sexta-feira, 29 de junho de 2012

Arqueólogos dos Estados Unidos encontraram no sul da China o que pode ser o pedaço de cerâmica mais antigo do mundo, com 20 mil anos de idade. A descoberta foi divulgada na revista Science.
Os arqueólogos acreditam que os fragmentos encontrados são parte de um pote de 20 centímetros de altura e de 15 a 25 centímetros de diâmetro.
Poderia ser um caldeirão usado para cozinhar alimentos ou para fermentação de bebidas alcoólicas.
Até recentemente, a maioria dos cientistas acreditava que potes de cerâmica e recipientes para bebidas haviam sido inventados depois do surgimento da agricultura, quando os humanos começaram a permanecer em um mesmo lugar por períodos mais longos.
A razão desta teoria é que objetos de cerâmica são grandes e podem se quebrar, portanto não seriam úteis para as sociedades de caçadores e coletores, que iam de um lugar para outro em busca de alimentos.
Mas, nos últimos dez anos, pesquisadores descobriram fragmentos de cerâmica de antes do surgimento da agricultura. Agora, acredita-se que os artefatos já eram utilizados 10 mil anos antes do que se pensava.
A última descoberta dos arqueólogos americanos ocorreu na caverna de Xianrendong, na Província de Jiangxi.
Segundo o chefe da pesquisa, Ofer Bar-Yosef, da Universidade de Harvard, cozinhar em caldeirões permitia que as pessoas conseguissem mais nutrientes dos alimentos.
"Caçadores e coletores estavam sob pressão para conseguir o alimento necessário", disse Bar-Yosef à BBC.
"Se a invenção é boa, se espalha rapidamente. E parece que naquela região do sul da China, a cerâmica se espalhou entre os caçadores e coletores em uma área grande", afirmou.

Motivos

Um dos possíveis motivos para a invenção da cerâmica é que, há 20 mil anos, a Terra passava pelo período mais frio em um milhão de anos.
O professor Gideon Shelach, da Universidade Hebraica de Jerusalém, especula que também pode haver um motivo mais social para a invenção.
"As pessoas estavam em grupos maiores e você precisava de atividades sociais para lidar com o aumento das tensões", disse Shelach à BBC.
"Talvez aquelas cerâmicas eram usadas para fermentação de bebidas alcoólicas."
O professor acrescenta que antes, "acreditava-se que o início da (fabricação da) cerâmica estava associado à agricultura e um estilo de vida sedentário".
Bar-Yosef quer descobrir o que estas pessoas cozinhavam há 20 mil anos. Ele acredita que, o que quer que seja, era cozinhado a vapor ou fervido na água.
"(O ato de) cozinhar com óleo começou mais tarde. (...) Pensamos que era usado para cozinhar com água, então é mais como um caldeirão", afirmou.
Fumantes poderão um dia ser imunizados contra a nicotina para que deixem de sentir prazer com o hábito, segundo pesquisadores nos Estados Unidos.
Os especialistas do Weill Cornell Medical College, em Nova York, criaram uma vacina que leva o organismo do vacinado a produzir anticorpo que atacam a nicotina.
O estudo, feito com ratos de laboratório e publicado na revista científica Science Translational Medicine, mostrou que os índices da nicotina no cérebro dos animais foram reduzidos em 85% após a vacinação.
Serão necessários anos de pesquisa antes que a vacina possa ser testada em humanos. Entretanto, o coordenador do estudo, Ronald Crystal, está convencido de que haverá benefícios.
"Parece-nos que a melhor forma de tratar a dependência crônica por nicotina associada ao fumo é ter esses anticorpos fazendo patrulha, limpando o sangue antes que a nicotina possa ter qualquer efeito biológico", ele disse.

Nova abordagem

Outras "vacinas contra o fumo", que treinam o sistema imunológico para produzir anticorpos que se acoplam à nicotina, foram desenvolvidas no passado. Esse é o mesmo método usado em vacinações contra doenças.
O desafio até agora tem sido conseguir produzir anticorpos suficientes para impedir que a droga entre no cérebro e produza a sensação de prazer.
Os cientistas do Weill Cornell Medical College, no entanto, usaram um caminho completamente diferente: eles optaram por criar uma vacina baseada em terapia genética que, segundo eles, é mais promissora.
Um vírus geneticamente modificado contendo instruções para a fabricação de anticorpos de nicotina é usado para infectar o fígado do vacinado. Isso transforma o órgão em uma fábrica desses anticorpos.
Após receber injeções de nicotina, ratos que haviam sido imunizados apresentaram 85% menos nicotina em seus cérebros do que um outro grupo de ratos que não havia sido vacinado.
Não se sabe se isso pode ser repetido em humanos ou se esse índice de redução seria suficiente para ajudar fumantes a abandonar o hábito.
Crystal disse que se tal vacina puder ser criada, "as pessoas saberão que se começarem a fumar novamente, não vão sentir prazer devido à vacina contra a nicotina e isso pode ajudá-las a abandonar o hábito".
"Temos muita esperança de que esse tipo de estratégia (de desenvolvimento da) vacina possa finalmente ajudar milhões de fumantes que tentaram parar, tentaram todos os métodos existentes no mercado hoje, mas sentem que a dependência por nicotina é tão grande que acaba derrotando todas essas abordagens atuais."

'Impressionante'

Também há questões relacionadas à segurança de terapias genéticas em humanos que precisarão ser respondidas.
Darren Griffin, professor de genética da University of Kent, na Inglaterra, disse que os resultados do estudo são "impressionantes e intrigantes, com grande potencial", mas avisou que ainda há muitas questões que precisam ser resolvidas.
Para ele, a questão principal é saber "se os efeitos bioquímicos nos ratos de laboratório se traduziriam em uma dependência reduzida em humanos, uma vez que essas dependências podem ser tanto físicas como psicológicas".
Simon Waddington, do University College London, disse: "A tecnologia em que se baseia a terapia genética está melhorando o tempo todo e é animador ver esses resultados preliminares sugerindo que (a terapia genética) poderia ser usada para resolver o problema da dependência por nicotina".
Se tal vacina fosse criada, poderia haver também questões éticas. Por exemplo, em relação à vacinação de pessoas na infância, antes de que começassem a fumar.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Em um julgamento histórico, a Suprema Corte americana confirmou nesta quinta-feira a validade da reforma de saúde aprovada em 2010 pelo governo do presidente Barack Obama – considerada o maior legado dos quatro anos de seu mandato.
Por cinco votos a quatro, os nove juízes ampararam o ponto mais polêmico da reforma, o chamado mandato individual, que obriga todo americano a comprar plano de saúde a partir de 2014, se já não o tiver através de seu empregador ou de um dos programas do governo.
Estima-se que 30 milhões de pessoas estão nesta situação. A penalidade será uma multa, que os juízes consideraram estar dentro dos poderes do Congresso estabelecer com base em sua prerrogativas de estabelecer impostos.
O governo diz que a obrigatoriedade traz mais gente para dentro do sistema e barateia os custos. O candidato republicano à Casa Branca nas eleições de novembro, Mitt Romney, diz que vai “repelir” a lei no seu primeiro dia de trabalho, se for eleito.
Com a espinha dorsal da lei mantida, os juízes não viram necessidade de derrubar o resto da legislação de 2.000 páginas, que, entre outras coisas, eleva para 26 anos a idade em que jovens podem permanecer cobertos pelo plano de saúde de seus pais.
A lei elimina ainda a possibilidade de alguém ser rejeitado por doença prévia e aumenta o gasto, de fato, dos operadores de planos na saúde dos seus clientes.
A lei cria uma espécie de “bolsa” de seguros no quais as empresas podem oferecer seus produtos a preços competitivos, e expande a cobertura do programa público de saúde conhecido como Medicaid .

