quinta-feira, 31 de março de 2016

MPF denuncia dono do Grupo Safra e mais cinco por fraudes no Carf

O Ministério Público Federal denunciou seis pessoas por supostas fraudes no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Entre elas está o dono do Grupo Safra, Joseph Safra, um integrante do Conselho de Administração do grupo, João Inácio Puga, além de dois servidores e dois ex-servidores da Receita Federal.
Segundo a denúncia, Safra e Puga teriam pago R$ 15,3 milhões aos funcionários, a título de propina, para obter decisões favoráveis no Carf. A denúncia apresenta conversas trocadas entre o grupo.
Em uma das conversas, um servidor diz ao intermediário do esquema: “Aquela decisão só amanhã à tarde. E ninguém fica sabendo de nada. É só quando ele entrega. E o julgamento vai até amanhã, né... Então, amanhã à tarde, a gente tem condição de ver o resultado”.
Os investigadores apuram, em outras conversas, que o valor da propina seria reduzido em R$ 1 milhão por mês, se o problema no Carf não fosse solucionado até dezembro de 2014.
Os procuradores da República Frederico Paiva, Hebert Mesquita e Marcelo Ribeiro, que assinaram a ação penal, pedem que os dois servidores da Receita respondam por corrupção ativa, cuja pena pode chegar a 12 anos de reclusão, além de pagamento de multa.
As fraudes no Carf são investigadas pela Operação Zelotes. A Polícia Federal apura a existência de associação criminosa destinada a manipular decisões do conselho, por meio de corrupção, para favorecer empresas multadas pela Receita Federal.
O Grupo Safra divulgou nota na qual nega todas as acusações: "A JS Administração de Recursos esclarece que as suspeitas levantadas pelo Ministério Público são infundadas. Nenhum representante da JS Administração de Recursos ofereceu vantagem para qualquer funcionário público. A JS não recebeu qualquer tipo de benefício no Carf. Portanto, não há justa causa para o processo."

terça-feira, 29 de março de 2016

Brasil está vivendo a fase da democracia da eficiência, diz Michel Temer

"Estamos vivendo uma terceira fase da democracia no Brasil desde que foi promulgada a Constituição de 1988. Depois de uma democracia liberal, de uma democracia social — que tirou mais de 36 milhões da linha da extrema pobreza —, o país está vivendo agora a democracia da eficiência, na qual é exigida eficiência do poder público e dos serviços privados, além de ética na política."
Assim o vice-presidente Michel Temer (PMDB) resumiu a evolução da democracia brasileira desde que foi promulgada a Constituição Federal de 1988. Temer foi um dos juristas brasileiros convidados para o IV Seminário Luso-Brasileiro de Direito, em Lisboa. Como não pôde comparecer, o vice-presidente aceitou sugestão do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes — coordenador acadêmico e cientifico do evento — e enviou sua contribuição por vídeo (assista abaixo).
"Direito existe precisamente para regular as relações sociais", diz Temer.
Felipe Lampe
Em sua exposição, Temer destacou que tanto a Constituição brasileira quanto a portuguesa foram capazes de estabelecer uma estabilidade institucional extraordinária, dando tranquilidade para a aplicação do Direito. "O Direito existe precisamente para regular as relações sociais. E, quando o Direito é obedecido, as relações sociais se harmonizam", afirmou.
Para Temer, uma das sabedorias do Constituinte de 88 foi a capacidade de amalgamar os princípios do Estado liberal com os princípios do Estado social. Esses foram, inclusive, os princípios que nortearam o que Temer classifica como as duas primeiras fases da democracia brasileira.
Primeiro a democracia liberal, que na opinião do vice-presidente fez muito bem ao país, descartando qualquer hipótese de centralização de poder e qualquer hipótese de autoritarismo. Conforme Temer, depois de desfrutar desses direitos por muito tempo, o cidadão menos provido econômico e politicamente passou a querer o pão sobre a mesa, dando início à segunda fase da democracia, a social.
Nesta nova fase, baseada nos princípios sociais como o da alimentação e da moradia, foram adotadas medidas concretas pelo governo que retiraram mais de 36 milhões da linha da extrema pobreza e as levaram para o primeiro patamar da classe média.
Com essa evolução, segundo Temer, o cidadão passou a ter mais acesso a serviços e produtos que antes não tinha e, com isso, passou a ser mais exigente, culminando na fase em que ele classifica como democracia da eficiência, na qual aumentou a cobrança por eficiência tanto do poder público quanto dos serviços privados.
Para o vice-presidente, os protestos de junho de 2013 revelaram essa nova fase da democracia. "As pessoas passaram a exigir eficiência dos serviços públicos e privados. Passaram a exigir um comportamento político ético, adequado aos novos tempos e a essas novas realidades", afirma.
Poderes limitados
Sobre a Constituição brasileira, Temer destacou que uma de suas características é não ser principiológica, sendo um texto muito detalhista, trazendo para dentro da Constituição matérias que poderiam ficar no nível da legislação complementar ou ordinária.
Isso, segundo o vice-presidente, retira um pouco da liberdade discricionária do legislador ordinário e até retira um pouco a capacidade do Judiciário de ser mais criativo em face dos princípios constitucionais, "porque quase tudo está expressado literalmente no texto constitucional".
Apesar disso, Temer destaca que o Judiciário é exigido em muitas ocasiões a examinar os princípios constitucionais para dar uma correta interpretação a determinados temas do cotidiano.
O fato de a Constituição ser detalhista, segundo Temer, também justifica a quantidade de emendas à Constituição que são propostas. "Creio que mais de mil propostas tramitaram ou tramitam no Congresso. Sendo certo que mais de 70 já foram produzidas", contabiliza.
O seminário em Portugal é promovido pela Escola de Direito de Brasília do Instituto Brasiliense de Direito Público e pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

domingo, 27 de março de 2016

"Nesta fase do impeachment, situação de Collor era melhor que a de Dilma"

Para o deputado estadual Ibsen Pinheiro, a petista é alvo de mais acusações de crime de responsabilidade, mas que não se pode ignorar mobilização de setores próximos ao PT

