracanã pelo tempo que permitissem que o grupo ficasse no local. "Isto não é um protesto partidário, estamos só falando a verdade, não estamos inventando nada", disse. "Afinal, isto é uma democracia ou não é? Não estamos quebrando nada, só falando a realidade", argumentou.
Em uma volta rápida no entorno do estádio era possível observar várias outras manifestações, incluindo algumas de cunho religioso. Uniformizados, centenas de fieis da igreja evangélica Assembleia de Deus de Madureira entregavam panfletos aos torcedores que chegavam para assistir à partida.
"Aqui há gente de todo o mundo, então estamos aproveitando para evangelizar. Queremos mostrar que Jesus Cristo é a maior de todas as vitórias", disse um dos fieis, o bombeiro Vítor Torres, de 26 anos. Segundo ele, ninguém do grupo tinha ingresso para assistir à partida.
Consultada pela reportagem da BBC Brasil, a Fifa se limitou a dizer que a entidade e o Comitê Organizador Local (COL) "respeitam plenamente o direito de as pessoas se expressarem".
Manifestação de evangélicos no Rio de Janeiro dia 30 de junho | Foto: Rogério Wassermann/BBC Brasil
Evangélicos distribuem panfletos antes da final no Maracanã
"Continuaremos a acompanhar a situação e temos plena confiança no trabalho de segurança das autoridades locais para a Copa das Confederações", complementa a resposta enviada pela entidade por e-mail.

Proteção dos animais

Em outro dos portões do estádio, a professora aposentada Ione de Oliveira Franco, de 73 anos, e o vigia Joel Avelino Torres, de 43, que se identificam como "protetores independentes dos animais", carregavam cartazes pedindo ações do governo na área.
"Estamos indignados com o que esses governos estão fazendo com o nosso país. Gastaram mais de R$ 1 bilhão com um estádio que já estava pronto, mas não oferecem hospitais gratuitos para os animais", reclamava Torres. "Os animais também pagam impostos, nós pagamos por eles", argumentou.
Para Franco, mesmo as demandas particulares como as suas podem ser ouvidas em grandes protestos como os que têm ocorrido nos últimos dias pelo país. "A prefeitura e o governo estão vendo que precisam ouvir todas as pessoas, independentemente das demandas", disse.
Ambos dizem ser ativistas e participantes de protestos de longa data e dizem ver de maneira positiva a onda recente de manifestações. "As pessoas acordaram para os protestos. O povo agora tomou gosto, não sai mais das ruas", disse.

Grupo alerta para deportação da Estátua da Liberdade

A Estátua da Liberdade em Nova York pode estar com os dias contados como um dos ícones dos Estados Unidos, se for bem sucedida a iniciativa de um grupo conservador que quer deportar o famoso ponto turístico, por afirmar que o monumento entrou no país ilegalmente há mais um século.
A campanha, liderada por uma organização chamada Legais pela Preservação da Cultura Americana (Legals for the Preservation of American Culture), tem um vídeo promocional, página web e até uma conta na rede social Twitter.
Mas espere! Se depois de ler esta história alguém pensar em viajar para a Big Apple para se despedir da estátua, terá que mudar os planos.
A campanha para deportar o monumento que a França deu para a cidade de Nova York, em 1886, é apenas uma ficção inventada pela organização de direitos humanos Breakthrough para lidar com humor com a discussão sobre a reforma da imigração que está tramitando no Congresso dos EUA e cuja aprovação no Senado está prevista para quinta-feira.
"Queríamos dar uma abordagem diferente para a reforma e ter mais pessoas interessadas no assunto", explica à BBC Ishita Srivastava, um dos autores da iniciativa.
De acordo com Srivastava, "agora a maioria dos americanos é a favor da reforma, mas muitas pessoas acreditam que é uma questão que não lhes cabe".

Verdade ou não

"Então pensamos que, utilizando um formato inovador, poderíamos conseguir mais pessoas interessadas", disse o ativista, que explica que eles escolheram a Estátua da Liberdade "porque é um dos símbolos dos EUA e da imigração, além de ser uma mulher. "
A falsa campanha teve um grande impacto nas redes sociais. A peça promocional coloca a Estátua da Liberdade em um escritório de imigração, com um sotaque francês e pedindo o direito de ficar nos EUA, mesmo sem ter recebido documentos ao chegar ao país - situação semelhante a de muitos imigrantes ilegais.
Foto: AP
A estátua foi um presente da França para os Estados Unidos
O funcionário da imigração, por sua vez, pergunta se a estátua pode provar não estar tomando um posto de trabalho de uma estátua americana qualificada, para o qual "Senhora Liberdade" responde que tem 120 anos de experiência e é um ícone da liberdade.
A produção do vídeo, em que colaboraram estudantes da Universidade de Nova Iorque, foi realizada em um dia, com um orçamento de menos de US $ 1.000, já que a maioria dos que participaram o fizeram de graça.
"Estamos muito contentes com a resposta que a campanha teve. Foi uma experiência interessante usar sátira para resolver este problema", diz Ishita Srivastava.
"Queremos deixar claro que era uma brincadeira, embora alguns a princípio tenham duvidado se era verdade ou não", disse o ativista.

Breakthrough

A organização tem mais de uma década de trabalho na promoção dos direitos humanos através de campanhas interativas, com especial atenção para as mulheres.
"Nós não concordamos com algumas das alterações no projeto (da Lei de Imigração), como o reforço da segurança nas fronteiras, por isso temos que ter a certeza de que não viola os direitos dos imigrantes", diz Ishita Srivastava.
Sem dúvida, em sua campanha, a Breakthrough deu um tom de humor a um assunto caro aos mais de 11 milhões de imigrantes ilegais que estariam vivendo nos EUA atualmente.

sábado, 29 de junho de 2013

Brasil e Espanha disputam final, enquanto Rio espera novo megaprotesto nas ruas

Brasil e Espanha entram em campo às 19h (de Brasília) deste domingo, no reformado estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, para disputar a final da Copa das Confederações. A partida era altamente esperada, mas parecia pouco provável antes da competição.
Do lado de fora do estádio, nas ruas do Rio de Janeiro, é esperado outro evento que não passava pela cabeça da maioria das pessoas antes do torneio, mas que se tornou rotina nos jogos da competição até aqui: uma manifestação que deve reunir milhares de pessoas.
O objetivo da manifestação é mais uma vez protestar contra os gastos públicos com a organização da Copa do Mundo do ano que vem, para a qual a Copa das Confederações serve como "ensaio", e para a Olimpíada de 2016, que acontecerá no Rio de Janeiro.
Antes do torneio, as seleções de Brasil e Espanha não poderiam viver momentos mais distintos entre si. O Brasil, que amargava a 22ª posição no ranking da Fifa, sua pior posição da história, vinha desacreditado com uma série de maus resultados em amistosos.
A Espanha, atual campeã mundial e vencedora dos últimos dois torneios continentais europeus, é líder absoluta de seu grupo nas eliminatórias para a Copa de 2014, está invicta há 19 meses e lidera o ranking da Fifa desde outubro de 2011.
Mas o Brasil chega à final em ascensão, após cinco vitórias consecutivas (além das quatro vitórias na Copa das Confederações, havia vencido um amistoso contra a França antes do torneio) e com a credibilidade recuperada.
A Espanha chega ainda apontada por muitos como "favorita", mas cansada após uma semifinal disputada contra a Itália na quinta-feira (um dia após a semifinal entre Brasil e Uruguai). A Espanha venceu a Itália somente nos pênaltis, após um 0 a 0 em exaustivos 120 minutos sob um calor de 30 graus e umidade relativa do ar de 70% em Fortaleza.

Favoritismo

Em uma entrevista coletiva no fim da tarde deste sábado, o técnico brasileiro, Luiz Felipe Scolari, disse não considerar a Espanha como favorita, apesar do retrospecto da equipe nos últimos seis anos.
"Eles levam alguma vantagem, mas temos algo que é importante: voltamos a ter credibilidade com os torcedores. Vamos buscar aquilo que queremos desde o início", afirmou.
Manifestação no Rio no dia 24 de junho | Foto: AP
Organização teme novo confronto entre policiais e manifestantes
Scolari disse que prefere ganhar mesmo com um estilo de jogo feio. "O resultado fica para a história, o jogo bonito passa. Esse é o meu pensamento, gostem ou não."
No dia anterior, a principal estrela da equipe brasileira, o atacante Neymar, havia admitido o favoritismo espanhol. "A Espanha é favorita. Eles são os melhores do mundo", disse, para depois afirmar que a seleção brasileira "venderá caro" qualquer resultado e lutará pela vitória até o final.
Do lado espanhol, o atacante Fernando Torres, o artilheiro da competição até aqui, com cinco gols, afirmou que sua seleção é "o Brasil do presente".
"Somos o rival a ser batido", disse ele, afirmando que o país anfitrião é o favorito. "O Brasil tem tudo a seu favor, joga em seu país, tem o ambiente a seu favor e, além disso, todos querem ganhar da Espanha."