Reações

Mal a decisão foi anunciada, partidários da lei reunidos em frente ao Supremo, em Washington, comemoraram com música, dança e palavras de ordem.
Reações começaram a pipocar nas caixas de mensagem dos jornalistas, com e-mails que iam de organizações de esquerda considerando o resultado um “golpe duro” contra o movimento de direita “Tea Party”, a grupos conservadores do “Tea Party” enxergando na “Obamacare” (um trocadilho pejorativo com o termo “health care”, ou cuidados da saúde) uma demonstração clara das tendências “socialistas” do presidente.
Apesar de a proposta de lei ter sido concebido por uma organização conservadora em 1989, a lei foi aprovada no Congresso em 2010 sem receber sequer um só voto republicano.
A lei gerou reações viscerais de parte da sociedade, que viu na legislação uma interferência “sem precedentes” do Estado na vida dos cidadãos. E utilizou rapidamente grande parte do capital político de Obama, eleito dois anos antes sob a plataforma da “mudança”.
Partidários da reforma da saúde a consideram o maior legado do presidente. “Com a decisão de hoje, a Suprema Corte reafirmou um princípio fundamental: que aqui na América, na nação mais rica do mundo, nenhum problema de saúde leve à ruína financeira de uma família”, disse Obama em pronunciamento.
Já o candidato republicano à Casa Branca, Mitt Romney, disse que a lei “coloca o governo entre você e o seu médico” e prometeu reverter o projeto se for eleito.
“O que a Corte não fez no seu último dia de trabalho, vou fazer no meu primeiro dia na Casa Branca: repelir e substituir a Obamacare”, disse Romney.

Justiça e economia

Analistas têm indicado que, para a indústria da saúde – que movimenta US$ 2,7 trilhões ou o equivalente a 17,9% da economia americana – a decisão remove uma grande interrogação em relação ao seu funcionamento e aos custos do futuro.
O resultado só foi possível depois que o juiz conservador John Roberts, cuja indicação em 2005 pelo ex-presidente George W. Bush foi criticada pelo então senador Barack Obama, cruzou as linhas partidárias e votou para desempatar a decisão.
Nesta semana, a Corte derrubou partes da dura lei de imigração do Estado do Arizona, favorecendo a postura de moderados, como o próprio Obama, no debate.
Há exatamente três anos, na manhã do dia 28 de junho de 2009, o então presidente de Honduras, José Manuel Zelaya, foi preso em sua residência por policiais e militares hondurenhos. Em cumprimento a uma decisão da Justiça do país, Zelaya foi destituído do poder ainda de pijama e enviado em um avião à capital da Costa Rica, San José.
Em entrevista por telefone à BBC Brasil da capital hondurenha, Tegucigalpa, onde voltou a viver no ano passado após um exílio forçado na República Dominicana, Zelaya reiterou que foi tirado do poder "a bala" e se solidarizou com a situação do colega Fernando Lugo, que deixou a presidência do Paraguai após sofrer um polêmico processo de impeachment.
Para ele, ambos foram destituídos por meio de um "procedimento-padrão" com "muitas semelhanças". "Quando um presidente é eleito para um mandato de quatro anos pelo povo, o povo - e somente ele - é o único que pode destituí-lo", afirmou Zelaya.
Ele acrescentou que não pretende concorrer novamente à presidência do país. Sua grande aposta, entretanto, é sua esposa, Xiomara Castro, que será candidata nas próximas eleições. "As pesquisas apontam que ela está na liderança", disse.
Zelaya foi tirado do poder sob a alegação de que havia traído à pátria e convocado um referendo sem autorização do Judiciário e do Congresso para a instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte, que poderia abrir caminho para sua reeleição.
Em setembro de 2009, ele retornou a Honduras, escondido, e refugiou-se na embaixada brasileira por quatro meses, até o término de seu mandato, em janeiro de 2010, quando, então, partiu para o exílio em Santo Domingo, na República Dominicana.
Veja a entrevista.
BBC Brasil: Há três anos, o senhor foi forçado a deixar a Presidência de Honduras. Recentemente, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, também teve de abandonar o cargo contra sua vontade. Como o senhor analisa o processo que culminou na destituição de ambos?
Zelaya: Eu e (Fernando) Lugo fomos destituídos do poder em meio a um processo com características diferentes, mas que seguiu um mesmo procedimento-padrão, o de atacar um governo democraticamente eleito. Há, por isso, muitas semelhanças na forma como as destituições foram conduzidas. No meu caso, entretanto, talvez a única diferença tenha sido a de que os militares me tiraram do poder à bala.
BBC Brasil: Mas o senhor considera que o presidente Lugo sofreu "um golpe de Estado"?
Zelaya: (O diplomata e jornalista italiano) Curzio Malaparte (membro do partido fascista, posteriormente expulso por suas críticas contundentes a Hitler e a Mussolini) afirmava, à sua época, que um golpe de Estado consiste na interferência de um poder sobre outro poder.
Trata-se de um atentado que destrói a base jurídica do Estado. Normalmente, tal procedimento se dá através de métodos violentos e opressivos.
Quando um presidente é eleito para um mandato de quatro anos pelo povo, o povo - e somente ele - é o único que pode destituí-lo.
Neste sentido, quando o poder judicial ou o legislativo, como o Congresso, suplantam o soberano nas posições que lhe competem, estão interferindo em outro poder do Estado e, para Malaparte, trata-se de um golpe.
No caso de Lugo, entretanto, o golpe não chegou à fase final porque ele não tirado do poder da mesma forma que eu, pelos militares e a bala. Mas de resto, foi tudo igual: a criação da crise, a formação do processo gestado no Congresso Nacional; o objetivo era de um poder interferir sobre o outro.
BBC Brasil: Como o senhor avalia a participação de outros países latino-americanos na crise desencadeada no Paraguai?
Zelaya: Quando os presidentes defendem outro presidente estão defendendo a si próprios. Acredito que seja correta a posição dos países do Mercosul, que estão dando ao Paraguai um tratamento de repúdio à condenação pela destituição forçada do presidente Lugo.
BBC Brasil: O senhor acredita que os Estados Unidos terão um papel de mediação de crise no Paraguai igual ao verificado em Honduras?
Zelaya: Os Estados Unidos só têm um papel-chave nos países onde têm interesse. Não se pode generalizar, porque, neste caso, o presidente Obama fala pela parte diplomática do Estado, mas o império atua por outros ramos pouco conhecidos.
BBC Brasil: Depois de três anos de sua saída do poder, como está a situação de Honduras?
Zelaya: A situação em Honduras só piorou com o golpe de Estado. Os direitos humanos não são respeitados, a economia aponta para baixo, a pobreza aumentou e o país se tornou, segundo dados públicos, o mais violento do mundo, com uma taxa de homicídios recorde.
Por outro lado, aqui foi criada uma força popular contra o golpe chamada Resistência Popular, que tomou forma como o Partido Libertad y Refundación de Honduras (Libre).
Ele está em primeiro lugar nas pesquisas e nos próximos meses lutará pela conquista do poder, assim como a resistência contra Hosni Mubarak (ex-presidente do Egito que renunciou no ano passado em meio à pressão popular).
BBC Brasil: O senhor planeja voltar à política de Honduras e, quem sabe, candidatar-se novamente à presidência?
Zelaya: Atualmente, sou coordenador do Libre. Não sou candidato à Presidência. Mas há todas as possibilidades de que a candidata à Presidência Xiomara Castro (esposa de Zelaya) possa vir a ser a nova presidente de Honduras e o partido conquistar o poder.
BBC Brasil: O senhor já teve a oportunidade de encontrar pessoalmente Roberto Micheletti (presidente que sucedeu a Zelaya, após sua deposição)?
Zelaya: Não, tenho feito todo o possível para evitá-lo.
BBC Brasil: Quando o senhor teve a ideia de abrigar-se na embaixada brasileira há três anos? E por que o senhor escolheu o Brasil em detrimento de outros países?
Zelaya: Quando cheguei (escondido) a Tegucigalpa, tinha uma lista tríplice de representações diplomáticas às quais ia pedir refúgio político e proteção. O primeiro da lista era o Brasil, seguido por França e Espanha. Essa é a razão.
BBC Brasil: Mas antes disso o senhor fez algum contato com algum diplomata brasileiro?
Zelaya: Jamais. Nunca. Não podia fazer contato nenhum com ninguém. Caso contrário, exporia a minha vida, quando sei que muitas das comunicações são interceptadas pela Central de Inteligência Americana (CIA).

