sexta-feira, 31 de maio de 2013

Vice de Obama fecha visita ao país com afagos ao Brasil

O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, encerrou nesta sexta-feira uma visita de três dias ao Brasil com novos elogios ao governo Dilma Rousseff e a defesa de relações mais próximas entre os dois países.
A viagem, voltada principalmente à promoção de interesses comerciais dos Estados Unidos no Brasil, entre os quais a possível venda de caças americanos à Força Aérea Brasileira, busca também preparar o terreno para a próximo encontro entre Dilma e o presidente americano, Barack Obama.
Em 23 de outubro, a brasileira encontrará Obama ao fazer uma visita de Estado a Washington, modalidade mais formal que recepções habituais e considerada uma demonstração do prestígio do visitante.
Em pronunciamento no Ministério de Relações Exteriores (Itamaraty), Biden afirmou que Estados Unidos e Brasil – respectivamente a primeira e a sétima maiores economias do mundo – têm condições de quintuplicar suas trocas comerciais.
Para isso, porém, defendeu diminuir barreiras comerciais e facilitar viagens de brasileiros aos Estados Unidos.
"Queremos que os brasileiros venham aos Estados Unidos não só para fazer comércio, mas para nos ver e começar a nos entender, com nossas falhas e virtudes."

Caças

Biden discursou após encontrar-se com o vice-presidente brasileiro, Michel Temer. Antes, o americano se reuniu com Dilma no Palácio do Planalto.
"Queremos que os brasileiros venham aos Estados Unidos não só para fazer comércio, mas para nos ver e começar a nos entender, com nossas falhas e virtudes"
Joe Biden, vice-presidente dos EUA
Ele disse ter conversado com a brasileira sobre o aprofundamento das relações entre Brasil e Estados Unidos nas áreas de defesa, educação, comércio e investimentos.
A empresa americana Boeing disputa com a francesa Dassault e a sueca Saab uma concorrência para a venda de 36 caças para a Força Aérea Brasileira, em negócio estimado em US$ 4 bilhões.
A disputa se arrasta pelo menos desde 2008. O governo brasileiro exige contrapartidas do país vendedor para fechar o negócio.
Em Brasília, Biden exaltou a trajetória do Brasil nos últimos 15 anos. "Vocês demonstraram ao mundo que não precisa haver uma falsa escolha entre desenvolvimento e democracia."
"Você vê no Egito, você vê na Venezuela, você vê no Bahrein, você vê ao redor do mundo esse debate e esse dilema ocorrendo", afirmou. "E essa é a mágica do que vocês fizeram aqui, do que sua presidente está fazendo agora e por que ela pode ter uma influência tão incrível muito além deste país."

Energia

O vice-presidente americano disse ainda que Brasil e Estados Unidos têm muito a trocar no setor de energia. No início de sua visita ao Brasil, no Rio de Janeiro, Biden visitou a Petrobras e expressou o interesse de empresas dos Estados Unidos pela exploração do petróleo na camada pré-sal. O primeiro leilão de reservas do pré-sal ocorrerá em outubro.
Biden elogiou também a expertise brasileira na produção de energia renovável e afirmou que o Brasil pode aprender com os Estados Unidos quanto à exploração do gás de xisto (shale gas).
O item, segundo o americano, "mudou as perspectivas" da produção energética em seu país e tem grande potencial de exploração também no Brasil.
A visita de Biden a Brasília foi a última etapa de uma viagem do americano pela América Latina, que também incluiu Trinidad e Tobago e Colômbia. Ele retornaria a Washington ainda nesta sexta-feira.

EUA e Alemanha dizem à Rússia para não prejudicar esforços de paz na Síria

Os Estados Unidos e a Alemanha advertiram a Rússia nesta sexta-feira que armar as forças do presidente Bashar al-Assad iria prejudicar os esforços para reunir as partes envolvidas no conflito da Síria para negociações de paz.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, falando após conversações com o seu homólogo alemão, Guido Westerwelle, disse que os planos russos de enviar um sistema de defesa aérea sofisticado para Assad também coloca a segurança de Israel em risco.
Os Estados Unidos e a Rússia estão tentando organizar uma conferência de paz em Genebra no próximo mês entre o governo e a oposição da Síria. Westerwelle exortou Assad a "parar a violência e vir para a mesa de negociação" e disse à Rússia que o envio de mísseis S-300 para Assad "é totalmente errado."

Recurso revoga suspensão e evita fiasco no Maracanã

A Justiça do Rio revogou na noite desta quinta-feira a liminar que suspendia o amistoso entre Brasil e Inglaterra no próximo domingo no Maracanã, depois de um recurso do governo fluminense.
O jogo amistoso deve ser o primeiro grande teste do Maracanã após a reforma realizada no estádio para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de 2014.
A possível suspensão da partida foi tratada como um grande fiasco pela imprensa internacional e evidenciou os problemas do cronograma das obras dos estádios da Copa.
De acordo com a assessoria do Tribunal de Justiça do Rio, a liminar fora concedida pela juíza Adriana Costa dos Santos, da 13ª Vara de Fazenda Pública e que está no plantão judiciário, alegando que o estádio do Maracanã não oferecia condições de segurança e higiene para o público.
O governo recorreu e, segundo comunicado enviado à noite, obteve a revogação da liminar, após apresentar um laudo da PM "que comprova o cumprimento de todas as regras de segurança no Maracanã". O laudo não havia sido entregue por "falha burocrática", segundo o governo.
A decisão inicial chegou a manter a partida suspensa por seis horas, gerando incertezas. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) espera renda recorde para a partida e a seleção inglesa já está no Rio.
Apesar da revogação da liminar evitar o prejuízo maior e manter a partida, o imbroglio legal levanta dúvidas quanto ao risco de problemas semelhantes criarem obstáculos para a realização da Copa no Brasil.

Inauguração

No último dia 27 de abril, o estádio foi inaugurado com um evento-teste que contou apenas com 30% de sua capacidade total de de 78.639 pessoas.
Cercada de polêmicas, a reforma do Maracanã custou R$ 1,049 bilhão, valor bastante superior ao previsto em sua licitação, de R$ 705 milhões.
O novo estádio será administrado por um consórcio formado pela empreiteira Odebrecht – que já é uma das encarregadas pela reforma do estádio –, pela empresa IMX, do empresário Eike Batista, e pela companhia de origem americana AEG.
O processo para a concessão do estádio à iniciativa privada também foi cercado por controvérsias e reviravoltas e chegou a ser por duas vezes suspenso após ações do Ministério Público, que foram posteriormente revertidas.
O estádio deve ser palco das partidas finais da Copa das Confederações – que começa no próximo dia 15 de junho – e da Copa do Mundo de 2014.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Cirurgias feitas no fim da semana têm risco maior, indica estudo

Uma nova pesquisa britânica indica que os pacientes que passam por cirurgias nos últimos dias da semana têm mais chances de morrer do que aqueles que passam pelo procedimento no começo da semana.
Os pesquisadores do Imperial College de Londres reuniram dados relativos a todas as cirurgias programadas (que não eram feitas em situação de emergência) realizadas pelo NHS, o serviço público de saúde britânico, na Inglaterra entre 2008 e 2011.
Ao analisar cerca de 4 milhões de procedimentos, os autores do estudo descobriram mais de 27 mil mortes em um mês, o que representa um risco médio de morte de 0,67%.
Os pesquisadores afirmam que o motivo de preocupação é a variação significativa durante a semana: o risco é mais baixo para cirurgias realizadas na segunda-feira e vai aumentando a cada dia, chegando ao máximo durante o fim de semana.
O estudo aponta que as pessoas que fazem cirurgia na sexta-feira têm 44% de aumento das chances de morrer do que as pessoas que passam por procedimentos na segunda-feira.
A pesquisa também indica que o risco de morrer é ainda mais alto se a cirurgia for feita durante o fim de semana, 82% maior do que na segunda-feira. Mas os pesquisadores afirmam que apenas uma minoria dos procedimentos planejados atualmente é realizada em sábados e domingos.
O estudo foi divulgado na publicação especializada British Medical Journal.