BBC
Líder do PMDB gaúcho analisa semelhanças e diferenças entre a situação de Dilma e de Collor
Reprodução
Líder do PMDB gaúcho analisa semelhanças e diferenças entre a situação de Dilma e de Collor
A seu favor, a presidente Dilma Rousseff tem a capacidade de mobilização de setores historicamente próximos a seu partido, o PT. Por outro lado, na comparação com a mesma fase do processo de impeachment contra Fernando Collor, ela é alvo de um maior número de acusações de crime de responsabilidade.
Essa é a avaliação do deputado estadual Ibsen Pinheiro, líder do PMDB gaúcho e uma das principais testemunhas do início da queda do ex-presidente.
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Segundo o peemedebista, que aceitou o pedido de afastamento do hoje senador e presidiu a Câmara dos Deputados durante o processo, o "clima" para o impeachment está em um "acelerado" processo de mudança, com uma piora da situação de Dilma por causa da delação do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) e da revelação de conversas com o ex-presidente Lula, mesmo que elas sejam consideradas judicialmente ilegais.
Ele faz uma previsão: se a votação for apertada, a presidente tende a escapar do impeachment. "Se for necessário convencer deputado, cantar deputado e contar deputado, é porque não haverá o clima avassalador que reduziu a pó a maioria que tinha o presidente Collor antes da votação", diz, ao explicar que a situação à época foi definida por causa do "pequeno", mas "vergonhoso" episódio do veículo Fiat Elba adquirido com recursos provenientes de corrupção.
Para Pinheiro, assim como Collor, os próximos fatos é que selarão o destino de Dilma. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil - Em julho passado, o sr. disse à BBC Brasil que não via uma crise político-institucional e, por isso, não havia clima para impeachment. E agora?
Ibsen Pinheiro - Lembro de ter dito que faltavam dois elementos: o primeiro é técnico, é o jurídico, a tipificação da conduta. E o segundo é o político-popular. Ninguém cogita destituir o presidente por um fato menor, ainda que bem definido, como a pedalada fiscal. Não me parecia fundamento para um impeachment, e também não via a presença do sentimento popular.
Bom, as coisas se alteraram, especialmente após a delação do senador Delcídio do Amaral envolver a presidente e o ex-presidente Lula. Posteriormente, as gravações determinadas pelo juiz Sergio Moro trazem também a presença dos dois em atividade que, em tese, alguns já definem como tentativa de intervenção em investigação judicial. O que aí teria também a característica de configurar, em tese, crime de responsabilidade.
O sentimento popular agora tem um grau de mobilização espontânea muito significativo, e a definição do fato corresponde à tipificação do crime de responsabilidade.
BBC Brasil - Mesmo ainda sem comprovação, a delação do Delcídio piora muito a situação da presidente?
Ibsen Pinheiro - A comprovação é um pré-requisito essencial, mas, num processo de impeachment, o julgador, que é o deputado no primeiro momento e o senador no segundo, não é um técnico nem um jurista, salvo exceções.
Um exemplo concreto: houve um senador que foi gravado incidentalmente, pois o monitorado era seu interlocutor, por decisão de um juiz de primeiro grau. Logo faltava a decisão do foro especial, que é o Supremo. Falo do senador Demóstenes Torres (ex-DEM) e do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Ibsen Pinheiro comandou o processo que afastou Fernando Collor da presidência
Reprodução/Facebook
Ibsen Pinheiro comandou o processo que afastou Fernando Collor da presidência
Num processo criminal, essa prova não pode ser usada, mas o senador perdeu o mandato por causa dessa conversa. Porque o julgamento político ocorreu: "não podemos ignorar esse fato, ele é verdadeiro e grave". Então foi fundamento para a cassação.
BBC Brasil - É como se, no processo no Congresso, o imoral pesasse mais do que o ilegal?
Ibsen Pinheiro - Num processo político, o fundamento moral tem mais peso. Mas o peso decisivo é o fundamento político aliado à percepção dos fatos. Se o fato está comprovado, pouca relevância tem se essa comprovação surgiu com o devido processo legal ou por uma escuta ilegal.
BBC Brasil - A Comissão Especial está instalada, e já corre o prazo para a defesa da presidente. O que é determinante agora?
Ibsen Pinheiro - A primeira manifestação relevante da comissão vai ser a última, que é o parecer. Ela agora está fazendo reuniões que a rigor são preparatórias, não houve a defesa ainda. Ela vai ouvir especialistas, juristas, mas essa é uma atividade mais midiática do que de conteúdo. Embora possa ser útil, claro, para discutir em tese o problema.
BBC Brasil - Se formos comparar com o mesmo momento do caso Collor, em 1992, a situação de Dilma é melhor ou pior?
Ibsen Pinheiro - Melhor num aspecto e pior num outro. Pior porque o volume de acusações compatíveis com a definição do crime de responsabilidade é maior por causa da quantidade de delações, das entrevistas e das gravações.
No caso de Collor, as acusações pesadíssimas não eram contra ele, eram contra PC Farias. As acusações de cumplicidade eram importantes do ponto de vista político, mas não tiveram comprovação. A entrevista do irmão, do motorista, eram genéricas: Passavam a ideia de verdade, mas não tiveram comprovação. Um pequeno fato, e vergonhoso, foi o fator decisivo: o Fiat Elba.
A situação dele, até o Fiat Elba, era menos carregada de acusações de crime de responsabilidade.
BBC Brasil - E em que ponto Dilma está em melhor situação?
Ibsen Pinheiro - Ela pode estar minoritária, mas não está isolada. Ao contrário do Collor, foi candidata de um grande partido, o PT, e com apoio de um partido pequeno, mas com grande tradição política, o PC do B. E esses partidos têm base e têm inserção social, especialmente em alguns setores da vida sindical e estamentos sociais de grande vinculação política e ideológica com o PT. É um número significativo, como se viu nas manifestações a favor do governo.
Para Pinheiro, caso a votação seja apertada, o impeachment não vai passar
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo - 22.03.16
Para Pinheiro, caso a votação seja apertada, o impeachment não vai passar
Eu diria que a opinião pública mobilizou-se a favor do impeachment, esse é o sentimento generalizado. Mas que os setores dos quais o PT tem ramificações, influência e história, junto com o PC do B, têm uma capacidade de mobilização significativa.
BBC Brasil - Se o sr. pudesse fazer uma aposta agora, diria que ela vai cair?
Ibsen Pinheiro - Não há clareza hoje para afirmar. Escuto e leio com frequência que a presidente precisa de 172 votos. Não, não precisa. Ela precisa que os votos contra, as abstenções e as ausências somem 172 deputados.
Então, em vez de responder sim ou não, vou responder condicionado: se for por votação apertada, acho que não passa (o impeachment). Se for necessário convencer deputado, cantar deputado e contar deputado, é porque não haverá o clima avassalador que reduziu a pó a maioria que tinha o presidente Collor antes da votação.
BBC Brasil - Esse clima existe agora?
Ibsen Pinheiro - O clima está em um processo de mudança muito acelerado. E ele depende de fatos também. Doutor Ulysses (Guimarães) dizia que tudo é importante na vida política, mas a cadeira principal pertence à sua excelência, o fato. Não posso adivinhar nem especular, mas pode ocorrer algo que altere profundamente a situação.
Lembro que o Collor, no começo, tinha do seu lado duas das maiores bancadas – o PDS, antiga Arena, e o PFL. E tinha outra bancada grande, que era de quase uma centena de deputados do PMDB. Sei bem porque era o líder da bancada, tínhamos 235 deputados. E desses, quase uma centena votou a favor do confisco da poupança, embora a liderança tenha combatido tenazmente. E votaria com o Collor no caso do impeachment.
Mas a sucessão dos fatos – a entrevista do irmão, do motorista, o Fiat Elba –, devastou (o apoio).
BBC Brasil - O PMDB está ensaiando um rompimento com o governo. Como o senhor avalia isso?
Ibsen Pinheiro - É uma profunda alteração e aceleração de um sentimento do PMDB. Vejo festejando de um modo singular, porque o PMDB gaúcho foi contra essa coligação antes da eleição. Tivemos de dizer ao Michel Temer que o apreço que tínhamos por ele não seria afetado, mas nós não votaríamos na chapa que integrava.
Nunca quisemos essa parceria porque nunca apreciamos as políticas públicas do PT. Entendemos como profundamente equivocado você fundamentar políticas sociais no endividamento. Isso é cruel com os supostos beneficiários. Porque quando essa política não se sustenta, são os mais vulneráveis que pagam a conta.
Não fizemos nenhuma indicação ao governo Dilma. Não houve nenhum representante do PMDB gaúcho.
BBC Brasil - Mas o Eliseu Padilha esteve lá, na Aviação Civil.
Ibsen Pinheiro - Mas não representava o PMDB gaúcho. Foi porque recebeu um convite pessoal. Antes dele foi o Mendes Ribeiro (na Agricultura, morto no ano passado). Nós convivemos com isso, o PMDB não expulsa os seus divergentes. Ainda bem, porque já fui divergente. Eles não representavam o PMDB gaúcho. Representavam o PMDB nacional? Pode ser.
Agora, o sentimento pela saída é muito forte. Nesta semana o deputado Osmar Terra, na reunião da Executiva, nos informou que já são 13 os diretórios estaduais que apoiam o afastamento. Treze é a um diretório da maioria absoluta. Embora a votação não seja por diretório, e sim por membro do Diretório Nacional, intuo que está se construindo um sentimento muito amplo pelo afastamento.
Não sei se é necessariamente pelo impeachment, não é isso que estará se votando.
BBC Brasil - Por quê?
Ibsen Pinheiro - Houve um fato que agravou em muito (a relação), que foi a posse do ministro Mauro Lopes (deputado do PMDB, na Aviação Civil). Ora, foi uma decisão unânime da Convenção Nacional que o PMDB, neste prazo para estudar o afastamento, não aceitasse nomeação.
Fernando Collor atualmente é senador pelo estado do Alagoas desde 2007
WALDEMIR BARRETO/ AGÊNCIA SENADO
Fernando Collor atualmente é senador pelo estado do Alagoas desde 2007
O PMDB não gostou da atitude de seu deputado e não gostou também da atitude da presidente, pareceu uma afronta ao PMDB. Ela poderia ter esperado mais duas semanas para fazer a nomeação depois da reunião do Diretório Nacional. Este fato incrementou enormemente a tendência pelo afastamento. É o mais provável hoje.
BBC Brasil - Mas o partido não fica numa situação complicada, já que também tem sido implicado nas delações e nas investigações da Lava Jato?
Ibsen Pinheiro - A delação premiada, quando aponta o nome, isso não é bom para quem é apontado. Mas não basta dizer que fulano também participou porque indicou, nomeou, pois isso não pode ser crime de responsabilidade. Senão a Dilma responderia pelos atos de todos os quadros que ela nomeou.
Não se vê em relação ao Temer uma prova, nem sequer uma acusação. A não ser a de ter responsabilidade política nas nomeações do PMDB. Mas crime de responsabilidade, não há nenhuma acusação.
BBC Brasil - E não é complicado sair depois de todos esses anos ao lado do PT?
Ibsen Pinheiro - Se o PMDB se afasta, poderá dizer a verdade, que é convincente: que esteve durante anos no governo, mas não esteve no poder, que está nas mãos exclusivamente do presidente da República.
O PMDB esteve no governo com ministros, mas nunca esteve no poder, que é o que define o principal: a política econômica, a financeira, a externa, a de defesa. Tudo isso é o presidente sozinho.
BBC Brasil - O sr. dizia acreditar que Eduardo Cunha não agiria "com seus humores" sobre o impeachment. Mas ele acabou aceitando o pedido logo após ficar claro que o PT votaria contra ele no Conselho de Ética...
Ibsen Pinheiro - Tenho a impressão que ele agiu olhando para o seu projeto de sobrevivência. Isso não chega a ser anormal, o político está sempre vinculado à sua sobrevivência ou a seu crescimento político. Por isso alguns erros graves se praticam.
Na véspera eu disse: ele vai acolher o pedido. Porque a sobrevivência dele, o cacife dele, está na administração do processo de impeachment. Isso foi tão verdadeiro que em grande parte, por causa disso, ele conseguiu trabalhar o retardamento do seu processo no Conselho de Ética.
Há um processo de sustentação mútua e recíproca entre a Presidência da República e a Presidência da Câmara. Ambas se sustentam uma com o fantasma da outra. Mas, a essa altura, esse fator é irrelevante. Há uma consciência clara de que a pauta tem como primeiro ponto o impeachment, e depois fica aberta para a questão do processo de cassação.
BBC Brasil - O sr. acha que o Cunha, como réu da Lava Jato e alvo de processo de cassação, tem condições de tocar o processo de impeachment?
Ibsen Pinheiro - O quadro perfeito seria que o presidente da Câmara tivesse imparcialidade e uma imagem intocada. Mas infelizmente a escolha nem sempre é feita por esse critério. Então se elegem pessoas com imagem desgastada, devastada. Às vezes injustamente. Outras vezes com procedência bem clara, como é o caso atual.
Mas na função de presidir (o processo), o perfil moral do condutor não é relevante. Porque a legalidade é muito precisa, muito clara, muito expressa. O que ele tem de fazer, está fazendo. A Câmara instituiu a Comissão Especial, que vai dar um parecer, que vai a voto. Sim, não, abstenção e ausência. A Presidência da Câmara tem um papel importante na condução formal, mas no conteúdo não tem papel nenhum.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Planilha da Odebrecht indica uso de cervejaria em doações