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Em meio à crise paraguaia, o anúncio de que a China teria interesse em um acordo de livre comércio com o Mercosul causou surpresa e colocou em campos opostos diplomatas do Brasil e da Argentina, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
O governo de Pequim também ofereceu uma linha de crédito de US$ 10 bilhões para financiar projetos de infraestrutura na América Latina.
As propostas chinesas foram feitas na Argentina na sexta-feira passada pelo primeiro-ministro chinês Wen Jiabao, durante uma vídeo conferência da qual também participaram a presidente brasileira, Dilma Rousseff, e o uruguaio José Mujica, além da presidente argentina, Cristina Kirchner. A única ausência foi a Paraguai, que vive um conturbado processo de sucessão presidencial.
Segundo os especialistas, as chances de que a proposta de livre comércio prospere são pequenas em função da oposição da indústria brasileira.
Miriam Gomes Saraiva, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, explica que a ideia de um tratado de livre comércio entre o Mercosul e a China é defendida claramente pela Argentina e vista por Brasília com preocupação por causa da ameaça que produtos chineses podem representar à indústria brasileira.
A opinião é a mesma de Kevin Gallagher, especialista em relações China-América Latina da Universidade de Boston e que está em Buenos Aires pesquisando o tema.
"Todos os países latino-americanos poderiam se beneficiar de um acesso privilegiado ao mercado chinês, que consome 72% da soja argentina e 50% do aço brasileiro, mas o potencial do impacto de um aumento das importações chinesas divide a região", explica.
Durante a teleconferência, o primeiro-ministro chinês ressaltou o "interesse comum e o grande potencial" do possível acordo.
Dilma, por sua vez, defendeu que o estreitamento dos laços com a China poderia ajudar a evitar um contágio da crise global nos países emergentes, mas para Gallagher a declaração foi política.
Presidente brasileira Dilma Rousseff e primeiro-ministro chinês Wen Jiabao (Foto AP)
Presidente Dilma cumprimenta o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao após a conferência Rio +20
"A grande preocupação do Brasil hoje é como diversificar sua economia, reduzindo a dependência das exportações de commodities, cujo principal consumidor é a China, e aumentando a competitividade dos produtos de maior valor agregado, que muitas vezes competem com os chineses", afirma o analista.

Paraguai

Para Saraiva, não foi à toa que a ideia foi lançada em um momento em que o Paraguai está afastado do bloco. Segundo a professora, a diplomacia argentina aproveitou a suspensão do país do Mercosul para fazer pressão sobre o Brasil.
"O anúncio dessa proposta e as conversações relacionadas a ela foram possíveis agora por causa do afastamento do Paraguai (do Mercosul), já que o fato de esse país não manter relações diplomáticas (com a China) vem impedindo há muito tempo qualquer acordo", afirma Saraiva, especialista em diplomacia brasileira e cooperação sul-sul.
O Paraguai é um dos poucos países do mundo que não reconhece o governo de Pequim, mas sim o governo chinês de Taiwan. A ilha, no entanto, é considerada uma Província rebelde pelos chineses continentais.
Saraiva ressaltou que a chance de que um acordo comercial com a China avance são pequenas. Até porque costurar esse acordo exigiria tempo - e a princípio o afastamento do Paraguai, decidido após o impeachment-relâmpago do presidente Fernando Lugo, é apenas temporário.

Presença chinesa

A proposta da China de abrir uma linha de crédito de US$ 10 bilhões para financiar projetos de infraestrutura na região já é menos polêmica, embora para o Brasil também crie desafios, além de oportunidades.
Desde 2005, a China emprestou, principalmente por meio do Banco de Desenvolvimento Chinês, cerca de US$ 75 bilhões para países latino-americanos segundo um estudo coordenado por Gallagher e publicado pelo Inter-American Dialogue.
Só em 2010 os créditos chineses totalizaram US$ 37 bilhões, de acordo com o mesmo estudo - mais do que o total aplicado na região pelo Banco Mundial, o Banco Inter-Americano de Desenvolvimento e o EximBank dos Estados Unidos juntos.
A maior parte desses recursos se destina a obras de infraestrutura e costuma ser condicionada à contratação de construtoras chinesas em um esquema semelhante ao implementado pelo BNDES.
A diferença é que, em troca dos empréstimos, os chineses podem exigir exportações de petróleo e outros recursos naturais - como no caso de algumas linhas de crédito para a Venezuela.
Entre as obras financiadas por capital chinês estão hidrelétricas no Equador e poços de exploração de petróleo em Cuba. O Brasil também recebe uma parte importante desses empréstimos, mas, segundo Gallagher, também há uma preocupação no país com a competição que as empresas chinesas representam na região para as brasileiras.
"Por isso o BNDES está se estruturando para apoiar mais a expansão internacional das companhias brasileiras", opina o analista.

terça-feira, 26 de junho de 2012

A vitória do líder islâmico Mohamed Mursi na eleição presidencial do Egito trouxe medos diferentes às brasileiras que vivem no país. Elas temem desde o aumento da violência nas ruas à implementação da sharia (lei islâmica) - que poderia trazer restrições às estrangeiras ocidentais.
Em um país extremamente polarizado, Mursi conquistou 51,7% dos votos no segundo turno da eleição, mas seu rival, o general reformado da Força Aérea Ahmed Shafiq, último primeiro-ministro no regime de Mubarak, ficou com 48,3%.
A carioca Susy Sobrinho, que é cristã e mora no Egito, afirmou que durante a campanha eleitoral egípcia ouviu discursos de políticos seculares acusando a Irmandade Muçulmana de planejar a transformação do Egito em um Estado governado pela lei islâmica.
“As pessoas comentavam no Facebook e conhecidos egípcios também falavam sobre as restrições que o candidato Mursi poderia fazer (a seculares e mulheres)”, disse ela.
Mas Susy falou que após refletir sobre Mursi como presidente, chegou à conclusão de que os militares usaram de sua influência para que o secularismo fosse preservado qualquer que fosse o candidato vitorioso.
“Não tenho medo do Egito se transformar em Estado islâmico”, disse.
“Vejo que há pessoas dentro da Irmandade com a verdadeira intenção de reconstruir o Egito. Para isso, eles sabem que é necessário manter investimentos de capital estrangeiro para geração de emprego e renda e fazer a indústria do turismo voltar a funcionar como antes, ou até melhor.”, afirmou Susy.
Para convencer os eleitores de que era um candidato de todos, e não apenas da parcela islâmica conservadora, Mohamed Mursi adotou um discurso em favor da união nacional.
Porém, mesmo com a vitória no pleito, a imprensa egípcia aposta em uma certa dificuldade de Mursi para convencer a população de que não representa apenas os interesses de seu grupo político.

Violência

Rosemira Silva
A baiana Rosemira Silva afirma ter medo de sair às ruas por medo da violência
Mas os discursos moderados e de reconciliação não a deixaram a baiana Rosemira Silva menos ansiosa e preocupada com a insegurança e instabilidade no Egito.
“Eu sinto o povo mais agressivo e radical desde a revolução e a queda de Hosni Mubarak. As pessoas falam do temor de partidos extremistas dominarem a política”.
Ela afimou ter medo do aumento da violência no país devido ao clima político instável.
“Nas ruas, mulheres vêm sendo agredidas verbalmente. Já tenho medo de sair de casa, uma amiga minha foi roubada em pleno dia na frente de casa. Tenho medo até de pegar um táxi sozinha”, afirmou.
Rosemira, que é cristã e já esteve na Líbia com o namorado e teve que deixar o país às pressas por conta da guerra civil do ano passado, revelou que pretende deixar o Egito em breve.
“Não sei o que pode acontecer no Egito daqui para a frente. O país ainda está em caos e poderá piorar”.

Confronto

Mesmo assumindo a Presidência do Egito, Mursi governará com poderes esvaziados já que a Junta Militar, que governa o país desde a queda do regime de Mubarak, emitiu uma emenda constitucional impedindo o presidente de estabelecer políticas para o Exército, a política externa e a defesa.
Além disso, no último dia 14, a Suprema Corte dissolveu o Parlamento do país e novas eleições gerais não podem ser realizadas até a aprovação de uma nova Constituição. Com isso, os poderes do novo presidente ainda não estão claros, já que os militares manterão firme controle sobre o orçamento e a redação da nova Carta.
Mursi, tão logo foi declarado o vencedor da eleição presidencial, fez uma declaração de que só faria seu juramento perante um Parlamento, em desafio aos militares.
Integrantes da Irmandade também declararam que não sairiam da praça Tahrir, berço da revolução do ano passado, e continuariam a protestar contra os poderes excessivos que os militares aprovaram para si mesmos.
Para a carioca e também cristã, Josiane Marques, a situação no Egito está preocupante e um confronto entre Mursi e os militares parece ser “inevitável”.
“Estou muito ansiosa e preocupada com a situação que nos encontramos atualmente, sem saber o que será do nosso futuro”, disse a brasileira, que é casada com um egípcio e mora há oito anos no país.
“O que mais me preocupa aqui é como será a liberdade das mulheres, se haverá restrições. Não deixo de pensar se Mursi será presidente para todos ou apenas para um certo grupo”.

