terça-feira, 31 de julho de 2012

Com a eliminação de Leandro Guilheiro nesta terça-feira – uma das maiores esperanças de medalha do judô brasileiro em Londres 2012 – o Brasil terá mais seis oportunidades de subir no pódio no principal esporte olímpico do país.
Entre os seis atletas que ainda subirão ao tatame, três são considerados favoritos nas suas categorias: Tiago Camilo, Mayra Aguiar e Rafael Silva.
Depois do ouro de Sarah Menezes e o bronze de Felipe Kitadai, o judô brasileiro se tornou o esporte brasileiro mais premiado em olimpíadas, com 17 medalhas – uma a mais do que a vela. Mas desde o fim de semana, seis brasileiros foram eliminados sem subir ao pódio.

Guilheiro sereno

Nesta terça-feira, Leandro Guilheiro foi mais um favorito a deixar Londres sem medalha. O brasileiro que é número 1 no ranking da categoria meio-médio (81kg) e levou bronze nas últimas duas olimpíadas começou bem o dia com vitórias sobre o letão Konstantins Ovchinnikovs e o marroquino Safouane Attaf.
No entanto, ele foi derrotado nas quartas-de-final pelo americano Travis Stevens, após tomar um wazari aos 2m43s. Na primeira luta da repescagem, ele tomou duas punições contra o japonês Takahiro Nakai, e acabou perdendo por apenas um yuko.
Ao final da luta, Guilheiro disse que – apesar de ser a primeira Olimpíada na qual não conquistou medalha – foi a que ele se sentiu melhor preparado. Calmo, o brasileiro afirmou que perdeu porque seus adversários souberam neutralizar sua principal característica, que é saber como agarrar no quimono do rival no ponto certo.
Também nesta terça, a brasileira Mariana Silva foi eliminada em sua primeira luta ao tomar um wazari da chinesa Lili Xu, que acabou ficando com a prata no torneio.

Perspectivas

Apesar das derrotas, o Brasil segue em terceiro lugar no quadro de medalhas do judô em Londres 2012, atrás apenas da Rússia e do Japão. A Confederação Brasileira de Judô (CBJ) tem como meta conquistar mais duas medalhas entre as seis que serão disputadas por brasileiros até sexta-feira, último dia do judô em Londres 2012.
Confira abaixo as perspectivas do judô brasileiro nos próximos dias.

Quarta-feira: Tiago Camilo e Maria Portela

Tiago Camilo é o número oito no mundo na categoria médio, de até 90kg. Ele tenta a sua terceira medalha olímpica, depois da prata em Sydney 2000 e do bronze em Pequim 2008. O cabeça-de-chave número um do torneio é o jovem grego Ilias Iliadis, campeão mundial em 2010 e 2011.
Outro nome forte é o alemão Christophe Lambert, que tem no currículo uma vitória contra o grego no campeonato europeu deste ano, que lhe garantiu a vaga em Londres. O japonês Masashi Nishiyama é o segundo cabeça-de-chave da categoria e ganhou o Masters em Tóquio neste ano.
Por fim, existe concorrência latino-americana: o jovem cubano Asley Gonzales, de 22 anos, disparou no ranking no último ano.
Na categoria médio do feminino - de até 70kg – Maria Portela procurará não cruzar cedo com a francesa Lucie Decosse, que ganhou prata em Pequim 2008 em uma categoria mais leve, e está entre as favoritas ao ouro.

Quinta-feira: Luciano Corrêa e Mayra Aguiar

A gaúcha Mayra Aguiar, que completará 22 anos no dia seguinte à sua competição, é a número 1 no ranking meio-pesado, de até 78kg. Derrotada em sua primeira luta em Pequim, ela volta na condição de favorita ao ouro e alvo preferencial das adversárias.
Entre as concorrentes está a americana Kayla Harrison, que tenta conquistar o primeiro ouro do país no judô. Outra jovem promessa é a francesa Audrey Tcheumeo, campeã mundial de 2011. No campeonato europeu deste ano, ela foi derrotada pela húngara Abigel Joo, que também pode subir no pódio em Londres.
A chinesa Yang Xiuli chega ao torneio com a experiência de ter ganho ouro em Pequim 2008, mas está apenas no número seis do ranking agora.
Na meio pesado masculino, de até 100kg, há poucos favoritos, depois que o cazaque Maxim Rakov chegou apenas em quinto lugar no último torneio europeu. Para Rakov, há mais de dez judocas com chances de fazer uma boa olimpíada, algo que deve servir de estímulo para o brasileiro Luciano Corrêa, númer 19 no ranking.

Sexta-feira: Rafael Silva e Maria Suelen Altheman

O "Baby", como é conhecido Rafael Silva, luta na peso pesado – a única que possui apenas um limite mínimo de peso (100kg). Baby tem 150 kg e é terceiro colocado no ranking mundial em sua categoria.
O destaque da competição é o francês Teddy Riner, que conquistou o bronze em Pequim 2008, quando tinha apenas 19 anos. Desde então, ele tem sido praticamente imbatível, o que torna uma medalha de ouro um grande desafio para Baby. Desde a Olimpíada passada, o único a derrotar Riner foi o japonês Daiki Kamikawa, mas isso aconteceu já há dois anos. Kamikawa, naturalmente, chega à Londres 2012 também entre os favoritos a subir no pódio.
A luta entre os dois em Tóquio foi polêmica, e Riner deixou o pódio chorando e protestando contra o resultado. A rivalidade é grande, e no ano passado, em Paris, Riner derrotou o japonês com um ippon.
Outra ameaça no caminho de Rafael Silva é o alemão Andreas Toller, de 32 anos, que está em sua terceira olimpíada. O veterano russo Alexander Mikhaylin venceu seu sexto título europeu em abril e também é possibilidade de pódio.
Na categoria mais pesada do feminino, onde concorre Maria Suelen, a favorita ao título é a campeã mundial Tong Wen, da China, que foi isentada de um polêmico processo de doping. Um dos destaques da competição, sem chance de medalhas, é Wodjan Shaherkani, que será a primeira mulher a jogar uma Olimpíada pela Arábia Saudita.
Projeções de especialistas indicam que o aumento populacional, dos preços dos alimentos e a limitação na disponibilidade de recursos vão mudar os hábitos alimentares humanos nas próximas décadas.
Alguns analistas calculam que o preço dos alimentos pode dobrar nos próximos cinco a sete anos, tornando itens hoje comuns, como carne, em artigo de luxo.
Veja abaixo algumas alternativas que, embora estranhas à primeira vista, são apontadas como caminhos prováveis para resolver lacunas na demanda por alimentos.

Insetos

O governo holandês já investiu um milhão de euros em pesquisa sobre como inserir carne de insetos nas dietas de seus cidadãos e preparar leis para regulamentar sua criação.
Insetos fornecem tanto valor nutricional quanto carne de mamíferos, mas custam e poluem muito menos. Cerca de 1, 4 mil espécies poderiam ser consumidas pelo homem, compondo salsichas ou hambúrgueres.
Boa parte da humanidade já come insetos, especialmente na Ásia e África. Mas os mercados ocidentais devem resistir à ideia e vão ser necessárias grandes campanha de marketing para tornar aceitável ideia de incluir insetos como gafanhotos, formigas e lagartas no cardápio.

Uso de som

Já é bem conhecida a influência que aparência e cheiro podem ter sobre o que comemos, mas uma área em expansão que pode render descobertas interessantes é a dos estudos sobre o efeito do som sobre o paladar.
Um estudo da Universidade de Oxford descobriu que é possível ajustar o gosto der determinados alimentos através da música que se ouve ao fundo.
A música pode, por exemplo, fazer uma comida parecer mais doce do que ela é. Esse recurso pode ajudar a reduzir o consumo de açúcar.
Outro exemplo: Sons graves de instrumentos de sopro de metal (como saxofones ou tubas) acentuariam o gosto amargo de alimentos.
Empresas podem passar a recomendar listas de músicas para melhorar a "experiência" do consumo de seus produtos.

Carne de laboratório

Cientistas holandeses criaram carne em laboratório usando células-tronco de vaca e esperam desenvolver o primeiro "hambúrguer de proveta" até o fim de 2012.
A produção de carne artificial poderia trazer grandes benefícios ao meio ambiente, pela redução no número de cabeças de gado - grandes emissores de CO2 - e nas áreas de floresta desmatada para a criação de pastos. A carne de laboratório poderia ser manipulada para ter níveis bem mais saudáveis de gordura e nutrientes.
Os pesquisadores holandeses dizem que a meta é fazer a carne in vitro ter o mesmo gosto que a tradicional - coisa que ainda está longe de ter.