Planilhas apreendidas pela Operação Lava Jato na casa do presidente de uma das empresas da Odebrecht mostram que o grupo pode ter usado distribuidoras de cerveja para disfarçar doações eleitorais a políticos. As contribuições podem ter superado a cifra os R$ 30 milhões.
Políticos presentes na lista revelada nesta quarta-feira (23) vinham negando recebimento de recursos de forma irregular, e apresentaram recibos de doações oficiais em nome das empresas Leyroz de Caxias ou Praiamar, como o senador Aécio Neves (PSDB).
Documentos foram apreendidos pela Operação Lava Jato nesta semana
Documentos foram apreendidos pela Operação Lava Jato nesta semana
A Leyroz de Caxias e a Praiamar não são ligadas à Odebrecht, mas, sim, ao grupo Petrópolis, que fabrica as cervejas Itaipava e Cristal. De acordo com informações do jornal O Estado de S. Paulo, a palavra “Itaipava” está anotada à mão ao lado de uma doação de R$ 500 mil para Luís Fernando Pezão (PMDB), governador do Rio de Janeiro. A doação está relacionada, no topo da coluna dos valores, a “Parceito IT”, que seria uma “parceria” entre a Odebrecht e a Itaipava no financiamento eleitoral.
Há valores altos associados ao “parceiro IT”. Um dos documentos sobre doações para a campanha eleitoral de 2012 apontam para um total de R$ 5,8 milhões. Em outro quadro, sem data, o “parceiro” aparece como responsável por doações de R$ 30 milhões a 13 partidos, entre eles PSDB, PMDB e PT.
As empresas ligadas à cervejaria apareceram entre as principais doadoras de campanhas em 2010, 2012 e 2014.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Conselho de Ética do Senado adia oitiva de Delcídio para 7 de abril

Diante da ausência do senador Delcídio do Amaral (sem Partido-MS), cuja oitiva estava marcada para esta quarta-feira (23), os membros do Conselho de Ética do Senado decidiram seguir o rito processual sobre a representação contra ele. Com isso, a licença médica do senador não deverá significar postergação da decisão que o conselho tomará sobre o pedido de cassação do mandato dele.
Os senadores decidiram tentar novamente ouvir o senador no dia 7 de abril, quando a atual licença médica de Delcídio terminará. Ele poderá ir ao Senado prestar o depoimento, ou ser ouvido por videoconferência. Os membros do Conselho oferecem ainda a possibilidade de um grupo deles ir até onde o senador estiver para ouvir a defesa dele.
Enquanto isso, eles querem fazer a oitiva de outras eventuais testemunhas para evitar o atraso dos trabalhos. Na próxima semana os membros do conselho pretendem ouvir Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró; o ex-chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira; e o advogado Edson Ribeiro, que atuou na defesa de Cerveró.
Bernardo foi o responsável por gravar a conversa com Delcídio, Diogo e Edson, na qual o senador oferecia à família Cerveró R$ 50 mil por mês e um plano de fuga para o ex-diretor para que ele não firmasse acordo de delação premiada com o Ministério Público.
“A ausência hoje do senador não prejudica o rito administrativo e o rito que temos que seguir. A partir de agora o relator dá sequência à instrução do processo e chama para serem ouvidas pelo conselho as testemunhas que entender por bem para instruir o processo”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que representou contra Delcídio.
O relator do caso, senador Telmário Mota (PDT-RR), queixou-se que o senador tenha concedido entrevistas e participado de uma carreata contra o governo, utilizando uma moto, no período em que estava “enfermo” e apresentava atestados médicos. Mota quer agora que o senador seja avaliado por uma junta médica se decidir apresentar nova licença médica após essa – o senador já apresentou duas prorrogações da licença médica.
“Como ele já deu dois atestados de um só médico – e o princípio básico de qualquer trabalhador é que o primeiro pode ser de um médico, mas o segundo já precisa ser de uma junta – então que ele também seja submetido a uma junta médica”, disse Mota.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Dilma faz as contas para o impeachment e buscará reaproximação com Temer

A presidente Dilma Rousseff iniciou os trabalhos da semana fazendo as contas para barrar o processo de impeachment e disposta a investir em reaproximações com o vice-presidente Michel Temer. O objetivo é tentar "tocar a agenda" independente da situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, apesar de ter tido a posse da Casa Civil suspensa, pode vir para Brasília ainda nesta segunda-feira, 21, e começar um trabalho informal de articulação. A avaliação é que Lula pode começar a trabalhar sem ser oficialmente ministro e que o governo não pode parar à espera de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), já que essa questão "não tem como depender de ações do Planalto".
Segundo interlocutores da presidente, durante a reunião de coordenação desta segunda-feira, 21, além de um diagnóstico do processo de impeachment que está em andamento, a presidente avaliou que é preciso reforçar os laços com o PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, que tem dado sinais de que o desembarque do governo está próximo.
A avaliação de fontes do governo é que, apesar da situação com o partido estar complicada, "ela não é irreversível". "A presidente deve fazer novamente um apelo aos ministros do PMDB para se reaproximar de Temer", disse um interlocutor. O vice-presidente está nesta segunda-feira em São Paulo e, segundo sua assessoria, não tem compromissos públicos.
Além da preocupação com o PMDB, Dilma, os ministros e os líderes do governo fizeram uma análise do processo de impeachment que, para governistas, tem sido acelerado de forma proposital pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Segundo fontes que participaram da reunião, apesar do cenário de crise agravado, ainda há consenso no governo de que a oposição não conseguirá os 342 votos para abrir o processo na Câmara. "Essa margem está flutuando, mas o governo ainda acredita que barra o impeachment nesta primeira fase", disse uma fonte.
A ordem dada aos líderes que trabalham no Congresso é para que eles atuem junto aos parlamentares para tentar barrar as estratégias de Cunha, que consideram "uma tentativa de desviar o foco" das investigações da Lava Jato.
Temer
Apesar de buscar aproximação com Temer, uma fonte do Planalto disse que há a consciência que Temer e Cunha estão do mesmo lado e com a aproximação com tucanos ensaiam cenários para um futuro governo do peemedebista, em caso de afastamento de Dilma.
Mais cedo, em nota, Temer rechaçou a ideia de discutir "cenários políticos para futuro governo" e afirmou "que não delegou a ninguém anúncio de decisões sobre sua vida pública. Quando tiver que anunciar algum posicionamento, ele mesmo o fará, sem intermediários", diz a nota, enviada pela assessoria de Temer. A nota não cita o senador tucano José Serra (SP) que, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, publicada nesta segunda-feira, afirmou que Temer deve assumir compromissos com a oposição e com o País caso Dilma Rousseff seja afastada da Presidência.

sábado, 19 de março de 2016

Datafolha: maioria quer impeachment, mas rejeita Michel Temer governando

Maior parte dos entrevistados reprova Lula, mas o aponta como melhor presidente do país.