Custo de vida

Já Susy acredita que, no final, tudo será resolvido de forma pacífica, já que o povo foi às ruas para derrubar um regime sem usar violência.
“Acho que no país só restam negociações e barganhas. Não acho que haja espaço para violência”.
Apesar do otimismo, Susy contou que ela e o marido egípcio devem deixar o país em breve por acreditar que a crise demorará para passar.
“Não sairemos por medo de algum evento que possa gerar violência, mas porque o custo de vida no país está ficando mais alto para o nosso padrão. Não há muitas perspectivas por aqui no momento”.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

País com a economia e a democracia menos desenvolvidas do Mercosul, o Paraguai é o integrante do bloco que mais tem a perder caso seus sócios nesta integração decidam lhe aplicar sanções após o impeachment-relâmpago do ex-presidente Fernando Lugo, na semana passada, segundo avaliação de analistas ouvidos pela BBC Brasil.
A aplicação de sanções seria discutida nesta sexta-feira, na reunião do bloco em Mendoza, na Argentina, pelos presidentes do Brasil, da Argentina e do Uruguai, sócios do Paraguai no Mercosul, segundo indicou comunicado do Ministério argentino das Relações Exteriores, divulgado no fim de semana.
Com uma das menores economias da região, o Paraguai tem PIB (Produto Interno Bruto) anual de US$ 36,2 bilhões, o que equivale a 1,6% do PIB do Brasil, de US$ 2,2 trilhões.
As sanções em discussão estão previstas nos estatutos da Unasul e incluem até mesmo o fechamento de fronteiras em torno do país. O Paraguai é signatário do Protocolo de Ushuaia, parte integrante dos tratados constitutivos do bloco regional, onde está prevista até mesmo a expulsão de integrantes.
Na visão do bloco o país rompeu a chamada "Cláusula Democrática", que versa sobre o "Compromisso Democrático no Mercosul".
O documento foi assinado em julho de 1998, após uma crise institucional no próprio Paraguai.
O texto estabelece a "plena vigência das instituições democráticas como condição essencial para o desenvolvimento do processo de integração".

Exportações

O Paraguai exporta grande parte de sua produção industrial própria e de mercadorias provenientes da China para os vizinhos. Além disso, depende das estradas e rios da vizinhança para escoar sua produção, como soja e carne.
Para enviar carne para os chilenos, por exemplo, o transporte deve passar por rios e estradas argentinos. O Paraguai é um país sem acesso ao mar e que somente nos últimos anos tem desenvolvido sua economia com apoio dos vizinhos, dizem especialistas.
Neste quadro, "qualquer tipo de sanção prejudicaria" o país, entendem analistas paraguaios. "O Paraguai é um país muito vulnerável a qualquer tipo de sanção por não ter acesso ao mar e por depender dos vizinhos para exportar ou para importar", disse a historiadora Milda Rivarola.
Para ela, a possibilidade de "isolamento", que poderia chegar a ser aplicada pelo Mercosul ou pela Unasul, "ainda não é percebida" pelos políticos locais. "Tradicionalmente, o Paraguai teve dificuldades para entender tratados internacionais e agora não é diferente", disse.

Brasil

Dentre os países do Mercosul, o Paraguai depende principalmente do Brasil, com quem compartilha a hidrelétrica de Itaipu. "O Paraguai tem uma democracia jovem, de 22 anos, e depende das economias dos seus sócios, principalmente do Brasil, para seu desenvolvimento", disse o economista Fernando Masi, do Centro de Analises e Difusão da Economia Paraguaia (Cadep), de Assunção.
Também para ele, em qualquer situação "o Paraguai perde".
"Estando no Mercosul, o país exporta seus produtos com tarifa zero para seus sócios e se o extremo da expulsão ocorrer, o que esperamos que não acontecerá, o país deverá pagar tarifa de cerca de 14%, fixada pelo bloco", disse. Neste caso, os produtos do Paraguai perderiam competitividade frente aos que continuariam com a tarifa zero, prevista nas regras do bloco regional.
Segundo ele, 22% das exportações do Paraguai, cerca de US$ 1,5 bilhão anuais, vão para seus sócios do Mercosul. Desse total, grande parte, US$ 960 milhões, vão para o mercado brasileiro.
A lista inclui produtos do setor têxtil, couro, farmacêuticos, plástico, metal-mecânico e carne de vaca processada e congelada. Este setor industrial nasceu a partir dos acordos com o Mercosul, como observou Masi.
A dependência do Paraguai em relação aos vizinhos é maior quando os cálculos incluem o que os especialistas chamam de "reexportação", que é a exportação de produtos chineses, acabados, que entram no mercado paraguaio para depois serem enviados para outros países, principalmente o Brasil.
Este sistema previsto no Mercosul, como observou o especialista, aumenta a quantidade de divisas para o Paraguai onde são gerados empregos na região da fronteira. "A soma de todas as exportações paraguaias, incluindo estas reexportações, significam US$ 10 bilhões anuais. E desse total, cinqüenta e nove por cento vão para o Brasil", disse Masi. Esta lista de chamados produtos acabados da China e outros asiáticos inclui, por exemplo, eletrônicos.
O Paraguai conta ainda com forte presença de produtores brasileiros de soja que alavancaram o país para o posto de quarto maior produtor e exportador mundial do produto. Ao mesmo tempo, empresas brasileiras, de setores como de calçados, começaram a se instalar no país em busca do menor custo de produção e visando a exportação para o próprio Mercosul, como disse Masi.

Focem

O Paraguai também é o maior beneficiado do bloco com os recursos do chamado Focem – Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul – criado em 2006 para ajudar principalmente este país e o Uruguai. Com os recursos do Focem, como recordou um interlocutor de Fernando Lugo, o Paraguai poderá aumentar a capacidade das suas linhas de transmissão de energia desde a hidrelétrica de Itaipu para o interior do país.
"O Brasil aplicou US$ 300 milhões neste fundo e os outros países US$ 100 milhões. Com esta ajuda, o Brasil só confirma o quanto é fundamental para o Paraguai", disse o interlocutor do agora ex-presidente. Para Masi e para Mirna, a atitude do governo da presidente Dilma Rousseff é, então, "fundamental" para o "presente e futuro" do país.
Os militares que organizaram e mantiveram firme controle sobre o processo de votação no Egito reconheceram a vitória do candidato islâmico Mohammed Mursi, nas eleições presidenciais, apesar dos receios de fraude e instabilidade no cenário pós-eleitoral. Mas os desafios para a nova democracia egípcia estão longe de ter terminado.
Para começar, o novo presidente, do Partido Liberdade e Justiça – braço político da Irmandade Muçulmana –, governará com poderes esvaziados. Horas antes do fechamento das urnas no segundo turno, no dia 17, a Junta Militar que governa o país desde a queda do regime de Hosni Mubarak emitiu uma emenda constitucional segundo a qual o novo presidente não terá poderes sobre o Exército, a política externa e de defesa.
O Parlamento também foi dissolvido no último dia 14 pelo Tribunal Constitucional egípcio e novas eleições gerais para o Legislativo não podem ser realizadas até a aprovação de uma nova Constituição, segundo disposições dos militares.
Na realidade, ainda não está claro até onde irão os poderes do novo presidente, que está iniciando as articulações políticas para formar seu gabinete e escolher um primeiro-ministro.
Analistas esperam que a Junta Militar assuma a autoridade legislativa e mantenha o controle sobre o orçamento estatal e o processo de redação da nova Carta.
Por isso, apesar da vitória de Mursi, integrantes da Irmandade Muçulmana asseguram que continuarão a protestar na praça Tahir.
Mursi também fez sua primeira afronta à cúpula militar do país ao anunciar que só prestará juramento para assumir o cargo diante do Parlamento.

