segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Inquérito apura conduta da BBC em caso de apresentador suspeito de abuso sexual

A BBC instaurou nesta segunda-feira um inquérito para apurar a cultura interna da empresa durante as décadas em que, segundo denúncias, foram cometidos abusos sexuais pelo ex-apresentador Jimmy Savile.
A investigação independente será liderada pela ex-juíza Janet Smith.
Este é o segundo inquérito instaurado pela empresa desde que o caso veio à tona. Uma outra investigação interna, liderada por um ex-executivo da empresa rival Sky News, vai investigar por que um dos programas da BBC - o Newsnight - desistiu de veicular uma reportagem em que supostas vítimas de Savile relatavam os abusos sofridos.
Ao mesmo tempo, a polícia também está fazendo uma investigação criminal sobre as acusações de que Savile teria abusado de 300 jovens ao longo de cerca de 40 anos.
Savile, morto em outubro do ano passado aos 84 anos, foi DJ de rádio e se tornou uma lenda da TV britânica por ter apresentado populares atrações como o programa Jim'll Fix It e o programa de sucessos musicais Top of The Pops, da BBC.
Em seu inquérito sobre a BBC, Janet Smith vai apurar as denúncias de que Savile teria cometido parte dos abusos de que é suspeito dentro das instalações da emissora. Ela também ouvirá depoimentos de pessoas que dizem ter alertado sobre alguns casos envolvendo Savile, formal ou informalmente.
A ex-juíza tem ainda que investigar "até que ponto a equipe da BBC estava ou deveria estar informada a respeito de condutas impróprias de Savile nas instalações da emissora ou em gravações externas para a emissora".

Newsnight

No inquérito liderado pelo ex-executivo da Sky NEws Nick Pollard, estão sendo investigadas as razões por trás do engavetamento de uma edição do programa Newsnight, da BBC, que no ano passado planejava exibir algumas das suspeitas sobre Jimmy Savile.
O editor do Newsnight, Peter Rippon (no momento afastado até o fim do inquérito), disse que a decisão de não levar o programa ao ar foi tomada por razões editoriais, afirmando que faltavam elementos que dessem força à denúncia. Ele negou ter sofrido pressão de superiores para abandonar a investigação.
Outra emissora britânica, a ITV, exibiu um documentário no início deste mês, exibindo denúncias de abusos que teriam sido praticados por Savile. Desde então, centenas de outras suspeitas vieram à tona.
O sobrinho de Savile, Roger Foster, disse que inicialmente não acreditou nas acusações contra seu tio, mas que, diante de tantas denúncias, ele está "convencido de que a maioria delas é verdadeira".
Foster declarou à BBC que não consegue entender como seu tio, que dedicava parte tão grande de seu tempo a causas de caridade, "podia ter um lado tão escuro".

domingo, 28 de outubro de 2012

Polícia prende jornalista que denunciou gregos com supostas contas na Suíça

A polícia da Grécia prendeu neste domingo o jornalista Kostas Vaxevanis por violação de privacidade após ter publicado uma lista com os nomes de 2 mil gregos que mantêm contas bancárias na Suíça e são suspeitos de sonegação de impostos.
Os correntistas em questão teriam usado suas contas no banco HSBC para depositar recursos provenientes do crime de evasão fiscal.
Vaxevanis diz que a lista publicada é a mesma entregue pela então ministra das Finanças da França Christine Lagarde ao seu colega grego, o que levou a imprensa internacional a chamar o documento de "lista Lagarde".
A francesa atualmente chefia o FMI (Fundo Monetário Internacional).
A lista, que inclui figuras de destaque na Grécia, foi originalmente "vazada" por um funcionário do HSBC e então repassada ao governo grego por Lagarde anos atrás.
Desde então, vários governos gregos têm sido acusados de tentar evitar que o documento viesse à tona.
"Ao invés de prender os sonegadores de impostos e ministros que tinham a lista em suas mãos, eles estão tentando prender a verdade e a liberdade da imprensa", disse o repórter.
Ele deve aparecer diante de um tribunal grego na segunda-feira para responder às acusações feitas após a publicação da reportagem em sua revista Hot Doc.
"O promotor emitiu um mandado para a prisão preventiva de Vaxevanis porque ele publicou uma lista de nomes sem permissão e violou a lei de informações pessoais. Não há provas de que as pessoas ou empresas incluídas na lista tenham violado a lei. Não há provas de que eles violaram a lei de sonegação de impostos ou lavagem de dinheiro", disse um policial à agência de notícias Reuters.
Acredita-se que a lista inclua nomes de políticos, empresários e outros, o que deixou grande parte da população furiosa, justamente em um momento de alta insatisfação popular em meio a cortes orçamentários e aumento de impostos devido à crise, diz o analista da BBC em Atenas, Mark Lowen.
O assunto deu novo vigor às suspeitas de que a sonegação de impostos continua em pleno vapor na Grécia e que o governo não se esforça para coibí-la, mesmo em meio à recessão e sucessivos pacotes de ajuda financeira concedidos pela União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu.

Yoko não foi culpada por separação dos Beatles, diz McCartney

O cantor e compositor britânico Paul McCartney afirmou que Yoko Ono, a mulher de John Lennon, não foi a responsável pela dissolução do grupo.
''Ela certamente não separou o grupo, o grupo já estava se separando'', afirmou McCartney em um uma entrevista, pondo fim a décadas de acusações de Yoko seria o pivô do fim da banda, que ocorreu em 1970.
Os comentários do cantor foram feitos durante uma entrevista concedida a David Frost, o repórter britânico que se celebrizou por ter realizado a primeira entrevista de Richard Nixon desde que ele renunciou à presidência dos Estados Unidos.
A entrevista de uma hora será exibida no mês que vem na rede Al Jazeera e é uma das mais extensas dadas recentemente pelo ex-beatle.

Em defesa de Yoko

McCartney chega até dizer que Yoko teve um papel positivo sobre as ideias musicais do parceiro, ao afirmar que Lennon não teria feito canções como Imagine se não tivesse tido contato com a arte vanguardista da artista plástica e compositora japonesa.
''Eu acredito que ele não teria sido capaz de fazer isso sem Yoko, por isso, acho que ela não pode ser culpada por nada. Quando a Yoko apareceu, parte de sua atração era seu lado vanguardista, sua visão a respeito das coisas, por isso, ela mostrou a ele outra maneira de ser, que foi muito atraente para ele. Então, era hora de John ir, ele definitivamente iria sair, de um jeito ou de outro'', afirmou o cantor.
Mas na conversa com Frost, McCartney reconhece, no entanto, que se incomovada com o fato de Yoko estar sempre às sessões de gravações dos Beatles.
O ex-beatle afirma ainda acreditar que o grupo se separou no momento certo. De acordo com ele, a banda ''deixou um belo legado'' e que por isso a separação ''não foi algo ruim''.
McCartney conta que um dos motivos pelo qual ele e John foram muito próximos é que ambos perderam suas mães ainda na juventude. A mãe de Lennon foi morta após ter sido atropelada, quando ele tinha 17 anos. McCartney perdeu sua mãe quando ele tinha 14 anos de idade.
No início deste mês, o primeiro compacto lançado pelos Beatles, Love Me Do, completou 50 anos.

Macaco 'fora da lei' que virou astro do Facebook é capturado nos EUA após três anos em fuga

Um macaco résus que conseguiu fugir de autoridades no Estado americano da Flórida por mais de três anos, acabou sendo capturado nesta semana, após ter protagonizado uma série de fugas espetaculares, que lhe valeram um status de celebridade nas redes sociais e o titulo de ''O Macaco Misterioso da Baía de Tampa''.
Ele foi avistado pela primeira vez em janeiro de 2009 e foi encontrado do lado de fora de restaurantes, em estacionamentos de igrejas, em becos e vielas, na região da Baía de Tampa, na Flórida.
Moradores da região relatam tê-lo visto pendurado em árvores, revirando latas de lixo, atravessando em uma rua e até pulando dentro da piscina de uma casa.
Agentes da Comissão de Conservação de Vida Selvagem da Flórida chegaram a conseguir disparar dardos tranquilizantes e atingir o animal em mais de dez ocasiões, mas, ainda assim, ele acava sempre conseguindo fugir.
Em princípio, eles acreditavam que o macaco seria um animal doméstico de alguém, mas depois concluíram que ele integrava uma pequena população de macacos selvagens da região, da qual acabou se desgarrando.
Os agentes adevertiram que macacos selvagens podem carregar o vírus herpes B, que pode ser facilmente transmitido para humanos e que pode ser fatal.