Menos médicos

Os pesquisadores afirmam que os problemas com os procedimentos nos últimos dias da semana podem ocorrer devido a cuidados pós-operatórios de má qualidade no fim de semana.
"As primeiras 48 horas depois de um procedimento são as mais críticas, quando as coisas podem dar errado, como sangramentos e infecções", afirmou Paul Aylin, autor do estudo. "Se você não tem os funcionários certos, isso deve contribuir para que coisas passem despercebidas."
"Se eu fosse um paciente, eu me consolaria com o fato de que a taxa geral de mortes é baixa, mas, se eu fosse passar por uma operação mais para o fim da semana, eu me interessaria (em saber) se o hospital tem os serviços apropriados para os cuidados durante minha recuperação, incluindo durante o fim de semana", acrescentou.
O pesquisador afirma que o número menor de médicos, enfermeiras e funcionários em geral no sábado e domingo pode ser a causa do risco maior de mortes no fim de semana.
Este é o primeiro grande estudo a analisar cirurgias programadas, desde os procedimentos de alto risco como cirurgias cardíacas até os mais rotineiros.
Katherine Murphy, da associação britânica de defesa de pacientes Patients Association, afirma que a pesquisa não mostra um problema novo e que as autoridades britânicas adotaram poucas medidas para tratar dos problemas identificados.
Já o diretor-médico do NHS na Inglaterra, Bruce Keogh, diz que a entidade criou um fórum para buscar "opções financeiras e clínicas viáveis" para garantir serviços "mais abrangentes sete dias por semana".

Sutiã: usar ou não usar?

Há 15 anos que o médico Jean-Denis Rouillon estuda os efeitos do uso do sutiã nas mulheres.
Para isso, Rouillon, que também é professor de medicina esportiva da Universidade Franche-Comte, na França, vem observando - e cuidadosamente medindo - o busto de dezenas de voluntárias.
Algumas mulheres aceitaram viver suas vidas, e até mesmo praticar esportes, sem usar sutiã. Outras deixaram de usar apenas em algumas situações. O objetivo da pesquisa era ver se os seios ficam mais ou menos caídos sem o suporte do sutiã.
De acordo com os resultados preliminares, o médico constatou que, pelo menos entre as mulheres de 18 a 35 anos que participaram do estudo, o mamilo volta a subir a uma média de sete milímetros por ano quando não se usa sutiã. Os seios, diz ele, se fortalecem.
"As voluntárias são estudantes de fisioterapia, ou esportistas, e muitas vezes são mulheres que querem voltar a uma vida mais natural, sem artifícios", explicou Rouillon a BBC.

O estudo

Laurette tem 31 anos, e há dez anos participa da pesquisa. "Rouillon foi um dos meus professores na faculdade. Ele me convidou para participar da pesquisa e eu achei interessante", disse à BBC.
A medida do busto de Laurette é 34B, e ela não usa sutiã. "Não foi difícil mudar meus hábitos. Antes, quando eu estava em casa, raramente usava sutiã. Agora só uso ocasionalmente, com alguns vestidos para sair à noite, mas apenas por uma questão estética", diz Laurette.
Laurette é treinadora e pratica triatlo. "Quando eu trabalho, uso um sutiã esportivo sem aros. Mas quando eu corro, por exemplo, uso apenas uma blusa e não sinto qualquer tipo de desconforto", ela diz.
Desde o início, Laurette se sente confiante, porque nunca experimentou dor nos peitos quando se movimentava. Ela lembra que tudo a seu redor aconselhava a não praticar esportes sem sutiã, no entanto, ela continuou fiel ao projeto de Rouillon.
Segundo ela, os únicos inconvenientes são os olhares e os comentários de outros, mas ela prefere não notá-los. Um algumas ocasiões, entretanto, ela prefere usar um sutiã sem aros para evitar constrangimentos.

Resultados preliminares

Apesar dos primeiros resultados, Rouillon não quer tirar conclusões definitivas, uma vez que o grupo de mulheres estudadas não representa a população francesa.
Ele conta que estes são apenas resultados preliminares, e que ele continua sua pesquisa com mulheres mais velhas.
O cirurgião plástico Jean Masson, baseado em Paris, concorda com essas precauções. "As mulheres que participaram da pesquisa são jovens, elas não têm seios muito grandes," explica Masson.
"Para essas mulheres, pode não ser necessário o uso de um sutiã. No entanto, as coisas podem ser diferentes para aquelas com mais de 30 anos que ainda não tiveram filhos", diz Masson.
O cirurgião explica que, durante a gravidez, os seios ganham volume, o que afeta a elasticidade da pele da mama. E menos elasticidade significa que as glândulas mamárias podem se deslocar para baixo.
Mas então o que é melhor, usar ou não usar sutiã? Para se ter uma resposta clara e científica, vamos ter que esperar mais um pouco.
"Apesar de não ter a resposta no momento, é um problema que vale a pena ser levantado", conclui Rouillon, que afirma que nenhum estudo científico comprovou a eficácia do sutiã para manter os seios em pé.

Diferença entre política e matemática

Na terça feira, o presidente do Senado Renan Calheiros comunicou que não faria a leitura da medida provisória aprovada pela Câmara que reduziu as tarifas de energia do país.
Sem a leitura, o Senado não votou a MP, o que fez com que ela perdesse a validade automaticamente, já que a medida caducará na próxima semana.
Sem fazer juízo de valores, penso que a decisão foi acertada, não por conta do assunto, mas porque o Senado já havia adiantado que seria fixado o prazo mínimo de sete dias para o Senado analisar medidas provisórias vindas da Câmara. Talvez pensando fosse um blefe, a assessoria da presidenta Dilma fez de conta que não entendeu a mensagem e se deu mal.
Com a decisão, o governo teve que rebolar, colocando o mecanismo que permitiu a redução nas tarifas em outra medida provisória, uma vez que a redução na conta de luz é vitrine da campanha à reeleição da presidente Dilma e inclusive foi anunciada em pronunciamento em rede nacional de TV e rádio em janeiro deste ano. Para quem não se lembra, o desconto em média é de 20%.
Segundo Renan, foi assumido um compromisso de que o Senado precisaria de pelo menos sete dias para votar. Como não foi uma decisão do presidente, a instituição considerou que deve exercer seu papel constitucional de discutir de maneira efetiva as medidas provisórias, inclusive alterando-as quando necessário, o que não estava sendo possível, tomando como exemplo a MP dos Portos, quando os senadores tiveram que fazer vigília para votar. Ponto para o Senado, tão achincalhado nos últimos tempos.
Ainda assim, ficou a impressão de que os senadores fizeram “beicinho” com a “revolta”, mas foi bastante emblemática a resposta de Renan à decisão, soltando mais uma pérola: "Essa questão não é política, é matemática. Nós precisamos de sete dias, e não temos os sete dias”. Entendeu?

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Hezbollah está 'invadindo a Síria', diz líder rebelde

O chefe militar do maior grupo de rebeldes oposicionistas sírios, o Exército de Libertação da Síria, acusou nesta quarta-feira o grupo libanês Hezbollah de "invadir" a Síria.
Em entrevista à BBC, o general Selim Idriss disse que mais de 7 mil combatentes do grupo xiita libanês - que tem apoiado o presidente sírio, Bashar al-Assad - estão atacando a cidade de Qusair, bastião rebelde no norte da Síria.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU condenou os ataques em Qusair, bem como o envolvimento de combatentes estrangeiros.
Idriss fez um apelo ao Ocidente. "Estamos morrendo. Por favor, venham nos ajudar", disse ao programa Newshour, do Serviço Mundial da BBC.
Ele também pediu armas, alegando que seus 1,5 mil rebeldes em Qusair têm apenas armamentos leves.
Segundo ele, mais de 50 mil moradores estão encurralados na cidade e podem ser vítimas de um "massacre".
Idriss afirma ainda ter recebido informações de que iranianos também estão participando da ofensiva.
Questionado quanto à presença de facções jihadistas na oposição síria, Idriss respondeu que esses combatentes de viés religioso são apenas "5% a 8%" dos rebeldes e que o tema recebeu cobertura exagerada na imprensa.
Mas ele afirma que, apesar de não não compartilhar da ideologia jihadista, não pode impedir ninguém de entrar na luta contra o regime Assad.
Por fim, Idriss pediu que a oposição síria no exterior compareça à conferência internacional que discutirá a guerra civil no país árabe, no mês que vem, em Genebra.