Pesquisa Datafolha realizada entre os dias 17 e 18 de março aponta cenários curiosos no tumultuado momento político nacional. Ao mesmo tempo em que o apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff cresce, apenas 16% querem o vice-presidente Michel Temer governando o país. E ao mesmo tempo que a rejeição ao ex-presidente Lula aumenta, ele continua a ser apontado como o melhor presidente que o país já teve.
A pesquisa aponta que 68% dos entrevistados são favoráveis ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O percentual cresceu oito pontos desde fevereiro. Ainda segundo o levantamento, 65%, acham que Dilma deveria renunciar à Presidência. Em fevereiro, 33% dos entrevistados eram contra o impeachment. Agora, eles somam 27%. A reprovação ao governo é de  69%.
>> Datafolha: Marina lidera pesquisa para eleição de 2018
Entre os que têm entre 45 e 59 anos, 68% defendem o impeachment. Na parcela dos que têm 60 anos ou mais, 61%, e entre os eleitores mais ricos, 74%.
Embora a saída de Dilma tenha apoio da maioria, apenas 16% acham que um governo liderado pelo vice-presidente Michel Temer seria ótimo ou bom. Para 35%, seria ruim ou péssimo.
Lula
Lula durante manifestação em São Paulo
Lula durante manifestação em São Paulo
A pesquisa Datafolha aponta ainda que a taxa de rejeição ao ex-presidente Lula é de 57% dos entrevistados. Entre os de mais baixa renda, a taxa de rejeição é de 49%. O índice cresce conforme o avanço da renda familiar e chega a 74% entre aqueles que ganham dez ou mais salários mínimos por mês. Para 68% dos entrevistados,  Lula só aceitou o cargo de ministro no governo Dilma para obter foro privilegiado no STF. Já 19% que acreditam que Lula tenha aceitado o cargo para ajudar o governo Dilma. Para 73% dos entrevistados, Dilma agiu mal ao convidar Lula para assumir uma pasta em seu ministério; só 22% aprovaram a iniciativa.
Ainda segundo o Datafolha, Lula é o nome mais citado quando os pesquisados apontam o melhor presidente que o Brasil já teve, com 35%. Fernando Henrique Cardoso aparece em segundo lugar, com menos da metade dos votos: 16%.
O instituto ouviu 2.794 eleitores em 171 municípios de todo o país.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Lula pode ser preso após Justiça suspender sua nomeação à Casa Civil?

Advogados criminalistas afirmam que processo precisa se desenrolar para que haja uma definição concreta sobre futuro

O ex-presidente Lula durante a cerimônia de posse na Casa Civil: situação segue indefinida
Reprodução/NBR
O ex-presidente Lula durante a cerimônia de posse na Casa Civil: situação segue indefinida
A suspensão da nomeação à Casa Civil do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por um juiz do Distrito Federal cria uma dúvida na cabeça do brasileiro: afinal, se o ex-presidente não pode exercer a função de ministro, cargo que lhe dá o direito a foro privilegiado, ele poderia ser preso a qualquer momento?
A princípio, a resposta é não. De acordo com advogados criminalistas consultados pelo iG, há dois motivos para isso. O primeiro é que o juiz Sérgio Moro, até a nomeação de Lula ao governo o responsável pela análise de crimes relacionadas à Operação Lava Jato, não tem mais responsabilidade sobre o caso, já que enviou o processo ao Supremo Tribunal Federal.
Como, após a confirmação da nomeação de Lula à Casa Civil, o processo da Operação Lava Jato foi encaminhado pelo juiz Sérgio Moro ao Supremo Tribunal Federal, o magistrado que era responsável pelo caso na Justiça Federal não tem mais qualquer poder para decretar sua prisão. "A não ser que o STF peça por algum motivo para que ele seja preso, o que me parece totalmente improvável", avalia o advogado criminalista Eduardo Muylaert Antunes.
Além disso, há ainda outro ponto que impediria qualquer possibilidade de prisão de Lula: o fato de, por enquanto, a nomeação do ex-presidente à Casa Civil estar apenas suspensa pelo juiz federal Itagiba Catta Preta Neto e não cancelada. Assim, se o caso não estivesse no STF, ainda assim o magistrado teria de enterrar a possibilidade de Lula ficar no cargo para que ele pudesse ser detido, caso houvesse necessidade. Até o momento, o maior símbolo do PT é apenas investigado por suspeita em ilícitos – e não réu em alguma ação.
"A posse do Lula está sendo avaliada pelo Judiciário neste momento e, para isso, pode haver dois desdobramentos", diz o advogado criminalista Fábio Suardi D'Elia, que avalia como "temerária" a atitude de Sérgio Moro de ter divulgado o áudio da conversa da presidente da República, pois a medida ajudou a "evoluir o caos no País".
"Ou anula a posse ministerial e o processo volta para o Sérgio Moro, que poderia decretar uma prisão caso visse necessidade nisso, ou decide que a posse é legítima, cabendo ao Supremo a prerrogativa de avaliar se ele tem ou não condições de exercer a função."

terça-feira, 15 de março de 2016

Impeachment, TSE, semipresidencialismo? Entenda próxima etapa da crise política

Enfraquecida, Dilma Rousseff enfrenta três ameaças ao seu mandato; apesar de cenário imprevisível, BBC Brasil explica as questões que podem decidir destino da presidente do Brasil.

Em paralelo à discussão do impeachment, tramita no TSE processo que pode resultar na cassação da chapa de Dilma e seu vice-presidente, Michel Temer, na eleição de 2014
Charles Sholl/Futura Press - 11.03.16
Em paralelo à discussão do impeachment, tramita no TSE processo que pode resultar na cassação da chapa de Dilma e seu vice-presidente, Michel Temer, na eleição de 2014

A crise política tomou novos contornos dramáticos nas últimas semanas conforme uma série de notícias negativas aumentou o desgaste da presidente Dilma Rousseff. Entre os fatores que vêm minando a estabilidade do governo estão o agravamento da crise econômica, novas ações da operação Lava Jato e as enormes manifestações realizadas no domingo.
No momento, Dilma enfrenta três ameaças ao seu mandato: um possível processo de impeachment no Congresso; uma ação que pode resultar na cassação de seu mandato e do vice-presidente Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral; e a discussão – que vem ganhando fôlego – em torno de uma possível mudança em direção a um sistema político que restringisse seus poderes, como, por exemplo, o semipresidencialismo.
No momento, o cenário é muito imprevisível, não dá para negar. Mas para você não ficar perdido nessa confusão, a BBC Brasil preparou abaixo um resumo de quais são os possíveis próximos capítulos dessa história.
Como anda o impeachment?
O trâmite de impeachment contra Dilma está parado na Câmara dos Deputados desde dezembro, à espera da nomeação dos membros da comissão especial que emitirá um parecer a favor ou contra a abertura de um processo de fato.
No fim do ano passado, o STF decidiu que essa comissão deveria ser formada a partir de indicações dos líderes de cada partido. No entanto, Cunha não aceitou esse modelo e recorreu da decisão, na tentativa de viabilizar a escolha dos membros por meio de uma eleição, em que poderiam votar todos os deputados.
O julgamento do recurso está marcado para essa quarta-feira, havendo possibilidade do STF rever sua posição. Seja mantida ou não a decisão da corte de dezembro, a expectativa é de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, instale a comissão ainda nesta semana.
Na leitura de muitos analistas políticos, Cunha, com apoio da oposição, adiou ao máximo o andamento do trâmite de impeachment na expectativa de que a crise política e econômica se agravasse, aumentando as chances de derrubada da presidente.
Para Dilma, é crucial tentar emplacar na comissão parlamentares que apoiem o governo – e a expectativa é de que os líderes dos partidos da base, como Leonardo Picciani (PMDB), poderiam ajudar nesse sentido.
O que ocorre após a instalação da comissão?
Assim que tiverem início os trabalhos da comissão especial, começam a correr os prazos para que Dilma apresente sua defesa e os deputados membros aprovem um relatório. Dessa forma, acredita-se que esse documento estaria pronto para ser votado em plenário no final de abril ou início de maio. Para que o processo de impeachment seja de fato aberto, é preciso apoio de dois terços dos deputados (342 de 513).
No entanto, de acordo com o julgamento de dezembro do STF, se isso ocorrer, tal decisão ainda teria que passar pelo crivo do Senado. Caso a maioria simples da casa também aprove o andamento do impeachment, aí sim Dilma seria automaticamente afastada do cargo enquanto é julgada pelo Senado. Se Dilma vier a ser condenada, Temer se torna presidente.
E como andam os processos no TSE?
Em paralelo à discussão do impeachment, tramita no TSE um processo que pode resultar na cassação da chapa de Dilma e seu vice-presidente, Michel Temer, na eleição de 2014. Seu andamento, porém, tende a ser bem mais lento que o trâmite do impeachment, podendo se arrastar por 2017.
O processo foi unificado a partir de quatro ações movidas pelo PSDB com acusações de ilegalidades e abuso de poder econômico. Entre as denúncias, está a de que recursos desviados da Petrobras teriam sido usados na campanha.
Os tucanos alimentam a esperança de que se consiga provar isso por meio de possíveis revelações de executivos de empreiteiras em acordos de delação premiada. Outro possível foco de novas revelações, acreditam, vem da prisão no mês passado do marqueteiro João Santana, que comandou as três últimas campanhas presidenciais do PT.
Trâmite de impeachment está parado na Câmara dos Deputados desde dezembro de 2015
Newton Menezes/Futura Press - 13.03.2016
Trâmite de impeachment está parado na Câmara dos Deputados desde dezembro de 2015