Medo de protestos

A expectativa em relação à partida é acompanhada do temor sobre possíveis confrontos entre manifestantes e a polícia nas proximidades do Maracanã, como ocorreu no dia 20 de junho, quando Espanha e Taiti jogaram no estádio enquanto 300 mil pessoas participavam de passeata desde a igreja da Candelária, no centro, até a sede da prefeitura, a cerca de três quilômetros dali do estádio.
Um grupo desgarrado da manifestação chegou a tentar se aproximar do Maracanã, mas foi dispersado pela polícia com bombas de gás lacrimogêneo.
O temor sobre a ocorrência de episódios de violência levou a Fifa a anunciar o reforço da segurança privada dentro do estádio para a final deste domingo, enquanto a Polícia Militar elevou em 42% o efetivo de segurança dentro e fora do Maracanã, que contará com cerca de 6 mil homens.
"Eles levam alguma vantagem, mas temos algo que é importante: voltamos a ter credibilidade com os torcedores."
Luiz Felipe Scolari, técnico da seleção brasileira
A prefeitura também anunciou o aumento de 12 para 16 no número de ruas interditadas nas imediações do estádio e antecipou em uma hora, para as 13h, o início da interdição.
A manifestação deste domingo, convocada pelos Comitês Populares da Copa e da Olimpíada no Rio de Janeiro, pretende protestar contra as remoções de moradores para as obras dos dois megaeventos esportivos e contra a privatização do Maracanã.
O custo da reforma do Maracanã, inicialmente estimado em R$ 650 milhões, foi elevado para mais de R$ 1 bilhão no decorrer das obras, bancadas em grande parte pelo governo do Estado do Rio de Janeiro e por financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Os manifestantes pretendem se reunir a partir das 10h na praça Saens Peña, localizada a cerca de 2,5 quilômetros do Maracanã, e seguir depois em passeata na direção do estádio. Segundo os organizadores do protesto, o movimento é pacífico e não há a intenção de furar os bloqueios policiais para tentar se aproximar do estádio.
"Este é o nosso quinto ato, não temos nenhuma intenção de atrapalhar o jogo", afirmou um dos integrantes do Comitê Popular, Renato Cosentino, na sexta-feira. "Esperamos ter a garantia de poder fazer essa manifestação, que é um direito constitucional nosso."

'Touradas em Madri'

Do lado de dentro do campo, Brasil e Espanha fazem a esperada final do torneio, entre a seleção pentacampeã mundial e vencedora de três edições da Copa das Confederações, incluindo as últimas duas, em 2005 e 2009, e a equipe que venceu quase todos os torneios que disputou desde 2008.
Seleção espanhola treina | Foto: AFP
Espanhóis dizem ser 'o Brasil do presente'
O único grande torneio que falta à Espanha é justamente a Copa das Confederações. Na última edição, em 2009, na África do Sul, todos davam como quase certa uma final entre Brasil e a Espanha, mas a seleção espanhola acabou derrotada na semifinal pelos Estados Unidos, batidos depois na final pelo Brasil.
A final que não aconteceu em 2009 e que ocorre agora de maneira mais inesperada é o primeiro jogo entre as duas seleções desde 1999, quando Brasil e Espanha empataram em 0 a 0 num amistoso disputado em Vigo. Na ocasião, a Espanha ainda não era a potência futebolística na qual se transformou nos últimos anos.
As duas seleções se enfrentaram apenas oito vezes na história, cinco delas em Copas do Mundo. O confronto mais memorável entre as duas equipes é talvez a vitória brasileira por 6 a 1, no mesmo Maracanã da final deste domingo, durante a primeira Copa do Mundo disputada no Brasil, em 1950.
O jogo se tornou famoso pela forma como a torcida de mais de 150 mil pessoas presente no estádio comemorou a vitória, cantando a música "Touradas em Madri", de Braguinha.
No histórico dos oito confrontos, o Brasil leva a melhor, com quatro vitórias, contra apenas duas dos espanhóis e dois empates.
O histórico das partidas disputadas pelo Brasil no Maracanã também é amplamente favorável à seleção nacional. Em 104 jogos, foram 74 vitórias, 23 empates e 7 derrotas – incluindo a mais famosa e dolorida de todas, a da final da Copa de 1950, contra o Uruguai, no chamado "Maracanazzo".

Papa Francisco quer revisão de tudo na Igreja Católica, diz Dom Geraldo Majella

Em entrevista, cardeal brasileiro conta o que espera da visita do papa ao País na Jornada Mundial da Juventude