Ofensiva

Ainda nesta quarta, a imprensa estatal síria alegou que, na luta pelo controle de Qusair, tropas do regime obtiveram o controle de uma importante base aérea.
A emissora al-Manar, ligada ao Hezbollah, mostrou tanques sendo enviados à base aérea e soldados patrulhando o local.
A cidade tem sido palco de conflito há dias, em uma forte ofensiva das tropas pró-Assad para expulsar os rebeldes.
Qusair tem importância estratégica: por ela passam armas e combatentes vindos do Líbano, a 10km de distância.
A cidade também é importante para Assad, por estar localizada entre Damasco e a costa mediterrânea, bastião alauíta.

ONU

Em votação nesta quarta, por 36 votos a 1 e com 8 abstenções, o Conselho de Direitos Humanos da ONU pediu uma investigação urgente a respeito dos supostos abusos cometidos por tropas pró-Assad e da presença de combatentes do Hezbollah em Qusair.
A resolução também condenou a participação de estrangeiros na guerra civil.
Já a Rússia, importante aliada da Síria, chamou a resolução de "odiosa", mas não tem voto no conselho neste ano. O Brasil votou a favor da resolução; a Venezuela foi a única a votar contra.
O texto foi redigido pelo Qatar, país que acredita-se estar apoiando forças da oposição - algumas delas também compostas por estrangeiros.
Antes da votação, a alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay, pediu que as potências internacionais parem de "encorajar" os rebeldes e de prover armas para ambos os lados do conflito.
Nesta semana, a União Europeia prometeu suspender um embargo de armas à Síria, medida que abre as portas para o fornecimento de armas a rebeldes.

Instituto belga encontra esqueleto completo de dinossauro do Jurássico

Animal foi descoberto na China e é precursor das aves modernas.
Estudo revela que estrutura óssea é a mesma da família dos pássaros.Esqueleto da espécie 'Aurornis xui', que viveu no período Jurássico na China (Foto: Thierry Hubin/IRSNB)Esqueleto da espécie 'Aurornis xui', que viveu no período Jurássico na China (Foto: Thierry Hubin/IRSNB)

O Instituto Real Belga de Ciências Naturais descobriu recentemente um esqueleto completo, com características bem preservadas, de um dinossauro precursor das aves pertencente à espécie Aurornis xui.
O animal foi encontrado na província de Liaoning, na China, e acredita-se que ele tenha vivido durante a segunda metade do período Jurássico.
De acordo com os cientistas, que publicaram o estudo na revista "Nature" desta quarta-feira (29), o achado ajuda a entender como as aves evoluíram e aprenderam a voar.
Além disso, a pesquisa revelou que espécies com essa estrutura óssea pertencem à família dos pássaros na escala evolutiva. Os resultados também recolocam o dinossauro alado Archaeopteryx no grupo Avialae, que inclui aves e familiares evoluídos a partir dos répteis gigantes.
O trabalho esclarece, ainda, a classificação e a ramificação de outros pássaros que habitaram a Terra no Jurássico e no Cretáceo. Segundo os autores, a diversificação das aves e dos dinossauros ocorreu na Ásia, durante o Jurássico Médio.
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 Reconstrução do 'Aurornis xui' (Foto: Jonica Dos Remedios/IRSNB ) Reconstrução visual de como seria o 'dinossauro alado' 'Aurornis xui' (Foto: Jonica Dos Remedios/IRSNB )
Mais uma concepção artística de como seria o animal pré-histórico (Foto: Masato Hattori)Mais uma concepção artística de como seria o animal pré-histórico do Jurássico (Foto: Masato Hattori)

No Rio, Biden diz que Brasil não é mais emergente e tem novas responsabilidades

No primeiro compromisso público de sua visita de três dias ao Rio de Janeiro e Brasília, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou, na tarde desta quarta-feira, que o Brasil não pode mais ser considerado um emergente, mas sim um país desenvolvido, e que essa nova situação traz novas responsabilidades.
"Vocês não podem mais dizer que são uma nação em desenvolvimento, vocês se desenvolveram. E posso dizer pela minha experiência que, com isso, vem a responsabilidade de falar em todo o mundo, de se posicionar", disse Biden em discurso no Pier Mauá, às margens da Baía de Guanabara, no Rio.
O evento foi acompanhado por cerca de 500 pessoas e protegido por um forte esquema de segurança. Entre as autoridades que acompanharam o discurso estavam o governador do Rio, Sergio Cabral, seu vice, Luiz Fernando Pezão, e o prefeito Eduardo Paes.
Biden elogiou programas sociais e o desenvolvimento econômico do país nas últimas décadas, mas, em alusão à tradição de não intervenção da política externa brasileira, cobrou um maior envolvimento do Brasil em questões internacionais.
"Vocês emergiram e se engajaram em questões de segurança alimentar, não-proliferação (nuclear), missões de paz, prevenção de conflitos, esforços anticorrupção. Vocês emergiram, se engajaram e tiveram um impacto positivo no mundo", disse.
"Como líder do sul global, há situações em que vocês têm consideravelmente maior credibilidade (que outros países)... Vocês podem desempenhar um papel positivo nas transições no norte da África, e é por isso que buscamos que vocês reconheçam a diferença entre interferência indevida nos assuntos de outros países e o aprofundamento da democracia e dos direitos humanos quando eles estão sob ataque", afirmou o vice-presidente americano, que, no entanto, disse que os EUA partem de "uma posição de respeito" para com o Brasil nas eventuais divergências que tenham.

Visita à Casa Branca

Biden afirmou ainda ter sido incumbido pelo presidente dos EUA, Barack Obama, de convidar a presidente Dilma Rousseff para "a única visita de Estado que acontecerá em Washington neste ano".
A visita foi confirmada pouco depois em comunicado do governo americano. Segundo a nota, Dilma será recebida em um jantar na Casa Branca em 23 de outubro.
Envolvendo formalidades maiores que uma visita oficial – como a realizada por Dilma em abril do ano passado -, a última visita de Estado aos EUA feita por um presidente brasileiro aconteceu em 1995, durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
"Ainda há um abismo gigantesco entre onde estamos e o que somos capazes. Temos a oportunidade de estabelecer uma agenda ambiciosa em questões que interessam a nossos povos, para marcar 2013 como o começo de uma nova era das relações Brasil-EUA."
Joe Biden, vice-presidente dos EUA
Durante seu discurso, Biden citou as transformações pelas quais passaram os países da América Latina nos últimos anos e destacou o papel do Brasil como o mais importante parceiro dos EUA na região.
"É espantosa a transformação pela qual não apenas o Brasil, mas todo o hemisfério, passou. Conflitos políticos agora são resolvidos nas urnas, eleições democráticas são a norma, nós temos agora 275 milhões de pessoas na América Latina e Caribe que fazem parte da classe média. As coisas estão mudando", disse.
"Podemos ver no futuro um continente americano de classe média, democrático, seguro, do Círculo Ártico ao Estreito de Magalhães. A questão para os Estados Unidos não é o que podemos fazer pelas Américas, mas o que podemos fazer juntos. E nenhum parceiro é tão significativo nesse empreendimento quanto o Brasil."

Conquistas

Biden lembrou ainda as conquistas econômicas e sociais do Brasil nos últimos anos, desde as políticas para o controle da inflação nos anos 1990, até os programas sociais da última década, citando nominalmente os programas Bolsa Família, Fome Zero e Minha Casa, Minha Vida.
Em uma aparente alusão a países como a China, que experimentaram grande crescimento econômico em meio a regimes autoritários, Biden elogiou as instituições democráticas do Brasil.
"Acredito que a lição mais importante (...) ao mundo e a este hemisfério em particular foi que vocês demonstraram que não há necessidade de um país escolher entre democracia e desenvolvimento; vocês demonstraram que não há necessidade de escolher entre a economia de mercado e políticas sociais inteligentes", disse.
Afirmando que as relações entre os dois países experimentaram uma aproximação durante o governo Obama, Biden disse que sua visita e a de outras autoridades americanas ao Brasil são uma mostra dos esforços por parte dos EUA para aprofundar as relações bilaterais e do valor que dão ao Brasil.
"Mas ainda há um abismo gigantesco entre onde estamos e o que somos capazes. Temos a oportunidade de estabelecer uma agenda ambiciosa em questões que interessam a nossos povos, para marcar 2013 como o começo de uma nova era das relações Brasil-EUA", disse.
O vice-presidente afirmou que o comércio bilateral – que atualmente movimenta um montante na casa dos US$ 100 bilhões anuais – poderia ser chegar a US$ 500 bilhões e ressaltou a importância da cooperação dos dois países nas áreas energética e de educação.
Na manhã de quinta-feira, Biden deve visitar uma favela carioca e se encontrar com funcionários do consulado americano no Rio.
No final da tarde, ele e sua mulher, Jill Biden, seguem a Brasília, onde, na sexta, se encontra com Dilma e o vice-presidente Michel Temer.