Algas

Elas podem alimentar homens e animais, oferecer uma alternativa em graves crises alimentícias e ainda abrem mão do gasto de terra ou água potável para seu cultivo.
Cientistas ainda apontam para o potencial de algas como fontes de biocombustíveis - o que reduziria a dependência dos combustíveis fósseis.
Alguns especialistas preveem que fazendas de algas poderiam se tornar a mais promissora forma de agricultura intensiva.
Elas já existem em países asiáticos como o Japão.
Como os insetos, elas poderiam ser introduzidas em nossas dietas sem que soubéssemos. Cientistas na Grã-Bretanha estudam a substituição de sal marinho por algas em pães e outros alimentos industrializados.
Grãos têm um forte sabor, mas com baixo índice de sal, sendo portanto, mais saudáveis.
Com informações de Denise Winterman da BBC News
A adesão da Venezuela ao Mercosul, que começará a ser formalizada nesta terça-feira, em Brasília, ainda pode ser contestada juridicamente pelo Paraguai, segundo fontes do Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul (TPR), com sede em Assunção, ouvidas pela BBC Brasil.
Suspenso do Mercosul desde o fim de junho – em razão da destituição de Fernando Lugo da Presidência do país – o Paraguai não pôde participar da reunião de cúpula realizada em Mendoza, na Argentina, quando foi acertada a entrada da Venezuela no bloco regional.
O ministro da Secretaria de Informação e Comunicação da Presidência do Paraguai, Martín Sannemann, disse à BBC Brasil que a entrada da Venezuela para o Mercosul durante a suspensão do Paraguai significa a troca do "irmão pobre pelo irmão rico".
Segundo ele, na interpretação do governo paraguaio, o Mercosul foi "institucionalmente quase ferido de morte" porque "não respeitou os acordos" que estabelecem que as decisões devem ser tomadas pelos quatro países fundadores desta integração – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Autoridades do governo paraguaio disseram que ainda analisam os próximos passos jurídicos a serem adotados.
O Paraguai já havia entrado com uma ação no Tribunal Permanente do Mercosul por ter sido suspenso do bloco, com o argumento de que a suspensão violaria artigos do Tratado de Assunção e do Protocolo de Ushuaia, documentos constitutivos do Mercosul.
Essa ação foi rejeitada. O tribunal entendeu que o Paraguai apelou com instrumentos jurídicos que não eram cabíveis ao caso e não chegou a analisar a legalidade ou não da suspensão do país e a entrada da Venezuela ao Mercosul.
"O Paraguai usou uma medida de emergência que é que aplicada às questões comerciais, e não políticas, e deveria ter recorrido, primeiro, a instâncias jurídicas inferiores, antes da ação ao Tribunal, que é a corte arbitral do Mercosul", disse o secretário do Tribunal, o advogado Raphael Vasconcelos, ao ler, de Assunção, o parecer do órgão.

Reunião

Ao apelar com o argumento de medida de emergência, o Paraguai esperava uma resposta rápida, de no máximo duas semanas, como preveem os acordos do Mercosul, ou seja, antes da reunião desta terça.
"O problema é que a reunião em Brasília será um encontro de amigos para o qual não fomos convidados. E temos claro que foi política e não jurídica a decisão de incluir a Venezuela no Mercosul com o Paraguai suspenso", disse um assessor do gabinete do presidente paraguaio, Federico Franco.
O ingresso da Venezuela no Mercosul já estava anunciado desde 2006, mas dependia de aprovação do Congresso do Paraguai para ser formalizado – os congressos do Brasil, da Argentina e do Uruguai já haviam aprovado a adesão.
Segundo Sannemann, para o Paraguai, o problema não é a Venezuela, mas "a linha política e ideológica" do presidente venezuelano, Hugo Chávez.
"A saída de Lugo e a chegada de Franco obedeceram às regras constitucionais do nosso país. Mas não nos deram, no Mercosul, a oportunidade de explicar o que aconteceu", disse.
"Como paraguaios, não nos corresponde comentar, por exemplo, as reeleições permanentes de Chávez, mas por que não podemos ter a oportunidade de explicar que aqui tudo foi dentro das regras paraguaias?", questionou Sannemann.

Impeachment

A decisão de suspender o Paraguai do Mercosul foi tomada após a destituição de Fernando Lugo da Presidência em um processo de impeachment que durou menos de 30 horas.
A rapidez do processo foi questionada pelas autoridades do Mercosul, que disseram que o Paraguai desrespeitou a cláusula democrática assinada pelos presidentes do bloco.
Após a destituição de Lugo, o governo da presidente Dilma Rousseff chamou o embaixador em Assunção à Brasília para consultas, e ele não retornou à capital paraguaia, num sinal político de que as relações não estão normalizadas, segundo fontes do governo brasileiro.
Medida política semelhante foi adotada por outros países da região, como Argentina, Uruguai e Chile.
No caso da Venezuela, o governo Franco declarou o embaixador "persona non grata" após suposta participação do ministro das Relações Exteriores venezuelano, Nicolas Maduro, em reunião com militares paraguaios, no dia do processo político contra Lugo, em 22 de junho.
Nesta segunda-feira, Lugo compareceu ao Ministério Público, em Assunção, para prestar declarações sobre o caso, segundo o jornal Ultima Hora. Lugo disse que "não houve intromissão da Venezuela nos assuntos políticos do Paraguai".
Nesta segunda, um grupo de parlamentares paraguaios que apoiam Franco viajou ao Chile para explicar a colegas chilenos como foi a saída de Lugo e a sua substituição pelo atual presidente.
Eles disseram que pretendem percorrer outros países para dar a versão paraguaia sobre o que ocorreu.
A performance da nadadora Ye Shiwen, que aos 16 anos deu a medalha de ouro à China nos 400 metros medley individuais nos Jogos de Londres, levantou suspeitas de doping e deu início a uma onda de críticas a jornalistas ocidentais na China.
Aclamada como heroína nacional pela mídia chinesa, a menina, que nadou cinco segundos mais rápido do que sua melhor marca, teve o seu desempenho questionado por John Leonard, veterano técnico dos Estados Unidos e diretor-executivo da Associação Mundial dos Técnicos de Natação.
Leonard disse que o desempenho da nadadora foi "perturbador" e comparou a performance de Ye à de nadadoras da antiga Alemanha Oriental nos anos 1980, que tinham sido comprovadamente influenciadas por uso sistemático de substâncias proibidas.
Leonard disse ao jornal britânico The Guardian, que toda vez que surgiu um resultado "inacreditável" no esporte, "a história acabou mostrando mais tarde que houve envolvimento de doping" no caso.
Comentaristas alemães e britânicos manifestaram suspeitas semelhantes, mas, nesta terça-feira, o presidente da Associação Olímpica Britânica, Colin Moynihan, disse que até agora Ye passou em todos os testes antidoping a que foi submetida e que ela "merece reconhecimento pelo seu talento".

Insulto

Mesmo assim, as suspeitas sobre o desempenho da nadadora provocaram uma onda de reações indignadas nas redes sociais e na mídia chinesas, que criticaram jornalistas ocidentais por terem "incitado" dúvidas sobre a performance da atleta.
Para vários usuários de rede sociais, a mídia ocidental "insultou a campeã olímpica chinesa".
Em um post em uma das réplicas do Twitter no país, um usuário diz que o Ocidente está crescentemente desesperado e com medo de uma China emergente e por isso faz "de tudo para conter e suprimir a crescentemente próspera China".
"Vocês, britânicos, não deveriam participar dos Jogos Olímpicos se não conseguem perder", disse um usuário da rede de microblogs Weibo.
Outro usuário de Pequim questionou os motivos de se colocar em dúvida a performance no contexto olímpico.
"Não é justamente este o espírito olímpico, que encoraja as pessoas a irem mais alto, mais rápido e serem mais fortes?".
Um usuário chinês do Weibo residente na Austrália disse, no entanto, que os comentaristas britânicos têm liberdade de expressão.
"E também não acho que Ye Shiwen se incomodaria tanto ou teria tanto medo desse tipo de críticas, não?", disse.
A mídia oficial chinesa foi toda elogios ao desempenho de Ye.
"Quem poderia ter pensando que aos 16 anos de idade Ye Shiwen brilharia com imensa potência", disse a edição internacional do People’s Daily, enquanto o China Daily disse que "considerando que a prova é uma prévia para a sua favorita, os 200 metros medley individuais, o futuro dela realmente parece brilhante".