Veterano de conclaves, o arcebispo emérito de Salvador, Dom Geraldo Majella, foi um dos cinco cardeais brasileiros que participou da escolha de Jorge Mario Bergoglio para papa da Igreja Católica. Em breve, eles devem voltar a se encontrar durante a Jornada Mundial da Juventude , evento marcado entre 23 e 28 de julho no Rio de Janeiro, quando o papa Francisco desembarca no País. Em entrevista ao iG , Dom Geraldo conta o que espera da visita e do encontro com os jovens brasileiros.
Saiba tudo sobre a Jornada Mundial da Juventude 2013
“Ele tem um modo muito especial de manter um diálogo. Ele está preocupado com a situação do mundo e com a situação da juventude (...) porque, realmente, estamos em um mundo de muita violência. Ele sabe mostrar essa visão do mundo. E pode dar, quem sabe, alguma sugestão que realmente abra um novo caminho para acompanhar esse mundo como ele está. Em nome da sua fé, ele pode dar uma palavra a esta situação”, opina.
O arcebispo diz que vê com "bons olhos" as medidas tomadas pelo papa em pouco mais de mais três meses à frente da Igreja, como, por exemplo, a criação de uma comissão para fiscalizar o Banco do Vaticano. “Ele quer uma revisão de tudo. O banco está instituído desde 1942. Então, ele está querendo uma revisão. É por ai mesmo que se deve ir. Faz parte da própria razão de ser da Igreja. A Igreja também precisa dos meios. Isso sempre foi usado desde o tempo dos apóstolos. .
Leia abaixo a entrevista:
iG - Como o senhor avalia a visita do papa Francisco ao Brasil durante a Jornada Mundial da Juventude?
Dom Geraldo Magella - É necessário esse encontro. Ele continua uma tradição de 20 e tantos anos que é este encontro com os jovens, do qual o papa participa. Ele quis continuar uma tradição do papa João Paulo 2º e do papa Bento 16. Ele faz isso não apenas por uma tradição, mas com muita convicção. É necessário esse encontro com a juventude. Tenho muita convicção de que possa servir em um momento de grande violência e possa transmitir também muita esperança.
Divulgação/Arquidiocese de Salvador
Arcebispo acredita que papa não tem receio de vir ao Brasil por causa dos protestos
iG - Qual a diferença entre o papa Francisco e os anteriores? O que o senhor acha que a visita deste papa terá diferente?
Dom Geraldo Magella - Nós podemos ter vários pontos em evidência. Terá aquilo o que é comum com outros papas, como também tem sua originalidade. Isso é bom porque ele tem um modo muito especial de manter um diálogo. Ele está preocupado com a situação do mundo, não só com a situação da juventude. A juventude recente da situação do mundo em que vivemos. Ele sabe mostrar essa visão do mundo. E pode dar, quem sabe, alguma sugestão que realmente abra um novo caminho para acompanhar esse mundo como ele está. Em nome da sua fé, ele pode dar uma palavra a esta situação porque, realmente, estamos em um mundo de muita violência, muita falta de aceitação do outro. São tantas mortes. Tudo isso faz mal não só para os jovens, mas para todo mundo. Mas a juventude sofre mais com seu ideal de ter um mundo de paz.
iG - Como o senhor acha que o papa Francisco enxerga os protestos que acontecem no Brasil, já que boa parte dos manifestantes é o próprio jovem?
Dom Geraldo Magella - Naturalmente ele vai ter encontro com a juventude na jornada. Ele responderá à juventude. Não é que ele vai tomar a iniciativa de falar sobre certos pontos, mas ele não vai só falar. Ele vai ter encontros para também ouvir os jovens, que farão perguntas. E ele vai responder, não vai fugir do que julgar que é para o bem.
Mais: Ordem do papa, jesuítas são conhecidos pelo desapego
iG - O senhor teme que os protestos possam atrapalhar a visita do papa ou até mesmo a Jornada?
Dom Geraldo Magella - Não acredito que vá atrapalhar a vinda dele. Ele não tem receio de vir. A não ser que tivesse aqui alguma revolução que fosse incontrolável. Ele vem tranquilamente, com muita fé. E que faça alguma coisa em nome do próprio Cristo que representa. 
iG - Como o senhor avalia as manifestações no País?
Dom Geraldo Magella - É a possibilidade dos próprios jovens estarem vendo o que é necessário para o País diante da situação geral. A juventude, como tal, tem cabeça boa para pensar. E, do outro lado, sempre existem os aproveitadores para querer tumultuar. Infelizmente, há pessoas que estão interessadas em criar o caos. A gente vê que algumas medidas estão sendo tomadas, estão repercutindo o que a juventude mesmo colocou em evidência. Mas é preciso ter cuidado. A juventude que esta à frente tem de ter cuidado para não se deixar levar pelos desordeiros, pelos que querem tumultuar. É necessário que eles não tomem partido, não aceitem participar de nenhum tumulto. Não deixem que o bem que desejam para o Brasil venha a ser tumultuado por essa visão violenta.
iG - Como o senhor avalia os primeiros meses do papa Francisco à frente da Igreja Católica?
Divulgação/Arquidiocese de Salvador
Cardeal foi um dos cinco brasileiros que participaram do último conclave
Dom Geraldo Magella - É impossível que ele chegue já falando tudo que ele tem para falar. Tudo o que ele percebeu porque é natural. Mas ele, pouco a pouco, já vai tomando medidas, vai mostrando algumas providências que ele deseja.
iG - Como, por exemplo, o anúncio de uma comissão para fiscalizar o Banco do Vaticano?
Dom Geraldo Magella - Ele quer uma revisão de tudo. O banco também está instituído desde 1942. Então, ele está querendo uma revisão. É por ai mesmo que se deve ir. Faz parte da própria razão de ser da igreja. A Igreja também precisa dos meios. Isso sempre foi usado na Igreja desde o tempo dos apóstolos. Tinha sempre que mostrar o lado dos bens deste mundo. O dinheiro é preciso desde os tempos de Jesus. Tinha até um apóstolo que cuidava dessa parte para que não faltasse o necessário para os próprios apóstolos. Sempre houve cuidados com os bens materiais para não sacrificar nem a Igreja nem a sua missão.
iG - O senhor já conversou com o papa Francisco desde que ele assumiu cargo? Como é a personalidade dele?
Dom Geraldo Magella - Falei ainda em Roma. Já nos conhecíamos. Eu tinha liberdade com ele. Falei rapidamente com aquela confiança mútua, sem colocar distância. Ele é muito simples. Mesmo no Vaticano, ele continua ocupando, por exemplo, o lugar onde nós estávamos nos tempos do conclave. Ele só vai ao Vaticano para receber autoridades, receber reuniões. O dia a dia dele é da maneira mais simples possível.

Apesar da crise, portugueses recusam empregos e criam paradoxo

Os terraços dos bares começam a ficar repletos de turistas ávidos por um drink depois de horas a fio passadas na praia. A luz do dia dá lugar ao néon, enquanto risos se misturam aos sucessos musicais do verão europeu.
No Algarve, um dos principais destinos turísticos no sul de Portugal, tudo aponta para mais uma noite de alegria e badalação. Mas, para os proprietários de tais estabelecimentos, não há motivo para comemoração.
A falta de otimismo pode parecer estranha à primeira vista. Mas Portugal passa por uma das maiores crises de sua história, com uma taxa de desemprego recorde que já atinge 18% da população economicamente ativa.
Curiosamente, os donos dos bares do Algarve não podem comemorar o fluxo de turistas, pois não há funcionários suficientes para atendê-los.
"Quase todo mundo aqui está procurando alguém para trabalhar", diz João Carvalho, um jovem gerente do Picadilly Bar.
Da janela do estabelecimento, um cartaz em português e em inglês indica que ele está procurando por garçons e bartenders.
No Algarve, onde a taxa de desemprego é maior do que qualquer outro lugar em Portugal, os bares, junto de restaurantes e hotéis, são os maiores empregadores: respondem por uma a cada seis contratações.
Mas longas horas de trabalho, frequentemente das seis da tarde às quatro da manhã, vêm afastando os possíveis candidatos às vagas.
"Eles querem trabalhar em hotéis, ter dois dias de folga, bom salários", afirma com olhar cansado Rui Carvalho, gerente do Second Bar.
Por algumas semanas, Carvalho vem tentando compensar a falta de pessoal trabalhando horas a mais.
E quanto aqueles que não conseguem empregos em hotéis? "Algumas pessoas preferem viver de benefícios do governo do que trabalhar", diz Jorge Sa, do JC Bar.
Depois de todas as medidas de austeridade em um país atingido fortemente pela crise, o seguro-desemprego ainda é bastante generoso.
Equivalente a 65% do salário antes de ficar desempregado, o saláriop de pessoas que buscam emprego varia entre 419 e 1.048 euros (R$ 1.2 mil e R$ 2.940) por mês durante os primeiros seis meses e depois é reduzido em 10%.
O problema é que pessoas na faixa etária dos 20 aos 30 anos – a típica idade para trabalhar em bares – podem receber o benefício por 12 meses, mesmo que tenham trabalhado apenas alguns anos.
Esse contingente forma uma parte significativa dos desempregados no Algarve. Um em cada quatro dos adultos entre 25 e 34 anos não tinha um emprego em março, segundo o instituto de estatísticas de Portugal.
Mas nem todos ganham o seguro-desemprego. "Os jovens estão morando muito tempo na casa dos seus pais e, por isso, não têm urgência em arranjar um emprego", diz Lourenço Vicente, do bar Meet.
Reclamações parecidas também são ouvidas de outros empregadores, não só de gerentes de bares.

Felizes sem emprego?

Isso quer dizer que os portugueses estão mais felizes sem emprego?
Os especialistas afirmam que não é tão simples.
"A situação em Portugal está muito ruim para acreditarmos em tal visão maniqueísta. As pessoas, simplesmente, não podem escolher", afirma o economista português José Reis.
Em uma manhã quente de junho, a rotina é intensa em uma das agências de emprego do Algarve.
Muitos que chegam "aceitam empregos que nunca teriam há alguns anos", afirma Carlos Baía, diretor regional da agência de emprego de Portugal.
No entanto, os candidatos que ainda têm a possibilidade de escolher agem com cautela. "Eles não querem trabalhar apenas por seis meses", diz Rui Carvalho.
A temporada de turismo no Algarve termina em outubro, junto com o verão. Poucos bares permanecem abertos e mantêm funcionários durante todo o ano. Muitos ficam sem trabalho durante o inverno e não têm direito à ajuda financeira do governo.
Apenas os desempregados que trabalharam pelo menos 12 meses durante os últimos dois anos têm direito a reivindicar os benefícios do seguro-desemprego.
A perspectiva de longos meses sem um emprego reduziu fortemente o apelo dos antigos bons salários que os bares ofereciam. Isso diminuiu ainda mais depois de uma recente elevação do imposto de renda.
"Estou ganhando 100 euros (290 reais) menos do que no ano passado", afirma Daniel Napier, que trabalha como garçom.
Ele está planejando viajar ao Reino Unido para conseguir um emprego durante o inverno. "Daí voltarei e trabalharei uma outra temporada aqui", diz ele. "Portugal está assim".