Bombardeio americano mata número 2 do Talibã no Paquistão

O número dois do movimento talibã do Paquistão, Waliur Rehman Mehsud, está entre os sete mortos pelo bombardeio realizado nesta quarta-feira por um avião não-tripulado americano no oeste do país, informaram fontes de inteligência à emissora local de televisão "Dawn".
As fontes afirmaram que os outros falecidos no ataque, registrado na área de Chasma, em Waziristão do Norte, também pertencem ao movimento talibã local, o Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP).
As mesmas fontes indicaram que confirmaram a pertinência dos mortos ao TTP porque interceptaram comunicações telefônicas realizadas no seio do movimento insurgente após o bombardeio.
Trata-se do primeiro ataque de aviões não-tripulados norte-americanos (conhecidos como "drones") desde que o governo de Barack Obama anunciou na semana passada mudanças no protocolo desse tipo de ataque, em busca de uma maior precisão nos alvos e mais transparência nas operações.
As autoridades paquistanesas protestam sistematicamente pelos bombardeios dos "drones", já que, além de matar líderes insurgentes, em algumas ocasiões também atingem civis.

Agência europeia alerta para surgimento de mais drogas sintéticas

A agência que monitora o uso e surgimento de novas drogas na União Europeia (UE) informou ter descoberto 72 novas drogas sintéticas no bloco em 2012 e alertou que esses novos entorpecentes, ainda não proibidos pela legislação europeia, estão surgindo com cada vez mais frequência na região.
A informação consta do relatório anual do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, divulgado na terça-feira em sua sede em Lisboa, que ressaltou que apenas 49 novas drogas sintéticas haviam sido detectadas no bloco em 2011.
O relatório diz que, entre as 73 novas substâncias psicoativas registradas pela primeira vez por meio do sistema de alerta da União Europeia em 2012, 30 eram canabinóides sintéticos, que imitam o efeito da maconha.
"Estes produtos, que podem ser extremamente potentes, agora já foram registrados praticamente em todos os países europeus", informou o documento.

Importação da Ásia

O relatório anual da agência descreveu o problema das drogas na Europa como em "estado de constante mudança".
De acordo com o documento, cerca de 85 milhões de pessoas, ou aproximadamente um quarto da população adulta da União Europeia, usou alguma droga ilícita no ano passado.
Por outro lado, o relatório anual da agência destacou também mudanças positivas no bloco, como o registro de um menor número de novos usuários de heroína, a queda no uso de maconha e cocaína em alguns países e um aumento no número de centro de tratamentos para usuários de drogas.
O documento ressaltou, ainda assim, a necessidade de as autoridades nacionais estabelecerem planos de apoio de longo prazo para viciados e ex-viciados em meio aos cortes de gastos dos governos europeus, reflexo da crise econômica.
Em um outro estudo separado conduzido com a Europol, a agência de polícia da União Europeia, o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência descobriu que as drogas sintéticas agora são importadas frequentemente da China e Índia para serem processadas e embaladas no bloco, em vez de serem produzidas em laboratórios secretos na Europa.
A Comissária Europeia para assuntos internos da UE, Cecilia Malmström, afirmou que o mercado de drogas estimulantes no continente está "cada vez mais complexo" e que "há um fornecimento contínuo de novas drogas cada vez mais diversas."
"O fato de mais de 70 novas drogas terem sido detectadas no ano passado é prova de que as políticas de combate às drogas precisam se adaptar às mudanças nos mercados", acrescentou.

Vídeos e testemunhas dão indício de massacre de mais de 200 na Síria

Ativistas de oposição síria dizem ter documentado as mortes de mais de 200 homens, mulheres e crianças, no que pode ser um dos piores massacres nos dois anos de guerra civil no país.
No início do mês, o governo havia declarado ter matado "combatentes terroristas" em uma operação em distritos de al-Bayda e Baniyas, no oeste da Síria.
Mas imagens em vídeo e testemunhas oculares reforçam suspeitas de que a região foi palco de uma das maiores atrocidades do conflito.
"Não importa como eu descreva o que vimos e ouvimos, não será nada comparado ao que aconteceu", diz à BBC Om Abed, uma mulher coberta em um véu negro que pede para ser identificada com um pseudônimo porque teme represálias.
Mãe de dois filhos, ela chora ao lembrar o que diz ter visto em al-Bayda no início de maio.
"Não dava para andar sem passar por cima de corpos, massacrados ou queimados", diz ela. "Havia sangue por todo os lados."

Ofensiva

Em 2 de maio, tropas do governo entraram em al-Bayda, na costa mediterrânea da Síria. No dia seguinte, atacaram a vizinha Baniyas. Descreveram a ação como um combate a "terroristas armados".
A mídia estatal reportou a morte de 40 combatentes oposicionistas. Mas ativistas de oposição e testemunhas dizem que mais de 200 civis foram mortos e centenas estão desaparecidos, no que dizem ter sido um ataque sectário contra pessoas indefesas.
Um vídeo e fotografias mostram corpos queimados e amontoados, de homens, mulheres e crianças com ferimentos terríveis.
É impossível verificar a autoria das imagens, mas entrevistas feitas pela BBC com quatro mulheres que dizem ter estado lá na época parecem confirmar as suspeitas de massacre.
Om Abed
Om Abed diz ter visto seu marido e sogro mortos na rua com tiros na cabeça
Segundo elas, apesar das tensões já elevadas na região há dois anos, o que provocou a ofensiva foi uma emboscada feita mais cedo naquele dia por rebeldes contra tropas do governo.
Famílias se agruparam enquanto as tropas, acompanhadas de paramilitares, entraram na aldeia. Moradores dizem que nesse momento começou um massacre: incêndios, saques e mortes.

Poças de sangue

Um vídeo aparentemente feito por um soldado e vazado à oposição dá uma ideia do que aconteceu: mostra tropas na praça de al-Bayda com carros e casas incendiadas ao redor e poças de sangue no chão.
A câmera mostra então um homem de costas, prostrado, claramente morto. Uma mancha vermelha sob suas costas marca o caminho pelo qual seu corpo foi arrastado.
A gravação termina no que parece ser uma loja. O chão está repleto de corpos enfileirados.
Naquele dia, Om Abed diz ter sentido cheiro de fogo e ouvido gritos de homens, que haviam sido reunidos pelas tropas. Mas só à noite as mulheres, em casa, tiveram coragem de sair às ruas.
Soldados em Baniyas
Imagens mostram soldados sírios em praça de Baniyas, cercados por casas incendiadas
"Corri para a rua e vi 20 a 30 homens, no chão, todos alvejados com tiros. Vi meu marido e meu sogro com tiros na cabeça. Não havia sobrado nada da cara de meu marido, exceto por seu nariz e sua boca."