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Histórias de pavor e relatos de falta de alimentos já são corriqueiros em Aleppo, a segunda maior cidade da Síria. No terceiro dia de embates, o local tem sido alvo de artilharia pesada do regime do presidente Bashar al-Assad, segundo a ONU, que teme um massacre na cidade, de onde a população já foge aos milhares.
Após realocar tropas e se preparar para um cerco, o regime sírio ordenou o início dos ataques a Aleppo ainda no sábado.
Segundo as Nações Unidas estão sendo usados tanques de guerra, artilharia pesada, helicópteros, caças e forças terrestres. Apavoradas, mais de 200 mil pessoas já deixaram Aleppo, aponta o Alto Comissariado para Direitos Humanos da entidade.
O combate se intensifica na região, que virou o foco de atenção na Síria, e a comunidade internacional assiste sem interferência, embora os rebeldes tenham reforçado nos últimos dias um pedido para receberem armas capazes de neutralizar alvos aéreos.
Um dos poucos jornalistas estrangeiros a entrar na cidade, o repórter da BBC Ian Pannell ouviu relatos de moradores aterrorizados pelos bombardeios.

Medo

Entre as histórias de pavor que se acumulam na região de Aleppo está a de Mohammed Khalaf que, aos 90 anos, se viu sozinho e inseguro. "Minha família não existe mais e preciso de um lugar para ficar".
Com o rosto cansado pela idade, Khalaf já enfrentou mais de uma revolução e viu muitas guerras. Ele conta ao repórter da BBC em sua casa num dos subúrbios de Aleppo que sua família fugiu da cidade e o deixou para trás, embora sua mente possa já não estar 100% clara.
Ele relembra a ocupação francesa.
"Eles não atiravam em nós durante o Ramadã [mês sagrado para o islã]. Coisas que estão acontecendo agora nunca aconteceram durante a luta pela independência", diz.
A conversa com ele é interrompida pelo som de forte artilharia e morteiros.
Desde o início dos confrontos entre forças do regime e dos rebeldes, que pedem a renúncia de Assad, mais de 16 mil pessoas já morreram e milhares se refugiaram em países como Líbano (31 mil) , Iraque (8.400), Jordânia (36 mil) e Turquia (43 mil).
Na frente diplomática, Khaled al-Ayoubi, que ocupa o posto mais alto da representação síria em Londres, desertou nesta segunda-feira e disse que não apoiará mais um regime que se "compromete com atos de tal violência e opressão contra seu próprio povo".
Além disso, a França reagiu aos repetidos vetos de Rússia e China a tentativas de sanções contra a Síria no Conselho de Segurança da ONU classificando Assad como um "executor" e disse que é preciso "tentar de tudo" para pressionar o regime.

‘Vencer ou morrer’

Ian Pannell integra um pequeno grupo de jornalistas internacionais que conseguiu entrar em Aleppo e foi chamado por Abdul Saleh, um dos comandantes rebeldes na região.
Conversando com os jornalistas, o opositor diz contar com milhares de homens que controlam mais de 40% dos bairros da cidade, algo que não pode ser verificado.
O cenário, no entanto, é alarmante para os opositores.
A batalha que se aproxima em Aleppo será travada de forma extremamente desigual.
De um lado Forças Armadas convencionais, com tanques, morteiros, artilharia, helicópteros com metralhadoras, caças de guerra e tropas em terra. Do outro, um Exército rebelde portando rifles Kalshnikov e lançadores de granada.
Saleh diz que é importante manter a luta e que os rebeldes estão na batalha para "vencer ou morrer".

Fome

Além disso, o drama dos residentes que ainda não conseguiram fugir só deve aumentar.
"Muitos estão indo dormir com fome. Muitas pessoas pobres não têm água, comida nem energia elétrica", diz uma mulher.
"Seu sofrimento não deve acabar logo. A falta de água, comida e quedas de energia tem dificultado a vida dos moradores e o perigo constante das bombas e balas torna a vida intolerável. Milhares de famílias já abandonaram a cidade", diz Pannell.
O correspondente da BBC relembra que a situação em Aleppo simboliza a crise síria, com o impasse internacioal diante de uma emergência e a desiguldade de forças entre os dois lados do conflito.
"Este é apenas o começo da batalha por Aleppo e é impossível prever o resultado. Mas ela vai traçar o destino do presidente Bashar al-Assad, a revolução que ele enfrenta e a nação síria".
Cada vez mais casais que desafiaram suas famílias ao ignorar os noivos "arranjados" pelos pais buscam refúgio em abrigos especiais criados pela polícia em várias regiões da Índia.
Eles optaram pelo que se convencionou chamar de "love marriage" (casamento por amor), expressão usada para designar as pessoas que se casam com um homem ou mulher escolhidos por eles mesmos, muitas vezes de castas diferentes e por quem se apaixonaram.
Krishna, uma menina pálida de 19 anos, senta-se em uma pequena sala do abrigo mantido pela polícia no Estado de Haryana.
Questionada se sua família poderia realmente matar seu marido, ela coloca o lenço sobre o rosto e diz que sim, sem dúvida.
"É muito fácil conseguir uma arma. Na minha vila (no Estado de Uttar Pradesh), armas são usadas até mesmo em brigas corriqueiras. Matar alguém nunca é algo difícil", diz.
Casal indiano | Foto: Mansi Thapliyal
Abrigos mantidos pela polícia servem de refúgio para casais que desafiaram suas famílias na Índia

A família da jovem se negou a aceitar seu relacionamento com Sonu, um barbeiro de 22 anos que pertence a uma casta inferior, e organizou um casamento arranjado com um outro homem, que Krishna jamais tinha visto antes.
No início do mês, a menina fugiu da casa dos pais e decidiu ir viver com o namorado. Na manhã seguinte os dois se casaram e procuraram proteção da polícia.
Só no ano passado mais de 200 casais procuraram estes abrigos no Estado de Haryana.

Tradição e mudanças

Entre os fatores principais por trás da tradição de casamentos arranjados na Índia está o fato de que uma mulher deve estar sempre "sob tutela" de um "guardião".
Quando criança, está sob responsabilidade dos pais, e como mulher, do marido. "Qualquer quebra desta ideologia de controle, dependência e tutela, mesmo que pequena, é considerada uma grande ameaça", diz Prem Chowdhury, sociólogo.
De acordo com a visão mais conservadora, estão proibidos relacionamentos de pessoas da mesma vila, fora de sua casta e religião, e dentro da mesma "gotra" (a família do pai).
Casal indiano | Foto: Mansi Thapliyal
Harjinder e Navjot se apaixonaram após tornarem-se vizinhos; uniões na mesma vila são proibidas

Mesmo assim, o país vem registrando mudanças.
Com a ajuda de telefones celulares e redes sociais como o Facebook, cresce muito o número de jovens indianos que se apaixonam e quebram as tradições que perduraram por muitos séculos no país.
Shallu, de 22 anos, and Subhas, de 27, formam um perfeito exemplo dos novos relacionamentos surgindo no país.
Eles viviam a 120 quilômetros de distância. Ela, uma extrovertida filha de um confeiteiro em Ambala e ele um reservado filho de servidor público na cidade de Karnal.
A garota o adicionou no Facebook dois anos atrás, por meio de um velho celular com acesso à internet, e após marcarem um café, os dois tornaram-se amigos e rapidamente a relação evoluiu para um namoro.
Quando descobriram, seus pais tiraram seu celular. "Nós vamos conseguir um garoto bonito e rico para você. Eu não quero nenhum garoto rico e bonito, eu disse a eles. Só quero me casar com meu namorado".
Ela decidiu fugir e agora vive em um dos novos abrigos mantidos pela polícia.

Amor e castas

Encontros no Facebook, vizinhos que se atraem, estudantes que trocam mensagens e até mesmo conversas aleatórias em um trem tornam-se cada vez mais situações em que duas pessoas indianas podem se conhecer e dar início a uma história de amor.
"Minha família me disse, você não pode se casar com uma garota que mora na mesma vila. Nós deveríamos viver como irmãos e irmãs, se apaixonar é um escândalo", conta Harjinder, que se encantou com Navjot assim que ela mudou para seu vilarejo e tornou-se sua vizinha.
Sentados lado a lado, Keval e Himani e passaram boa parte de uma viagem de trem de mais de 100 quilômetros conversando e se conhecendo.
Dois meses depois, eles resolveram se casar, mesmo sendo de castas diferentes.
Casal indiano | Foto: Mansi Thapliyal
Keval e Himani se conheceram em uma longa jornada de trem e pouco depois decidiram se casar

São exemplos de que a "audácia" do amor está cada vez mais entrando em conflito com as tradições de castas e grupos que ainda reinam na Índia, sobretudo no interior.
"Tudo está mudando. A cultura estrangeira, TV, telefones celulares, estão mudando a cultura indiana. O pyar ka bhoot ("fantasma do amor", em tradução livre) está crescendo por aqui, está no meio de todos nós", diz Parvin Kumari, uma policial que trabalha em um dos novos abrigos para casais.
O futuro das castas também pode estar em risco.
Chandra Bhan Prasad, escritora que pertence à casta mais baixa de todas, os intocáveis, também conhecidos como "dalits", acredita que o sistema está fadado ao fracasso.
"A globalização, capitalismo, consumismo, mecanização, industrialização e urbanização" tornarão o sistema de castas "obsoleto", afirma. O número de profissões sem casta associada, por exemplo, vem aumentando.
Um estudo da Universidade da Pensilvânia mostrou que nos shopping centers de Nova Déli, por exemplo, 60% dos varredores não são "dalits", a casta que geralmente é vista como a "mais adequada" para executar estes tipos de serviço.