Polarização

Um segundo desafio do novo governo está relacionado ao fato de o Egito ser hoje um país polarizado.
Mursi obteve 51,7% dos votos no segundo turno da eleição, mas seu rival, o general reformado da Forças Aérea Ahmed Shafiq, último primeiro-ministro no regime de Mubarak, ficou com 48,3%.
Para atrair votos, o candidato do Partido Liberdade e Justiça adotou um discurso em favor da união nacional. Mas muitos egípcios ainda temem que ele transforme o país numa República Islâmica.
Não será fácil convencê-los de que o novo presidente não representa apenas os interesses da Irmandade Muçulmana, por muitos anos um grupo ilegal no Egito.
A escolha do primeiro-ministro será crucial para os esforços de conciliação. Mursi já prometeu apontar alguém de fora do grupo islâmico para o posto e pode escolher moderados também para a vice-presidência e ministérios.
Ele também renunciou formalmente à Irmandade Muçulmana no domingo, ainda que na prática o grupo deva permanecer influente em seu governo.

domingo, 24 de junho de 2012

Os países do Mercosul e seus sócios suspenderam a participação do Paraguai na próxima reunião do bloco, nesta semana, na cidade de Mendoza, na Argentina, segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores argentino divulgado neste domingo.
Com a medida o ex-vice-presidente de Fernando Lugo e agora seu sucessor, Federico Franco, ou qualquer integrante da sua gestão, estão impedidos de participar do encontro.
Lugo deixou o cargo após impeachment relâmpago na semana passada.
No comunicado, o Mercosul e seus sócios declararam a "mais enérgica condenação a ruptura da ordem democrática na República do Paraguai".
No total, entre os que integram o Mercosul e seus sócios, nove países da América do Sul decidiram "suspender a participação do Paraguai" na reunião de presidentes, na sexta-feira, dia 29 próximo, além dos encontros preparatórios do bloco, que começam nesta segunda-feira.
Os países citados no comunicado são: Argentina, Brasil, Uruguai, Venezuela, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru.
Poucos minutos após a divulgação do comunicado, o Itamaraty confirmou à BBC Brasil que a nota divulgada pela Chancelaria argentina foi acordada entre todos os membros do bloco e que o texto foi finalizado nas últimas horas.
"O Brasil deve procurar tomar todas as decisões futuras em relação à situação política no Paraguai da forma mais multilateral possível, no âmbito do Mercosul e da Unasul. A suspensão está confirmada e espera-se que até dezembro, quando o Brasil sediará uma cúpula do Mercosul, o assunto já esteja equacionado", disse a assessoria do Ministério das Relações Exteriores.

Cláusula democrática

No comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Argentina afirma-se que a decisão em relação ao Paraguai foi tomada a partir do que estabelece o Protocolo de Ushuaia, assinado na Patagônia argentina, sobre "Compromisso Democrático no Mercosul".
O documento foi assinado em julho de 1998, após uma crise institucional no próprio Paraguai.
O texto estabelece a "plena vigência das instituições democráticas como condição essencial para o desenvolvimento do processo de integração".
No entendimento dos nove países, o Paraguai "não respeitou este processo" do documento de Ushuaia, segundo o comunicado.
Em uma entrevista em Assunção, o ex-presidente paraguaio, Fernando Lugo, disse que vai comparecer ao encontro em Mendoza.
"Vamos estar presentes na próxima reunião do Mercosul", afirmou na porta da sua casa no município de Lambaré, na grande Assunção.
Pelas regras do Mercosul as reuniões são rotativas a cada semestre. Após esta reunião na Argentina, seria a vez de o Paraguai presidir as discussões do bloco. De acordo com o comunicado argentino, os presidentes vão decidir as "próximas medidas a serem adotadas" em relação ao país no dia 29 próximo.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ordenou a retirada de seu embaixador em Assunção e a suspensão de envio de petróleo ao Paraguai em resposta à deposição do ex-presidente Fernando Lugo, manobra qualificada pela maioria dos países da região como um golpe de Estado.
Clique Veja repercussão internacional
Essa é a primeira sanção comercial que o Paraguai enfrenta desde a aprovação do impeachment "relâmpago", julgado em pouco mais de 24 horas, no Parlamento paraguaio na sexta-feira.
"Vamos retirar o envio de petróleo. Não apoiaremos para nada esse golpe. A partir deste instante, ministro (Rafael) Ramirez, que cesse o envio de petróleo a esse país", afirmou Chávez, durante uma cerimônia do dia do Exército venezuelano, neste domingo.
A Venezuela enviou ao Paraguai, em 2011, 7,5 mil barris de petróleo por dia, correspondente ao Acordo Energético de Caracas, firmado entre os dois países.
"Nós não reconhecemos a outro presidente que não seja Fernando Lugo", disse. "Isso foi um golpe de Estado, mas a burguesia que deseja voltar a governar, disse que não foi. Para eles, não há leis", acrescentou.
No sábado a Argentina e o Brasil já haviam chamado seus embaixadores para consultas.
A petroleira estatal venezuelana PDVSA e a Petropar mantêm um acordo de cooperação de envio de petróleo à Assunção. A dívida paraguaia contraída com a Venezuela estava em renegociação nas últimas semanas, calculada em pouco mais de US$ 265 milhões (R$ 544 milhões).
De acordo com o jornal paraguaio Última Hora, a Petropar dispõe de somente 128 mil metros cúbicos de óleo diesel, suficiente para garantir o abastecimento para os próximos dois meses.
A estatal paraguaia ainda conta com o envio de petróleo da Petrobras e Trafigura.
Na próxima quarta-feira os presidentes da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) devem se reunir para discutir novas sanções que poderiam ser aplicadas contra o novo governo paraguaio.
O bloco tem encontrado dificuldades em aplicar uma sanção mais dura ao novo governo de Federico Franco - então vice-presidente de Lugo.
Colômbia e Chile têm resistido à aplicação da cláusula democrática da Unasul - que prevê suspensão do comércio regional e fechamento de fronteiras - caso um governo eleito constitucionalmente seja interrompido.
Ambos governos questionam a rapidez com que Lugo fora julgado, porém, não consideram que houve um golpe de Estado em Assunção.

Mercosul e Unasul

Em entrevista a jornalistas em Assunção, Lugo disse que participará da reunião do Mercosul prevista para a próxima semana. Ainda não está claro se as reuniões de ambos blocos, Unasul e Mercosul, serão unificadas, para tratar da crise paraguaia.
Paraguai exerce a presidência pro-tempore da Unasul e o próximo a assumir será o Peru. "Nos comunicamos com o presidente Ollanta (Humala). Vamos adiantar essa transferência (...) também para a próxima semana.
Lugo disse que apoia as manifestações a seu favor para que seja reestabelecida a "ordem constitucional" e voltou a afirmar ter sido vítima de um "golpe parlamentar".
O nomeado presidente paraguaio Federico Franco disse que pediria ajuda à Lugo para melhorar as relações com os países vizinhos. O presidente deposto rejeitou dita proposta. "Não se pode colaborar com um governo que não tem a legitimidade da cidadania", afirmou.