Famílias queimadas

Ativistas dizem que as tropas passaram também por dois distritos sunitas de Baniyas, onde a imprensa estatal diz que 40 terroristas foram mortos. Mas testemunhas falam que houve, na verdade, uma ofensiva alauíta contra a população xiita.
Fotos e vídeos do episódio são assustadores: mostram homens, mulheres e crianças desfigurados, empilhados; aparentemente, famílias inteiras foram mortas.
As mulheres entrevistadas pela BBC descrevem cenas semelhantes: "Casas foram incendiadas. As pessoas lá dentro queimaram. Havia tanto sangue."
Este não foi o primeiro massacre da guerra civil síria, e provavelmente não será o último. Membros da comunidade internacional esperam que a diplomacia possa reverter a situação, apostando suas fichas em uma conferência sobre a Síria a ser realizada no mês que vem.
Mas poucos acreditam que a conferência terá sucesso. Enquanto isso, os dois lados - governo e rebeldes - continuam a acreditar que podem derrotar o outro, e o povo sírio continua morrendo.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Sem solução para impasse, boliviano completa um ano em embaixada brasileira

O senador boliviano Roger Pinto é descrito como um homem de família. Mas, em seu álbum de fotos do ano passado, apenas uma de suas três filhas, Denise, aparece e o cenário no fundo é sempre o mesmo: um quarto em um edifício central na capital da Bolívia, La Paz, onde está confinado.
O edifício é o da embaixada brasileira, onde o parlamentar da província de Pando, região amazônica da Bolívia, se refugiou em 28 de maio de 2012, dez dias antes de receber asilo político pelo governo de Dilma Rousseff. Ele não saiu de lá nos últimos 365 dias.
O caso do senador, de oposição ao presidente Evo Morales, tem semelhanças com o de Julian Assange, fundador do WikiLeaks abrigado na embaixada do Equador em Londres.
Pinto não pode sair da Bolívia, já que Morales lhe negou um salvo-conduto, alegando que o senador tem vários processos judiciais pendentes nos quais é acusado de corrupção.
Assim como Assange, que está na embaixada equatoriana desde junho de 2012, Pinto corre o risco de ser preso se deixar a representação diplomática.
No entanto, a solução para o impasse não parece próxima. E o episódio envolvendo 12 torcedores corinthianos presos na Bolívia pode complicar ainda mais seu caso.

'Ar fresco'

"Meu pai está em um espaço de 20 m², com uma cama, uma escrivaninha, uma TV, um frigobar e uma mesa. Não tem um banheiro (próprio), tem que andar um pouco para usar o banheiro comum", reclama Denise Pinto, em entrevista à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
"Acho que até os detentos de uma penitenciária têm a possibilidade de conversar com outras pessoas, de tomar ar fresco, de ter sol, de poder se mover em um lugar amplo. Meu pai não tem nada disso."
A princípio, o senador pôde receber companheiros e amigos. Mas, em março, o governo brasileiro restringiu as visitas, alegando que precisava se ajustar a convenções internacionais. Agora, só sua filha e seu advogado podem entrar no quarto de Pinto.
Roger Pinto
Senador é de oposição ao presidente Evo Morales
Apesar de os problemas, Denise afirma que seu pai está bem física e psicologicamente.

'Perseguido político'

Roger Pinto pediu refúgio alegando "perseguição política" - temia ser detido por algum dos mais de 20 processos que o governo boliviano move contra ele.
Segundo sua filha, o senador teve a opção de cruzar a fronteira com o Brasil e pedir asilo no país vizinho, mas preferiu "que o país dissesse que ele é perseguido político".
Já o governo boliviano alega que Pinto deve responder à Justiça e lembra que, apesar do asilo dado pelo Brasil, não é obrigado a conceder um salvo-conduto ao senador.
"Não podemos obstruir as investigações feitas pela Justiça, as normas não permitem que a Bolívia conceda um salvo-conduto", disse o chanceler boliviano David Choquehuanca à agência estatal de notícias do país, ABI.
Nesta semana, Pinto fez um apelo ao Supremo Tribunal Federal brasileiro para que o órgão pressione a presidente Dilma Rousseff a buscar uma solução ao problema, seja um acordo com a Bolívia ou alguma forma para sair do país, como uma autorização diplomática.
A BBC Mundo entrou em contato com vários membros do gabinete boliviano, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

Vácuo jurídico

Mas até quando a situação atual poderá se prolongar?
"A Constituição (boliviana) dá direito ao asilo para qualquer cidadão perseguido politicamente. Mas há um vácuo jurídico que é o salvo-conduto", diz o advogado constitucionalista William Bascopé. "Não há normas ou tratados que fale de maneira clara sobre o tema."
Para Bascopé, apesar de ser uma questão jurídica, o caso ganhou contornos políticos e, por isso, terá de ser tratado pela via diplomática. Sendo assim, para Pinto, não restam muitas opções senão esperar.
"Como 2014 é um ano eleitoral, vai ser muito difícil que o Estado boliviano lhe conceda um salvo-conduto", opina.
A questão diplomática foi complicada por outro fator: a prisão preventiva dos 12 torcedores corintianos em Oruro, suspeitos de participação na morte de um jovem boliviano atingido por um sinalizador durante uma partida em fevereiro.

'Moeda de troca'

O chanceler brasileiro Antonio Patriota negou relação entre os dois casos e insistiu na "vontade negociadora e no diálogo" de seu governo.
No entanto, o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro, Ricardo Ferraço, disse, após visita à Bolívia, que a prisão dos corintianos - que já dura mais de 90 dias - é consequência do asilo dado a Pinto.
"A conclusão a que chegamos, depois da viagem, é que os 12 brasileiros estão sendo usados como moeda de troca, pelo fato de o Brasil ter concedido asilo político a um senador de oposição", disse Ferraço em sessão parlamentar.
Denise Pinto também diz acreditar na correlação entre os dois casos e acha que seu pai será deixado na embaixada "em uma guerra psicológica", até que "ele se canse".

Coreia do Norte insiste em programa atômico

Seul - Poucos dias após a Coreia do Norte propor na China reiniciar o diálogo sobre sua desnuclearização, o regime comunista afirmou nesta terça-feira que não abandonará seu programa de armas atômicas enquanto as "incessantes ameaças" dos Estados Unidos prosseguirem.
"Devido às incessantes ameaças nucleares de Washington, Pyongyang não abandonará unilateralmente seu poder de dissuasão", disse em editorial o jornal "Rodong Sinmun", do Partido dos Trabalhadores, braço político do regime de Kim Jong-un.
O texto pediu aos EUA que retirem as "equipes de guerra nuclear da Coreia do Sul e seus arredores" e abandone a "política hostil" em direção ao seu país se realmente deseja a paz na península coreana.
Washington não mantém atualmente armas nucleares na península coreana (todas foram retiradas em 1991), mas em março e abril, no auge da recente tensão com o Norte, transferiu para a Coreia do Sul aviões e submarinos com capacidade para realizar ataques atômicos durante as manobras anuais Foal Eagle, realizadas em conjunto com Seul.
No fim de semana, um enviado especial do regime disse ao presidente da China, Xi Jinping, que a Coreia do Norte está disposta a retomar as conversas de seis lados.
Este processo, paralisado desde 2009, envolve as duas Coreias, EUA, China, Japão e Rússia, e busca a desnuclearização de Pyongyang através de negociações entre as partes.
Por outro lado, um organismo da Coreia do Norte convidou hoje empresários e autoridades sul-coreanas a participar de um ato que será realizado em 15 de junho para comemorar a melhoria dos laços entre os dois países experimentadas em 2000.
Um porta-voz do Comitê para a Reunificação Pacífica da Pátria norte-coreana enviou o convite de modo informal através da agência estatal "KCNA", por meio de um comunicado no qual também criticou duramente o governo do Sul, acusado de não ter uma vontade real de negociar.
Fontes de Seul reafirmaram a postura expressada pelo executivo nesta semana e disseram que o único modo para resolver os problemas é o diálogo oficial entre autoridades de ambas as partes.
As relações entre Norte e Sul se encontram atualmente em um dos piores momentos da última década, e as linhas oficiais de comunicação entre ambos os países estão cortadas.

Oposição perde espaço com mudanças em canal de TV na Venezuela

O fim de um programa de TV que tratava de temas espinhosos para o governo da Venezuela, transmitido pelo canal Globovisión, representou mais um sinal da crescente falta de espaço disponível à oposição do país na imprensa para criticar as autoridades.
A emissora venezuelana era considerada um dos últimos refúgios das vozes críticas à chamada Revolução Bolivariana. No entanto, o canal vem se adaptando à diretriz estabelecida pelos novos proprietários, que assumiram o controle da Globovisión na semana passada.
Um dos principais reflexos dessa nova linha editorial foi a decisão de retirar da programação na segunda-feira o conhecido programa Buenas Noches, do jornalista Francisco "Kico" Bautista - considerado um dos maiores críticos do governo venezuelano.
A oposição acredita agora que outros programas podem ser cancelados e jornalistas considerados opositores do regime, demitidos.
A mudança na programação vem gerando um debate intenso nas redes sociais. Uma campanha no Twitter organizada por insatisfeitos com os rumos do canal, usando a hashtag #GlobovisionYaNoTeVeoMas, levou a conta da Globovisión no site a perder entre 200 mil e 300 mil seguidores em pouco mais de 72 horas, segundo um levantamento de especialistas da área.
O episódio coincidiu com o aniversário de seis anos do fim das transmissões daquela que era considerada a emissora de TV mais antiga e de maior audiência da Venezuela: a Radio Caracas Televisión (RCTV), o que já havia limitado a capacidade da oposição de se comunicar com os venezuelanos.