Fãs no Facebook

A despeito de estar sempre burlando as autoridades, o macaco rebelde acabou conquistando uma legião de fãs. Uma Clique página de Facebook dedicada a ele conta atualmente com mais de 87 mil seguidores.
Sua trajetória de constantes fugas teve um fim na última quarta-feira, quando ele finalmente sucumbiu a um dardo tranquilizante lançado por um veterinário.
Uma moradora da cidade de St. Petersburg, Elizabeth Fowler, de 60 anos, chamou as autoridades após ter sido mordida no ombro pelo animal.
A despeito do ataque, Elizabeth, assim como vários de seus vizinhos, segundo relatos do jornal Tampa Bay Times, se afeiçou ao animal, que costumava fazer incursões pela vizinhança. ''Me sinto meio culpada'', afirmou, contendo as lágrimas.
O macaco acabou sendo capturado após caído em uma armadilha que teve como palco a casa de Elizabeth. A sua filha, Shannon, deixou uma banana perto de uma árvore e fez ruídos para atrair o animal, que acabou sendo atraído e atingido por um dardo, disparado pelo veterinário Don Woodman.
Woodman conta que já foi alvo até de ameaças por parte de fãs indignados do macaco.
''Eu entendo, todos adoramos histórias sobre o pobre coitado que consegue enfrentar os poderosos. E muitos nos viam como as autoridaes e ele como a vítima. Muitos deles (os fãs do macaco) são bem intencionados, mas posso garantir que esse macaco estará em melhor situação agora, já que não estará mais vagando sozinho por aí'', garantiu o veterinário.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Condenação é marco em histórico de escândalos de Berlusconi

No episódio mais recente da série de escândalos envolvendo ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, a Justiça italiana decidiu nesta sexta-feira condená-lo a um ano de prisão por fraude fiscal.
A condenação inicial era de quatro anos, mas foi em seguida reduzida para um ano, em razão de uma lei de anistia aprovada em 2006 com o objetivo de reduzir a população carcerária.
Apesar dos vários processos que tramitam contra ele, esta é a primeira vez que Berlusconi, de 76 anos, é condenado à prisão.
No entanto, espera-se que o ex-premiê recorra da decisão. Segundo o correspondente da BBC em Roma, David Willey, é pouco provável que Berlusconi seja preso, já que a sentença só pode ser executada após confirmação por dois tribunais de apelação.

Caso

O caso pelo qual Berlusconi foi condenado se refere à compra de direitos de exibição de filmes americanos por suas várias redes de TV. Berlusconi e outros réus são acusados de inflar artificialmente os preços dos direitos desses filmes, via duas empresas offshore controladas por ele. Parte do dinheiro seria desviada, em um esquema para pagar menos impostos.
O julgamento foi iniciado em 2006, mas interrompido diversas vezes, em parte devido a uma lei de imunidade que protegia Berlusconi enquanto ocupava o cargo de primeiro-ministro.
Ele também foi condenado nesta sexta a pagar 10 milhões de euros (cerca de R$ 26 milhões) e a ficar afastado de qualquer cargo público por três anos.
Segundo Wiley, deve levar alguns anos até que o recurso de Berlusconi seja analisado. "Então, é provável que ele nunca vá para a prisão."
O ex-primeiro-ministro costuma dizer que as acusações contra ele são motivadas por perseguição política e por um Judiciário com inclinações esquerdistas.

Histórico

Figura dominante na política italiana há mais de 20 anos, Berlusconi não é o primeiro premiê do país a ser condenado por crimes.
Bettino Craxi, um socialista que ajudou Berlusconi a construir seu império na área de telecomunicações, fugiu do país para evitar a prisão após um julgamento por corrupção e morreu no exílio na Tunísia.
No caso de Berlusconi, apesar dos diversos processos relacionados a suas atividades empresariais, ele sempre conseguiu ser inocentado ou ser beneficiado pelo fato de os processos expirarem o prazo legal.
Além das acusações de corrupção, Berlusconi está sendo julgado atualmente em um processo em que é acusado de ter pago por sexo com uma menor e tentar encobrir o episódio.
Ele foi forçado a renunciar ao cargo de primeiro-ministro em novembro passado. Recentemente, afirmou que não planeja concorrer nas próximas eleições, no ano que vem.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Brasil está aberto ao mundo, diz ex-Monty Python em documentário sobre o país

Michael Palin, ex-integrante da trupe de humoristas britânicos Monty Python e especializado nos últimos 25 anos como apresentador de documentários de viagem, diz ter finalmente coberto um buraco em seu currículo de viajante com uma visita ao Brasil, tema de uma nova série de TV que estreou nesta semana na Grã-Bretanha pela BBC.
Para Palin, o Brasil é um exemplo acabado de um país que quer se comunicar e trocar experiências com o mundo. "Poucos países que já visitei impõem barreiras aos viajantes. Mas o Brasil é o exemplo mais absoluto de país que quer se comunicar com o mundo", afirma.
"Venho viajando há quase 25 anos, e por alguma razão nunca tinha ido ao Brasil. Não sei por que, mas o país nunca tinha se encaixado nas minhas séries (que pela primeira vez aborda um único país ao invés de agrupar destinos por temas)", observa.
Segundo ele, o país deixou nele uma sensação de "encanto". "Viajar pelo Brasil me fez perceber por que eu viajo. Adoro o entusiasmo de ver pela primeira vez um local não familiar, um mundo não familiar, falando uma língua não familiar, comendo comidas não familiares. É estimulante, faz a adrenalina correr", diz.

‘Brasil com Valium’

O humorista e apresentador cruzou o país de norte a sul para a série de quatro programas, iniciada com visitas ao Maranhão, a Pernambuco e à Bahia.
O programa foi recebido com críticas variadas pela mídia britânica. Em sua edição desta quinta-feira, o diário The Guardian diz que Palin foi recebido no país como uma celebridade e que as experiências mostradas por ele no programa não devem estar disponíveis aos turistas mortais, estando mais próximas a "uma espiadela a como é ser como o príncipe Charles".
Para o crítico do jornal, o programa, realizado provavelmente após uma extensa e cara pesquisa prévia de produtores no local, mostra "o Brasil com Valium" e apenas mostra pessoas pobres envolvidas em projetos sociais.
"Sei que é demais pedir a Palin que se meta em um tiroteio entre duas gangues de traficantes, mas ainda assim (mostrar) algo menos aconchegante não deveria ter sido tão difícil", observa a crítica, concluindo que o país mostrado parecia mais com o Algarve (região costeira de Portugal popular entre os britânicos). "Não sei se até mesmo os brasileiros reconheceriam isso como o Brasil", termina o texto.
Outra crítica, publicada pelo diário The Daily Telegraph, afirma que a série "vai levar uma nova leva de turistas a seguir para o Rio de Janeiro". "Foi uma introdução altamente agradável a um país que parece capaz de impressionar o visitante desavisado com seu desenfreado gosto pela vida", afirma o jornal.