O governo nega irregularidades e argumenta que as empresas que doaram para a campanha de Dilma são as mesmas que doaram para a de Aécio Neves, candidato derrotado do PSDB.
Se a chapa de Dilma e Temer for cassada ainda este ano, novas eleições diretas para presidente serão convocadas em um prazo de 90 dias. Mas se isso ocorrer a partir do ano que vem, o mandatário do país seria eleito indiretamente pelo Congresso.
Especula-se que, caso o impeachment de Dilma ocorra antes de uma decisão do TSE, seja possível que o processo movido pelo PSDB perca fôlego, garantindo a permanência de Temer no comando do país.
Que papo é esse de semipresidencialismo?
Em meio à grave turbulência política, vem ganhando espaço a discussão em torno de uma outra possível solução para a crise: a mudança do regime presidencialista para um sistema que limitasse os poderes de Dilma.
A preferência de alguns políticos, com destaque para o senador José Serra (PSDB-SP), era inicialmente a troca do atual regime pelo parlamentarismo – sistema em que o presidente funciona mais como um chefe de Estado, cuidando das relações externas, enquanto o primeiro-ministro, eleito pelo Congresso, comanda a gestão de fato do país.
No entanto, vem ganhando fôlego, principalmente no Senado, uma proposta intermediária, o semipresidencialismo, em que o presidente dividiria os poderes de administração com o primeiro-ministro, conservando mais relevância do que no parlamentarismo puro.
Em dezembro do ano passado, o vice-presidente Michel Temer chegou a defender publicamente em um evento em São Paulo um proposta nesse sentido, que chamou de semiparlamentarismo.
No início desse mês, o Senado aprovou a instalação de uma comissão para estudar modelos possíveis e formalizar uma proposta. Já o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) apresentou na última semana uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para instaurar o parlamentarismo no país.
O assunto deve esquentar ainda mais com a previsão de que o STF julgue nesta semana uma antiga ação que questiona a possibilidade do Congresso mudar o sistema por meio de uma PEC, já que a Constituição prevê necessidade de consulta popular nesses casos.
Uma alternativa possível, é o STF permitir a tramitação da PEC, desde que ela seja submetida a um referendo popular, caso aprovada. A maioria da população brasileira já rejeitou duas vezes o sistema parlamentarista, em plebiscitos em 1963 e 1993.
Ele chegou a ser adotado em 1961, limitando os poderes do então presidente João Goulart. Embora ele tenha recuperado suas prerrogativas em 1963, acabou sendo derrubado por um golpe militar em 1964.
O mandado de segurança que será julgado pelo STF foi movido em 1997 pelo hoje ministro Jaques Wagner (Casa Civil), que na época era deputado. Ele questionou proposta apresentada na época por outro deputado petista, Eduardo Jorge, que hoje é filiado ao PV.

domingo, 13 de março de 2016

Manifestações contra a corrupção e por saída de Dilma marcam domingo pelo país

Brasília encerrou seu ato às 13h. Marcha prossegue no Rio. Maior protesto é do dia é esperado à tarde, em São Paulo.
São Paulo – Cerca de 500 cidades brasileiras terão hoje (13)passeatas e atos públicos convocados por movimentos contrários ao governo Dilma, sob lemas como o combate à corrupção, o apoio à operação Lava Jato e ao seu comandante, o juiz Sergio Moro e o impeachment da presidenta. Até às 15h, não haviam sido registrados episódios de violência.
No Rio de Janeiro, a concentração da manifestação de apoio à Operação Lava Jato, à Polícia Federal e ao juiz Sergio Moro começou às 9h, com a chegada dos manifestantes à Orla de Copacabana, na zona sul da cidade. Ainda não há estimativas do número de participantes.
A marcha percorreu a Avenida Atlântica, na orla de Copacabana, conduzidos por três carros de som. Um deles trazia uma faixa com a frase "Fora Comunismo". Uma multidão ocupou as duas vias da avenida, ao longo de cerca de oito quarteirões. Bandeiras do Brasil e muitos cartazes contra o PT, Dilma e Lula são o principal material utilizado pelos participantes. Mais cedo, um avião passou com a faixa "Não vai ter golpe - Frente Brasil Popular" e foi vaiado pelos manifestantes, com gritos de "Fora Dilma" e "Impeachment, Já".
Marca registrada do movimento Movimento Vem Pra Rua, as camisas amarelas e verdes são maioria na altura do posto 5 da Avenida Atlântica. Três carros de som foram instalados na avenida. Um deles traz uma faixa com a frase "Fora Comunismo" e seu porta-voz do movimento dizia, pelo microfone, para “as famílias de bem, de direita, contra o PT" participarem do ato.
A dona de casa Elvira Moraes, 63 anos, desaprovou o discurso. "Não sou de direita e não me sinto representada por este senhor. E ainda fica xingando a presidenta. Acho feio. O ato é pela democracia e honestidade e é por isso que estou aqui", opinou Elvira.
Vindo de Nova Iguaçu, o administrador José Maria Sousa, de 52 anos, disse que saiu de casa cedo. "Programamos com antecedência, há mais de um mês. Estar aqui é importante, porque acredito que nossa indignação pode pressionar o governo e as autoridades a acabarem com essa sujeira que tem assolado a política deste país."
O movimento organizou passeatas em outras cidades do estado, como Angra dos reis, Búzios e Cabo Frio, na região dos Lagos, Niterói, na região metropolitana, Nova Friburgo e Petrópolis, na região Serrana.
Brasília
A Polícia Militar afirmou que 100 mil pessoas participaram da manifestação na Esplanada dos Ministérios, na capita federal. Segundo a Agência Brasil, a primeira estimativa, era de que foram 20 mil participantes, contrariando as expectativas da própria PM, de que o protesto levaria 110 mil pessoas a participar. Não houve ocorrência de atos violentos, segundo a PM, apenas registro de extravio de documentos e atendimento de pessoas com mal-estar. O evento na capital federal foi encerrado às 13h, com os presentes cantando o hino nacional.
Em meio aos manifestantes estava o senador Álvaro Dias (PV-PR), que não falou publicamente, mas conversou individualmente com algumas pessoas e posou para fotos. Dias migrou do PSDB para o PV no início de janeiro.
De acordo com Breno Saradelo, coordenador regional do Movimento Brasil Livre, a manifestação é um apelo “contra a corrupção institucionalizada, independentemente do governo e do partido”.
Para o servidor público, da Justiça Federal, Fábio Freitas, de 51 anos, a corrupção começou no país em 1500, desde o descobrimento do Brasil. "Sou um dos milhares de brasileiros indignados com a corrupção", disse. Ele, entretanto, afirmou que a corrupção não é privilégio de apenas um partido. "O Brasil precisa se reinventar. O que se está pedindo não é solução. O necessário seria convocar uma nova Constituinte".
As pessoas começaram a se concentrar perto do Museu da República ainda às 9h.. A maioria das pessoas se vestiu de camiseta verde e amarela. Um boneco vestido de presidiário, chamado pelo movimento de Pixuleco, está amarrado no chão. Em vários momentos, os manifestantes faziam uma ola em defesa da "limpeza", pedindo a saída de políticos corruptos. Nominalmente, eles citaram o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e Dilma.
Desempregada desde outubro, Roberta Born, de 34 anos, que afirmou ter particpado de vários movimentos que já acamparam no gramado do Congresso, disse acreditar que o Brasil está sofrendo com o governo atual. Para ela, o governo é uma "facção criminosa". Vinda de Porto Alegre, Roberta se considera de direita e afirmou que só volta para sua cidade quando a presidenta Dilma sair da Presidência.
Outras capitais
No Recife, a manifestação ocorre na orla da Praia de Boa Viagem.  Em Salvador, cerca de 20 mil pessoas compareceram ao ato contrário ao governo no Farol da Barra, um dos principais pontos turísticos da capital baiana. Do local, os manifestantes seguiram para o Mirante Cristo da Barra, outro ponto turístico, onde os participantes posaram para uma fotografia, rezaram um Pai Nosso e aplaudiram, ao meio-dia, o juiz Sérgio Moro.
Na capital mineira, dois atos contra o governo Dilma foram programados. De manhã, os manifestantes reuniram-se na Praça da Liberdade e, à tarde, haverá outro, na Praça da Estação.
Em Manaus, a manifestação contra o governo e contra a corrupção está marcada para as 16h, na orla da praia da Ponta Negra.
No total, as manifestações devem ocorrer em 503 cidades do país, segundo o movimento Vem pra Rua.
Em algumas cidades, porém, a Central Única dos Trabalhadores e movimentos mantiveram a realização de manifestações pró-governo e pró-Lula, tais como Fortaleza, Rio de Janeiro e Porto Alegre. A CUT convocou suas seccionais para uma manifestação a favor da democracia para a próxima sexta-feira, dia 18. No DF, o PT convocou nova manifestação para o dia 31 de março.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Jovem sul-africano pode ter encontrado destroço do MH370