Ajuda do governo

Para encorajar os empregadores a manter seus funcionários durante o inverno, o governo ofereceu pagar metade dos salários. "Durante a baixa temporada nós vamos dar treinamento a esses trabalhadores para que eles possam melhorar suas competências e trabalhar melhor no próximo verão", diz Baía, da agência de empregos.
Porém o programa foi lançado muito tarde para ter um impacto significativo no ano passado.
Ainda há dúvida sobre o interesse dos donos de bares na proposta do governo. "Os patrões não querem manter os funcionários", diz Vicente. "Ninguém quer prometer nada, porque você não sabe o que acontecerá no ano que vem".
Já os gerentes aguardam impacientes o fim do ano escolar, quando estudantes de outras partes de Portugal e do exterior vêm trabalhar na região durante o verão.
"No ano passado, eu tinha funcionários da Dinamarca, Holanda, dois anos atrás, da Noruega", diz Vicente.
Rejeitadas pelos portugueses, as vagas vêm atraindo o interesse dos vizinhos espanhóis, onde a taxa de desemprego é de cerca de 27%.
Mas as atenções dos donos de bares agora se voltam para o leste europeu. Ucranianos, romenos e moldávios engrossam a comunidade internacional do Algarve.
Ao contrário dos portugueses, eles aceitam qualquer emprego. "Embora possam até não gostar da tarefa, eles se esforçam no trabalho", diz Vicente. "Eles vieram para trabalhar, não para se divertir".

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Governo trabalha para mudar projeto sobre destinação de royalties no Senado

Planalto aceita 75% para educação e 25% para saúde, mas negocia alterar a nova estrutura do fundo social e regra que inclui contratos atuais de exploração na lei

A decisão da Câmara de alterar o projeto do Palácio do Planalto sobre a aplicação do dinheiro pago por empresas a partir da venda do petróleo para compensar o impacto ambiental da exploração petrolífera não agradou ao governo. A irritação do Planalto está nas alterações feitas sobre a estrutura do fundo social que será formado pelo recolhimento de royalties e a inclusão de contratos em vigor referentes a blocos de petróleo que ainda não geram receitas. As equipes técnicas dos ministérios da Casa Civil e de Relações Institucionais estão trabalhando para reverter no Senado itens alterados na Câmara.
Leia mais: Câmara aprova royalties do petróleo para saúde e educação
Royalties: Projeto aprovado destinará oito vezes mais para Educação
O Planalto já se diz disposto a abrir mão dos 100% dos royalties para educação, aceitando a divisão de 75% dos royalties do pré-sal para educação e os 25% restantes para saúde – desenhada no texto elaborado pelo deputado André Figueiredo (PDT-CE) para substituir a proposta do governo. “A relação 75% e 25% está pacificada, o próprio governo aceitou”, afirma o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM).
Havia a expectativa de que o presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), pudesse retomar os 100%. Isso obrigaria o retorno do projeto para a Câmara. O deputado André Figueiredo chama a afirmação de “falácia”. “Não há esse risco, porque se o Senado mudar (os percentuais) a Câmara vai derrubar”, afirma.
Contratos antigos
No Planalto, segundo relatos de pessoas da equipe técnica da Casa Civil e de Relações Institucionais, há um parecer interno da Advocacia-Geral da União (AGU) sinalizando que a inclusão de contratos já licitados que ainda não fizeram a declaração de comercialidade do petróleo existente em seus blocos fere o chamado “ato jurídico perfeito”– ou seja, o que foi realizado sobre uma lei e que não pode ser alterado por uma nova lei substitutiva.
A ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), já se mostrou inclinada a considerar essa mudança como equivocada ao aceitar medida cautelar apresentada pelo estado do Rio de Janeiro em março, questionando a nova estrutura percentual de distribuição dos royalties.
A aceitação da divisão de 75% e 25% está sendo considerada pelo Planalto como moeda de troca para convencer a Câmara a rever a questão dos contratos vigentes. Com isso, o governo manteria a destinação de parte dos royalties para a saúde e restauraria o critério de que a novo modelo só vale para contratos firmados a partir de 3 de dezembro de 2012.
Fundo social
Outro ponto que o Planalto pretende mudar sobre o uso dos recursos do fundo social. No modelo desenhado pelo governo, o fundo deveria servir como uma poupança cujos rendimentos do dinheiro recebido pela União com a venda do direito de exploração de blocos de petróleo serárepassado para a educação em 50%. O projeto aprovado pela Câmara tornou obrigatória destinar 50% do capital que forma esse fundo, e não apenas o rendimento.
O problema, na avaliação do governo, é que o fundo só passaria a ser formado a partir de licitações futuras de blocos petrolíferos. O que vai à contramão do modelo criado por Figueiredo na Câmara é que a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) exige que esses recursos entrem nos 10% para educação até 2019. “Queremos honrar os 10% do PIB e dar a fonte de financiamento”, afirma Braga. “Mas se usar os 50% do fundo, estamos inviabilizando ele financeiramente até 2019”, diz.
O imbróglio poderia ser resolvido se o governo mantiver a inclusão dos contratos vigentes ainda não explorados na conta dos royalties para educação e saúde, mas o Planalto teme que manter esse item na lei criaria espaço para disputas jurídicas futuras.
A votação do projeto de destinação dos recursos dos royalties ainda não tem data certa na pauta no Senado, que pretende aprofundar a discussão enquanto o Planalto elabora argumentos jurídicos para sustentar mudanças no documento recebido da Câmara. Entre as alternativas em debate está a apresentação ou não de um substitutivo global que faria o texto voltar para a Câmara

A HISTÓRIA MUDOU


Vitórias e ‘efeito contágio’ multiplicam pequenos protestos pelo país

Após as gigantescas manifestações que tiveram início com a luta pela redução das tarifas do transporte público, mas que incorporaram outras pautas e tomaram diversas cidades do país nos últimos dias, um novo fenômeno passou a ficar mais evidente no cenário brasileiro: protestos e passeatas com um menor número de pessoas e reivindicações mais específicas começaram a brotar no centro e nas periferias das grandes metrópoles ou em municípios do interior.
No Rio de Janeiro, cerca de 1 mil moradores das comunidades da Rocinha e do Vidigal marcharam até a residência do governador Sérgio Cabral na última terça-feira para mostrar insatisfação com as obras do PAC 2 - que preveem a construção de um teleférico na Rocinha. Eles pediram melhor saneamento e educação nas comunidades.
Em São Paulo, na última quarta-feira, dois protestos tomaram a avenida Paulista: um, com cerca de 300 pessoas, contra o deputado federal Marco Feliciano e o projeto de "cura gay" aprovado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara e outro, com cerca de 100 manifestantes, contra a proposta que prevê a atuação de médicos estrangeiros no Brasil.
Além disso, nos últimos dias, foram registrados em diversos locais protestos de movimentos de moradia, contra a violência policial e contra o projeto de lei no Ato Médico, que regulamenta a atuação de profissionais da saúde. Em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, manifestantes ocuparam a Câmara dos Vereadores em protesto contra supostas irregularidades na CPI que investiga o incêndio que matou 242 pessoas na boate Kiss, em janeiro.

Contágio

"De fato, nós temos observado que está havendo uma descentralização das manifestações e, ao mesmo tempo, uma fragmentação. Aquelas manifestações iniciais, que congregavam muitas reivindicações, começam a se fragmentar em diferentes manifestações por diferentes causas", afirma o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, diretor do IUPERJ, da Universidade Cândido Mendes.
Na avaliação de Monteiro, além de uma fragmentação, os protestos passaram a incorporar também manifestantes de classes populares, que eram minoria nas grandes marchas, até então majoritariamente de classe média.
Para o cientista político, essa proliferação de manifestações com pautas mais específicas pode ser explicada pelo que chama de "efeito de contágio", que faz com que alguns setores acabem por se 'inspirar' nos protestos e decidam sair às ruas para reivindicar suas próprias demandas.
"Temos visto Brasil afora também comunidades menores, mais pobres, fechando estradas... então isso pode ser aquilo que os analistas de movimentos sociais chamam de efeito de contágio. Esse efeito de contágio é você ver o outro movimento fazendo uma manifestação e fazer também. Isso é já uma evolução desse movimento (de protestos)", diz.

Governo

Dilma Rousseff / AP
Em pronunciamento na TV, presidente Dilma Rousseff anunciou 'cinco pactos' para melhorias
Com a força das manifestações, os executivos, legislativos e a Justiça de diversas esferas da federação passaram a fazer concessões aos manifestantes.
Prefeituras e governos estaduais baixaram tarifas de transporte público, o Congresso aprovou em tempo recorde medidas que estavam nas pautas dos protestos e a presidente Dilma Rousseff anunciou uma séria de cinco "pactos" que preveem melhorias nas áreas de educação, saúde, responsabilidade fiscal e até uma reforma política.
Mas, no lugar de acalmar os ânimos dos manifestantes, as concessões alcançadas após as marchas podem acabar por estimular novos protestos.
"De alguma maneira, essa movimentação meio atabalhoada da classe política está fazendo com que as pessoas se sintam estimuladas a ir para a rua mesmo (...). As pessoas vão pensar: 'é assim que funciona, nós vamos para rua, reclamamos e os políticos fazem'", diz Monteiro.