Brasil

Ainda na noite de sábado, em sua primeira reação oficial ao impeachment de Lugo, o governo brasileiro condenou o "rito sumário de destituição" e convocou o embaixador no Paraguai para consultas.
"O Brasil considera que o procedimento adotado compromete pilar fundamental da democracia, condição essencial para a integração regional", afirmou, em nota, o Itamaraty.
Segundo o órgão, eventuais sanções ao Paraguai estão sendo avaliadas entre os membros do Mercosul e da Unasul. O Itamaraty diz, no entanto, que o governo brasileiro "não tomará medidas que prejudiquem o povo irmão do Paraguai".
A convocação do embaixador brasileiro para consultas, que no protocolo diplomático indica séria reprovação à decisão paraguaia, foi anunciada horas após a Argentina adotar a mesma postura.
A chancelaria argentina afirmou que a representação diplomática do país ficará a cargo de um encarregado de negócios "até que seja restabelecida a ordem democrática" no Paraguai.
Na comprida mesa ocupada por imigrantes brasileiros numa churrascaria da capital paraguaia, Assunção, só um assunto gerava reações mais apaixonadas que o debate sobre quem venceria a final da Copa Libertadores: a perspectiva de que o Brasil adote sanções contra o Paraguai devido ao impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo, na sexta-feira.
Na tentativa de evitar a destituição de Lugo, a presidente Dilma Rousseff afirmara horas antes que havia "previsão de sanções" aos países que não cumprissem "os princípios que caracterizam uma democracia". Disse ainda que a transgressão das regras democráticas poderia resultar na "não participação nos órgãos multilaterais", ou seja, na expulsão do Paraguai do Mercosul e da Unasul.
"Antes de falar bobagem, ela deveria pensar em quantos brasileiros moram aqui", diz o pecuarista paranaense Rui Rosa, que vive no Paraguai desde 1982. Segundo ele, a fala da presidente reforçou entre os paraguaios a visão de que o Brasil age de forma imperialista com o vizinho, ditando-lhe o que é certo e o que é errado. "Cada comentário desses piora ainda mais nossa imagem", afirma.
"Quando cheguei aqui, os brasileiros eram bem vistos. Hoje, o paraguaio gosta mais dos argentinos do que de nós".
Apesar dos esforços de Dilma e de outros líderes sul-americanos, Lugo foi derrubado ao fim de um julgamento iniciado pelos parlamentares na quinta-feira. No sábado, o Itamaraty divulgou nota em que condenou "o rito sumário de destituição do mandatário do Paraguai (…), em que não foi adequadamente assegurado o amplo direito de defesa".
Segundo o órgão, "medidas a serem aplicadas em decorrência da ruptura da ordem democrática no Paraguai estão sendo avaliadas com os parceiros do Mercosul e da Unasul, à luz de compromissos no âmbito regional com a democracia".
Para Rosa, porém, o impeachment de Lugo foi benéfico para o Paraguai e para os "brasiguaios", como os imigrantes brasileiros são conhecidos por lá. Estima-se que no Paraguai haja 400 mil brasileiros (entre nascidos no Brasil, seus filhos e netos), que começaram a migrar para o país vizinho nos anos 1960 e 1970 para trabalhar como agricultores.
Donos de grandes propriedades num país em que 2% da população controla 80% das áreas férteis, o grupo é contestado por trabalhadores sem-terra, que se dizem preteridos em seu próprio país.
Segundo Rosa, Lugo aguçou a animosidade entre os grupos ao estimular invasões. Além disso, ele afirma que o ex-presidente "criou um sentimento de que os brasileiros são ladrões de energia", referindo-se à renegociação do acordo de Itaipu conduzida por ele. As tratativas resultaram na triplicação do montante pago anualmente pelo Brasil ao Paraguai pela energia gerada na usina binacional.

Isolamento e má gestão

Kelly e Lindor Kubitz e família
Kelly e Lindor Kubitz, com sua família, dizem que Dilma precisa ouvir o outro lado
Há 17 anos no Paraguai, o empresário paranaense Lindor Kubitz também condena possíveis sanções ao país. "Tirar o Paraguai do Mercosul é uma bobagem. A Dilma só ouviu o Lugo, agora tem que ouvir o outro lado".
Segundo ele, o ex-presidente estava isolado e fazia uma péssima gestão. "O governo parou, o Congresso o boicotava e nem o Exército estava ao seu lado", diz.
Também sentada à mesa, sua esposa, Kelly, ecoa uma das queixas do pecuarista Rosa: "Ele (Lugo) sustentava os carperos (sem-terra)".
Há uma semana, 18 pessoas – entre policiais e sem-terra – morreram durante a reintegração de posse de uma fazenda próxima à fronteira com o Brasil. O conflito foi uma das razões citadas pelos congressistas para destituir Lugo.
Apesar da violência no campo, o casal diz que o Paraguai está mais estável hoje do que quando chegaram. Eles lembram a convulsão social que antecedeu outro impeachment, o do presidente Raúl Cubas, em 1999.
"Naquela época, ficamos uma semana trancados em casa", diz Kelly.

Credibilidade em risco

Mas nem todos os brasiguaios na churrascaria aprovaram a queda de Lugo. O dono do restaurante, o também paranaense Valdinarte Cardoso, diz que a rapidez com que ela se deu "afetou a credibilidade do Paraguai".
Valdinarte Cardoso
Valdinarte Cardoso acredita que Fernando Lugo caiu rápido demais
"Um país que tira um presidente em 48 horas pode tirar uma multinacional em 24", afirma "dom" Cardoso, como é chamado por seus empregados. "O mandato dele terminaria no ano que vem, poderiam ter esperado".
No Paraguai há 26 anos, Cardoso tem, além do restaurante, seis empresas no país, com 360 funcionários. Ele afirma que Lugo "fez um grande favor ao Paraguai ao não atrapalhar o crescimento da economia". Nos últimos três anos, o PIB paraguaio teve algumas das maiores taxas de crescimento entre países da América Latina.
Segundo ele, o impeachment interrompeu um círculo virtuoso no país. Cardoso diz, porém, que os avanços nos últimos anos justificam que o Paraguai seja visto com outros olhos pelos brasileiros.
"É fácil falar mal do Paraguai, mas enquanto no Brasil leva oito anos para o governo tirar invasores de uma fazenda, aqui leva 35 dias".
A conversa é interrompida para que ele dê uma bronca num churrasqueiro paraguaio. "Todo dia tenho que falar a mesma coisa: quando vocês vão aprender a tirar a carne no ponto certo?"

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O Congresso retirou Lugo do poder nesta sexta-feira após um julgamento político público realizado no Senado local por "mau desempenho"
Lugo em primeiro discurso após destituição / Telesur/AFP Lugo em primeiro discurso após destituição Telesur/AFP
O ex-presidente Fernando Lugo, em primeiro discurso após ser destituído da presidência do Paraguai, afirmou que foi vítima de golpe. O Congresso retirou Lugo do poder nesta sexta-feira após um julgamento político público realizado no Senado local por "mau desempenho de suas funções".

No total, 39 dos 43 senadores presentes entenderam que o mandatário é culpado das acusações e Lugo foi automaticamente destituído às 18h27 locais (19h27 de Brasília), já que foram atingidos os dois terços (30 de 45 sem contar as ausências) exigidos pela Constituição do país.

"Falo para vocês não mais como presidente, mas como Lugo, que recebeu um golpe", afirmou em discurso. "Hoje vocês assistem a um capítulo da história do Paraguai em que a democracia foi ferida em seu coração."

O ex-presidente do país afirmou, ainda, que "não tem medo de se manifestar", pediu que a população faça manifestações pacíficas e que "não haja derramamento de sangue".

Agradecimentos

Depois de quase quatro anos no poder, Lugo afirmou que "isso não é justo na história do país e que se despede como cidadão do Estado paraguaio".

Ele agradeceu a todos que o defenderam e afirmou que ajudará aos que necessitem de sua ajuda. "Quero agradecer profundamente a todos que acreditaram em mim, depositaram seu voto de confiança. Agradeço companheiros e companheiras que colaboraram comigo neste governo. Não esquecerei de vocês, das Forças Armadas, movimentos sociais, trabalhadores, todos que me apoiaram e seguirão apoiando o país", completou.

Saio pela porta da frente
Fernando Lugo disse, por fim, em seu discurso, que sai pela porta da frente. "Saio pela porta maior da pátria, porta do coração dos meus compatriotas que acreditaram em mim, dos meus companheiros, cidadãos".

"Viva o Paraguai".


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O corpo do escritor e cronista Ivan Lessa, que morreu no último dia 8 de junho, em sua casa em Londres, foi cremado nesta sexta-feira no cemitério de Putney, no sudoeste da capital britânica.
Colaborador da BBC Brasil desde 1978, ano em que se radicou em Londres, Ivan Lessa lutava há anos contra um enfisema pulmonar. Ele tinha 77 anos.
A doença havia levado o escritor a deixar de frequentar diariamente a redação da BBC Brasil para escrever suas colunas.
Muitos amigos do cronista e também o embaixador do Brasil na Grã-Bretanha, Roberto Jaguaribe, acompanharam a cerimônia.
A cremação foi precedida por discursos de Graça Fish, funcionária do departamento cultural da embaixada, e de Thomas Pappon, colega de Ivan na BBC Brasil.
A família do escritor, sua viúva Elizabeth e sua filha Juliana pretendem levar as cinzas para Portugal, país onde Ivan passava férias.
Clique Leia mais sobre o trabalho e a vida de Ivan Lessa