Suposta parte do avião foi achada na costa de Moçambique.

Um adolescente sul-africano pode ter encontrado mais um pedaço dos destroços do Boeing 777 do voo MH370 da Malaysia Airlines, que desapareceu no dia 8 de março de 2014 com 239 pessoas à bordo.
Buscas pelo MH370 em março de 2014
Buscas pelo MH370 em março de 2014
Foto: Getty Images
Liam Rotter, de 18 anos, achou um pedaço de metal curvo com cinco números incisos que pode pertencer ao avião da companhia no dia 30 de dezembro do ano passado enquanto passava as férias em um resort perto da cidade de Xai Xai, em Moçambique, onde uma suposta parte da aeronave já foi encontrada.
Acreditando que não fosse nada de muito importante, o jovem levou o destroço para casa. No entanto, quando foi anunciado que uma outra peça tinha sido encontrada na região, a mãe de Rotter decidiu contactar as autoridades australianas sobre o achado. A nova parte será transportada para a Austrália, onde será analisada.
O Boeing 777 partiu de Kuala Lumpur, na Malásia, com destino a Pequim, na China, com 239 pessoas a bordo na madrugada do dia 8 e, simplesmente desapareceu cerca de uma hora após a decolagem.
Desde então, lideradas pela Austrália, equipes de buscas analisam mais de 120 mil quilômetros quadrados no Oceano Índico tentando dar uma resposta ao mistério. Porém, esse trabalho pode ser encerrado em julho deste ano sem apresentar respostas.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Em encontro com senadores, Lula ataca Lava Jato e descarta virar ministro

"Tenho consciência da minha inocência", afirmou Lula.

Durante seu encontro com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e senadores da base aliada, na manhã desta quarta-feira (9), o ex-presidente Lula mirou sua munição contra a Operação Lava Jato. Disse que ela era uma operação política com o objetivo de derrubar o governo. ”Eles querem o Lula na Lava Jato. E aí inventaram  o sítio e o apartamento. Nenhum dos dois é meu. Já prestei os depoimentos e não me incomodo de prestar outros. Já falei para Dilma que vou devolver na porta do Ministério Público ou da Polícia Federal todos os presentes que recebi nos 180 países que visitei. São presentes de grego", disparou o ex-presidente.
Renan Calheiros ressaltou a urgência do momento: “É preciso dar um cavalo de pau, demonstrar que chegaremos aos três anos. Se não for possível, é preciso fazer uma transição no sistema de governo. Presidencialismo é um fábrica incontrolável de crises.”
Ante de abrir a palavra aos senadores presentes, Lula alertou: “O país não pode ficar parado. Com o Congresso se movimentando, o governo volta à normalidade. O Congresso precisa voltar a ser respeitado”. O primeiro senador a falar foi Roberto Requião (PMDB-PR). Ele defendeu redução da taxa de juros e investimentos com títulos do governo, e encerrou argumentando que a crise política só acaba se questão econômica for resolvida. “É economia, estúpido”, pontificou, lembrando a conhecida frase do marqueteiro do ex-presidente Bill Clinton, James Carville, que virou case de marketing eleitoral.
Lula destacou ainda, no âmbito da economia: “A roda gigante está andando para trás. Poderíamos usar nossas reservas cambiais para obras de infraestrutura que estão paradas. Não defendo usar para custeio, mas para investimentos que gerem emprego", ponderou, resumindo: "No fundo, no fundo, o mercado quer derrubar o governo."
O senador Otto Alencar (PSD-BA) foi na mesma linha, afirmando que a prioridade deve ser resolver a economia. Ele ainda antecipou: “O impeachment não passa na Câmara e nem no Senado Federal”.         
Os parlamentares petistas defenderam que Lula assuma um ministério no governo Dilma Rousseff para ter o fôro privilegiado e ajudar o governo, atuando na função de um verdadeiro primeiro-ministro. A tese, um pouco mais ampla, também é defendida pelos auxiliares diretos e pessoais de Lula. A ideia é que ele assuma um ministério e traga Henrique Meirelles para a Fazenda, e um outro nome de peso para o Ministério da Justiça.
Gleisi Hoffman fez a primeira intervenção nesse sentido. “A solução é o senhor entrar no ministério e promover as mudanças. O senhor vai ajudar muito a nos proteger e abre perspectiva na política econômica", afirmou. Foram na mesma linha os demais senadores do PT presentes.
O petista Jorge Viana, primeiro vice-presidente do Senado, era o mais enfático. Qualificou a Lava Jato de “inquisição” e avaliou que, se Lula não aceitar ser o grande primeiro-ministro, Dilma terá sérias dificuldades.”Esse avião vai bater na montanha”, ponderou Viana.
A senadora Rose de Freias (PMDB-ES) criticou a escolha do ministro da Justiça e também o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Na visão da senadora “não teremos três semanas no país como essas últimas”. Rose de Freitas foi a mais enfática sobre a perspectiva do Impeachment: “Se ela (Dilma) não fizer nada, o impeachment vai ganhar”.
Lula anotou todas as observações feitas pelos senadores, mas respondeu pontualmente a duas indagações. A primeira delas feita por Rose de Freitas, se ele traria Meireles de volta: “Estou processando tudo isso. Vou conversar com a Dilma outra vez ainda hoje, e depois vou decidir”.
Sobre a hipótese de aceitar um ministério, Lula foi objetivo: “Fui convidado meses atrás para vir para o governo. Agora não houve convite. Não me vejo em condições de me proteger porque tenho consciência da minha inocência. É incompatível porque, em um regime presidencialista, ninguém manda no governo. Faço qualquer coisa para que Dilma termine seu mandato”.

segunda-feira, 7 de março de 2016

As semelhanças e diferenças entre a polarização política no Brasil e na Venezuela