Rocinha

Um dos organizadores do protesto na Rocinha, o estudante de Design Denis Neves, de 27 anos, participou de algumas das manifestações no centro do Rio que culminaram com a redução nos preços das tarifas e avaliou que este poderia ser um bom momento para levar a reivindicações de sua comunidade para as ruas.
Ele conta que o fato de os governos dos mais diversos níveis terem feitos concessões aos manifestantes estimulou ainda mais os moradores a realizarem o ato que questionou a construção de um teleférico na comunidade e pedia saneamento básico e creches para os moradores.
"Tivemos essa ideia de trazer para a Rocinha as manifestações que estavam acontecendo no Brasil (...) Porque finalmente o povo está sendo ouvido. A gente vê que, com os manifestos, tanto no campo da Presidência, quanto no governo e no município, todo mundo está fazendo por onde (para atender as demandas). Até o (presidente do Senado) Renan Calheiros está a favor da tarifa zero, então você vê que realmente funciona, que está tendo retorno", diz.
Após que a marcha que seguiu até o Leblon, os manifestantes tiveram uma pequena vitória. Segundo Neves, eles foram convidados para uma reunião com o governador Sérgio Cabral nesta sexta-feira e agora trabalham para detalhar uma pauta de reivindicações.

Divisões

"Temos visto Brasil afora também comunidades menores, mais pobres, fechando estradas...isso pode ser aquilo que os analistas chamam de efeito de contágio. "
Geraldo Tadeu Monteiro, diretor do IUPERJ
Pedro Fassoni Arruda, professor do Departamento de Política da PUC-SP, avalia que a presença de diversas pautas nos protestos acabou por criar divisões entre os manifestantes, o que contribuiu para que, após a redução nos preços das tarifas, o movimento se dividisse, com cada um dos setores organizando atos com reivindicações específicas.
"Chegou um momento em que houve conflitos entre os próprios manifestantes, não entre eles e a polícia. Isso é sintomático do quanto (o movimento) diversificou, incorporando setores desde a esquerda até a extrema direita no espectro político. Então (quando) aqueles protestos atingiram o objetivo, cada um agora está tentando colocar uma reivindicação de acordo com seus interesses: a PEC 37, o 'Fora Feliciano', isso ou aquilo", diz.
Arruda concorda que as concessões do governo podem acabar por estimular novos protestos, mas avalia que isto não quer dizer que essas demandas serão atendidas.
"Até agora, o que a gente viu de concreto foi apenas a revogação do aumento e a não aprovação da PEC 37, mas muitas outras questões ainda precisam ser discutidas. Por exemplo, as manifestações exigindo a saída do Marco Feliciano da Comissão de Direitos Humanos não surtiram nenhum efeito, ele continua lá firme e forte", diz.
"O curioso é que a população se divide, alguns podem reivindicar alguma coisa nas ruas e outro grupo convocar uma manifestação exigindo exatamente o contrário. Então, depende muito da correlação de forças, qual o grupo que tem realmente maior poder de influenciar as decisões do governo".

Mobilização

Um dos fundadores do Fórum de Lutas contra o Aumento da Passagem, grupo que vinha organizando os protestos no Rio, o estudante Raphael Godoi, de 16 anos, concorda que a redução nas tarifas "animou" vários pessoas, que vêm comparecendo em peso em reuniões do movimento ou convocando atos com outras pautas.
O movimento fundado por Godoi realizou uma manifestação na tarde da quinta-feira no centro do Rio que mobilizou cerca de 2 mil pessoas.
"A cada plenária (vêm) gente nova. Acho que a galera está animada, (mas também) está tudo mundo puxando eventos para seus próprios objetivos"
Raphael Godoi, fundador do movimento Fórum de Lutas contra o Aumento da Passagem
"A cada plenária (vem) gente nova. Acho que a galera está animada, (mas também) está tudo mundo puxando eventos para seus próprios objetivos. Isso ocorreu simultaneamente com diversas pessoas e a gente vê essa divisão: tem um monte de eventos, em vários lugares e um monte de causas diferentes que não estão mais levando o mesmo número de pessoas", diz.
Embora reconheça que as próximas manifestações possam atrair um número menor de pessoas, ele avalia que o movimento – que, entre outras pautas, continuará protestando por tarifa zero e contra a privatização do Maracanã e a remoção de famílias pelas obras da Copa e Olimpíada – não perderá força.
"Eu acho que vamos continuar com o movimento forte sim. Vai cair um pouco o número de pessoas, mas vai ficar forte, até mesmo porque quem vai continuar, vai continuar realmente com uma visão política e sabendo o que quer", diz.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Blogueiros revelam várias caras e causas de protestos

Os protestos que tomaram as ruas de centenas de cidades brasileiras tiveram como estopim o aumento de tarifas do transporte público.
Mas aos poucos as bandeiras e cartazes foram mudando, exibindo causas mais urgentes e próximas aos manifestantes e trazendo à tona um vasto e variado leque de reivindicações locais.
No Rio de Janeiro, moradores de favelas protestaram contra as remoções forçadas provocadas por obras da Copa do Mundo ou contra supostos abusos cometidos por policiais durante a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Na periferia de São Paulo, movimentos locais estiveram à frente de diferentes protestos, levando pautas diferentes, como a demanda por mais espaços culturais.
Em Belo Horizonte e em suas imediações, onde as passagens chegam a preços considerados extremos, moradores do centro e da periferia protestaram não apenas por melhorias no sistema de transporte, mas também por melhores serviços de educação e saúde.
A condenação da brutalidade policial também se tornou bandeira de vários protestos, principalmente após as notícias de disparos de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes em protestos pacíficos.
Confira a seguir uma série de relatos oferecidos pelos blogueiros do coletivo ''Palanque BBC'', projeto da BBC Brasil organizado pelo jornalista Bruno Garcez, que reúne jornalistas de diferentes cidades brasileiras.
O objetivo é abordar os problemas que afetam esses municípios, noticiando temas que muitas vezes escapam ao radar da grande mídia.

Moradores das favelas cariocas estiveram presentes nas manifestações desde o começo. A jornalista Thamyra Thâmara, da favela do Complexo do Alemão e integrante do coletivo OcupaALEMÃO, conta que no início dos protestos muitos moradores das comunidades não estavam levantando bandeiras específicas.
''No primeiro momento, estávamos lá mais como observadores. Documentando e buscando entender como aquilo tudo se relacionava com a gente diretamente, talvez buscando identificação com o movimento'', explica.
Diferentes coletivos de favelas estavam presentes nas manifestações. Alguns com o intuito de documentar o movimento em fotos e vídeos.
Foi o caso dos fotógrafos populares do projeto Imagens do Povo, da escola de fotografia da Favela da Maré, e do Fórum de Juventude do Rio de Janeiro, formado por jovens de diferentes comunidades.
Por meio das redes sociais, em especial pelo Facebook, vídeos feitos por comunicadores populares eram difundidos na internet, trazendo outros olhares sobre os protestos e as demandas de quem também é afetado diretamente com as mudanças na cidade - demandas que muitas vezes não são noticiadas.
Foto - João Lima
Protesto no Complexo do Alemão (Foto: João Lima)

No ato do dia 20, nas favelas do Complexo do Alemão e de Manguinhos, moradores se organizaram e fretaram dois ônibus para irem ao Centro.
A juventude das favelas sentiu a necessidade de ter uma participação mais ativa no movimento. E levou muita gente, exibindo reivindicações das comunidades cariocas: "Não às remoções"; "Contra o genocídio da juventude negra"; "UPPs e seus abusos"; "Contra a resolução 013", em menção à medida que impede a realização de eventos culturais, esportivos e sociais sem a autorização prévia das autoridades locais - no caso das favelas pacificadas, do comandante da UPP.
Thamyra resume o espírito da juventude: ''Estamos numa disputa de cidade e de discurso. Se a gente não aproveitar o 'bonde' e entrar agora, vamos entrar quando? Até quando a juventude de favela vai estar fora do debate da cidade, da cidadania, dos direitos?"
"Para mim, a manifestação em si não é o mais importante. O importante é o que vem daí. O que faremos a partir daí?'', indaga a jornalista.
* Raika Julie e Silvana Bahia são integrantes do projetoClique Observatório de Favelas, uma organização que faz pesquisas, consultorias e ações públicas sobre as favelas e fenômenos urbanos.