Inglaterra sem Copa

No primeiro programa da série, que foi ao ar na noite desta quarta-feira na Grã-Bretanha pelo canal BBC 1, Palin mostrou preparativos para uma festa de bumba-meu-boi em São Luís, participou de uma vaquejada no sertão de Pernambuco, arriscou passos desajeitados de capoeira em uma roda em Salvador, experimentou uma moqueca preparada pela chef baiana Dadá e tocou fora do ritmo com o Olodum no Pelourinho.
Ele também visitou um terreiro de candomblé e se consultou com um pai-de-santo, que após ser questionado sobre as possibilidades de a Inglaterra voltar a ganhar uma Copa do Mundo de futebol, jogou os búzios e deu a Palin a má notícia: "Exu diz que não."
Em cada ponto de sua visita, o apresentador contou com a ajuda de algum morador local para servir de guia e contar curiosidades, como o episódio em que o então prefeito de Recife, Roberto Magalhães, entrou armado em uma redação de um jornal do Recife e ameaçou um jornalista que havia publicado uma nota dizendo que a primeira-dama não havia gostado de uma escultura de Francisco Brennand no centro histórico da cidade porque achava que lembrava um falo.
Os programas seguintes ainda mostrarão o apresentador visitando tribos indígenas isoladas da Amazônia, enfrentando as cataratas do Iguaçú e dançando músicas alemãs com descendentes de imigrantes em Santa Catarina.
Palin diz esperar que sua nova série possa mostrar ao público britânico "o calor, a amizade, a exuberância e o vigor do Brasil".

Mais de 10 milhões de latinos desperdiçam direito de votar nos EUA

Disputada pelos dois candidatos à presidência dos Estados Unidos, o democrata Barack Obama, que tenta a reeleição, e o republicano Mitt Romney, que ensaia a primeira ida à Casa Branca, a comunidade latina é, apesar de seu tamanho, uma das que menos comparece às urnas.
Embora 23,7 milhões de latinos tenham o direito de votar (4,2 milhões a mais do que no último pleito presidencial de 2008), nem todos devem se inscrever para ir às urnas. Pesquisadores calculam que o total de eleitores latinos registrados deve ficar entre 10 e 13,5 milhões.
Diretor associado do Centro Pew, uma das mais conhecidas entidades responsáveis por pesquisas de intenção de voto nos EUA, o pesquisador Mark Hugo López destaca que, além do número reduzido de eleitores registrados, a comunidade latina também tem um índice baixo de participação nas eleições.
"O problema é que os latinos raramente votam em números que refletem seu potencial", disse López à BBC Mundo. "Há quatro anos, apenas metade dos eleitores registrados compareceram às urnas, contra 65% dos negros e 66% dos brancos."
Para reverter tal quadro, voluntários de organizações sem fins lucrativos vêm, desde o início do ano, tomando as ruas das principais cidades americanas para promover a participação cívica da comunidade latina.
Uma delas é a "Mi Familia Vota", que se define como uma organização sem fins lucrativos que trabalha para "unir a comunidade latina e seus aliados para promover justiça econômica e social por meio de uma crescente participação civil".
Francisco Heredia, diretor do braço da entidade para o Estado americano do Arizona, vangloria-se de já ter batido em mais de 55 mil portas nos últimos cinco meses. Seu objetivo é convencer os latinos, casa por casa, de que seu voto "faz diferença".
"É uma estratégia muito básica. Eu bato em portas e vou às lojas de latinos para registrar aqueles que estão aptos a votar", disse Heredia à BBC Mundo.
Nos Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório, é preciso que o eleitor se registre antes caso queira votar.

Desafio

Ajuda brasileira

No estado de Massachusetts, na costa leste dos EUA, entidades de apoio ao imigrante contam com uma ajuda brasileira. Até o dia 17 de outubro, quando expirou o prazo para novos registros, a organização sem fins lucrativos Brazilian Women's Group ajudou a registrar 130 novos eleitores, a sua maioria imigrantes recém-naturalizados americanos.
Segundo disse à BBC Brasil a brasileira Heloísa Galvão, diretora-executiva da entidade e há 24 anos nos EUA, o objetivo é ampliar a consciência política do imigrante.
"Somos um movimento apartidário cujo intuito é informar o imigrante naturalizado americano sobre a importância de seu voto, que pode ser um meio para uma mudança social", afirmou.
(Luís Guilherme Barrucho)
Adrián Landa é outro que está envolvido em uma missão semelhante: ele passa horas no porão de uma casa no leste de Los Angeles, onde funciona os escritórios da ONG Innercity Struggle.
Ali, junto com um grupo de mais de 20 pessoas, ele passa horas ao telefone, buscando mobilizar eleitores de sua comunidade.
"As pessoas normalmente estão abertas a nos ouvir; elas querem ver mudanças", afirmou Landa. "Mas não sabem ou não tem informações suficientes sobre o processo eleitoral", acrescenta o voluntário, cuja equipe entrou em contato com mais de 10 mil pessoas em apenas um mês.
Enquanto uns trabalham para registrar novos eleitores, outros lembram aos já registrados para usar seu direito de voto. Ao fim e ao cabo, o objetivo é o mesmo: ampliar o peso do voto latino nas eleições americanas e, com isso, aumentar o poder de barganha da comunidade sobre o candidato eleito.
O desafio é grande. Segundo López, do Centro Pew, um relatório desenvolvido por ele e publicado há poucos dias dá dimensão do que pode acontecer no próximo dia 6 de novembro: uma diferença gritante entre os latinos que estão aptos a votar e os que realmente comparecerão às urnas.
Dados da pesquisa mostram que três em cada quatro que estão inscritos dizem ter "certeza absoluta" que vão votar.
Imigrantes nos EUA / Getty
Apesar de numerosa, comunidade latina não comparece às urnas nos EUA
A taxa, entretanto, não é tão alta quanto parece. A média nacional, por exemplo, é de 89%.
Outro obstáculo é o índice de eleitores registrados dentro da comunidade.
"Enquanto 74% da população anglo-saxã é registrada, a proporção entre os latinos é inferior a 55%", diz Michael Munger, cientista político da Duke University.
Em outras palavras: não apenas menos latinos se registram para votar como os já registrados também participam menos do processo eleitoral.

Situação irregular

Além disso, especialistas acrescentam outro dado importante. Mais da metade dos latinos que mora nos Estados Unidos está fora da disputa porque não tem cidadania, estão em situação irregular ou tem apenas uma autorização temporária de residência.
Mas como explicar o distanciamento da principal comunidade de imigrantes do processo político nos Estados Unidos?
Especialistas creditam parte da resposta ao questionamento a uma característica demográfica: os jovens.
A maioria dos eleitores latinos ainda é nova, ou seja, habilitada para participar pela primeira vez neste ano, e tem entre 18 a 29 anos.
Nessa parcela da população, lembram os estudiosos, existe um interesse pela política menor do que no eleitorado mais velho.
Brasileiro registrando-se para eleição americana / Heloisa Galvão
Brasileira naturalizada americana registra-se para eleição dos EUA
"É um processo longo; é preciso convencer esses eleitores de que seu voto pode afetar seu cotidiano", afirmou Maria Duarte, da organização Galeo, responsável pela campanha "Orale!" para incentivar a participação latina a comparecer às urnas.
Outro fator provável, apontam os especialistas, é de natureza regional: cerca de 50% dos eleitores latinos moram no Texas e na Califórnia, dois Estados que não recebem muita atenção dos candidatos porque seus resultados já são historicamente conhecidos antes das eleições. O Texas tem uma inclinação republicana enquanto a Califórnia é considerada um reduto democrata.
"(Texas e Califórnia) não são considerados Estados pêndulo e, portanto, neles há menor esforço de mobilização de eleitores por partidos", diz López, do Centro Pew.