Enfrentamento entre manifestantes e insultos racistas. De um lado as cores nacionais apropriadas como símbolo opositor, de outro, camisetas e bandeiras vermelhas. Meios de comunicação acusados de "golpistas" e um líder político capaz de despertar amor e ódio. Não fosse o verde-amarelo e o idioma usado nas palavras de ordem, a cena poderia representar a Venezuela.
A crescente polarização no Brasil entre governistas e opositores teve os ânimos acirrados na sexta-feira (4), após a operação da Polícia Federal contra Luiz Inácio Lula da Silva . A reação do ex-presidente e de manifestantes pró e anti- PT leva analistas políticos venezuelanos ouvidos pela BBC Brasil a traçarem paralelos entre os dois países.
Para o cientista político Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela, o menor grau de politização da sociedade brasileira, se comparada à venezuelana, "afasta" do Brasil o risco de uma polarização tensa e violenta que marca com frequência o embate político no país vizinho. "A disputa ideológica nesses anos politizou os venezuelanos", afirmou.
A divisão social inerente à história da Venezuela se aprofundou com a chegada ao poder do líder venezuelano Hugo Chávez, morto há três anos. Defensor do socialismo, Chávez desapropriou terras para a reforma agrária, aumentou o controle do Estado sobre a a exploração petrolífera, enfrentou os meios de comunicação e quem mais atacasse a "revolução bolivariana".
Sua retórica imediatamente seduzia as classes populares, beneficiárias da redução da desigualdade social – e repelia com a mesma força as classes média e alta.
O mito Lula foi construído sobre outras bases, destaca Romero. O ex-presidente optou pela conciliação entre os diferentes setores da sociedade brasileira, "não politizou", mas ainda assim não pôde evitar a polarização.
"A elite nunca está disposta a ceder (para reduzir a brecha social) mas (os programas sociais) foram impostos pelo Estado nos anos 'dourados' do governo Lula mesmo assim", afirmou. "A corrupção (no governo), no entanto, não pode ser atribuída como responsabilidade da elite brasileira ou dos setores privados na Venezuela."
Lula x Chávez
Após a ação coercitiva que o levou ao posto da PF no aeroporto de Congonhas, em São Paulo , para depor, o ex-presidente disse que as acusações contra ele são fruto do incômodo das classes mais altas pelas políticas sociais que promoveu no país.
"Ter acesso a universidade, emprego, ao mínimo para comer, isso incomodou muita gente e tem que destruir esse avanço dos (que vêm) debaixo."
Lula anunciou que voltará a rodar o país junto aos movimentos populares e pediu para seu partido, o PT, "levantar a cabeça".
O escritor venezuelano Alberto Barrera Tyszka disse que a reação de Lula lhe recordou do tom polarizado presente nos discursos de Hugo Chávez .
"O Brasil pode estar caminhando a um processo forte de polarização, mas de todas maneiras será diferente da situação vivida na Venezuela. As lideranças de Lula e Chávez são diferentes", acrescentou Barrera, autor de Chávez Sem Uniforme e da ficção Pátria o Muerte ("Pátria ou Morte", na tradução do espanhol), que conta as consequências da polarização na Venezuela.
"Chávez polarizou o país antes de ter uma definição ideológica. Se propôs como um herói destinado a mudar a história (...) não tenho certeza de que Lula tenha esse mesmo perfil", afirmou.
O cenário venezuelano, no entanto, poderia se reproduzir no Brasil caso as investigações da Operação Lava Jato levarem à condenação e prisão do ex-presidente. "(Uma eventual prisão) pode acentuar a polarização e os riscos de manifestações violentas", afirmou Carlos Romero.
De acordo com pesquisa do Instituto Vox Populi divulgada no fim de semana, 56% dos entrevistados disseram ser contrários a que a Operação Lava Jato inclua o ex-presidente nas investigações. Num universo de 15 mil entrevistados, 57% disse acreditar na inocência de Lula.
Crise econômica
Há exatos três anos de sua morte, Hugo Chávez se mantém como o ícone de adoração e repúdio na sociedade venezuelana, que enfrenta uma das piores crises econômicas dos últimos anos. Queda dos preços do petróleo – único motor da economia –, corrupção, acusações de sabotagem por setores empresariais antichavistas e ineficiência da administração do presidente Nicolás Maduro compõem o cenário da crise e de uma sociedade, até agora, irreconciliável.
De um lado estão os revolucionários; e de outro, os antichavistas.
A crise econômica brasileira é outro ponto de encontro entre ambos países.
Em meio à crise política, o IBGE anunciou a queda de 3,8% do PIB em 2015, a pior retração em duas décadas.
"O retrocesso das economias também se expressa em desemprego e desânimo, e, ao mesmo tempo, no aprofundamento da polarização", afirmou Carlos Romero, ao considerar que aqueles que deixaram de ser beneficiados por programas sociais podem ter mudado de lado.
A temperatura da disputa nas ruas no Brasil tende a subir nos próximos dias com o avanço da Operação Lava Jato e a realização de manifestações a favor de Lula e de setores pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Para o analista político, a saída para melhorar as condições de vida da população sem polarizar a sociedade seria a conquista de um projeto político que convença a maioria da população, hipótese cada vez mais distante da realidade política tanto do Brasil como da Venezuela .
"Em nenhum dos casos se conseguiu um projeto hegemônico. Sempre a metade do país esteve contra."
*Claudia Jardim foi colaborada da BBC Brasil em Caracas, onde cobriu a política venezuelana durante 11 anos. Há quatro meses ela produz reportagens sobre o Sudeste Asiático em Bangcoc, na Tailândia.

sábado, 5 de março de 2016

Carson abandona disputa republicana pela Casa Branca

Após rápida liderança, ex-neurocirurgião teve resultados ruins.

 Após ter liderado as pesquisas para as primárias republicanas durante um breve período de tempo, o ex-neurocirurgião Ben Carson anunciou nesta sexta-feira (4), na véspera de quatro prévias, sua retirada da disputa pela Presidência dos Estados Unidos.
Participando da Conferência de Ação Política Conservadora, em Maryland, Carson disse que há muitas pessoas que o amam, mas que não votarão nele. "Porém eu continuarei bastante envolvido na tentativa de salvar nossa nação", afirmou. Ele já havia indicado sua desistência na última quarta-feira (2), após desempenhos ruins nas primárias da "Super Terça".
Em 15 estados que realizaram suas prévias até aqui, o melhor resultado que o ex-neurocirurgião conseguiu foi um quarto lugar que lhe rendeu três delegados em Iowa, que abriu o calendário eleitoral norte-americano.
Único negro nas primárias, Carson era um dos mais conservadores na briga pela indicação do Partido Republicano. Entre outras coisas, ele questiona a teoria da evolução e a culpa do homem no aquecimento global e é contra os direitos dos homossexuais, além de criticar muçulmanos e imigrantes.
Em outubro passado, chegou a liderar as pesquisas nacionais entre os candidatos da legenda, mas logo foi eclipsado pelo fortalecimento de Donald Trump, que permanece na disputa ao lado dos senadores Ted Cruz e Marco Rubio e do governador de Ohio, John Kasich. Até o momento, o ex-neurocirurgião não anunciou quem apoiará daqui para frente. (ANSA)

quinta-feira, 3 de março de 2016

Por 10 votos a 0, STF decide aceitar denúncia e Eduardo Cunha vira réu

Para ministros, há indícios de que ele exigiu e recebeu propina da Petrobras.
Presidente da Câmara é primeiro réu da Operação Lava Jato no Supremo.

Por 10 votos a 0, o Supremo Tribunal Federal (STF) acolheu nesta quinta-feira (3) denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Ele é acusado de exigir e receber ao menos US$ 5 milhões em propina de um contrato do estaleiro Samsung Heavy Industries com a Petrobras. Com a decisão, Cunha passa a ser réu na primeira ação penal no Supremo originada das investigações da Operação Lava Jato.

Os ministros não decidiram se Cunha deve se afastar do comando da Câmara. Um pedido de Janot para que ele seja afastado da presidência e do mandato de deputado será julgado pelo Supremo em data ainda indefinida.
Antes mesmo de o Supremo concluir o julgamento, Cunha afirmou a jornalistas na Câmara que, ainda que virasse réu, ele pretendia permanecer na presidência da Casa.
“Efetivamente, eu tenho o exercício da função e continuarei exercendo”, enfatizou Cunha a repórteres ao deixar o plenário da Câmara no início da tarde desta quinta.
O presidente da Câmara argumentou ainda que não há provas contra ele e que está “absolutamente tranquilo” em relação ao caso. O peemedebista tem repetido que a aceitação da denúncia contra ele não significa condenação.
Votos
Votaram a favor de aceitar a denúncia contra Cunha o relator do caso, Teori Zavascki, e os ministros Cármen Lúcia, Marco Aurélio Mello, Luís Roberto Barroso, Luiz Fachin, Rosa Weber, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski. Luiz Fux está fora do país e não partipou da análise.

O julgamento teve início nesta quarta-feira (3), quando Teori Zavascki votou pela abertura do processo e foi acompanhado por cinco ministros. Nesta quinta, outros quatro ministros acompanharam o relator.
Ao aceitar a denúncia, Zavascki afirmou ver indícios "robustos" de que Cunha aderiu à "engrenagem espúria" do esquema de pagamento de propina na Petrobras.
Com um voto duro e enfático nesta quinta, Celso de Mello afirmou ainda que "falta de decoro parlamentar é falta de decência, capaz de desmerecer a Casa [Legislativa] e seus representantes".
Qualquer ato de ofensa, como aceitação de suborno, culmina por atingir injustamente a própria respeitabilidade institucional do Poder Legislativo, residindo neste ponto a legitimidade do procedimento constitucional da cassação do mandato"
Celso de Mello,
ministro decano do STF
"Qualquer ato de ofensa, como aceitação de suborno, culmina por atingir injustamente a própria respeitabilidade institucional do Poder Legislativo, residindo neste ponto a legitimidade do procedimento constitucional da cassação do mandato parlamentar de quem se haja demonstrado indigno de representar o povo brasileiro", disse.