Restrição ao vivo

Os primeiros indícios de uma possível mudança na linha editorial da Globovisión começaram a aparecer na semana passada, quando, atipicamente, a emissora não veiculou reportagens sobre a presença do ex-candidato à Presidência e atual governador do Estado de Miranda, o opositor Henrique Capriles, em eventos públicos nas últimas quinta e sexta-feiras.
Capriles – que perdeu as eleições em abril por uma margem de votos de 1,5 ponto percentual para o atual presidente Nicolás Maduro – reclamou em sua conta do Twitter, dizendo que havia sido informado que "a nova direção (do canal) ordenou" que não aparecesse mais ao vivo e questionando o grupo de investidores que comprou o canal de seu fundador, Guillermo Zuloaga.
Na segunda-feira, "Kico" Bautista deixou o canal. Segundo informações de bastidores, ele teria sido demitido depois que apresentou, em seu programa veiculado na última sexta-feira, um resumo do que ocorreu em um dos eventos do qual Capriles participou.
Em entrevista à BBC Mundo, Bautista afirmou ter sido desligado após "contrariar a política editorial" da Globovisión.
"A nova diretriz proibiu que os políticos, do governo e oposição, apareçam discursando ao vivo, contrariando uma das principais características da Globovisión, que era o imediatismo das notícias, ou seja, cobrir os eventos enquanto eles aconteciam", disse Bautista, para quem não faz sentido a nova estratégia do canal.

'Outra tarefa'

'Globoterror'


A Globovisión nunca agradou o presidente Hugo Chávez, que chegou a apelidá-la de "Globoterror". Ele dizia que a emissora distorcia a verdade e promovia uma agenda "desestabilizadora".

O canal foi alvo de várias multas da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel), órgão do governo responsável pela supervisão do setor. As multas afetaram a sua operação e sua independência editorial.

A última multa, que data de outubro de 2011 e soma US$ 2 milhões (R$ 4 milhões), equivalente a 7,5% da receita da empresa, foi motivada pelo "comportamento editorial e pela forma como (o canal) abordou os fatos ocorridos em El Rodeo (prisão onde uma longa revolta deixou 19 mortos)".

Quando, em abril deste ano, o empresario Guillermo Zuloaga confirmou a venda da emissora, ele disse que o canal era "inviável" jurídica e economicamente e que a continuidade da concessão dependeria únicamente de uma mudança na direção.


A nova direção da Globovisión anunciou uma linha editorial "de centro" e na semana passada se reuniu com o presidente Maduro no palácio de Miraflores - a primeira vez em muitos anos que representantes do canal estiveram na sede do governo venezuelano.
Na saída, em conversa com jornalistas, o novo presidente do canal, Juan Domingo Cordero, assegurou que a Globovisión "continuará sendo um canal de notícias (…) transmitindo os fatos, dizendo a verdade". "Vocês sabem as razões pelas quais a Globovisión não era bem-vinda neste palácio, isso não vai acontecer de novo", acrescentou.
Entre as novas estratégias da emissora estaria a de abandonar a linha persistente de oposição e dar voz às autoridades.
Em um comunicado, a direção garantiu que "não vetou nenhum funcionário ou dirigente político em suas grades. Pelo contrário, a política editorial do canal consiste em obter informação e opinião de todas as vozes do país, sem qualquer discriminação".
Reportagens veiculadas na imprensa venezuelana sugerem que os novos proprietários da Globovisión teriam vínculos com figuras do governo e indicam que por trás da aquisição do canal houve uma coordenação para calar a voz da oposição.
No entanto, fontes internas do canal, que pediram anonimato, disseram à BBC Mundo que "não existe vínculo direto nem evidente" entre Cordero ou seu sócio Raúl Gorrín com o partido de Maduro.
A BBC Mundo tentou contatar os novos representantes da emissora, mas não obteve respostas até o fechamento desta reportagem.

'Caminho do confronto'

Muitos afirmam que as mudanças na Globovisión desequilibram ainda mais a oferta de informações na televisão venezuelana e lembram que o Estado já tem à sua disposição (embora com baixa audiência, segundo as pesquisas) seis canais de sinal aberto que usa para divulgar suas mensagens sem dar espaço às vozes da oposição.
Guillermo Zuloaga / AP
Após confrontos com o governo, o empresário venezuelano Guillermo Zuloaga vendeu a Globovisión
Além disso, o governo recorre obriga quase que diariamente as grandes emissoras a transmitir pronunciamentos públicos ou mensagens oficiais.
"O governo estava muito preocupado com as entrevistas coletivas concedidas por Henrique Capriles. Cada vez que ele emitia um pronunciamento, as TVs interrompiam a sua programação ao vivo para veiculá-lo", disse à BBC Mundo Carlos Correa, diretor do Espacio Público, uma organização não-governamental que promove a defesa da liberdade de expressão na Venezuela.
Correa acredita que a primeira consequência das mudanças na Globovisión é a perda na diversidade da informação transmitida ao público.
"Isso significa que na Venezuela não há outro canal com a mesma intensidade e qualidade oferecida pela Globovisión. Temos a Venevisión e Televen que são canais (privados) generalistas com pouco equilíbrio e espaço para a opinião" contra seis públicos que, segundo Correa, "divulgam propaganda."
Para especialistas, independentemente da guinada no estilo do canal, a mudança na linha editorial da Globovisión causa um impacto político e social.
Jesus Torrealba, apresentador da Globovisión, destaca que, de acordo com os resultados da última eleição presidencial, a oposição representa quase metade do país. Segundo ele, os eleitores de Capriles ainda não reconheram a vitória de Maduro e estão aguardando uma decisão sobre a impugnação apresentada por Capriles no Supremo Tribunal Federal da Venezuela.
"Fechar a válvula de escape que representa a insatisfação e a discordância, como é a natureza crítica da Globovisión, é mais um passo no caminho do confronto", disse.

Vice de Obama busca ‘sintonizar’ Brasil e EUA durante visita

Figura política de peso no governo americano, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, chega ao Brasil nesta quarta-feira com a missão de ampliar a sintonia entre os dois países, que têm vivido um período de reaproximação desde o início do governo de Dilma Rousseff.
O vice de Barack Obama deve impulsionar as discussões em temas como energia e ressaltar a importância do Brasil nas relações externas do seu país quando visitar o Rio e Brasília.
Biden, sublinham analistas, encabeçou no passado discussões importantes em temas domésticos, como a legislação de controle de armas, e carrega experiência em temas internacionais, por sua atuação, por exemplo, no envolvimento americano no Iraque, Afeganistão e Paquistão.
Portanto, sua escolha para uma visita que está sendo considerada "mais uma demonstração do compromisso americano com as nossas parcerias nas Américas", como disse a jornalistas em Washington um alto funcionário do governo americano, é mais que meramente simbólica.
"No passado, o vice-presidente tinha uma função muito mais cerimonial, mas desde Al Gore (vice de Bill Clinton) essa figura tem extrapolado as expectativas", disse à BBC Brasil o diretor do Instituto para o Estudo da Diplomacia na Universidade de Georgetown, em Washington, James Seevers.
"Recentemente, Gore, Cheney (Dick Cheney, vice de George W. Bush) e Biden se tornaram figuras muito importantes nos seus respectivos governos. Portanto, a visita do vice a um país estrangeiro transmite a mensagem de grande engajamento diplomático dos EUA", avaliou.