Plebiscito tem apoio majoritário na base aliada do governo, diz ministro

Já a oposição, divulgou nota oficial pedindo a realização de um referendo

A presidente Dilma Rousseff se reuniu, nesta quinta-feira (27), no Palácio do Planalto, com os presidentes dos partidos da base aliada para receber sugestões sobre a reforma política. Segundo os ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, a proposta de Dilma de realizar um plebiscito foi apoiada durante o encontro, que durou quase três horas.
“A interpretação amplamente majoritária na reunião é que o plebiscito é um instrumento muito importante de partição popular na reforma política. Permitirá debater e o povo decidir os pilares da reforma. Foram citados dois aspectos essenciais, o financiamento de campanha e o sistema eleitoral. Duas diretrizes que são essenciais. Então, a presidenta deverá encaminhar sua mensagem. Ela vai continuar ouvindo as lideranças do Congresso”, afirmou Mercadante.
O ministro da Justiça enfatizou que tanto a necessidade de reforma política quanto a realização  do plebiscito são pontos de consenso. Ele afirmou que há uma posição majoritária na linha de que o plebiscito seria a melhor alternativa, porque permite que a população possa debater as teses e estabelecer as diretrizes indispensáveis que vão compor o novo sistema político brasileiro.
“Houve uma posição majoritária na linha de que o plebiscito seria a melhor alternativa, embora existam outras maneiras. Porque o plebiscito permite que a população, já de imediato, debata as teses e fixe as diretrizes necessárias e indispensáveis para a construção dos textos que vão compor o novo sistema político brasileiro. A participação do povo não se limitará a um ‘sim’, um ‘não’”, disse Cardozo.
>> Congresso dará palavra final sobre reforma política, diz Mercadante
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que preside o PSB, lembrou que a sociedade foi às ruas para melhorar a nossa democracia e a representatividade. Segundo ele, é necessário dar curso dentro da institucionalidade às demandas da população, como estão fazendo a presidenta Dilma Rousseff e os presidentes dos outros poderes.
“O instrumento do plebiscito, que cabe ao Congresso organizar esse debate. E lá as visões serão apresentadas, mas acho que valoriza efetivamente o que há de mais importante nas ruas do Brasil, que é um enorme desejo de participar. (…) A disposição dos partidos da base é de ajudar a presidenta Dilma a dar sequência ao esforço que tem feito, de ouvir e dar consequência aos reclamos da rua no Brasil, e que a gente possa fazer com que toda essa energia faça bem ao Brasil. Esse é o objetivo”, afirmou Campos.
Além de Eduardo Campos, participaram da reunião Carlos Lupi (PDT), Valdir Raupp (PMDB), Ciro Nogueira (PP), Rui Falcão (PT), Gilberto Kassab (PSD), Alfredo Nascimento (PR), Renato Rabelo (PCdoB), Benito Gama (PTB) e Marco Antonio Pereira (PRB).
Presidentes dos partidos de oposição querem um referendo
Já os presidentes dos partidos de oposição declararam nesta quinta-feira apoio à consulta popular para a realização de uma reforma política. Em nota assinada pelos senadores Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, José Agripino (RN), presidente do Democratas, e pelo deputado federal Roberto Freire (SP), presidente do PPS, eles alegam que o plebiscito proposto por Dilma não é a melhor maneira de promover a reforma política e defendem a realização de um referendo.
"A iniciativa do plebiscito, tal como colocada hoje, é mera manobra diversionista, destinada a encobrir a capacidade do governo de responder às cobranças dos brasileiros, criando subterfúgio para deslocar a discussão dos problemas reais do País", afirmaram os presidentes dos três partidos.

Camundongo é clonado a partir de gota de sangue

Em um experimento inédito, cientistas japoneses clonaram um camondongo a partir de uma única gota de sangue.
As células que deram origem ao clone foram retiradas da cauda do doador, explicou a equipe do Riken BioResource Center, na revista científica americana Biology of Reproduction.
Segundo os cientistas, o camundongo clonado, uma fêmea, tem expectativa de vida normal e chances de reproduzir.
Pesquisadores de um instituto associado já tinham criado aproximadamente 600 cópias genéticas de um único camundongo.
Camundongos já foram clonados de diferentes tipos de células dos doadores, incluindo leucócitos retirados de linfonodos, medula óssea e fígado.
O grupo de cientistas japoneses investigou se as células de sangue circulatório poderiam ser usadas para a clonagem.
O objetivo era identificar uma fonte facilmente disponível de células para clonar valiosas cepas de ratos de laboratório.
A equipe, liderada pelo cientista japonês Atsuo Ogura, da Riken BioResource Center em Tsukuba, na região central do Japão, tirou sangue da cauda do camundongo doador, isolou as células brancas (leucócitos) e usou o núcleo para experimentos de clonagem, usando a mesma técnica que produziu a pioneira ovelha Dolly em Edimburgo, na Escócia.
O processo, conhecido como "transferência nuclear de células somáticas", envolve a transferência de núcleos de uma célula do corpo de um adulto – do sangue ou da pele – para um ovo não fertilizado cujo núcleo é previamente removido.
Ao escrever sobre suas descobertas na revista científica Biology of Reproduction, os cientistas afirmaram que o estudo "demonstrou pela primeira vez que camundongos podem ser clonados usando o núcleo das células de sangue periférico".

Cepas valiosas

Os pesquisadores acrescentaram que "essas células poderiam ser usadas para a clonagem imediatamente após a coleta".
"Essa técnica poderia ser aplicada para gerar cópias genéticas de cepas valiosas de camundongos que não podem ser preservadas por outras técnicas de reprodução assistida tal como fertilização in vitro ou injeção intracitoplasmática de espermatozoides."
Há anos os cientistas do Japão dedicam-se à clonagem de camundongos.
Uma equipe de um instituto associado ao Riken BioResource Center revelou recentemente que conseguiu produzir cerca de 600 camundongos a partir de uma única doação depois de 25 tentativas consecutivas de clonagem.
A pesquisa tem por objetivo produzir animais de alta qualidade em larga escala para fins de produção e conservação, acrescentam.

Turquia quer controle sobre Twitter após protestos

O governo turco pediu que o Twitter abra um escritório no país para que os representantes do site de redes sociais possam ser contactados mais facilmente.
Tanto o Twitter como o Facebook foram usados para disseminar informações durante os protestos antigoverno.
De acordo com a mídia local, dezenas de pessoas que usaram o Twitter foram presas na Turquia acusadas de "incitar" as manifestações.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, já havia dito que o site é "um flagelo".
Nesta quinta, o ministro do Transporte e da Comunicação, Binali Yildrim, afirmou que "quando a informação for pedida, queremos ver alguém na Turquia que possa fornecê-la".
"É preciso haver um interlocutor para quem possamos expressar fazer nossas queixas e que possa corrigir o erro, caso haja um."
O Twitter se recusou a responder ao pedido do governo na quarta-feira passada, mas uma fonte próxima à empresa disse que não há planos de abrir um escritório no país.

Sem pedidos

Nem o Twitter nem o Facebook possuem escritórios na Turquia; o Facebook lida com assuntos referentes à Turquia através de seu escritório em Londres.
Ambos os sites são populares no país e foram amplamente utilizados por cidadãos procurando informações sobre os protestos em um momento em que a mídia turca fez pouca ou nenhuma cobertura dos eventos.
Yildrim sugeriu na quarta-feira que tinha obtido "melhor cooperação" do Facebook, mas a empresa se apressou em esclarecer afirmar que não recebeu nenhum pedido do governo turco para fornecer dados de usuários após os protestos.
A administração do site fechou algumas páginas relacionadas ao ativismo na Turquia, mas somente porque elas teriam "perfis falsos", segundo a empresa.
"De um modo geral, nós rejeitamos todos os pedidos de dados por parte de autoridades turcas e os encaminhamos para os canais legais, a não ser que haja uma ameaça imediata a uma vida ou a uma criança", diz a nota.
Sites de redes sociais e outras empresas de tecnologia tentam manter a confiança do público, após as denúncias de que a Agência Nacional de Segurança americana (NSA, na sigla em inglês) teria acesso direto a grandes quantidades de dados em servidores de nove grandes empresas de internet ─ incluindo Google, Microsoft, Facebook, Yahoo, Skype e Apple.