domingo, 29 de julho de 2012

Muitos adolescentes gostam de ouvir música alta, especialmente durante os estudos, costume que tem sido criticado pelo pais através de gerações.
Agora, cientistas da Argentina mostraram que a reclamação dos progenitores não é pura chateação: através de um experimento com ratos, eles descobriram que o som alto pode afetar a memória e os mecanismos de aprendizagem de animais em desenvolvimento.
O trabalho, publicado na revista Brain Research, foi realizado utilizando camundongos com idade entre 15 e 30 dias, o que corresponde a uma faixa etária entre 6 a 22 anos nos humanos.
"Nós usamos ratos pois eles têm um sistema nervoso semelhante aos seres humanos", disse à BBC Mundo Laura Guelman, coordenadora do projeto e pesquisadora do Centro de Estudos Farmacológico e Botânico (Cefybo) da Universidade de Buenos Aires (UBA).
Os pesquisadores expuseram os animais a intensidades de ruído entre 95 e 97 decibéis (dB) mais altos do que o patamar considerado seguro (70-80 dB), porém abaixo da intensidade de som que produz, por exemplo, um show de música (110 dB).
Concluído o experimento, eles descobriram que, depois de duas horas de exposição, os ratos sofreram danos irreversíveis nas células cerebrais.
Segundo os pesquisadores, foram identificadas anormalidades na área do hipocampo, uma região associada com os processos de memória e aprendizagem.
"Tal evidência sugere que o mesmo poderia ocorrer em humanos em desenvolvimento, embora seja difícil de provar, porque não podemos expor as crianças a este tipo de experiência", disse Guelman.

Danos

Já era sabido que a exposição ao som alto pode causar deficiência auditiva, cardiovascular e do sistema endócrino (além de stress e irritabilidade), mas Guelman afirmou que é a primeira vez que tais alterações morfológicas são detectadas no cérebro.
"Pode-se supor a partir dessa descoberta que os níveis de ruído a que as crianças são expostas nas "baladas" ou ouvir música alta com fones de ouvido podem levar a déficits de memória e cuidados de longa duração", disse Maria Zorrilla Zubilete, professora e pesquisadora da Faculdade de Medicina da UBA.
Uma das curiosidades relevadas pelo estudo é que, para as crianças, uma única exposição a ruídos altos pode ser mais prejudicial do que uma exposição prolongada.
Durante a experiência, dois grupos de ratos foram analisados: o primeiro foi exposto uma única vez a duas horas de ruído e o segundo recebeu o mesmo estímulo, mas uma vez por dia durante duas semanas.
Após 15 dias, os ratos que tinham sido submetidos a uma única exposição no início da experiência mostraram sinais de danos mais contundentes.
Os cientistas atribuíram tal fato à chamada "plasticidade neural" existente durante os anos de desenvolvimento, quando o sistema nervoso ainda está em formação.
"É possível que os estímulos do cérebro já não tenham tempo para reparar tais ferimentos", disse Guelman.

Conclusões precipitadas

Embora o estudo cause preocupação em um cenário em que cada vez mais crianças ouvem música em alto volume através de dispositivos digitais e vídeo games, Guelman alerta para conclusões precipitadas.
"O som que usamos para o experimento foi o ruído branco, um sinal que contém todas as freqüências de som, e é percebido como se fosse o barulho de uma TV mal sintonizada", disse ela.
"Mas a música que muitas das crianças ouvem contém apenas algumas freqüências, e ainda não sei exatamente o que causou o dano", acrescentou.
O próximo trabalho desses cientistas é determinar o "mecanismo molecular" pelo qual o ruído afeta as células do hipocampo.
"Nós não sabemos se o dano é gerado diretamente pelas vibrações sonoras ou o som ativa neurotransmissores que causam o problema", diz Guelman.
Depois de entender esse mecanismo, os peritos tentarão desenvolver drogas que podem prevenir lesões.
Enquanto isso, cientistas argentinos acreditam que este estudo deve servir como um alerta para evitar a exposição das crianças a sons altos.
Com a descoberta, os professores, que já se queixam de como as novas tecnologias podem distrair os alunos, têm agora um novo argumento para proibir os gadgets em sala de aula.
Após uma passagem polêmica pela Grã-Bretanha, o candidato republicano à presidência americana, Mitt Romney, começa neste domingo uma visita a Israel, como parte de um giro que busca mostrar as habilidades do aspirante à Casa Branca no terreno da política externa.
Depois de se envolver gratuitamente em uma polêmica sobre o preparo de Londres para receber os Jogos Olímpicos, o próximo desafio dele será tentar traduzir em votos o seu encontro com as principais lideranças políticas e de partidos israelenses.
A maior dificuldade para os republicanos é que a comunidade judaica dos EUA é considerada um reduto liberal tradicionalmente identificado com o Partido Democrata, do presidente Barack Obama. Nas eleições de 2008, Obama recebeu 80% do voto desse eleitorado.
Agora, defende um número crescente de intelectuais judeus americanos, a comunidade está se afastando do "discurso pró-guerra" de Israel – nas palavras de um analista –, o que tira ainda mais apelo da viagem de Romney.
"É muito improvável que Romney vá conseguir um apoio significante entre os eleitores judeus com essa viagem", disse à BBC Brasil o intelectual americano judeu Norman Finkelstein, para quem a atitude "pró-guerra" da liderança israelense está por trás desse descolamento.
"Por outro lado, é uma comunidade que contribui de maneira desproporcionalmente alta em eleições. Representa 2% da população americana, mas responde por cerca de 60% das doações para o Partido Democrata e de 25% a 30% para o caixa do Partido Republicano. É nisso que Romney está de olho."

'Descolamento'

A viagem do republicano põe lenha na fogueira do debate já existente sobre o apoio americano às ações de Israel no Oriente Médio.
Em um livro recém-lançado – Knowing Too Much: Why The American Jewish Romance With Israel Is Coming To An End ("Sabendo demais: Por que o romance judeu-americano com Israel está chegando ao fim", em tradução livre) – Finkelstein argumenta que hoje há muitas evidências de ações ilegais de Israel no Oriente Médio, o que deixa a comunidade judaica dos EUA cada vez menos inclinada a oferecer seu apoio incondicional para a liderança israelense.
"Não acho que seja uma mensagem difícil de entender. Há um sentimento disseminado entre os judeus americanos, por exemplo, de que os assentamentos (judeus na Cisjordânia) são ilegais. Há um vago mas existente apoio para que Israel regresse às fronteiras pré-1967", disse o intelectual.
"Precisamos achar algum tipo de solução (para o conflito no Oriente Médio) que passe por Israel se comportar de maneira normal, de acordo com a lei que todos conhecem."
O coro da insatisfação com a liderança israelense foi entoado pelo trabalho de Peter Beinart, The Crisis of Zionism (“A crise do zionismo”), lançado três meses atrás. Beinart expôs a tese de que o comportamento de Israel nas questões regionais está pondo a sua própria democracia em risco, e prejudicando os laços com os judeus liberais nos EUA.
Em menor ou maior grau, a ideia está presente em uma série de organizações judaicas americanas nascidas recentemente.
"Estamos atolados numa situação que não é sustentável", disse à BBC o diretor de uma delas – J Street – , Steven Krubiner. O grupo defende a criação de uma solução de paz que envolva a coexistência lado a lado de um Estado israelense e um Estado palestino.
"Do ponto de vista da segurança, se não chegarmos a uma solução de dois Estados urgentemente, Israel não vai sobreviver, ou pelo menos não como um Estado judeu democrático."