Economia

Outros analistas, no entanto, atribuem a menor participação eleitoral dos latinos especialmente à economia: o desemprego e a crise imobiliária têm forçado muitos latinos a se mudar. Assim, muitos acabam perdendo o registro quando expira o prazo para alteração do endereço de residência.
E ainda há um grupo de especialistas que creditam o fenômeno ao próprio "desencantamento" da comunidade com o futuro do país, depois de uma série de ajustes em planos sociais dos quais muitos eram beneficiários.
O desgaste sofrido pelo presidente Obama em seus primeiros quatro anos de mandato tem cobrado seu preço: os latinos que, tradicionalmente, votam em candidatos democratas, nesta campanha, não se reuniram em torno do nome do presidente americano, que não conseguiu atingir os níveis de adesão na comunidade como em 2008.
Os últimos levantamentos do Pew revelam, no entanto, que o voto latino dificilmente traria surpresas no dia da eleição: de cada quatro integrantes da comunidade registrados, três afirmaram que votarão em Obama, contra apenas um em Romney.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Britânicos dizem estar perto de traduzir escrita mais antiga ainda não decifrada

A luta de estudiosos para desvendar segredos de cinco mil anos guardados na escrita mais antiga do mundo ainda não decifrada pode estar chegando ao fim.
Um projeto internacional de pesquisa, liderado pela Oxford University, na Inglaterra, já lança luz sobre uma sociedade perdida que viveu na Idade do Bronze, no Oriente Médio, cujos trabalhadores escravos viviam com rações mínimas de alimento, à beira de morrer de fome.
"Acho que estamos finalmente a ponto de romper a barreira", disse Jacob Dahl, acadêmico do Wolfson College da Oxford University e diretor do Ancient World Research Cluster.
A escrita usada por essa civilização é chamada de proto-Elamita e foi usada entre 3200 AC e 2900 AC em uma região que corresponde hoje ao sudoeste do Irã.
A arma secreta de Dahl para decifrar o código é um aparelho capaz de ver a escrita com uma clareza nunca conseguida antes.
A máquina tem forma de uma abóbada e emite flashes de luz sobre objetos que contêm amostras da escrita.
Os flashes fazem parte de um sistema computadorizado que usa uma combinação de 76 tipos de luzes para captar cada pequena ranhura ou sulco na superfície dos objetos.
Assim, os cientistas conseguem produzir uma imagem virtual que pode ser vista de todos os ângulos possíveis.
A análise está sendo feita no museu Louvre, em Paris, onde está a maior coleção de amostras desse tipo de escrita do mundo.

Esforço Coletivo

Dahl e sua equipe pretendem disponibilizar as imagens pela internet. O objetivo é que o público e outros acadêmicos ajudem na decodificação dos textos.
"Estamos enganados quando achamos que quebrar um código tem a ver com um gênio solitário que de repente entende o significado de uma palavra. O que funciona com mais frequência é o trabalho paciente de uma equipe e o compartilhamento de teorias. Colocar as imagens na internet deve acelerar esse processo."
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Jacob Dahl quer ajuda online de outros especialistas
Até agora, Dahl já decifrou 1.200 sinais mas disse que, depois de mais de dez anos de estudos, muito ainda se desconhece - mesmo palavras básicas como vaca ou gado.
"É um território desconhecido da história da humanidade", ele disse.

Escrita Adulterada

Mas por que essa escrita seria tão difícil de interpretar?
Dahl acha que sabe, em parte, a resposta. Ele descobriu que os textos originais parecem conter muitos erros - e isso dificulta o trabalho de encontrar padrões consistentes.

Segredos de 5 mil anos

Proto-Elamita é o nome dado a um sistema de escrita desenvolvido em uma área que hoje corresponde ao sudoeste do Irã
Foi adotado por volta de 3.200 AC e "emprestado" da Mesopotâmia vizinha
Os textos eram escritos da direita para a esquerda em placas úmidas de barro
Mais de mil placas contendo essa escrita sobreviveram o passar do tempo
O maior grupo desses artefatos foi colecionado por arqueólogos franceses e levado para o Louvre no século 19
Outras escritas da Antiguidade - como a escrita hieroglífica, dos egípcios, e a escrita dos sumérios - já foram decifradas

Ele diz acreditar que isso se deva à ausência de estudo e aprendizado naquela sociedade. Os estudiosos não encontraram evidências de listas de símbolos ou exercícios para que os escribas aprendessem a preservar a precisão da escrita.
Isso teve conseqüências fatais para o sistema de escrita, que foi sendo adulterado e depois desapareceu após apenas 200 anos.
"A falta de uma tradição de estudos significou que muitos erros foram cometidos e o sistema de escrita pode ter se tornado inútil", disse Dahl.
O que dificulta ainda mais a decodificação é o fato de que esse é um estilo de escrita diferente de qualquer outro daquele período.
Além disso, não foram encontrados textos bilíngues - recurso que auxiliaria muito o trabalho dos pesquisadores.
Segundo Dahl, a escrita proto-Elamita foi elaborada a partir de uma língua da Mesopotâmia que foi alterada.

Vida Dura

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Conjunto de 76 luzes é usado na leitura das placas escritas
As placas usadas para o registro dos símbolos da escrita revelam detalhes íntimos dos escribas: algumas trazem as marcas das unhas dos autores.
Os pequenos símbolos e desenhos, gravados no barro de forma ordeira e cuidadosa, são claramente o produto de uma mente inteligente.
Embora ainda envoltos em mistério, os textos permitem que vislumbremos um pouco da realidade vivida por esse povo.
Segundo Dahl, os textos incluem um sistema de numeração, o que indica que muitas das informações contidas nas placas são de natureza contábil.
A sociedade era agrícola e bastante simples. Havia uma camada de líderes, figuras poderosas de nível médio e trabalhadores - que eram tratados como se fossem "gado com nomes".
Os líderes tinham nomes que refletiam seu status - o equivalente a alguém ser chamado de "Senhor Cem" para indicar o número de pessoas que estavam abaixo dele.
Dahl disse que é possível saber qual era a dieta dos trabalhadores: cevada, possivelmente triturada para formar um mingau e cerveja fraca. A quantidade de alimento que eles recebiam ficava pouco acima do limite da sobrevivência.
Aqueles de status mais elevado comiam iogurte, queijo e mel. Eles também criavam cabras, carneiros e bois. "Sua expectativa de vida pode ter sido tão longa como a de hoje", disse Dahl.
Dahl tem esperanças de que, com apoio suficiente, os segredos dessa última grande escrita, remanescente dos primórdios da nossa civilização, poderão ser finalmente desvendados.


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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Copa pode impulsionar exploração sexual de menores no Brasil

Após a divulgação em Paris de um estudo que mapeia a relação entre o turismo de lazer e a exploração sexual de menores no Brasil, pesquisadores e especialistas fizeram um alerta nesta terça-feira sobre o risco de um aumento do turismo sexual infantil no país durante a realização da Copa de 2014 e Olimpíada de 2016.
O estudo, coordenado por um pesquisador do Sesi (o Serviço Social da Indústria), foi divulgado nesta terça-feira (dia 23) durante o seminário internacional "Turismo Sexual Envolvendo Crianças e Grandes Eventos Esportivos", que reuniu organizações de luta contra a exploração sexual infantil e profissionais do setor de viagens de diversos países.
Durante o evento, a organização ECPAT (sigla em inglês para Fim da Prostituição e do Tráfico de Crianças para Fins Sexuais) também anunciou que lançará, com apoio do Sesi, uma campanha internacional para prevenir o agravamento desse problema durante os Jogos no Brasil.
O pesquisador Miguel Fontes, que além de atuar na área de pesquisas estratégicas do Sesi também está ligado à Universidade John Hopkins, analisou a relação existente entre o número de entradas de turistas estrangeiros em São Paulo e na Bahia de 2008 a 2010 e o total de denúncias de exploração sexual infantil nesses dois estados no período.
"Na Bahia, onde o turismo é de lazer, os resultados demonstram que para cada 372 turistas internacionais, houve o aumento de uma denúncia de exploração sexual de crianças. Em São Paulo, onde o turismo de negócios é maior, somente com o aumento de 2,5 mil turistas se detecta o aumento de uma denúncia de exploração sexual infantil", diz Fontes.
"A exploração sexual de crianças e adolescentes está ligada às atividades turísticas de lazer. Por isso, podemos projetar que a realização de grandes eventos esportivos mundiais, ao promover um aumento do fluxo de pessoas (para o Brasil), pode ampliar o número de casos desse tipo", conclui o consultor.

Perfil das vítimas e campanha

Segundo Fontes, as crianças exploradas sexualmente no Brasil têm por volta de 11 anos em média. As meninas representam quatro de cada cinco casos de denúncias. E a região nordeste concentra 37% dos casos.
O ministério brasileiro do Turismo prevê 600 mil turistas estrangeiros e 5 milhões de visitantes brasileiros só durante a Copa do Mundo, em 2014.
"O grande fluxo de pessoas aumenta as possibilidades de exploração sexual de crianças. A miséria cria a oferta de menores e as redes mafiosas vão querer suprir a demanda", afirma Jair Meneguelli, presidente do Conselho Nacional do Sesi.
A campanha da ECPAT, intitulada "Não desvie o olhar", prevê vídeos e pôsteres que serão exibidos em aeroportos, aviões, agências de viagens, bares, restaurantes e outros espaços públicos em dez países da Europa e também no Brasil.
Também prevê a criação de um um site europeu para denúncias.
Ela custará 3 milhões de euros, que serão financiados principalmente por recursos da União Europeia.