De onde vem dinheiro da Copa?

Os protestos das últimas semanas abriram um amplo debate sobre os custos e impactos econômicos da realização da Copa do Mundo no Brasil.
Alguns manifestantes chegam a defender um boicote ao evento em protesto contra o que consideram um desperdício de recursos públicos. Para eles, as entidades governamentais deveriam estar investindo em educação e hospitais os bilhões usados para construir estádios e outras obras ligadas ao evento.
O ex-jogador e deputado Romário engrossou o coro em um vídeo que se tornou viral na internet, no qual ataca a Fifa e alega que a Copa brasileira custará cerca de três vezes mais do que as anteriores - número contestado pelo Comitê Gestor da Copa do Mundo de 2014, o CGCopa.
"A África do Sul teve um gasto de R$ 7,7 bilhões de reais, o Japão de R$ 10,1 bilhões, a Alemanha de R$ 10,7 bilhões e o Brasil já está em R$ 28 e alguma coisa (bilhões). Ou seja, desculpe a expressão, mas que sacanagem. É sacanagem com o dinheiro do povo. Falta de respeito e escrúpulos", disse o deputado.
As autoridades envolvidas na organização da Copa se defendem alegando que muitos desses bilhões na realidade serão gastos em obras de infraestrutura e mobilidade urbana que precisavam ser realizadas com ou sem o torneio.
A presidente Dilma Rousseff também garantiu, em discurso em rede nacional, que nem um centavo do orçamento foi usado em estádios. Mas isso não quer dizer que não tenham sido usados recursos públicos em tais obras.
O BNDES financiou boa parte dos estádios com linhas de crédito a juros subsidiados – e, em muitos casos, os empréstimos foram tomados por governos estaduais, que terão de pagar o banco também com dinheiro público.
Além disso, os estádios contam com isenções fiscais dentro do programa Recopa.
Em meio a uma guerra de acusações e números, a BBC entrevistou autoridades e especialistas para tentar desatar os nós dessas polêmicas, explicando, afinal, quem paga pelas obras da Copa, em que condições - e com quais recursos:

1) Quanto custará a Copa no Brasil?

A previsão atual do comitê organizador é que sejam investidos em obras relacionadas a Copa um total de R$ 28,1 bilhões.
Aí estão incluídos 327 projetos que vão desde obras de infraestrutura básica, como aeroportos e corredores exclusivos para ônibus, até gastos diretamente ligados ao torneio de futebol.
Apesar dos torcedores quererem a Copa no Brasil, muitos questionam o valor gasto pelo governo
Do total, R$ 7,5 bilhões serão gastos em estádios; R$ 8,9 bilhões em obras de mobilidade urbana; R$ 8,4 bilhões em aeroportos e R$ 1,9 bilhão em segurança. O restante será investido em desenvolvimento turístico, portos e telecomunicações.
Tais obras fazem parte do que o governo chamou de "Matriz de Responsabilidade" da Copa e podem ser conferidas no Portal Transparência, mantido pela Controladoria Geral da União (CGU), embora alguns dados estejam desatualizados.

2) Foi a Copa mais cara da história?

Protesto (Foto Reuters)
Para alguns manifestantes, obras da Copa desperdiçam recursos públicos
A comparação entre países é complicada por uma série de razões, como explicou para a BBC Brasil Holger Preuss, Professor de Economia do Esporte na Universidade Johannes Gutenberg-University, na Alemanha, que estudou o impacto econômico das duas últimas Copas.
Para começar, nem sempre os governos realizadores dos eventos disponibilizam seus gastos. "E mesmo que o façam, a prestação de contas não é padronizada, o que dificulta a comparação", diz Preuss.
Recentemente, a Rússia anunciou que seus gastos para o evento de 2018 devem ficar em mais de R$ 35 bilhões, por exemplo – e no caso russo, a lista de projetos também inclui obras de infraestrutura básica e mobilidade urbana.
Segundo a assessoria de imprensa do deputado Romário, os dados citados pelo jogador no vídeo mencionado acima constavam em um editorial de jornal.
"É preciso ver quais obras foram incluídas nos gastos de outros países. No caso do Brasil, o valor ficou alto porque incluímos essas obras de infraestrutura e mobilidade urbana que iriam ser feitas com ou sem Copa e ficarão como um legado para a população", diz Luís Fernandes, secretário-executivo do ministério dos Esportes e integrante do CGCopa.
"De fato, é preciso muito cuidado para evitar uma comparação entre maçãs e bananas", concorda o economista Pedro Trengrouse, da FGV. "Muitas dessas obras só foram catalisadas pela Copa. Não há dúvida de que precisávamos de mais aeroportos, por exemplo. Só o aeroporto de Atlanta, nos EUA, tem mais fingers (passarelas móveis usadas para o embarque de passageiros) do que todos os aeroportos do Brasil juntos".
É claro que isso não quer dizer que os custos de algumas obras específicas não possam ser contestados – nem que não haja exageros de gastos, irregularidades ou superfaturamento em algumas, ou muitas, delas.
Muitos especialistas contestam, por exemplo, a construção de estádios imensos em lugares que parecem não ter público ou clubes suficientes para manter a ocupação de tais estruturas após o evento. Entre eles estariam o estádio construído em Brasília, que tem capacidade para 71 mil pessoas e custou mais de R$ bilhão. E o de Manaus, que abrigará 44 mil torcedores e custou R$ 583 milhões (segundo o Portal Transparência).
As empresas e Estados envolvidos nos projetos alegam que a adequação das obras ao padrão Fifa ajuda a encarecê-las. Mas organizações da sociedade civil exigem mais explicações e transparência sobre essas escolhas.
Segundo o conselheiro Fabiano Silveira, do Conselho Nacional do Ministério Público, uma das questões que o MP está investigando com atenção são os custos de estruturas temporárias – as barracas que ficam em volta dos estádios para abrigar centros de credenciamento, receber pessoal da Fifa e etc. Em alguns Estados, os custos de tais estruturas chegariam a dezenas de milhares de reais, o que parece um exagero na avaliação do conselheiro.
"Também não há como negar que questões como corrupção e ineficiência podem encarecer alguns projetos", diz Preuss, para quem o problema não é gastar muito, mas como garantir, que, em cada caso, os recursos estejam sendo usados da maneira mais eficiente possível.

3) Quem paga pelas obras da Copa?

Cerca de um terço do valor das obras (R$ 8,7 bilhões) está sendo financiado por bancos federais – Caixa Econômica Federal, BNDES e BNB (Banco do Nordeste do Brasil).
A Copa do Mundo tem sido alvo de manifestações de protesto.
Boa parte desses empréstimos é tomada pelos próprios governos estaduais, sozinhos ou em parcerias com o setor privado (PPPs), embora alguns empréstimos também sejam contraídos por entes privados (como os R$ 400 liberados pelo BNDES para o Corinthians construir o Itaquerão).
Além disso, as obras da Matriz de Responsabilidade da Copa também consumirão R$ 6,5 bilhões do orçamento federal e R$ 7,3 bilhões de governos locais (estaduais e municipais). Dos R$ 28,1 bilhões, apenas R$ 5,6 bilhões serão recursos privados (que se concentram principalmente nos aeroportos).

4) E pelos estádios?

Os bancos federais financiaram cerca de metade dos R$ 7,5 milhões gastos em arenas para a Copa. Apenas R$ 820 mil foram financiados com recursos privados (segundo valores da CGU, que diferem um pouco de um levantamento do Tribunal de Contas da União). O restante dos recursos foi aportado por governos locais, principalmente estaduais. Na Alemanha, Preuss conta que os recursos públicos financiaram apenas um terço dos 1,5 bilhão de euros gastos em estádios.
Segundo o secretário federal de Controle Interno da Controladoria-Geral da União, Valdir Agapito, dos 12 estádios, 4 são públicos e foram, ou estão sendo construídos ou reformados pelos governos estaduais (Brasília, Manaus, Rio de Janeiro e Cuiabá – apesar de o Maracanã, no Rio, estar prestes a ser entregue para exploração pelo setor privado), 5 estão a encargo de esquemas de Parcerias Publico Privadas, ou PPPs, (Salvador, Natal, Fortaleza, Recife e Belo Horizonte) e 3 são privados (Curitiba, Porto Alegre e São Paulo).