Linha-dura

O espelho do establishment israelense nos EUA é o Comitê Americano-Israelense de Assuntos Públicos (Aipac, na sigla em inglês), o lobby mais poderoso – e mais linha-dura – da comunidade em Washington.
Em março, durante o seu Congresso anual, a entidade recebeu tanto Obama quanto Romney, que, falando para aquela plateia, tiraram da cartola suas frases mais fortes.
À época, afloravam tensões por conta do programa nuclear iraniano e Obama fez um discurso fortemente centrado na cooperação militar americano-israelense. "Nos momentos mais arriscados", disse o presidente, "estarei vigiando as costas de Israel".
Romney, por sua vez, criticou o governo Obama, dizendo que "se distanciou de Israel e se aproximou visivelmente da causa palestina".
"Fortaleceu a causa palestina", disse Romney em tom acusador. "Como presidente, vou tratar nossos aliados e amigos como amigos e aliados."
Steven Krubiner, da J Street, reconhece que entidades como a Aipac ainda são as que mais influenciam o governo americano, sobretudo desde a virada para a direita do Congresso nas eleições legislativas de 2010.
Entretanto, pondera Krubiner, "há agora uma nova voz na comunidade pró-Israel que reflete uma opinião diferente".
"Ser pró-Israel não significa ser antipalestino", defende. "Apoiar o Estado, o povo e a democracia de Israel não significa dar apoio incondicional, que é o que a maioria das organizações faziam no passado. Antes só existia uma voz (na comunidade judaica americana), e essa voz estava representando mal a comunidade."

Lucro

A Conferência dos Presidentes das Maiores Organizações Judaicas Americanas, um guarda-chuva de entidades, reúne 54 organizações com diferentes bandeiras e planos de ação.
A variedade é tamanha que o debate às vezes sai do estritamente geopolítico e entra em temas que, para muitos críticos, pouco tem a ver com Israel.
Recentemente, por exemplo, a organização Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês) foi criticada por se desviar do seu foco original – combater o preconceito contra judeus – e apoiar causas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a legalização de imigrantes indocumentados.
Esses são temas em que as posições recentes do governo Obama irritaram a ala mais conservadora do eleitorado americano.
Seguindo a queda na aprovação do presidente entre a população geral – majoritariamente atribuída ao seu desempenho na economia –, o apoio de Obama na comunidade judaica caiu de 80% para cerca de 65%.
Para os partidários de Mitt Romney, no atual cenário de disputa apertada, qualquer voto tradicionalmente democrata que conseguir tirar do seu adversário será lucro.
Após uma passagem polêmica pela Grã-Bretanha, o candidato republicano à presidência americana, Mitt Romney, começa neste domingo uma visita a Israel, como parte de um giro que busca mostrar as habilidades do aspirante à Casa Branca no terreno da política externa.
Depois de se envolver gratuitamente em uma polêmica sobre o preparo de Londres para receber os Jogos Olímpicos, o próximo desafio dele será tentar traduzir em votos o seu encontro com as principais lideranças políticas e de partidos israelenses.
A maior dificuldade para os republicanos é que a comunidade judaica dos EUA é considerada um reduto liberal tradicionalmente identificado com o Partido Democrata, do presidente Barack Obama. Nas eleições de 2008, Obama recebeu 80% do voto desse eleitorado.
Agora, defende um número crescente de intelectuais judeus americanos, a comunidade está se afastando do "discurso pró-guerra" de Israel – nas palavras de um analista –, o que tira ainda mais apelo da viagem de Romney.
"É muito improvável que Romney vá conseguir um apoio significante entre os eleitores judeus com essa viagem", disse à BBC Brasil o intelectual americano judeu Norman Finkelstein, para quem a atitude "pró-guerra" da liderança israelense está por trás desse descolamento.
"Por outro lado, é uma comunidade que contribui de maneira desproporcionalmente alta em eleições. Representa 2% da população americana, mas responde por cerca de 60% das doações para o Partido Democrata e de 25% a 30% para o caixa do Partido Republicano. É nisso que Romney está de olho."

'Descolamento'

A viagem do republicano põe lenha na fogueira do debate já existente sobre o apoio americano às ações de Israel no Oriente Médio.
Em um livro recém-lançado – Knowing Too Much: Why The American Jewish Romance With Israel Is Coming To An End ("Sabendo demais: Por que o romance judeu-americano com Israel está chegando ao fim", em tradução livre) – Finkelstein argumenta que hoje há muitas evidências de ações ilegais de Israel no Oriente Médio, o que deixa a comunidade judaica dos EUA cada vez menos inclinada a oferecer seu apoio incondicional para a liderança israelense.
"Não acho que seja uma mensagem difícil de entender. Há um sentimento disseminado entre os judeus americanos, por exemplo, de que os assentamentos (judeus na Cisjordânia) são ilegais. Há um vago mas existente apoio para que Israel regresse às fronteiras pré-1967", disse o intelectual.
"Precisamos achar algum tipo de solução (para o conflito no Oriente Médio) que passe por Israel se comportar de maneira normal, de acordo com a lei que todos conhecem."
O coro da insatisfação com a liderança israelense foi entoado pelo trabalho de Peter Beinart, The Crisis of Zionism (“A crise do zionismo”), lançado três meses atrás. Beinart expôs a tese de que o comportamento de Israel nas questões regionais está pondo a sua própria democracia em risco, e prejudicando os laços com os judeus liberais nos EUA.
Em menor ou maior grau, a ideia está presente em uma série de organizações judaicas americanas nascidas recentemente.
"Estamos atolados numa situação que não é sustentável", disse à BBC o diretor de uma delas – J Street – , Steven Krubiner. O grupo defende a criação de uma solução de paz que envolva a coexistência lado a lado de um Estado israelense e um Estado palestino.
"Do ponto de vista da segurança, se não chegarmos a uma solução de dois Estados urgentemente, Israel não vai sobreviver, ou pelo menos não como um Estado judeu democrático."

Linha-dura

O espelho do establishment israelense nos EUA é o Comitê Americano-Israelense de Assuntos Públicos (Aipac, na sigla em inglês), o lobby mais poderoso – e mais linha-dura – da comunidade em Washington.
Em março, durante o seu Congresso anual, a entidade recebeu tanto Obama quanto Romney, que, falando para aquela plateia, tiraram da cartola suas frases mais fortes.
À época, afloravam tensões por conta do programa nuclear iraniano e Obama fez um discurso fortemente centrado na cooperação militar americano-israelense. "Nos momentos mais arriscados", disse o presidente, "estarei vigiando as costas de Israel".
Romney, por sua vez, criticou o governo Obama, dizendo que "se distanciou de Israel e se aproximou visivelmente da causa palestina".
"Fortaleceu a causa palestina", disse Romney em tom acusador. "Como presidente, vou tratar nossos aliados e amigos como amigos e aliados."
Steven Krubiner, da J Street, reconhece que entidades como a Aipac ainda são as que mais influenciam o governo americano, sobretudo desde a virada para a direita do Congresso nas eleições legislativas de 2010.
Entretanto, pondera Krubiner, "há agora uma nova voz na comunidade pró-Israel que reflete uma opinião diferente".
"Ser pró-Israel não significa ser antipalestino", defende. "Apoiar o Estado, o povo e a democracia de Israel não significa dar apoio incondicional, que é o que a maioria das organizações faziam no passado. Antes só existia uma voz (na comunidade judaica americana), e essa voz estava representando mal a comunidade."

Lucro

A Conferência dos Presidentes das Maiores Organizações Judaicas Americanas, um guarda-chuva de entidades, reúne 54 organizações com diferentes bandeiras e planos de ação.
A variedade é tamanha que o debate às vezes sai do estritamente geopolítico e entra em temas que, para muitos críticos, pouco tem a ver com Israel.
Recentemente, por exemplo, a organização Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês) foi criticada por se desviar do seu foco original – combater o preconceito contra judeus – e apoiar causas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a legalização de imigrantes indocumentados.
Esses são temas em que as posições recentes do governo Obama irritaram a ala mais conservadora do eleitorado americano.
Seguindo a queda na aprovação do presidente entre a população geral – majoritariamente atribuída ao seu desempenho na economia –, o apoio de Obama na comunidade judaica caiu de 80% para cerca de 65%.
Para os partidários de Mitt Romney, no atual cenário de disputa apertada, qualquer voto tradicionalmente democrata que conseguir tirar do seu adversário será lucro.

sábado, 28 de julho de 2012

Em apenas um dia de Olimpíadas em Londres, Sarah Menezes e Felipe Kitadai já cumpriram mais da metade das metas da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) para os Jogos.
A CBJ chegou a Londres com dois objetivos: chegar à primeira final feminina do Brasil em Olimpíadas e conquistar pelo menos quatro medalhas no caminho.
Os judocas brasileiros conseguiram subir no pódio nas únicas duas modalidades em disputa neste sábado. O paulistano Kitadai, 14º no ranking mundial, não era favorito a ganhar medalha na categoria até 60kg, mas conquistou o bronze ao derrotar o italiano Elio Verde, com um yuko.
Já a piauisense Sarah Menezes superou a meta da CBJ e não só foi à final feminina na categoria até 48kg, como também conquistou o ouro.
O primeiro ouro da história do judô feminino veio com uma vitória sobre a romena Alina Dumitru, que foi campeã olímpica em Pequim 2008. A vitória veio com pontos marcados no minuto final – um yuko e um wazari.
Se o judô brasileiro ganhar apenas mais uma medalha, de qualquer cor, Londres 2012 já será a melhor olimpíada para o Brasil na modalidade. Em Los Angeles 1984, o Brasil conquistou três medalhas no judô – mas nenhuma de ouro. O país ainda disputará 12 medalhas nos próximos seis dias – com grandes chances de repetir medalhas em diversas faixas de peso.