Projeto-piloto de trem aéreo da Nasa cruzará céu de Tel Aviv

Um projeto-piloto feito em colaboração com a Nasa (agência espacial americana) deve levar às ruas de Tel Aviv, em Israel, um trem aéreo elétrico, com trilhos de alumínio, que está sendo promovido como uma "forma ecológica e rápida" de facilitar o transporte público.
Segundo anúncio do prefeito de Tel Aviv, Ron Huldai, o chamado "trem aéreo" terá uma primeira fase com uma linha de 7 km, perto do porto (norte da cidade), a ser concluída em dois anos.
Os veículos poderão alcançar uma velocidade de 240 quilometros por hora e "voarão" em uma altura de 7 metros, presos sob trilhos suspensos no ar.
O sistema será movido a eletricidade, parte da qual será "produzida pelo próprio sistema", disse à BBC Brasil Jerry Senders, diretor da empresa Skytran, responsável pela tecnologia.
Senders explica que dentro de cada veículo haverá um "motor linear" que será movido por um misto de eletricidade e ondas magnéticas.
"A principal inovação do projeto é o movimento por intermédio de ondas magnéticas, e essa é a contribuição tecnológica da Nasa", diz. "Não haverá atrito entre o veículo e o trilho de alumínio, já que, a partir do momento em que o veículo começar a se mover, se criará, por meio da onda magnética, uma especie de travesseiro de ar e cada bondinho navegará no ar."
O único momento em que haverá atrito com o cabo de alumínio será quando o veículo parar nas estações.

Custos e capacidade

Modelo do trem aéreo que será implementado em Tel Aviv (Foto: Divulgação)
Vagão será movido por eletricidade e ondas magnéticas, diz criador
"Trata-se de uma maneira econômica, rápida e ecológica de resolver o problema do transporte público", diz Senders, afirmando que o projeto custará apenas US$ 6 milhões por quilômetro.
Para efeitos comparativos, a prefeitura de Jerusalém concluiu recentemente a construção de um bonde que cruza a cidade, que durou 12 anos e custou mais de dez vezes o preço por quilômetro. E estima-se que o custo por quilômetro do metrô de São Paulo seja de US$ 60 milhões a US$ 100 milhões.
Os trilhos de alumínio do trem aéreo de Tel Aviv serão erguidos entre postes, que também servirão como fonte de energia. "O sistema aproveitará ondas magnéticas que serão geradas pelo próprio movimento dos veículos sob os trilhos de alumínio", afirma a prefeitura.
Os veículos serão leves e pesarão apenas 200 quilos cada, e poderão transportar dois passageiros por vagão. Mas, segundo Sanders, poderá transportar até 11 mil pessoas por hora.
Os passageiros que entram nos bondinhos podem apertar um botão indicando em qual estação querem parar, como em um elevador.
Segundo Senders, o presidente de Israel, Shimon Peres, já pediu que a Skytran prepare planos para ampliar a rede aérea para as periferias de Israel, e o projeto poderia chegar até Eilat (cidade no sul do país).
Modelo do trem aéreo que será implementado em Tel Aviv (Foto: Divulgação)
Tel Aviv quer ser vista como centro de inovação tecnológica
"O sistema tem características de uma espécie de internet física", explica Senders, "uma rede ilimitada de linhas aéreas, que poderá, inclusive, ter estações dentro de edifícios e sobre os prédios".
"Estou orgulhoso de Tel Aviv ter sido escolhida para a implementação do projeto piloto em colaboração com a Nasa", declarou o prefeito Ron Huldai.
"O projeto se enquadra na percepção da prefeitura, que vê Tel Aviv como centro de inovação tecnológica", disse à BBC Brasil o porta-voz da prefeitura de Tel Aviv, Gali Avni Orenstein.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Palanque BBC: Em Rio Branco, temor de deslizamentos força moradores a levar vida 'nômade'

Na madrugada da última quinta-feira, 18 de outubro, uma forte chuva atingiu Rio Branco, a capital do Acre. Para os mais antigos era o prenúncio da chegada do ''inverno amazônico'', como é chamado o período de chuvas na região, que vai de outubro a fins de março. Para as famílias que moram no bairro Preventório é o início de mais uma temporada de tormento e angústia.
Os moradores convivem com o risco constante de deslizamento. As marcas da erosão estão visíveis por toda a parte. No caminho, ficaram pedaços daquilo que um dia foram casas e ruas. No local, não entra carro nem moto. O único acesso é por escadas de madeira em péssimas condições.
A reportagem visitou o Preventório na manhã daquela madrugada chuvosa. A terra estava encharcada e os degraus lisos como sabão molhado. A qualquer vacilo o tombo é inevitável. Da porta de casa, Isaque de Oliveira vê a erosão se aproximando.
Ele mora no bairro há cinco anos, já montou e desmontou a casa de madeira várias vezes. ''Quando cheguei aqui a casa era lá perto daquela árvore'', aponta ele para uma distância de 20 metros. No Preventório a maioria dos moradores é nômade dentro da própria comunidade; estão sempre em busca da ''terra firme'' e sempre tendo de montar e desmontar suas casas.

'Medo de tudo desabar'

Em noites de chuva, conta Oliveira, é impossível dormir. Há sempre o medo de tudo desabar. Ele mora com a esposa e quatro filhos. Isaque Oliveira está cadastrado no programa aluguel-social da Prefeitura. O poder municipal paga o aluguel de um imóvel temporário para as famílias deixarem a área de risco. ''Disseram que nos próximos dias vamos sair'', relata ele.
A mesma sorte não tem a dona de casa Socorro Miranda. Ela é outra ''nômade'', que já teve de montar sua moradia em diferentes locais. Para chegar em casa, só descendo as escadas corroídas. Ela não está cadastrada em nenhum programa habitacional da Prefeitura.
Único acessoa a moradias é por escadas de madeira em péssimo estado
''Eu quero muito sair daqui, ninguém está aqui porque quer, somos pobres e não temos condições de comprar uma casa num lugar melhor'', diz ela.
No bairro, a água chega por meio de canos que formam um zigue-zague morro abaixo e acima. Por onde se anda é possível ouvir algum vazamento. Com os maridos trabalhando durante o dia, as mulheres são as responsáveis por consertar os canos furados.
O caso mais grave é de José Ribamar. Os efeitos da erosão estão visíveis no imóvel pobre de madeira sem divisão dos cômodos. A casa está literalmente dividida. Um vão separa o que seria a cozinha da sala. Para chegar lá é preciso meter o pé no esgoto. Ele também está à espera de uma ajuda do Estado para sair do local.

Posição da Prefeitura

Os dois candidatos a prefeito de Rio Branco que disputam o segundo turno, Tião Bocalom (PSDB) e Marcus Alexandre (PT), já estiveram no bairro pedindo voto. Antônia Soraia diz que no primeiro turno votou no candidato do PT. Não sabe se votará no segundo turno; está sem esperanças nos homens públicos.
Desamparados pelo Estado, a esperança vem do céu; ''Só a mão de Deus para nos livrar da tragédia'', diz Antônia.
Soccoro Miranda já teve de montar e desmontar sua casa várias vezes
Soccoro Miranda já teve de montar e desmontar sua casa várias vezes (Fábio Pontes/BBC Brasil)
O secretário de Gestão Urbana, José Otávio, afirma que a Prefeitura tem mapeada toda a área de risco da cidade. O projeto de médio prazo é o Cidade do Povo, projeto do governo estadual. Serão 10 mil casas numa região afastada de enchentes e deslizamentos.
Desse total, três mil serão para as famílias que hoje moram nas áreas mais críticas. Em 2012, Rio Branco enfrentou a segunda maior enchente das últimas décadas, quando 120 mil pessoas foram atingidas, o que representa 35% da população total.
A reportagem consultou as propostas dos dois candidatos à prefeitura de Rio Branco para as áreas de risco. O petista Marcus Alexandre tem como projeto principal a parceria com o governo estadual para a Cidade do Povo, dando prioridade às famílias nestas regiões.
Já o tucano Tião Bocalom tem em seu plano de governo a distribuição de cinco mil lotes urbanizados que serão distribuídos de forma prioritária aos moradores das áreas de risco por deslizamento e enchente.
* Fabio Pontes, 26, é jornalista em Rio Branco e responsável pelo blog Clique Política na Floresta, onde faz uma análise da política no Acre.