4) Como os governos pretendem recuperar esse dinheiro?

No caso das PPPs, os estádios serão entregues para exploração pelo setor privado, e o retorno que obtiverem com jogos e uso dessas estruturas em shows e grandes eventos seria usado para ajudar a pagar os empréstimos aos bancos federais.
No caso do Rio, um consórcio formado pela empreiteira Odebrecht, a empresa IMX, do empresário Eike Batista, e a companhia de origem americana AEG venceu em maio a licitação que determinaria o responsável pela administração do estádio do Maracanã pelas próximas três décadas. As condições da concessão e a licitação, porém, abriram uma série de polêmicas.
Os três estádios públicos serão administrados pelos próprios Estados. Ainda há dúvidas sobre a rentabilidade de algumas arenas em capitais menos populosas no longo prazo. O medo é que elas se tornem "elefantes brancos". A rentabilidade das concessões ao setor privado para os Estados também é contestada por alguns movimentos da sociedade civil.

5) Como a Fifa lucra com o evento?

A Fifa lucra com os contratos de transmissão dos jogos, de marketing e com os patrocinadores. Ela tem seis patrocinadores fixos (Adidas, Coca-Cola, Emirates, Hyundai, Sony e Visa) e contratos exclusivos para a Copa (no caso do Brasil, já são 14).
Além disso, a entidade não precisa pagar impostos no Brasil - privilégio também garantido em outros Mundiais.
Muitos acreditam que a Fifa não transfere ao país sede os benefícios financeiros gerados pelo torneio.
"A Fifa faz uma festa privada e se você quiser que essa festa seja na sua casa, precisa aceitar as condições da entidade", diz Preuss. "A verdade é que ela não está comprometida com o desenvolvimento econômico dos países que sediam as Copas. A princípio é uma entidade sem fins lucrativos, mas cujo compromisso é com a promoção do esporte – e particularmente do futebol - no mundo."
Segundo Silveira, do Conselho Nacional do Ministério Público, a Fifa também mantém convênios com hotéis dos quais cobraria uma porcentagem sobre a hospedagem – em um esquema cujos efeitos sobre os preços estariam sendo analisados pelo MP.

6) Quanto foi comprometido em isenção fiscal?

Aprovado em 2010, o Regime Especial de Tributação para Construção e Reforma de Estádios da Copa, programa conhecido como Recopa, garante a desoneração de impostos como IPI, PIS/ Pasep e Cofins, além de tarifas de importação, na aquisição de equipamentos e contratação de serviços para a construção de estádios do mundial.
Agapito, da Controladoria Geral da União, diz não ter tido acesso ao dado de quanto foi desonerado. Segundo Luís Fernandes, do CGCopa, o levantamento ainda está sendo feito. De acordo com uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União), porém, as isenções de impostos federais concedidas às construtoras responsáveis pelos estádios da Copa somariam R$ 329 milhões.
No caso das isenções para a Fifa, estima-se que o total desonerado ficaria em torno de R$1 bilhão.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Que lições os partidos brasileiros podem tirar dos protestos?

A descrença nos partidos, traço comum nos protestos que se espalharam pelo país nas últimas semanas, expõe os problemas do atual modelo político brasileiro, mas também pode servir de estímulo para que surjam novas formas de representatividade, na avaliação de especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
Segundo sociólogos e cientistas políticos, as legendas continuarão a ser a base do sistema democrático brasileiro, mas agora têm também uma oportunidade de se renovar e reorientar suas agendas para fazer frente aos novos anseios da população.
Os pesquisadores avaliam que as manifestações podem abrir caminho para mudanças no sistema político, com o surgimento de mecanismos que permitam, por exemplo, as candidaturas avulsas - sem filiação partidária, os chamados candidatos 'independentes' - assim como a convocação de plebiscitos e o fortalecimento de entidades civis nas diferentes instâncias do poder público.
Em meio à recente onda de protestos no Brasil, a insatisfação com os partidos políticos têm sido recorrente nas redes sociais. Em São Paulo, integrantes de partidos políticos presentes em uma das manifestações chegaram a ser vítimas de agressões verbais e físicas. Muitos acabaram expulsos do protesto e tiveram material de campanha rasgado e até queimado.
"Pelas manifestações, ficou claro que a sociedade quer maior diálogo com seus representantes, e não a extinção dos partidos políticos", diz à BBC Brasil o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio.
"O movimento é apartidário, mas não antipartidário. Há uma necessidade urgente de que os partidos interajam mais com a sociedade, reorientando e renovando suas agendas e práticas", acrescentou.

Cidadania

Ismael lembra que as legendas são apenas "parte integrante" do regime democrático, que não prescinde da "cidadania ativa" para funcionar.
"A pressão da sociedade também faz parte do sistema político", afirma o acadêmico. "Cabe a ela cobrar maior empenho de seus representantes. Democracia não se faz apenas com partidos."
O sociólogo Aldo Fornazieri, diretor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), concorda. Para ele, no entanto, há uma "crise de representação partidária", resultado de um distanciamento crônico e histórico entre a sociedade e seus representantes.
"O poder está completamente distante da sociedade", avalia Fornazieri. "É preciso urgentemente uma reforma política que preveja uma maior participação popular na república."
Ele acrescenta que, nesse contexto, poderiam surgir novas formas de representação política, como a eleição de candidatos independentes, sem filiação partidária, por exemplo. "Eu simpatizo muito com essa ideia, pois os partidos, por si só, não conseguem refletir os interesses de todos os setores da sociedade."
Para o cientista político Paulo Baía, da UFRJ, os protestos mostraram o ocaso do "antigo modelo de poder e de política dos partidos".
"Isso não significa, entretanto, que essa legendas vão deixar de existir", observa. "Pelo contrário, elas vão ter de se abrir e se oxigenar caso queiram sobreviver nos tempos atuais."
"As cenas que vimos contra integrantes de partidos políticos em manifestações não era essencialmente antipartidária", avalia Baía. "Era contra a tentativa de os partidos se aproveitarem politicamente de um movimento como sempre fizeram ao longo da história desse país."

Temor

Comportamento político


O distanciamento dos partidos políticos das massas e da classe que representam foi objeto de análise do economista e sociólogo alemão Robert Michels (1876-1936).

Em sua obra mais importante, Zur Soziologie des Parteiwesens in der modernen Demokratie (Para uma sociologia dos partidos políticos na democracia moderna), de 1911, Michels criou um conceito que chamou de "lei de ferro da oligarquia", segundo a qual os partidos políticos, assim como outras organizações, tendem à oligarquia, ao autoritarismo e a burocracia. Segundo ele, quanto mais cresce e se burocratiza uma organização, maior grau de poder se concentra nas mãos de um pequeno grupo, que, por sua vez, se eleva à posição da classe dirigente.

Para Michels, como resultado desse processo, a organização deixa de ser um meio para tornar-se um fim em si mesmo, afastando-se dos membros inscritos e também da classe que deveria representar. "Quem diz organização, diz oligarquia", afirmava o autor.
Já o cientista político Milton Lahuerta, professor de teoria política e coordenador do laboratório de política e governo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara, vê com preocupação o que chama de "desqualificação dos partidos" em meio à onda de indignação que varre o país.
"Há um sentimento generalizado nas ruas de indignação que passa a desqualificar partidos, o que abre o precedente para a ascensão de líderes carismáticos", afirma. "A democracia não se beneficia da ruptura da sociedade com suas instituições políticas."
Segundo Lahuerta, há um "domínio da lógica econômica sobre a lógica política" que, acentuado durante a globalização, "ampliou o distanciamento entre a sociedade e seus representantes".
"O tempo da política é lento, enquanto o da economia é acelerado, especialmente com a interação dos mercados", analisa. "Isso cria problemas, pois o processo político, que exige reflexão, não acompanha o ritmo das demandas da população."
"Precisamos, na prática, de uma participação política mais qualificada, uma vez que nossos políticos participam pouco da decisão de questões fundamentais que impactam a sociedade como um todo", acrescenta.
Lahuerta cita como exemplo dessa "desqualificação da política" as divergências partidárias que impedem a aprovação de projetos importantes para o país.
"Em vez de buscar soluções conjuntas, representantes de partidos opostos preferem trocar acusações sobre a origem dos problemas. Isso enfraquece o ideal da república, pois é um pensamento puramente eleitoreiro", conclui o cientista político.