De Teresina para Londres

Após suas medalhas, tanto Menezes quanto Kitadai falaram sobre as difíceis escolhas – e até opostas – que precisaram fazer nas suas vidas antes de chegar às medalhas.
Desde cedo em sua vida, a piauiense Sarah Menezes, de 22 anos, enfrentou dois desafios. O primeiro foi a desaprovação da família, que disse considerar judô um esporte "masculino". Além disso, eles não queriam que a jovem largasse os estudos para se dedicar exclusivamente ao esporte.
"Eu entrei em acordo com eles. Eu pedi para continuar no esporte, mas disse que ia me dedicar aos estudos. Eu tinha que treinar e estudar, e conciliar as duas coisas", disse Menezes após o ouro.
Felipe Kitadai (Foto: AFP/Getty Images)
Após o bronze em Londres, Felipe Kitadai já pensa em conquistar um ouro nos Jogos de 2016
"Quando eu comecei a viajar, e eles viram que eu tinha talento, eles pararam com essa barreira. E deu tudo certo", disse Menezes. Mesmo sem ser cobrada mais nos estudos, ela se orgulha de que vai conseguir concluir o curso universitário em Educação Física.
"Estou quase me formando. Nunca parei de estudar para treinar, e consigo conciliar ainda hoje o meu treino com os meus estudos."
A outra escolha difícil da piauiense foi permanecer em Teresina e não se mudar para um grande centro esportivo, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Ela disse se sentir um exemplo de que não é preciso mudar de cidade para ser campeão, e que as vitórias dependem mais "da cabeça do atleta".
"Eu acreditei muito no meu talento, muito no meu treinador e muito em toda a estrutura que tenho em minha cidade: psicóloga, a parte física, meus companheiros de treino, e de mim mesma, principalmente, e da vontade que eu tinha de chegar aqui", disse a atleta piauiense.
"Eu sou um exemplo no judô porque não venho dos grandes centros. Agora vou continuar sendo um maior exemplo ainda, por causa desta medalha. E isso eu tenho certeza que vai fazer com que outros atletas acreditem, que o que falta mesmo é a confiança de que todo mundo é capaz de chegar em um ponto alto."
Sarah Menezes superou a vietnamita Ngoc Tu Van, a francesa Laetitia Payet e a chinesa Shugen Wu até chegar às semi-finais, onde derrotou a belga Charline van Snick com extrema frieza. A final contra a campeã de Pequim 2008, a romena Alina Dumitru, foi tensa. Sarah Menezes chegou a se pendurar no braço da romena, que sentiu dores no cotovelo.
O resultado campeão de Sarah veio nos minutos finais, com um wazari e um yuko.

Caminho oposto

Kitadai, que conquistou a medalha de bronze, fez a decisão oposta. O atleta recebeu o convite do judoca gaúcho João Derly – bicampeão mundial – para trocar São Paulo por Porto Alegre, onde o clube Sogipa estava montando uma grande estrutura para o judô.
"Eu recebi uma proposta do João Derly, que é meu grande amigo, e me convidou para ir para lá treinar com ele. A Confederação Brasileira auxiliou e me disse: 'acho que você precisa de força, e lá no Rio Grande do Sul é onde existe mais força no Brasil'. Então eu pensei em ir para lá", afirmou Kitadai, que já pensa em conquistar um ouro nos Jogos Olímpicos de 2016.
Kitadai conta que telefonou para João Derly imediatamente após a luta, e chorou ao conversar com o amigo, a quem chama de "meu segundo pai". João e sua família hospedaram Kitadai por três meses em sua casa, para que o jovem não se sentisse sozinho em uma cidade nova.
A mãe de Filipe Kitadai contou à BBC Brasil que a adaptação do atleta em um novo ambiente foi tranquila, graças ao suporte que ele recebeu de seu clube.
"Foi muito tranquilo, ele tinha o objetivo dele que era Olimpíadas. O pessoal da Sogipa sentiu isso, deu todo o suporte, toda a sustentação para ele chegar lá, e ele foi pelo ideal dele mesmo", disse Lourdes Kitadai, que trouxe sua família para Londres para acompanhar o filho. Durante as lutas, pais e irmãos vestindo uma camiseta com o nome do atleta gritavam palavras de apoio.
As forças ligadas ao presidente da Síria, Bashar al-Assad, lançaram neste sábado seguidos ataques por ar e terra contra rebeldes amotinados na cidade de Aleppo, no noroeste do país, informaram ativistas.
O enviado especial da BBC a Aleppo, Ian Pannell, afirmou ter presenciado uma série de confrontos, com inúmeros rebeldes feridos ou mortos.
Integrantes do Exército Livre da Síria (ELS) disseram que contiveram uma incursão militar e destruíram tanques do governo, mas não há confirmação, por hora, de que o relato seja verdadeiro.
As potências ocidentais já haviam alertado sobre um grande massacre em Aleppo, a cidade mais populosa da Síria e importante centro comercial e estratégico do país.
Na manhã deste sábado, ativistas disseram ter visto tanques sírios se deslocando em direção a distritos localizados ao sul da cidade.
Eles afirmaram que o bombardeio das áreas controladas pelos rebeldes foi intensificado durante toda a manhã, com aviões militares sobrevoando a cidade em baixa altitude.
Segundo o correspondente da BBC, inúmeras famílias estão deixando para trás suas casas temerosas da escalada do conflito.
Na versão da rede de televisão estatal da Síria, entretanto, os rebeldes, após "terem perdido a batalha" em Damasco, estariam tentando transformar a Aleppo "em um antro de terroristas".

Apelo a paramédicos

De acordo com o correspondente da BBC, os rebeldes estão com menos munição e em menor número do que as forças leais ao presidente Bashar al-Assad.
Ativistas afirmaram que intensos confrontos ocorreram no bairro de Salah al-Din e Hamdanieh, próximos ao centro de Aleppo.
Face à escalada da violência, foi feito um apelo para que médicos ajudem as vítimas de Salah al-Din.
Na última sexta-feira, a Cruz Vermelha suspendeu parte de suas operações em Aleppo devido à intensificação dos combates.
Os rebeldes estão estocando munição e suprimentos médicos com o objetivo de se preparem para um ataque mais intenso das forças ligadas a Assad.
Entretanto, segundo o correspondente da BBC, ambos os lados registraram pesadas perdas nos últimos dias.
"Os rebeldes estão amotinados em ruas estreitas, onde o combate é mais difícil", afirmou um oficial de segurança do governo à agência de notícias AFP.
O Observatório da Síria para Direitos Humanos informou que 160 pessoas foram mortas na Síria apenas na última sexta-feira.