Rússia envia garotas da banda Pussy Riot para trabalho em campos de detenção

O governo da Rússia enviou nesta segunda-feira duas garotas integrantes da banda punk Pussy Riot para dois diferentes campos de trabalho no interior do país, informam advogados e ativistas.
Nadezhda Tolokonnikova, de 22 anos, foi enviada para o campo de Mordovia, e Maria Alyokhina, 24, para o campo de Perm. Centenas de quilômetros distantes da capital, Moscou, os campos eram usados como grandes presídios na era soviética.
A notícia foi revelada por dois advogados e ativistas do grupo Voina. Pyotr Verzilov, marido de Tolokonnikova, é um membro do grupo. Mark Feigin, um dos advogados do grupo, disse que sua colega Violetta Volkova recebeu uma ligação telefônica confirmando a transferência.
Na conta do Pussy Riot no Twitter o grupo disse que "no fim de semana Nadya [Tolokonnikova] foi enviada em voo especial para Mordovia, enquanto Masha [Alyokhina] foi enviada para a região de Perm. Estes são os campos mais crueis de quaisquer outros que poderiam ter sido escolhidos".
O governo russo não confirma a transferência das duas jovens para os campos.

Sentenças

As duas integrantes da banda foram sentenciadas a dois anos de prisão por um protesto contra o presidente Vladimir Putin meses atrás. Ao lado de uma terceira integrante, Yekaterina Samutsevich, elas tocaram músicas no altar da Catedral de Moscou ironizando o líder.
Elas foram condenadas por "vandalismo motivado por ódio religioso" durante o "show-protesto" realizado em 21 de fevereiro, quando invadiram a catedral.
Samutsevich foi libertada porque a Justiça russa entendeu que ela não participou do protesto de forma tão intensa quanto as amigas.
Alyokhina tem um filho de cinco anos, Filipp, e Tolokonnikova é mãe de uma menina de quatro anos, Gera.
O site de notícias russo Newru.com diz que as duas jovens estão ficando cada vez mais isoladas da família e colegas ativistas.
Na semana passada os advogados de defesa das duas argumentaram que as jovens só deveriam ser detidas quando seus filhos completassem 14 anos, mas o pedido de recurso foi rejeitado pelas cortes russas.

Em artigo, Fidel Castro diz que rumores sobre sua morte não passam de mentiras

O ex-líder de Cuba, Fidel Castro, de 86 anos, publicou um artigo no jornal estatal Granma nesta segunda-feira classificando os rumores sobre sua morte como "mentiras" e dizendo que mal se lembra o que é uma dor de cabeça.
Ele apareceu de surpresa, no final de semana,em um hotel, na capital cubana, Havana, e participou de uma reunião com Elías Jaua, representante do governo da Venezuela.
Imagens do encontro foram publicadas no Granma e mostram o dirigente com uma camisa xadrez e chapéu, segurando uma cópia do próprio diário oficial cubano.
"Embora muitas pessoas no mundo se deixem levar pelos veículos de informação, quase todos eles estão nas mãos dos privilegiados e dos ricos que publicam estas estupidezes, e as pessoas estão crescentemente acreditando menos e menos neles", afirmou.
Além disso, o ex-líder disse que vem se mantendo ocupado estudando e escrevendo e que apenas decidiu se retirar da vida pública “porque certamente não é meu papel ocupar as páginas do nosso jornal”.
Ao fim do texto, Fidel ironizou os críticos e os boatos sobre a fragilidade de seu estado de saúde dizendo que "Eu nem lembro o que é uma dor de cabeça. Para mostrar como são mentirosos, ofereço essas fotos para acompanhar esse artigo".
A série de imagens feita pelo seu filho Alex, mostram o ex-líder usando um chapéu de cowboy e uma camisa xadrez. Em algumas delas é possível ver que ele lê a edição de sexta-feira do Granma.

Reunião

O ex-vice-presidente da Venezuela Elías Jaua confirmou que teve uma reunião de cinco horas com Castro.
Especulações sobre a saúde do ex-líder cubano têm aumentado desde que seu irmão Raul assumiu a Presidência, em 2006.
Jaua afirmou a jornalistas reunidos no Hotel Nacional, na capital Havana, que Castro estava "muito bem, muito lúcido".
As últimas imagens públicas de Castro datam de março deste ano, quando o ex-líder cubano teve um rápido encontro com o Papa Bento 16 durante a visita do pontífice à ilha comunista.
A ausência de Castro da cena pública alimentou os rumores de que sua saúde havia se deteriorado ou deque ele estaria morto.
Fidel Castro liderou Cuba depois da revolução de 1959, inicialmente como primeiro-ministro (1959-1976) e depois como presidente.
Em 2006, ele entregou o poder a seu irmão Raul, que está à frente do país desde então.

domingo, 21 de outubro de 2012

Pesquisas apontam vitória de separatistas bascos em eleições regionais na Espanha

Pesquisas de boca de urna indicam que os partidos nacionalistas do País Basco, na Espanha, venceram as eleições regionais realizadas neste domingo.
Para analistas, a vitória pode elevar a pressão pela independência da região, há tempos reivindicada.
O conservador Partido Nacionalista Basco liderou as pesquisas, acompanhado de perto pelo Euskal Herria Bildu, a coalização de legendas separatistas de esquerda.
Na pesquisa regional realizada na Galícia, o partido de centro direita Partido do Povo, do primeiro-ministro Mariano Rajoy, obteve a maioria absoluta dos votos.
As eleições regionais deste domingo são consideradas uma prova de fogo para a política de austeridade fiscal do governo espanhol.
Os pleitos ocorrem semanas antes das eleições em outra região espanhola, a Catalunha, onde os partidos nacionalistas têm aumentado a pressão por um referendo sobre a independência da região, afirmou o correspondente da BBC em Madri, Tom Burridge.

Separatismo

ETA / AP
ETA foi proibido de fazer política, mas deixou herdeiros no Parlamento espanhol
Segundo as pesquisas de boca de urna, o Partido Nacionalista Basco (PNV) deve obter de 24 a 27 cadeiras no Parlamento regional, enquanto o Bildu ficararia com 23 a 26 assentos.
O opositor Partido Socialista deve terminar o pleito em terceiro, com 15 parlamentares eleitos, seguido do Partido Popular (PP), com 11.
As eleições bascas foram descritas como "um divisor de águas" pelos analistas.
Há 10 anos, o braço político do grupo separatista armado ETA foi banido do governo espanhol - e, desde então, não participa das eleições, acrescentou Burridge, da BBC.
Mas a proibição à atividade política do ETA levou a criação da coalizão de esquerda Bildu.
O partido reúne as ambições políticas daqueles que no passado apoiaram o grupo armado.
No entanto, diferentemente de seu antecessor, o Bildu condena publicamente o uso da violência com fins políticos, afirma Burridge.
Na Galícia, terra-natal de Rajoy, seu partido teria obtido 39 das 42 cadeiras da assembleia regional, formada por 75 parlamentares, apontou a boca de urna.
Os socialistas devem angariar até 20 assentos.
A Espanha tem atravessado sérias dificuldades econômicas desde a crise financeira global de 2008, devido ao estouro da bolha imobiliária, impondo pesadas perdas a seus bancos.
Estimativas apontam que a recessão no país deve se aprofundar ainda mais, enquanto que os 17 governos regionais lutam contra dívidas crescentes.
A taxa de desemprego no país é de 25%. Na Galícia, o índice é de 21%.
Nos últimos meses, milhares de espanhóis têm tomado as ruas das principais cidades do país para protestar contra o corte de gastos públicos, incluindo o congelamento de salários e o fim de benefícios sociais.