Cooperação energética

Biden começou na segunda-feira, em Bogotá, capital da Colômbia, uma visita de cinco dias a três países do hemisfério. Na terça-feira, ele estará em Trinidad e Tobago, onde aproveitará para se reunir com líderes de todo o Caribe.
No Brasil, ele visitará na quarta-feira uma unidade da Petrobras no Rio de Janeiro. A Casa Branca informou que o vice-presidente discutirá a cooperação no campo energético com autoridades e dirigentes da petroleira brasileira.
Também estão agendados uma palestra de Biden em um evento para o público e encontros com as autoridades locais para tratar de segurança e inclusão social.
Já em Brasília, ele será recebido pela presidente Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, para, nas palavras do funcionário da Casa Branca, "discutir assuntos globais" e "a arquitetura da parceria que construímos juntos nos últimos quatro anos".
Embora vagas, as palavras evocam o diálogo político de alto nível que os dois países têm travado em consultas sobre temas que incluem desde a agenda bilateral à guerra civil na Síria.
Trata-se de um sinal, aponta a Casa Branca, da posição privilegiada do Brasil no esforço do governo do presidente Barack Obama para melhorar as relações com a América Latina e o Caribe no seu segundo mandato.
Obama fez no mês passado uma viagem a México e Costa Rica e receberá, nas próximas duas semanas, seus colegas do Chile e Peru em visitas de trabalho.
Mas uma das poucas visitas de Estado que a Casa Branca agenda por ano foi reservada para a presidente Dilma Rousseff, que virá a Washington em outubro.
"Do nosso ponto de vista já alcançamos muito com o Brasil, mas achamos que podemos fazer muito mais", disse o funcionário da Casa Branca.

'Clube de potências'

O ex-deputado, ex-conselheiro para Comércio nos governos de Obama e Bush e diretor da Escola de Política Aplicada da Universidade George Washington, Mark Kennedy, acredita que a visita de Biden será um "convite" do governo americano para que o Brasil se veja como uma "potência global engajada em eventos globais".
"O Brasil por muito tempo se viu como um observador dos eventos globais, sentado na lateral e criticando o que outros atores estão fazendo”, sustenta o analista. “O convite de Biden é para que o Brasil se sente à mesa e pense no papel que pode assumir de forma construtiva."
Mark Kennedy, diretor da Escola de Política Aplicada da Universidade George Washington
Mas ele ressalva que os EUA querem ver o Brasil se envolvendo nesses temas não como um ator independente, e sim como participante do "clube de potências globais" onde são discutidos os problemas geopolíticos da atualidade.
Um exemplo dessa tensão ocorreu depois que o Brasil, então governado por Luiz Inácio Lula da Silva, e a Turquia costuraram um acordo com o Irã para tentar solucionar o impasse em relação ao programa nuclear iraniano.
Mark Kennedy – que não fala pelo governo americano, mas expressa uma visão comum em Washington – avalia que o desentendimento em torno do programa iraniano exemplifica o tipo de iniciativa destinado a fracassar nas relações internacionais.
Ele diz que o Brasil "botou o carro na frente dos bois, ao achar que era o único ator político, sem passar pela etapa de se juntar ao grupo coeso de países que regularmente se sentam à mesa e resolvem esses temas".
"Ter essa história de independência pode ser positiva para alcançar algumas coisas, mas não é saudável vê-la como algo marginal e sim central, com os grandes atores, não como um outsider", afirma.
"O Brasil por muito tempo se viu como um observador dos eventos globais, sentado na lateral e criticando o que outros atores estão fazendo”, sustenta o analista. “O convite de Biden é para que o Brasil se sente à mesa e pense no papel que pode assumir de forma construtiva."

Superar a desconfiança

De lá para cá, os dois países recolocaram a sua relação nos eixos, em parte dado o perfil mais discreto do governo Dilma no cenário externo, em parte porque os EUA estiveram “olhando para dentro”, nas palavras de Mark Kennedy, desde o início da crise econômica.
"Agora, o governo americano percebeu que precisa se envolver mais com seus parceiros cruciais, e o Brasil é um deles", afirma.
Porém, apesar das palavras cordiais que partem de ambos os lados, analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que os dois países ainda carecem do tipo de sintonia política para criar uma relação bilateral especial.
A isso se somam disputas no campo do comércio e dos subsídios agrícolas e uma "falta generalizada de novas ideias" para refrescar o relacionamento, como costuma descrever o presidente emérito do Interamerican Dialogue, Michael Shifter.
A viagem de Biden, juntamente com a visita de de Dilma aos EUA, seria uma tentativa de reverter essa situação.
"Não há dúvida de que o governo brasileiro está ampliando mais e mais (a sua influência no mundo) e que a expansão econômica do Brasil, do poder econômico do Brasil, reforça a ideia de que a atuação do Brasil seja vista como uma norma, em vez de uma exceção", diz Mark Kennedy.

Crise ameaça deixar Igreja sem vinho e hóstia na Venezuela

A Igreja Católica é a nova vítima da crise de abastecimento na Venezuela. Depois da falta de papel higiênico, começa a faltar vinho para a celebração de missas.
A escassez de produtos necessários para a produção de vinho obrigou o único produtor do país a parar de vender para a Igreja.
Críticos acreditam que o problema da escassez no país está ligado ao forte controle estatal da economia e da produção interna insuficiente.
Mas o governo acusa uma conspiração liderada pela oposição e a especulação dos preços pelo problema.
"[Nosso fornecedor] Bodegas Pomar disse que não pode mais fazer o vinho porque estão enfrentando dificuldades", disse à BBC o porta-voz da Igreja Roberto Lucker.
O porta-voz acrescentou que a reserva de vinho da Igreja duraria apenas mais dois meses, e que não sabia se a Igreja poderia importar vinhos do exterior.
Ainda segundo Lucker, o problema não se limita ao vinho.
"Os fabricantes de hóstia nos disseram que vão ter que aumentar os preços porque não conseguem encontrar farinha suficiente. O trigo não é cultivado aqui - tudo isso vem do exterior", disse ele.
"Um pacote de hóstia custava 50 bolívares (16 reais), e agora custa 100."

Escassez de papel higiênico

A Venezuela é um país rico em petróleo, mas fortemente dependente de produtos importados. Os controles cambiais têm restringindo sua capacidade de pagar por mercadorias estrangeiras, resultando na escassez de vários produtos básicos.
O fornecimento de leite, açúcar, óleo de cozinha, farinha de milho - que é usado para fazer a arepa, prato típico da Venezuela - e de itens sanitários, está sendo afetado.
Na semana passada, os parlamentares venezuelanos aprovaram planos para importar milhões de rolos de papel higiênico, em um esforço para aliviar a escassez crônica.
O correspondente da BBC Mundo em Caracas, Abraham Zamorano, diz que muitos venezuelanos estão se perguntando como um país supostamente rico com as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo enfrenta uma situação como essa.

Empresas diminuem exigências para ampliar contratações no Brasil

Empresas brasileiras estão diminuindo suas exigências para a contratação de profissionais como forma de driblar a escassez de talentos, segundo um levantamento da consultoria internacional Manpower Group.
Segundo a pesquisa, publicada anualmente, 68% dos empregadores do Brasil dizem ter dificuldades para contratar profissionais de áreas mais e menos qualificadas - de operários a diretores financeiros.
O número representa uma pequena queda em relação a 2012, quando 71% diziam ter dificuldades. Mesmo assim, o Brasil continua em segundo lugar entre os 42 países analisados e todo o mundo - atrás apenas do Japão, onde 85% dos patrões sofrem mais para contratar. A média global de dificuldade é 35%.
"Na Ásia, o principal problema é que eles não encontram pessoas para preencher as vagas. No Brasil há pessoas, mas elas não tem a qualificação adequada. E as empresas já perceberam não vão encontrar esses profissionais mais qualificados."
Segundo Marcia Almström, diretora de recursos humanos da consultoria no Brasil, a diminuição do percentual no Brasil é resultado de estratégias as empresas para lidar com a escassez de talentos, que incluem diminuir as exigências para que os candidatos preencham as vagas.
"Ao invés de esperar por um profissional 100% pronto, as empresas estão contratando os menos prontos e absorvendo a responsabilidade de capacitar essas pessoas", disse à BBC Brasil.
Na pesquisa de 2013, um número menor de empresários citou a falta de talentos específicos e de candidatos como as principais razões de não conseguir preencher vagas. O estudo entrevistou cerca de 40 mil empregadores em todo o mundo, 750 somente no Brasil.