Rebeldes

O confronto em Aleppo ocorre após duas semanas em meio às quais os rebeldes alcançaram ganhos significativos.
No dia 18 de julho, um ataque ao edifício do departamento de segurança da Síria na capital Damasco matou quatro autoridades, todas pertencentes à alta cúpula do governo, incluindo o ministro de Defesa e o cunhado de Assad.
Na ocasião, o Exército Livre da Síria (ELS) mantinha sob controle inúmeras partes da cidade antes de ser expulsa por uma contra-ofensiva coordenada pelo governo.
Os rebeldes também dominavam vários trechos das fronteiras da Síria com a Turquia e do Iraque.
"Os ativistas confirmaram: o ataque do governo a Aleppo está em andamento. No primeiro raio de sol deste sábado, já se podia ouvir o som de artilharia pesada em meio ao bombardeio que reverberou por toda a cidade. Os rebeldes dizem que os tanques e veículos blindados do governo começaram a avançar no sentido de Salah al-Din, um dos principais redutos dos insurgentes. Carros e caminhões cheios de famílias estão se deslocando em direção às zonas rurais, ante o temor de que haja um massacre na cidade. Ambos os lados estão determinados a controlar este local da cidade. Assad, entretanto, detém o maior efetivo - e está disposto a lançar mão de qualquer recurso para retomar o controle de Aleppo. "
Ian Pannell, enviado especial da BBC a Aleppo
Em Aleppo, o confronto ganhou força na semana passada, à medida em que o governo usou aeronaves militares e helicópteros para conter os rebeldes.
Até recentemente, tanto Aleppo quanto Damasco ficaram à margem da violência que afetou outras partes do país.
No início desta semana, milhares de integrantes das forças do governo foram deslocados da Turquia para engrossar as fileiras da batalha em Aleppo, informaram ativistas.
Na última sexta-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon fez um novo apelo à Síria que interrompesse a ofensiva e pediu uma declaração clara de que armas químicas não serão usadas sob quaisquer circunstâncias.
A Síria reconheceu que detém armas químicas, mas afirmou que não usaria o armamento contra seu "próprio povo", apenas contra invasores estrangeiros, se necessário.
O ex-coordenador da missão de monitoramento da ONU na Síria, general Robert Mood, afirmou que a saída de Assad do poder era apenas "uma questão de tempo".
No domingo passado, o Observatório Sírio para Direitos Humanos estimou em 19.106 o número de mortos desde o inicío do levante revolucionário, em março de 2011. Segundo dados divulgados pelas Nações Unidas, pelo menos 10 mil pessoas morreram até agora devido ao conflito sírio.
A Síria, por outro lado, acusa "gangues terroristas armadas" de patrocinarem a violência no país.
Em junho, o governo sírio informou que 6.947 pessoas morreram em confrontos, incluindo pelo menos 3.211 civis e 2.566 integrantes das forças de segurança.
A cerimônia de abertura da Olimpíada de Londres estabeleceu um parâmetro alto para o Rio superar, em uma superprodução rigorosa que serviu de mensagem para que a cidade comece a pensar logo na imagem que quer passar ao mundo em 2016.
Para artistas ouvidos pela BBC Brasil, a cerimônia concebida pelo cineasta Danny Boyle chamou a atenção pelo uso da história, do humor e da música para sintetizar a cultura britânica.
Com opiniões por vezes conflitantes, os entrevistados destacaram o resgate às raízes do país, do campo à Revolução Industrial, e a participação da ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que carregou a bandeira olímpica.
A cerimônia foi acompanhada com atenção pelo cineasta Cao Hamburguer, que é o diretor artístico, ao lado da cenógrafa Daniela Thomas, da apresentação de 8 minutos que o Rio fará na cerimônia de encerramento, marcando o passagem do bastão.
Hamburguer diz que a cerimônia "assusta de um jeito aterrador" pelo nível alto que tem – como a de Pequim e a de Barcelona. Para ele, o rigor exibido na performance lembra que o Brasil precisa planejar muito bem a sua. "Um show desse tamanho não pode ser no improviso."
Cao Hamburguer | Crédito da foto: Divulgação
"Foi uma superprodução, como sempre é. Gostei muito do começo, mostrando a vida no campo e depois a revolução industrial. Foi uma época muito dura para os trabalhadores e eles conseguiram incluir isso sem glamorizar muito. Adorei a Marina Silva representando a ideia de preservação ambiental, de um novo modelo para o futuro. Os cenários e efeitos não me surpreenderam tanto, porque eu já esperava algo impactante. A Inglaterra sempre tem muito rigor nos espetáculos musicais, nos shows de bandas inglesas. Em termos musicais, achei que faltaram algumas coisas, como os teve Rolling Stones. Mas nós consumimos muito a cultura inglesa, não caberia tudo.
"É um tipo de evento muito difícil de fazer. Logo temos que começar a planejar o nosso. O essencial é pensar com antecedência para não ter que improvisar muito. Um show desse tamanho não pode ser no improviso. Tem que ter o espírito brasileiro do calor e da espontaneidade, mas tem que ter um rigor técnico e artístico também. Não dá para achar que o improviso e o jeitinho brasileiro resolvem, porque aí o barco afunda. É algo que tem que ser levado muito a sério para representar bem o legado e a cultura do Brasil."
Cao Hamburguer, diretor dos filmes "Xingu" e "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" e diretor artístico da apresentação brasileira na cerimônia de encerramento de Londres 2012.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A presidente Dilma Rousseff cobrou nesta sexta-feira a geração de emprego e renda como contrapartida das empresas que recebem incentivos fiscais no Brasil.
Segundo ela, o único motivo para dar incentivos às companhias é garantir "o emprego, a renda" do povo brasileiro.
"Nós damos incentivos fiscais e queremos um retorno", afirmou a presidente em entrevista coletiva em Londres.
Apesar de generalista, a declaração de Dilma soa como uma mensagem direta, principalmente, às montadoras de veículos instaladas no Brasil que, embora tenham se beneficiado da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), em vigor desde maio, começam a planejar o fechamento de fábricas e demissões.
Nesta semana, a General Motors concedeu licença remunerada por tempo indeterminado aos empregados de oito fábricas em São José dos Campos, no Vale do Paraíba.

Novas medidas

Admitindo que o Brasil não está imune à crise econômica mundial, Dilma disse ainda que o governo anunciará medidas para estimular a economia nas próximas semanas.
"Iremos, no mês de agosto, e um pedaço de setembro, tomar algumas medidas, continuando o nosso programa contracíclico", disse Dilma.
A presidente ressaltou estar preocupada com o "Custo Brasil" (o cálculo feito por agências de classificação de risco sobre os custos para investimentos estrangeiros no país) e disse que apresentará medidas para reduzi-lo.
Dilma afirmou também que os planos vão se basear em três áreas-chave: o setor elétrico, que deve registrar mais quedas de preço; uma política de investimento em infraestrutura, em portos, aeroportos e grandes obras em parcerias público-privadas; e na desoneração de outras áreas.
Ao ser questionada sobre quais setores seriam beneficiados, a presidente foi evasiva: "em geral".
Dilma afirmou que as políticas cambial e de juros do governo vão criar um "círculo virtuoso" no futuro.
Para ela, essas políticas vão garantir novos investimentos.
"Temos certeza de que estamos num caminho de estabilidade. Vamos fazer tudo isso mantendo a solidez fiscal, a inflação sob controle e continuando nossas políticas fiscais".
Na capital britânica para participar de diversos eventos e assistir à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, Dilma afirmou estar otimista de que o Brasil vai voltar a crescer aceleradamente no segundo semestre, embora aceite que a crise possa abalar os planos.
"Não há um país que passe uma crise dessas sem sentir alguma consequência. O Brasil não é uma ilha".

Agenda

Mais cedo Dilma comentara a posição do Brasil sobre a crise na Síria, criticando possíveis intervenções militares no país.
Ela também se reuniu a portas fechadas com o líder da oposição na Grã-Bretanha, Ed Milliband.
No final da tarde, ela participa de uma recepção com a rainha Elizabeth 2ª e conclui a sua agenda oficial na capital britânica no estádio olímpico, onde assiste a cerimônia de abertura da Olimpíada.
Dilma só embarca para o Brasil no sábado à noite, mas não tem compromissos oficiais durante o dia.
A presidente Dilma Rousseff cobrou nesta sexta-feira a geração de emprego e renda como contrapartida das empresas que recebem incentivos fiscais no Brasil.
Segundo ela, o único motivo para dar incentivos às companhias é garantir "o emprego, a renda" do povo brasileiro.
"Nós damos incentivos fiscais e queremos um retorno", afirmou a presidente em entrevista coletiva em Londres.
Apesar de generalista, a declaração de Dilma soa como uma mensagem direta, principalmente, às montadoras de veículos instaladas no Brasil que, embora tenham se beneficiado da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), em vigor desde maio, começam a planejar o fechamento de fábricas e demissões.
Nesta semana, a General Motors concedeu licença remunerada por tempo indeterminado aos empregados de oito fábricas em São José dos Campos, no Vale do Paraíba.

Novas medidas

Admitindo que o Brasil não está imune à crise econômica mundial, Dilma disse ainda que o governo anunciará medidas para estimular a economia nas próximas semanas.
"Iremos, no mês de agosto, e um pedaço de setembro, tomar algumas medidas, continuando o nosso programa contracíclico", disse Dilma.
A presidente ressaltou estar preocupada com o "Custo Brasil" (o cálculo feito por agências de classificação de risco sobre os custos para investimentos estrangeiros no país) e disse que apresentará medidas para reduzi-lo.
Dilma afirmou também que os planos vão se basear em três áreas-chave: o setor elétrico, que deve registrar mais quedas de preço; uma política de investimento em infraestrutura, em portos, aeroportos e grandes obras em parcerias público-privadas; e na desoneração de outras áreas.
Ao ser questionada sobre quais setores seriam beneficiados, a presidente foi evasiva: "em geral".
Dilma afirmou que as políticas cambial e de juros do governo vão criar um "círculo virtuoso" no futuro.
Para ela, essas políticas vão garantir novos investimentos.
"Temos certeza de que estamos num caminho de estabilidade. Vamos fazer tudo isso mantendo a solidez fiscal, a inflação sob controle e continuando nossas políticas fiscais".
Na capital britânica para participar de diversos eventos e assistir à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, Dilma afirmou estar otimista de que o Brasil vai voltar a crescer aceleradamente no segundo semestre, embora aceite que a crise possa abalar os planos.
"Não há um país que passe uma crise dessas sem sentir alguma consequência. O Brasil não é uma ilha".