Cunha também é alvo de processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara sob a acusação de ter mentido aos seus pares ao dizer, em depoimento à CPI da Petrobras, que não possui contas bancárias no exterior.
Posteriormente, o Supremo abriu novo inquérito para investigar contas na Suíça das quais o peemedebista é beneficiário.
Se estivesse a julgar uma ação penal não entenderia que os elementos são suficientes para a condenação. Vamos ver o que teremos de elementos probatórios ao longo do processo"
Dias Toffoli,
ministro do STF
Ainda nesta quinta (3), ao defender a abertura de ação contra Cunha, o ministro Dias Toffoli disse considerar que existem elementos para iniciar a ação penal, mas destacou não considerar que existem, até o momento, provas para condenar o deputado.

"A dúvida neste momento beneficia a acusação, na medida em que não estamos a condenar. Os elementos são suficientes para o trânsito. Embora se estivesse a julgar uma ação penal não entenderia que os elementos são suficientes para a condenação. Vamos ver o que teremos de elementos probatórios ao longo do processo penal", disse o ministro.

A abertura da ação penal dá início a um processo de instrução, no qual a PGR e a defesa poderão coletar novas provas e ouvir testemunhas. Só ao final, o STF poderá condenar o peemedebista e estipular uma pena; ou absolvê-lo e arquivar definitivamente o caso.
Julgamento
A acusação da Procuradoria Geral da República (PGR) aponta que Cunha recebeu, entre 2006 e 2012, "ao menos" US$ 5 milhões para "facilitar e viabilizar" a contratação de dois navios-sonda pela Petrobras, construídos pelo estaleiro sul-coreano Samsung Heavy Industries para operar no Golfo do México e na África.

Os ministros do Supremo acolheram parcialmente a denúncia, na parte em que a PGR acusa Cunha de pressionar, a partir de 2010, o ex-consultor da Samsung Júlio Camargo a retomar os pagamentos de propina que haviam sido interrompidos. A Corte rejeitou parte da denúncia que acusava Cunha de influenciar na contratação dos navios-sonda, entre 2006 e 2007.

A parte da acusação aceita pelo Supremo narra que Eduardo Cunha, por intermédio da ex-deputada Solange Almeida, atual prefeita de Rio Bonito (RJ), apresentou requerimentos na Comissão de Fiscalização e Controle da Casa exigindo explicações do Ministério de Minas e Energia sobre contratos da Petrobras com fornecedores de navios-sonda.

A maioria dos ministros também decidiu abrir ação contra Solange Almeida. Os únicos a discordar foram Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que defenderam o arquivamento da denúncia contra a ex-deputada por achar que não há elementos para que ela seja investigada.
Comparação com mensalão
Na sessão, Gilmar Mendes afirmou que o esquema de corrupção na Petrobras é um "filhote maior" do mensalão, esquema de compra de apoio político de parlamentares no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ministro com mais tempo no Supremo, Celso de Mello afirmou que o esquema de corrupção tem diversos núcleos, como financeiro e político, com métodos “homogêneos” de atuação, de modo semelhante ao mensalão. Para Celso de Mello, os crimes investigados pela Lava Jato mostram uma organização criminosa de "projeção nacional".

"As investigações [...] têm por objeto uma vasta organização criminosa de projeção tentacular e de projeção nacional ordenada em níveis hierárquicos próprios, que observa métodos homogêneos de atuação, integra múltiplos atores e protagonistas, com clara divisão de tarefas. Há núcleo político, financeiro, operacional e técnico, que buscam obter direta ou indiretamente vantagem de qualquer natureza, notadamente no âmbito do Estado", disse.
Defesa
A defesa de Cunha sustentou que os depoimentos do principal delator, Júlio Camargo foram tomados sob pressão da PGR e que ele mentiu.
Além disso, afirmou que o lobista Fernando Baiano, que representaria interesses do PMDB na Petrobras, pedia propina "por sua própria iniciativa" e que usava o nome de Cunha para dar força à cobrança.
Os advogados negam participação de Cunha na formulação dos requerimentos e e que em depoimento, Júlio Camargo negou ter se sentido pressionado por eles.
Noutra parte, aceita pela Corte, a defesa alegou que Cunha não tinha influência sobre a Diretoria Internacional da Petrobras para facilitar a contratação dos navios-sonda, entre 2006 e 2007, além de não conhecer, nesta época, outros envolvidos nas negociações.
Na sessão desta quarta, no tempo destinado à defesa de Cunha, o advogado Antônio Fernando de Souza afirmou que a PGR omitiu dados das investigações favoráveis ao deputado.
Como exemplo, mencionou uma declaração do lobista Fernando Baiano, suposto representante de interesses do PMDB junto à Petrobras, em que ele nega participação do de Cunha na contratação.
Acusação
Também nesta quarta, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que a denúncia contra o deputado está baseada em “farta prova”. "Quero reafirmar que denúncia não se assenta exclusivamente nos depoimentos das colaborações premiadas realizadas, mas em farta prova que delas resultou", afirmou Janot no início de sua fala.
A denúncia da PGR contra Cunha aponta que os US$ 5 milhões recebidos pelo peemedebista fariam parte de uma propina de cerca de US$ 40 milhões acertada com Júlio Camargo, representante da Samsung Heavy Industries; Fernando Baiano, lobista que intermediava o negócio em nome de Cunha; e Nestor Cerveró, e-diretor internacional da Petrobras que aprovou a compra.

As embarcações, especializadas na perfuração de águas profundas, foram adquiridas entre 2006 e 2007, pelo preço de US$ 1,2 bilhão, pagos ao estaleiro num contrato sem licitação.

Para ocultar a origem, a PGR diz que Cunha recebeu os valores em várias parcelas no exterior, por meio de contas "offshore" (abertas em países pouco fiscalizados) e empresas de fachada (com contratos simulados) e até direcionando doações para uma igreja.

A acusação também diz que, para pressionar Camargo a retomar o pagamento das propinas, Cunha teria articulado, na Câmara, pedidos de informações para fiscalizar a Samsung junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) e ao Ministério de Minas e Energia.

Também narra em detalhes uma "reunião pessoal" entre Baiano, Camargo e Cunha para acertar a divisão dos valores, repassados em parte em espécie no escritório do deputado no Rio de Janeiro.

terça-feira, 1 de março de 2016

Cientistas aguardam nascimento raro de dragões na Eslovénia

Numa caverna visitada por um milhão de turistas todos os anos, um anfíbio pouco estudado colocou ovos que estão a causar grande expectativa.


Acredita-se que o Proteus anguinus, o proteus, uma salamandra cega encontrado em rios de cavernas nos Balcãs, viva mais de 100 anos, mas reproduze-se apenas um ou duas vezes por década.
Uma fêmea num aquário da caverna Postojna, na Eslovénia, colocou entre 50 e 60 ovos - e três estão a mostrar sinais de crescimento.
O proteus é uma espécie de ícone na Eslovénia, onde aparecia em moedas antes da chegada do euro. Há centenas de anos, quando enchentes expulsavam as criaturas para fora das cavernas, eram tidas como bebés de dragões.
Ninguém sabe quantas crias irão sair dos ovos e nem sequer quanto tempo isso vai levar.
No momento, parece que há três bons candidatos, disse à BBC Saso Weldt, um biólogo que trabalha na caverna.
Ele e os seus colegas tiraram fotos com exposição muito alta na escura caverna para reunir indícios de que os pequenos ovos estão a desenvolver-se.
Ela começou a colocar ovos a 30 de Janeiro. Ainda está a colocar um ou dois ovos por dia, e eles precisam de cerca de 120 dias até ao animal nascer.
Essa estimativa por alto, explica o cientista, é baseada no conhecimento adquirido com uma colónia dos anfíbios estabelecida na década de 1950 num laboratório subterrâneo nos Pirenéus franceses para estudar aspectos da vida biológica em cavernas.
Mas lá eles vivem numa água uma pouco mais quente, com temperaturas de cerca de 11º C.
A nossa caverna é um pouco mais fria, 9º C, e por isso tudo vai durar mais.
É uma oportunidade única de observar o enigmático proteus a reproduzir-se na mesma caverna onde morou por milhões de anos.
«É muito significativo porque não há muitos dados sobre a reprodução deste grupo de animais», disse Dusan Jelic, do programa Edge da Sociedade Zoológica de Londres que estuda proteus em cavernas na Croácia.
Se os filhotes saírem do ovo e se desenvolverem com saúde, seria algo maravilhoso, segundo Jelic.