Biografia

Filho único dos também escritores Elsie e Orígenes Lessa, Ivan era colaborador da BBC desde janeiro de 1978, quando decidiu deixar o Brasil para viver em Londres.
Antes de se mudar definitivamente para a Grã-Bretanha, o escritor já havia passado um período de três anos na cidade, entre 1968 e 1972, também trabalhando para o serviço brasileiro da BBC.
Após sua mudança, ele retornou apenas uma vez ao Brasil, para uma breve visita em 2006, a convite da revista Piauí, para escrever um artigo sobre suas impressões do Rio de Janeiro após 28 anos de ausência.
Conhecido pelo humor cáustico e pela fina ironia de seus textos, Ivan foi um dos fundadores do jornal O Pasquim, que ganhou fama pela resistência à censura durante o regime militar.
Ao lado do cartunista Jaguar, também cofundador do Pasquim, ele criou o personagem Sig, o ratinho inspirado no fundador da psicanálise Sigmund Freud que se tornou símbolo da publicação.
Ivan publicou três livros - Garotos da Fuzarca (1986), Ivan Vê o Mundo - Crônicas de Londres (1999) e O Luar e a Rainha (2005).
Também participou do livro Eles Foram para Petrópolis, de 2009, uma compilação da sua troca de correspondência por e-mails com o amigo e também jornalista Mario Sérgio Conti.
O escritor também trabalhou na TV Globo e foi colaborador de diversas publicações brasileiras, entre elas as revistas Senhor, Veja e Playboy, e os jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil.
Nos últimos anos, Ivan vinha publicando três colunas semanais no site da BBC Brasil - a última delas publicada na manhã do dia 8 de junho, pouco antes de sua morte.
Na ocasião, a presidente Dilma Rousseff lamentou a morte do escritor. "Ivan Lessa foi um escritor indomável. Foi irônico, mordaz, provocador, iconoclasta e surpreendentemente lírico – acima de tudo brilhante no trato com as palavras", afirmou, em nota oficial.
Engenheiros nos EUA dizem ter construído mãos robóticas capazes de diferenciar diferentes texturas.
Equipadas com sensores de toque conhecidos como BioTac - que usam algoritmos inteligentes -, estas mãos selecionam, monitoram e interpretam o que detectam com seus dedos mecânicos.
Os dedos robóticos têm o mesmo tamanho de um dedo humano e "impressões digitais" na superfície capazes de sentir texturas.
Estas impressões digitais permitem a percepção dos materiais tocados, por meio de vibrações.
O trabalho da equipe liderada por Gerald Loeb e Jeremy Fishel da Escola de Engenharia Viterbi, filiada à Universidade do Sul da Califórnia, foi divulgado na publicação Frontiers of Neurorobotics.
Quando o dedo, coberto com uma "pele" flexível cheia de fluído, passa sobre uma textura, a pele vibra de diferentes maneiras. Essas vibrações são capturadas por um transmissor de som localizado dentro dos dedos de metal.
Assim, a mão robótica detecta o tipo de textura, a forma e as propriedades térmicas do objeto. E com mais precisão do que o dedo humano.
Ela pode detectar 117 materiais comuns, com uma precisão de 95%.
Os criadores dizem que a tecnologia pode ser útil na fabricação de próteses equipadas com o sentido do toque.
O projeto foi financiado pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos para desenvolver melhores mãos protéticas para amputados.
Eleito presidente do Paraguai em 2008, interrompendo uma hegemonia de seis décadas do Partido Colorado no poder, Fernando Lugo pode ser derrubado nesta sexta-feira em um conturbado processo "relâmpago" de impeachment.
Conhecido como o "bispo dos pobres" por seu histórico de liderança de movimentos sociais quando era bispo da Igreja Católica, Lugo assumiu a Presidência com uma ampla aliança. Porém, acabou governando sem maioria na Câmara dos Deputados e no Senado.
Setores da oposição já tinham tentado, no passado, iniciar um processo político contra o presidente quando ele assumiu a paternidade de crianças geradas na época em que ainda era bispo, mas a iniciativa não prosperou devido à discordância de forças políticas da própria oposição.
Desta vez, o apoio do partido de seu vice-presidente, Federico Franco, do PLRA (Partido Liberal Radical Autentico), foi decisivo para que o processo de impeachment fosse iniciado. Lugo e Franco haviam rompido sua aliança recentemente e o vice-presidente assumirá o poder caso Lugo seja afastado.
"Sem o apoio do PLRA Lugo ficou politicamente isolado", disse à BBC Brasil o analista político Francisco Capli, da consultoria First Análisis y Estudos.
Para o analista político Alfredo Boccia, colunista de política dos jornais paraguaios e médico particular de Lugo, "há muito tempo a oposição buscava esse momento".
Entenda a crise política no Paraguai:

O que detonou a crise que pode levar à queda de Lugo?

Parlamentares da oposição acusam Lugo de ser responsável pelas mortes de 11 camponeses e sete policiais em um confronto, na última sexta-feira, na fazenda de Curuguaty, no Departamento (Estado) de Canindeyú, próximo à fronteira com o Paraná. A propriedade pertence ao empresário e político paraguaio Blas Riquelme.
Opositores sugeriram que o grupo armado EPP (Exército do Povo Paraguaio) estaria envolvido na reação contra os policiais e teria recebido apoio "disfarçado" de Lugo, segundo Boccia.
Não existem, porém, comprovações sobre a participação do EPP. A ocupação das terras foi liderada pela Liga Nacional de Carperos (Liga Nacional de Acampados, em tradução livre).
A disputa por terras se intensificou nos últimos meses com líderes dos sem-terra pedindo uma revisão dos títulos de propriedade dos fazendeiros – em muitos casos brasiguaios - sob argumento de que os latifúndios foram distribuídos de forma ilegal durante o regime militar liderado por Alfredo Stroessner (1954-1989).
A Constituição do país estabelece que o presidente pode ser processado por "mau desempenho de suas funções, por delitos cometidos no exercício de seus cargos ou por delitos comuns", daí a tentativa de impeachment.

Quais são as chances de Lugo ser cassado?

Para analistas políticos, a cassação só não ocorrerá se o Senado desistir de levar o processo de impeachment adiante após a reação dos países da Unasul contrários a esta iniciativa. Lugo não tem maioria dos votos na Câmara e no Senado.
Na Câmara, 76 deputados votaram a favor do processo de impeachment. Apenas um apoiou Lugo e três se abstiveram.
Para passar no Senado, o impeachment deve ser aprovado por dois terços dos parlamentares. A Casa tem 45 senadores, porém apenas três (todos de partidos minoritários) apoiam Lugo. As bancadas mais fortes são do Partido Colorado (15) e do Partido Liberal (14).
Segundo Boccia, o governo não conseguiria "nem uma dezena de votos".

Quais são os trâmites do processo no Congresso?

Pela Constituição do Paraguai, é relativamente fácil para um Congresso em que a oposição tem ampla maioria abrir um processo de impeachment contra o presidente.
A Carta estabelece que o presidente e outras autoridades poderão ser processados e afastados por "mau desempenho de suas funções, por delitos cometidos no exercício de seus cargos ou por delitos comuns”.
Seguindo disposições constitucionais, o processo contra Lugo foi aberto pela Câmara dos Deputados e agora deve ser julgado pelo Senado.
O presidente deve ser ouvido ao meio-dia desta sexta-feira (13h de Brasília) e a votação na Casa para decidir se ele fica ou não no cargo pode começar a partir das 16h30 (17h30 de Brasília).

Quem pode apoiar Lugo no Paraguai?

Eleito com 41% dos votos em 2008 prometendo combater a pobreza e fazer uma reforma agrária, Lugo tem o apoio de movimentos sociais como grupos sem-terra e associações de professores.
Nos últimos anos, parte de seus simpatizantes passou a manifestar insatisfação com o fato de a redistribuição de terras não ter saído do papel, mas espera-se que esses críticos moderados voltem a defender o presidente paraguaio no caso de um impeachment.
Na quinta-feira, cerca de 1.500 aliados de Lugo começaram a acampar nas imediações do Congresso para pressionar os parlamentares a desistirem do processo político para afastá-lo. Segundo esses simpatizantes, cerca de 70 ônibus com mais manifestantes devem chegar a Assunção hoje.
Não há clareza sobre os índices de aprovação de Lugo hoje. Segundo o instituto de pesquisas paraguaio Enrique Taka Chase, sua popularidade caiu de 58% para 38% desde 2008. Uma pesquisa do Centro de Estudios y Educación Popular Germinal, porém, ainda lhe dava 58% de aprovação em janeiro.

O que pode ocorrer se Lugo for cassado?