Agenda

Mais cedo Dilma comentara a posição do Brasil sobre a crise na Síria, criticando possíveis intervenções militares no país.
Ela também se reuniu a portas fechadas com o líder da oposição na Grã-Bretanha, Ed Milliband.
No final da tarde, ela participa de uma recepção com a rainha Elizabeth 2ª e conclui a sua agenda oficial na capital britânica no estádio olímpico, onde assiste a cerimônia de abertura da Olimpíada.
Dilma só embarca para o Brasil no sábado à noite, mas não tem compromissos oficiais durante o dia.
Cercada por dezenas de esportistas da delegação brasileira e vestida com um uniforme de pódio (o agasalho que será usado por medalhistas), a presidente Dilma Rousseff passou o seu recado aos atletas: "vamos com tudo".
Em rápido evento antes do almoço no bandejão do centro de treinamento da equipe brasileira, em Crystal Palace, Dilma se encontrou com o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e conversou com alguns atletas das equipes de handebol, atletismo, saltos ornamentais, levantamento de peso e natação.
Ela chegou a brincar com o halterofilista Fernando Reis, medalha de ouro nos jogos Pan-Americanos de 2011:
"Pode comer quanto quiser", disse a presidente.

Cardápio

No cardápio, preparado pela chef Roberta Sudbrack, trazida especialmente para garantir a alimentação da equipe verde-e-amarela, havia várias opções, além do tradicional arroz, feijão, farofa e carne assada.
A presidente, que almoçou no bandejão com os atletas, pode provar pratos como bobó de camarão, capelletti de espinafre gratinado, abóbora com carne seca, quiabo e couve-flor gratinados, além de salada de tomate com salsinha.
Para a sobremesa, doce de leite e brigadeiro.
Antes do encontro, a presidente revelou que seu esporte predileto é o vôlei, porque o praticava "há mais de 40 anos".
"A gente costuma gostar mais dos esportes que pratica", afirmou.
Ela também disse gostar de acompanhar basquete, mas explicou que não deve ir às quadras no sábado, quando não tem programação oficial marcada.
A presidente afirmou que sua visão não permite acompanhar as partidas de perto como gostaria, nos ginásios.
"Prefiro ver na televisão, que posso ver de pertinho", disse, bem-humorada, acrescentando que, por causa da miopia, pretende levar um binóculos para a cerimônia de abertura.

Esportes individuais

Antes do encontro com os esportistas, Dilma disse, em entrevista coletiva, que o Brasil precisa ganhar espaço nos esportes individuais.
''Sempre nos esportes coletivos a gente leva medalha, mas apesar de ser um time completo, você leva uma medalha no esporte coletivo. E aí têm esportes individuais que são mais medalhados'', disse Dilma.
''O Brasil vai ter que fazer esforço para ampliar seu espaço em esportes individuais."
Antes de se dirigir ao estádio olímpico para a cerimônia de abertura, a presidente participou de uma recepção no Palácio de Buckingham, oferecida pela rainha Elizabeth 2ª aos chefes de Estado presentes na capital britânica.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Três anos após a morte de Eva Perón tinha início um capítulo macabro envolvendo o destino do corpo embalsamado do maior mito político da Argentina. Na noite de 22 de novembro de 1955, os restos mortais de Evita desapareceram, meses após o levante militar que derrubou o governo de seu marido, o general Juan Domingo Perón.
Clique Veja a galeria de fotos dos 60 anos da morte de Evita
O corpo foi levado no meio da noite da sede em Buenos Aires da CGT, o maior sindicato peronista da Argentina, onde estava desde que o processo de embalsamamento havia sido concluído.
Para os partidários de Perón, a remoção do corpo de Eva era uma tentativa de apagar o peronismo e seu símbolo mais forte na Argentina. Quando viva, Evita acumulou uma enorme popularidade, sobretudo por causa de seu trabalho junto às classes trabalhadoras.
Investigações indicaram, depois, que o corpo foi mantido em um veículo estacionado nas ruas de Buenos Aires e chegou a ser guardado dentro do sistema de abastecimento de água da cidade. Por um tempo, o cadáver ficou escondido atrás de uma tela de cinema.
Acredita-se, também, que corpo passou um tempo dentro dos escritórios da Agência Secreta Militar. Mas, para onde quer que o corpo fosse levado, flores e velas apareciam e, por isso, era necessária uma solução de longo prazo.
Eva Perón (Foto: Wikimedia Commons)
Corpo de Eva Perón percorreu vários países antes de ser sepultado definitivamente em Buenos Aires (Foto: Wikimedia Commons)
Em 1957, com a ajuda secreta do Vaticano, os restos de Eva Perón foram levados para a Itália e sepultados em um cemitério de Milão, com um nome falso.

Símbolo de resistência

Assim que correu a notícia do desaparecimento do corpo, começaram a aparecer pichadas nos muros de Buenos Aires a frase: "Onde está o corpo de Eva Perón?". O corpo, então uma lembrança incômoda do regime peronista, transformou-se em um símbolo de resistência ao novo regime militar que comandava o país.
Em 1970, os Montoneros, grupo guerrilheiro peronista, sequestraram e mataram o ex-presidente Pedro Eugenio Aramburu. Uma das razões foi o fato de o general Aramburu ter coordenado o roubo do corpo.
Em 1971, em um país marcado pela crise econômica, houve uma tentativa de "normalização" da política. O Partido Justicialista (Peronista) foi legalizado, o corpo de Evita foi desenterrado e transferido da Itália à Espanha, onde Perón vivia no exílio com a terceira mulher, Isabelita.
Uma das testemunhas da transferência do corpo foi o empresário argentino Carlos Spadone, amigo de confiança de Perón. Ele foi um dos primeiros a ver o corpo de Evita.
"O general Perón, o jardineiro e eu tiramos o corpo de dentro do caixão. Colocamos em uma mesa com tampo de mármore. Nossas mãos ficaram sujas de terra, o corpo tinha que ser limpo", contou, em entrevista à BBC.
"Isabelita fez isso cuidadosamente, com algodão e água. Ela penteou o cabelo, limpou (...) e então usou com secador. Levou vários dias."
Um dos dedos da mão estava faltando. Acredita-se que os militares o tenham removido depois do golpe de 1955 para verificar se era mesmo de Evita.
Spadone também relata, ainda, outros danos no corpo: havia um afundamento no nariz, sinais de golpes no rosto e no peito, marcas nas costas e uma marca maior no joelho.
Eva Perón (Foto: Wikimedia Commons)
Corpo de Evita se transformou em símbolo de resistência na Argentina (Foto: Wikimedia Commons)
"Mas não acredito que ela foi pendurada ou chicoteada como alguns falam", disse.

O retorno

Em 1973, Perón e Isabelita voltaram para a Argentina. Perón foi eleito presidente e Isabelita, vice.
Um ano depois, Perón morreu e deixou na Presidência sua então esposa, que supervisionou a volta do corpo de Evita de Madri para Buenos Aires.
Domingo Tellechea, especialista em restauração, foi encarregado de tornar o corpo apresentável para o público. O trabalho começou na cripta da residência presidencial Los Olivos, como Tellechea contou à BBC.
"Os pés estavam ruins, pois o corpo foi escondido na posição vertical. Ela tinha uma ferida. Mas eu não saberia dizer se foi feita com uma arma ou não", conta.
Tellechea acredita que os restos foram forçados para caber dentro de um caixão pequeno demais para o corpo. Apesar das marcas externas, ele disse que o embalsamento original resistiu bem ao tempo e que o corpo estava bem conservado.
Durante a restauração do corpo, Isabelita começou a planejar um monumento grandioso para abrigar os restos de Evita e Perón. Mas o plano nunca foi executado.
Quando a restauração estava completa, o cadáver foi novamente mostrado ao público, ao lado do caixão de Perón. Fotos da época mostram a fila do lado de fora de Los Olivos, mas nada foi igual às duas milhões de pessoas que acompanharam o funeral, em 1952.

Recoleta

Juan e Eva Perón (Foto: Wikimedia Commons)
Quando Juan Perón morreu, corpo de Evita voltou à Argentina (Foto: Wikimedia Commons)
Em 1976, outro levante militar sacudia a Argentina. O governo de Isabelita Perón foi deposto e o país mergulhou em uma nova era de violência, com a morte e o desaparecimento de milhares de opositores.
Isabelita partiu para o exílio em Madri, onde vive até hoje. Já o corpo de Evita foi levado, em outubro de 1976, de Los Olivos para o mausoléu de sua família no cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, em uma operação supervisionada pelos militares.
O corpo foi colocado em uma cripta a cinco metros de profundidade, semelhante a um abrigo nuclear, para que ninguém voltasse a perturbar os restos da mais célebre personalidade argentina.