Irã e EUA negam negociações diretas sobre programa nuclear

Os governos do Irã e dos Estados Unidos negaram neste domingo a notícia veiculada por um jornal americano de que os dois países teriam concordado em dialogar sobre o programa nuclear iraniano.
"Nós não temos nenhuma discussão ou negociação com a América", disse à televisão iraniana Press TV o ministro das Relações Exteriores do Irã, Ali Akbar Salehi.
"As conversas são contínuas com o grupo P5+1. Além disso, não temos discussões com os Estados Unidos", afirmou, em referência ao grupo formado por Grã-Bretanha, China, França, Rússia, Estados Unidos e Alemanha.
A notícia havia sido dada pelo jornal New York Times, no sábado, citando fontes anônimas. Segundo o jornal, autoridades americanas e iranianas haviam concordado em dialogar após o dia 6 de novembro, quando serão realizadas as eleições americanas.
A Casa Branca disse que está preparada para se reunir com autoridades iranianas de forma bilateral, mas disse que não há nenhum plano no horizonte.
O Irã vem desenvolvendo tecnologia nuclear nos últimos anos. Segundo o governo de Teerã, a motivação do seu programa é apenas pacífica, de suprir o país com energia. No entanto, países ocidentais acusam o Irã de estar desenvolvendo secretamente armas nucleares.
No domingo, o governo americano também negou a notícia dada pelo New York Times. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Tommy Vietor, disse que a notícia não era verdadeira.
"Nós continuamos trabalhando... em uma solução diplomática, e dissemos desde o começo que estariamos preparados para encontrá-los de forma bilateral."
O tema é um dos principais na campanha eleitoral americana. Na segunda-feira, os candidatos Barack Obama e Mitt Romney realizarão o terceiro e último debate, cujo tema é política internacional.
Romney acusa Obama de não ser duro o suficiente nas negociações com o Irã. O presidente americano é contra um ataque às instalações nucleares do país.

Argentina ordena evacuação de fragata apreendida em porto africano

A Argentina ordenou neste domingo que 300 militares abandonem uma fragata que está há 20 dias parada em um porto em Gana, apreendida por uma ordem da justiça local.
Entre os tripulantes da embarcação Libertad - no porto de Tema - está o segundo-tenente brasileiro Lailton Souza Jorge, de 26 anos. O ministério das Relações Exteriores da Argentina ordenou que apenas o capitão e poucos tripulantes continuem a bordo do navio.
A fragata funciona como escola, e sua tripulação é formada por chilenos, argentinos e uruguaios. Jorge é o único brasileiro a bordo. Ainda não está claro se e como os tripulantes deixarão Gana rumo a seus países de origem.
O navio-escola está fundeado em Tema desde o dia 1º de outubro. Um juiz de Gana acatou pedido de um fundo de investimentos, o NML, feito por meio da Justiça americana, que reclama que a Argentina lhe pague uma dívida referente aos títulos públicos do país.
Para liberar a embarcação, o governo argentino deveria pagar uma fiança de US$ 20 milhões (R$ 40 milhões). Uma comitiva de autoridades locais viajou para Acra, capital de Gana. Em um comunicado divulgado na noite desta sexta-feira, o Ministério argentino das Relações Exteriores disse que a "detenção da Fragata Libertad é ilegal" já que ela possui, afirma-se, "imunidade" internacional, reconhecida por Gana em acordos internacionais.
Como a Argentina não possui representação diplomática em Gana está contando com apoio da diplomacia brasileira, de acordo com fontes de Brasília.
O ministro das Relações Exteriores da Argentina, Hector Timerman, prometeu levar o caso ao Conselho de Segurança da ONU.

Calote

Segundo a imprensa local, representantes do NML teriam oferecido pagar a passagem de volta para os militares embarcados na Fragata Libertad. Mas o governo argentino não teria respondido à proposta.
Na crise econômica de 2001 e de 2002, a Argentina declarou calote da sua dívida e a renegociou com desconto em 2005. No entanto, grupos como este que não aceitaram a oferta disputam com o país nos tribunais internacionais. Na imprensa local afirmou a rota da fragata Libertad foi modificada, na tentativa de evitar sua apreensão.
Portos da Europa, por exemplo, passaram a ser evitados. Para passar o tempo em Tema, os militares organizam passeios nos arredores do porto e atividades como futebol, segundo agências internacionais de noticias. A viagem de instrução estava marcada para acabar em 8 de dezembro.
Por e-mail, a Marinha brasileira explicou que o "oficial brasileiro embarcado na Fragata Libertad", da Armada Argentina, "não está autorizado pela Marinha do Brasil a conceder entrevistas, pois está subordinado ao Comandante do Navio". A Marinha informou ainda que trata-se de uma "viagem de instrução" com oficiais estrangeiros convidados para participar da missão.
A fragata Libertad realiza este tipo de viagem, complementar à instrução da Escola Naval e destinada a complementar a formação cultural de futuros oficias, desde 1963, informou a Marinha brasileira.

Brasileiro

Fragata Libertad
Navio-escola é usado para ensinar navegação e tradições navais para futuros oficiais
Lailton Souza Jorge, de 26 anos, embarcou em maio no navio-escola Libertad.
O vice-almirante Paulo Maurício Farias Alves, diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha brasileira, disse que um brasileiro está no navio, mas não confirmou sua identidade.
Contudo, a participação dele na 43º Viagem de Instrução do Navio-Escola Libertad consta em portaria publicada em maio deste ano do Diário Oficial a União e foi confirmada pela BBC Brasil com parentes do militar.
Jorge nasceu na Bahia, mas mora atualmente com a mulher no Estado do Rio de Janeiro. Ele está bem, segundo parentes, e se comunica diariamente com a família. A tripulação do navio tem liberdade para entrar e sair da embarcação e tem acesso a "modernos recursos de comunicação e informação".
Em declarações ao jornal argentino Gaceta marinera, publicadas no dia três de agosto, ele contou que nasceu em Salvador, na Bahia, de onde saiu pequeno. "Mas graças à Fragata Libertad (que ali fez escala) voltei a percorrer as ruas da minha infância", disse. Ele afirmou que a viagem é uma "oportunidade para conhecer como funciona outra Marinha" e declarou que se sentia "muito bem a bordo” da Fragata.
As viagens de navios-escolas são comuns em grande parte das Marinhas do mundo. No caso da Libertad, os militares passam por um programa de aprendizado de arte naval focado especialmente na navegação, segundo Alves. Porém, atividades culturais e de recreação também estão no cronograma de atividades. O objetivo é o ensino da tradição e dos costumes navais e a adaptação à vida no mar.
Jorge está abordo do navio argentino devido à uma iniciativa diplomática da Marinha do Brasil que visa aproximar a instituição de Marinhas de países amigos.

sábado, 20 de outubro de 2012

Oposição do Líbano convoca série de protestos 'anti-Síria'