Mudanças

Os engenheiros, caíram da terceira para a sexta posição do ranking, mas de acordo com Almström, a maior facilidade para contratar profissionais de engenharia ainda não é efeito da abertura de novos cursos universitários e centros de inovação no país.
"Ainda existe a necessidade de formar engenheiros e só vamos colher frutos efetivos das ações de educação e formação entre três e cinco anos", afirma.

Áreas com maior dificuldade de contratação no Brasil

1. Técnicos
2. Operadores de produção

3. Profissionais de finanças

4. Trabalhadores de ofício manual

5. Operários

6. Engenheiros

7. Motoristas

8. Secretárias, Assistentes pessoais e pessoal de assistência em escritórios

9. Representantes de vendas

10. Mecânicos


Fonte: Pesquisa de Escassez de Talentos 2013, do Manpower Group
"O que acontece hoje é que temos mais engenheiros atuando na área de engenharia. Havia muitos engenheiros em bancos e na indústria de telecom, por exemplo. A procura das empresas e o aumento dos salários acabou trazendo mais engenheiros para os cargos."
A mobilização dos engenheiros, de acordo com a especialista, beneficiou especialmente as áreas de construção civil, engenharia de petróleo e outras relacionadas a infraestrutura.
O terceiro lugar na lista de profissionais difíceis de contratar em 2013 foi ocupado pelos contadores e outros profissionais de finanças. Mas nesse caso, a dificuldade de contratar funcionários está relacionada ao aumento da exigência das empresas.
"A gestão das empresas ficou mais complexa. Elas têm que conseguir resultados num mercado que não está reagindo bem, especialmente no Brasil, com um crescimento que foi anunciado e não se concretizou. Por isso elas estão procurando profissionais de finanças mais experientes, especialmente CFOs e diretores financeiros", diz Almström.
Os profissionais de finanças, no entanto, são os únicos altamente qualificados a figurar entre as primeiras cinco posições da lista. O levantamento põe em evidência mais uma vez a falta de profissionais com nível técnico ─ que ocupam o primeiro lugar ─ e também de operários e trabalhadores manuais. A escassez permeia todas as áreas técnicas, de automação a edificações, de eletrônica a alimentos e bebidas.
O "apagão de mão de obra" em setores de baixa e média qualificação no mercado brasileiro já havia sido apontado por estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ligado ao governo.
De acordo com a especialista, muitos destes funcionários buscam oportunidades de atuar em funções mais qualificadas ─ fenômeno que também motivou a criação da nova estratégia por parte dos empregadores.
"As empresas estão tentando dar cada vez mais oportunidades de carreira e de formação para tornar os postos mais atraentes para os operários e não perdê-los para o mercado. Oferecendo oportunidades de carreira também se abrem janelas na etapa mais básica da produção (à medida que os operários são promovidos), mas a empresa controla melhor a rotatividade de profissionais", disse Marcia Almström.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Igualdade social e pouco uso de drogas ajudam Islândia a controlar crime

Embora eu tenha crescido na Nova Inglaterra, no nordeste dos Estados Unidos (onde neva com frequência no inverno), senti uma sensação diferente ao ver as nevascas islandesas. Era algo paralisante, com rajadas de vento épicas que faziam com que os flocos de neve parecessem navalhas.
Quando deixei minhas malas no solo coberto de neve da capital, Reykjavik, um homem se aproximou de mim em um jipe.
"Quer subir?", perguntou-me.
Aquilo parecia uma loucura. Quem entraria no carro de um desconhecido?
Mas, apesar do que já me disseram sobre pegar carona com estranhos, pulei na parte traseira do veículo sabendo que nada de mal aconteceria.
Pois, afinal de contas, eu estava na Islândia. Eu ficaria por lá uma semana com o intuito de estudar os baixos índices de criminalidade do país. Essa era minha segunda viagem a essa gélida nação em seis meses.
Passei os últimos três anos na Universidade de Suffolk, no Estado americano de Boston, estudando direito internacional.
Antes de minha primeira visita a Reykjavik, em agosto de 2012, já havia definido o tema da minha tese: faria um estudo sobre a Convenção de Genebra para a guerra cibernética.
Mas aquela semana na Islândia mudou meus planos. Estava agradavelmente surpreso com o que vi.

Qual é o segredo?

Os crimes violentos eram praticamente inexistentes na Islândia. As pessoas pareciam despreocupadas com sua segurança ou de seus filhos, a ponto de deixar as crianças sozinhas na rua.
Passei temporadas na Noruega, na Suíça e na Dinamarca, mas agora esses países pareciam tomados pelo crime, em comparação com a Islândia.
De volta aos Estados Unidos, mudei o tema de minha tese. Queria saber qual era o segredo da Islândia.
Francamente, não há uma resposta perfeita para explicar por que o país está entre os que detêm os menores índices de criminalidade do mundo.
Islândia / Getty
Taxa de homicídios na Islândia é de 1,8 por cada 100 mil habitantes, uma das mais baixas do mundo
Segundo o UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes), a taxa de homicídios na Islândia entre os anos de 1999 e 2009 nunca foi mais alta que 1,8 por 100 mil habitantes.
Os Estados Unidos, por sua vez, registraram no mesmo período taxas de homicídio anuais de 5 a 5,8 casos para cada 100 mil habitantes.
No Brasil, a taxa é ainda maior, de 23 homicídios por 100 mil habitantes.

Pouca diferença de classes

Depois de conversar com professores, autoridades, advogados e jornalistas, os fatores do sucesso da Islândia nessa área começaram a ser delineados – embora seja impossível determinar em que medida cada um deles contribui para o resultado final.
Em primeiro lugar, quase não há diferença entre as classes alta, média e baixa na Islândia. Por causa disso, praticamente inexiste tensão econômica entre classes – algo raro em outros países.
Um trabalho de um estudante da Universidade do Missouri que analisou o sistema de classes islandês descobriu que somente 1,1% dos participantes do levantamento se descreviam como classe alta e apenas 1,5% como classe baixa.
Os 97% restantes se identificaram como classe média, ou trabalhadora.
Em uma das minhas três visitas ao Parlamento islandês, me reuni com Bjorgvin Sigurdsson, ex-presidente do grupo parlamentar da Aliança Social Democrata.
Para ele e para a maioria dos islandeses com quem falei, a igualdade é a principal causa da quase ausência de crimes.
"Aqui os filhos dos magnatas vão aos mesmos colégios que o restante das crianças", afirmou Sigurdsson.
Para ele, os sistemas de serviços públicos e de educação do país promovem a igualdade.

Muitas armas, poucas drogas

Islândia / AFP
Apesar de criminalidade baixa, muitos islandeses têm posse de armas de fogo
Os poucos crimes que acontecem no país geralmente não envolvem armas de fogo, apesar dos islandeses possuírem muitas.
A página de internet GunPolicy.org estima que haja aproximadamente 90 mil armas no país – cuja população é de cerca de 300 mil pessoas.
Isso faz com que a Islândia figure na posição número 15 do ranking mundial de posse legal de armas de fogo per capita.
Mas adquirir uma arma de fogo não é fácil no país. O processo inclui um exame médico e uma prova escrita.
A polícia também não anda armada. Os únicos agentes que podem portar armas de fogo são uma força especial chamada "Esquadrão Viking", que atua em poucas ocasiões.
Além disso, o tráfico de drogas na Islândia é pouco expressivo. Segundo um relatório da UNODC, o consumo de cocaína por cidadãos com idades entre 15 e 64 anos é de 0,9%, o de ecstasy, 0,5%, e o de anfetaminas, 0,7%.
Também há uma tradição na Islândia de denunciar os crimes diante de qualquer indício ou agir para freá-los logo no início, antes que a situação piore.
No momento, a polícia está combatendo o crime organizado enquanto o Parlamento discute leis para ajudar a desmantelar essas redes criminosas.
Quando as drogas pareciam ser um problema em expansão no país, o Parlamento estabeleceu uma política antidrogas independente e um tribunal especial para lidar com o problema. Isso aconteceu em 1973. Nos dez primeiros anos de funcionamento do tribunal, 90% dos casos foram resolvidos com multas.
Esses são os segredos da Islândia, que poderiam orientar outros países que buscam soluções para seus problemas de delinquência.
Por isso, enquanto eu subia naquela manhã no jipe daquele homem que sorriu para mim e perguntou se eu precisava de ajuda com as malas, me senti seguro, mesmo não sabendo quem ele era.