Lugo afirmou em cadeia de TV que aceitará o resultado do processo de impeachment e enfrentará "todas as consequências" da votação no Congresso.
Segundo analistas paraguaios, o vice-presidente Frederico Franco assumirá o cargo, mas provavelmente terá de enfrentar uma onda de protestos populares, além de pressões internacionais.
De acordo com o jornal ABC Color, por exemplo, a estatal petrolífera venezuelana PDVSA poderia cancelar os repasses de combustível feitos à Petropar.
Presidente Fernando Lugo (Foto AP)
Presidente Fernando Lugo diz em cadeia de TV que não pretende renunciar

Protestos violentos não foram descartados pelas autoridades e mais de 4.000 policiais foram destacados para proteger o Parlamento. Na quinta-feira, ativistas e membros de movimentos sociais começaram a acampar em frente ao Parlamento para fazer uma vigília em apoio ao presidente.
Mais de 70 ônibus partiram do Estado de San Pedro levando manifestantes favoráveis a Lugo e devem chegar à capital nesta sexta-feira.
Já na tarde de quinta-feira em Assunção comerciantes fecharam as portas e estudantes foram dispensados das aulas mais cedo, segundo agências de notícias. A população teme a repetição de conflitos que ocorreram na cidade após o assassinato do vice-presidente Luis Maria Argaña, em 1999.

Como os países vizinhos reagiram à crise?

A Unasul (União de Nações Sul-Americanas) fez uma reunião de emergência no Rio de Janeiro e enviou uma comissão de chanceleres ao Paraguai.
O protocolo da organização prevê a possibilidade de imposição de sanções ao país - como o fechamento de fronteiras - em caso de "ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática".
O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, afirmou que autoridades do Paraguai devem respeitar o "devido processo" para a eventual destituição do mandatário, estabelecendo prazos que permitam a "preparação adequada" da defesa do presidente.
Já os países da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da América) divulgaram comunicado repudiando o processo contra Lugo e classificando a ação como uma "manobra dos setores de direita".

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Carta pode levar ao corpo de Eliza

Bilhete entregue à mãe de Eliza diz que restos mortais da jovem estão em um poço na Pampulha, em BH
Bruno é um dos acusados pela morte de Eliza Samudio / Alex C. Ribeiro/Futura Press Bruno é um dos acusados pela morte de Eliza Samudio Alex C. Ribeiro/Futura Press Uma carta entregue à mãe de Eliza Samúdio, Sônia Fátima Moura, pode ser uma nova pista sobre onde estaria o corpo da ex-modelo, desaparecida desde 2010. A mensagem foi encaminhada na tarde dessa quarta-feira à produção de uma emissora de TV de Belo Horizonte onde Sônia concedia uma entrevista.

Sem detalhar o conteúdo da carta, o advogado da mãe de Eliza, José Arteiro Cavalcante, conta que a mensagem aponta que os restos mortais da ex-modelo teriam sido jogados em um poço na região da Pampulha, na capital mineira.

Na época do desaparecimento de Eliza, a polícia fez buscas na região do Planalto, na Pampulha, principalmente no Parque Lagoa do Nado, mas nenhum vestígio do corpo da ex-modelo foi encontrado. O advogado José Arteiro informou que acredita que as informações presentes na carta podem ser corretas.

Ele levará a mensagem à Polícia Civil entre esta quinta e sexta-feira com um pedido à Justiça para que a denúncia seja apurada.

O caso 

Eliza desapareceu em 2010 e foi dada como morta pela Polícia Civil. Ela é apontada como amante do ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes. Ele e mais sete pessoas respondem pelos crimes de cárcere privado, morte e ocultação de cadáver.
A Unasul (União dos Países da América do Sul) enviará ainda nesta quinta-feira uma comissão de chanceleres ao Paraguai com o objetivo de ajudar a preservar a ordem democrática no país após a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Fernando Lugo.
A missão se baseia em um protocolo da Unasul que dá aos seus membros a possibilidade de impor sanções a um país em caso "de ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática", de acordo com o chanceler brasileiro Antonio Patriota.
Segundo ele, as medidas previstas podem incluir até o fechamento das fronteiras do Paraguai.
"Os presidentes consideram que os países da Unasul conquistaram com muito esforço a democracia e nesse sentido nós todos devemos ser defensores extremados da integridade democrática na América do Sul", disse Patriota.
O chanceler disse ainda que os líderes da Unasul "expressaram sua convicção de que se deve preservar a estabilidade e o pleno respeito à ordem democrática, observar o pleno cumprimento dos dispositivos constitucionais e assegurar o direito de defesa e ao devido processo."
Patriota e secretário-geral da Unasul, o venezuelano Alí Rodrigues, estão entre os membros da missão que se dirige ao Paraguai.
A situação política no país se deteriorou rapidamente após a morte, na última sexta-feira, de 18 pessoas, entre policiais e camponeses sem-terra, em um confronto em uma fazenda em Curuguaty, no Departamento (Estado) de Canindeyú, próximo à fronteira com o Paraná.
O episódio derrubou ministros do governo, como Carlos Filizzola (Interior), e agora ameaça o próprio Lugo.

Julgamento

Os deputados aprovaram a abertura do processo de impeachment por 73 votos contra um em uma votação relâmpago também transmitida pelas televisões paraguaias nesta quinta-feira.
No Paraguai, as regras para impeachment são diferentes das do Brasil, onde as duas casas do Congresso precisam aprovar a abertura do processo.
Segundo a imprensa paraguaia, ainda nesta quinta-feira um grupo de deputados deverá expôr as acusações contra o presidente em uma sessão extraordinária na Câmara.
Lugo e seu equipe terão então 18 horas para elaborar sua defesa. Ele deverá apresentá-la em uma sessão de apenas duas horas, marcada para o meio dia de sexta-feira no Senado paraguaio.
Em seguida, opositores devem apresentar supostas provas contra o mandatário e fazer alegações finais. A decisão final sobre o impeachment deve ocorrer a partir das 16h30 (17h30 de Brasiília). O Senado paraguaio é dominado por opositores de Lugo.

Reações

O anúncio do processo de impeachment surpreendeu o país a nove meses do fim do mandato de Lugo. As eleições presidenciais estão marcadas para abril de 2013, e a Constituição não permite a reeleição presidencial.
O presidente deu declarações em cadeia de TV desmentindo rumores de que pretenderia renunciar.
"Não renunciarei ao cargo para o qual fui eleito pelo voto popular. Não interromperei um processo democrático e me submeterei ao processo político, como mandam as leis paraguaias, com todas as suas consequências, como indica a Constituição paraguaia", afirmou o presidente.
Afirmou ainda que se submeterá ao julgamento e todas as suas consequências.
"A vontade popular expressada nas urnas em abril de 2008 (data da eleição de Lugo) está sendo alvo de ataques de misericórdia por parte de setores que sempre foram contra as mudanças e se opuseram a que o povo pudesse ser protagonista da sua democracia. O povo não esquecerá que se pretende interromper um processo democrático histórico a apenas nove meses das eleições gerais ", disse.
Lugo, um ex-bispo católico ligado a movimentos sociais, tornou-se em 2008 o primeiro presidente a quebrar a hegemonia de seis décadas do Partido Colorado no poder, incluindo os 35 anos do regime militar comandado por Alfredo Stroessner (1954-1989).
Moradores e comerciantes de Assunção temem que a situação política dê origem a protestos de rua como os desencadeados em 1999 pelo assassinato do vice-presidente Luis Maria Argana, do partido Colorado.

Surpresa

Ouvido pela BBC Brasil, o analista político e amigo de Lugo, Alfredo Boccia, que também é médico particular do presidente, disse que o pedido de impeachment surpreendeu a todos.
"Uma surpresa desagradável para o país, que vive um momento de recuperação econômica histórica e que vinha enfrentando seus piores problemas que são a pobreza e a desigualdade social", disse.
"Há comoção porque ninguém esperava uma ação assim. A maioria opositora no Congresso sempre foi um desafio para Lugo. mas ninguém sabe agora o que vai acontecer ", acrescentou.
Para Boccia, o Paraguai vive momentos de incerteza, mas a expectativa é de que o Senado decida sobre o afastamento do presidente nos próximos dias. Na opinião dele, como a oposição tem ampla maioria no Senado, o impeachment, se nada mudar, seria apenas uma formalidade.
Com pouco mais de 6 milhões de habitantes, o Paraguai tem uma trajetória política e economica marcada pelas incertezas e golpes militares. Segundo Boccia, a diferença é que desta vez o processo politico está previsto na Constituição.
A legislação prevê que o vice, Federico Franco, assuma o cargo caso seja aprovada a destituição do presidente. Franco é opositor de Lugo desde o rompimento da coalizão nos primeiros anos do governo.