O principal grupo de oposição do Líbano convocou uma série de protestos para este domingo no país, após o atentado com carro-bomba que provocou a morte do diretor da agência nacional de inteligência na última sexta-feira na capital Beirute.
As manifestações, organizadas pelo grupo de oposição Março 14, vão coincidir com o enterro do general sunita Wissan al-Hassan, considerado um aliado dos partidos opositores e um desafeto do regime sírio, a quem é atribuído o ataque.
Hassan também era visto como um célebre defensor das causas dos rebeldes do país vizinho, que lutam pela deposição do presidente da Síria, Bashar al-Assad.
O chamado aos protestos ganhou o apoio do ex-primeiro-ministro do país Saad al-Hariri, que pediu a todos os cidadãos libaneses que participassem da cerimônia, que será realizada em um cemitério no centro de Beirute, no que muitos analistas já vêem como um ato político em potencial.
Além disso, Hariri pediu que Hassan fosse enterrado ao lado do túmulo de seu pai, o ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, outro inimigo de Assad que foi assassinado em 2005 em uma atentado também atribuído à Síria.
"Cada um de vocês está pessoalmente convidado amanhã a se juntar a nós na Praça dos Mártires para as orações por Wissan al-Hassan", disse Hariri em pronunciamento à rede de televisão Future Television.
"Todos os libaneses foram protegidos por al-Hassan das tentativas de assassinato de Bashar al-Assad e Ali Mamlouk (general sírio indiciado em agosto deste ano por um atentado a bomba no Líbano), expondo si mesmo para que você não fosse vítima de uma explosão", acrescentou o ex-primeiro-ministro do país.
Neste sábado, em meio ao luto pela morte do general, protestos liderados pelos partidos da oposição tomaram as principais cidades do Líbano. Manifestantes montaram barricadas em ruas e queimaram pneus.
Diante da escalada das manifestações, o premiê do Líbano, Najib Mikati, colocou seu cargo à disposição neste sábado em uma reunião de emergência sobre o atentado que matou Hassan.
No entanto, o presidente Michel Suleiman não aceitou a renúncia, e pediu que Mikati continue no cargo. O premiê disse que aceitou o pedido do presidente, e que o país precisa agora permanecer "unido, forte e com segurança".
Além de Hassan, o atentado da última sexta-feira matou oito pessoas e feriu outras 12.

Síria

Najib Mikati / Reuters
Premiê Nijab Mikati pôs seu cargo à disposição, mas pedido não foi aceito por presidente
Neste sábado, políticos libaneses anti-Síria acusaram o governo de Damasco de estar por trás do ataque. Os líderes da oposição, Saad Hariri, e dos drusos, Walid Jumblatt, disseram que o governo do presidente sírio Bashar al-Assad foi responsável pelo ataque.
A coalizão de partidos liderada por Hariri pediu que o governo libanês renuncie.
O ataque ocorreu no distrito de Ashrafiya, de maioria cristã, em uma rua movimentada próximo à sede da coalizão 14 de Março, liderada por Saad Hariri. Este foi o pior atentado na capital libanesa em quatro anos, e destruiu a fachada de diversos prédios.
Hassan era próximo a Hariri, um dos principais críticos do regime sírio. Foi Hassan quem liderou a investigação que concluiu que o governo sírio participou do atentado de 2005 que matou o ex-premiê Rafik Hariri, pai de Saad.
O trabalho de Hassan também levou à prisão recente de um ex-ministro acusado de planejar um atentado no Líbano sob ordens do regime sírio.

Divisão

As comunidades religiosas no Líbano estão divididas entre apoiadores e críticos do presidente sírio, Bashar al-Assad. A tensão tem crescido com o conflito no país vizinho.
"Nós acusamos Bashar al-Assad de assassinar Wissam al-Hassam, o fiador da segurança dos libaneses", disse Saad Hariri, em discurso na televisão libanesa.
Libanês armado / AP
População libanesa protestou contra atos de violência atribuídos à Síria
Já Jumblatt disse à televisão Al-Arabiya: "[Al-Assad] está nos dizendo que mesmo que ele tenha levado a Síria à ruína, 'eu estou pronto para matar em qualquer lugar'".
O parlamentar Nadim Gemayel, do movimento de direita Partido da Falange Cristã, também acusou Síria e Assad.
"Este regime, que está desmoronando, está tentando exportar seu conflito para o Líbano", afirmou.
O movimento 14 de Março divulgou uma nota na qual acusa o governo local de proteger "criminosos", e exigindo a renúncia dos principais líderes libaneses.
O movimento Hezbollah, que é aliado do regime sírio, condenou a violência. O ministro sírio da informação, Omran al-Zoubi, disse que se tratou de um ato "covarde e terrorista", e que estes incidentes são "injustificáveis, seja onde for".
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pediu que todos os partidos libaneses "não sejam provocados por atos terroristas hediondos".
A secretária americana de Estado, Hillary Clinton, afirmou que o ataque à bomba é "um sinal perigoso de que existe gente que continua tentando afetar a estabilidade do Líbano".

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Em meio à crise, parte da Europa prospera com crescimento, emprego e baixa dívida

O menor nível de desemprego desde os anos 1990, contas públicas saudáveis, ótimo crédito do governo nos mercados, inflação sob controle e crescimento econômico estável.
A descrição acima poderia ser a de vários países do mundo antes da crise econômica internacional que começou em 2008. Mas ela se encaixa também no cenário atual de alguns países da Europa que, em meio à pior recessão do continente desde o final da Segunda Guerra, estão em relativa prosperidade.
Enquanto o sul europeu agoniza, nações ao norte mantêm alguns índices comparáveis ao pré-crise, mostrando que a recessão está aumentando a desigualdade dentro do bloco econômico regional.
A Alemanha é um dos países que mais se destaca na Europa do norte. No começo deste ano, quando a Europa começava o segundo mergulho da sua recessão, o desemprego alemão alcançou o menor patamar desde a reunificação do país, em 1990.
A previsão do FMI é de que a economia alemã vai crescer 0,9% este ano. O índice pode parecer baixo, mas em termos absolutos significa US$ 32 bilhões – quase o mesmo valor do Brasil, cuja previsão de crescimento é de 1,5% em 2012. Já as economias de Grécia, Espanha e Itália vão contrair US$ 90 bilhões neste ano.
Um dos motivos do bom desempenho alemão é que o país consegue continuar exportando mesmo em meio à crise. Dados deste mês da Associação de Câmeras de Indústria e Comércio (DIHK) indicam que as exportações alemãs vão crescer 4% este ano, quando a Europa voltou a desacelerar.
"As exportações alemãs são muito diversificadas e não dependem apenas de um mercado", explica à BBC Brasil o economista Ilja Nothnagel, da DIHK. "Enquanto outros países europeus como Portugal exportam um quarto da sua pauta para apenas um parceiro comercial, neste caso a Espanha, a Alemanha concentra pouco as exportações. A França, maior destino das exportações alemãs, recebe apenas 9,5% da pauta. Então quando vem a crise, a Alemanha está melhor posicionada do que os demais."
Ele diz que tanto as exportações quanto o mercado interno tiveram papel importante em manter o baixo nível de desemprego. Desde o começo do ano, o desemprego alemão não ultrapassou 5,6% - quase metade da média da União Europeia e no mesmo nível que a taxa brasileira.
"O bom desempenho da economia alemã é liderado pelas exportações, mas também há uma porção grande de empregos que depende do mercado interno", diz Nothnagel.
"Tivemos uma mudança importante que surgiu durante a crise. O desemprego só aumentou um pouco durante a crise, porque entrou em vigor um novo esquema do governo."
O esquema permite que empresas cuja produção cai abaixo de 60% - por falta de pedidos - possam recorrer à ajuda do governo. Nesses casos, o empregador usa seus trabalhadores em apenas 60% do tempo e paga essa proporção do salário. O resto é coberto pela agência de trabalho do governo.
"No momento em que os pedidos crescessem novamente, bastava a empresa usar seus trabalhadores em turno integral. Isso manteve o desemprego bastante baixo na Alemanha. A reação às quedas e aumentos de pedidos ficou bastante rápida, e também não havia grandes custos demitindo e recontratando pessoas."

'Pleno emprego' austríaco

Em termos de desemprego, um país se destaca ainda mais do que a Alemanha. A Áustria possui uma taxa de 4,5% - a menor de toda a Europa. Um contraste enorme com a Espanha, onde um em cada quatro trabalhadores está sem emprego.
Porto de Hamburgo. Foto: Reuters
Previsão é que exportações alemãs crescerão 4% este ano, mesmo com crise europeia
Alguns economistas argumentam que o índice austríaco é tão baixo que o país pode ser considerado em situação de pleno emprego.
A empresa de construção civil Strabag - uma das maiores empregadoras do país - atua em toda a Europa. Durante a crise, o número de empregados variou em quase todos os países onde a empresa atua. No entanto, a Strabag emprega praticamente o mesmo número de pessoas há quatro anos - 10 mil.
"A Áustria não foi afetada tão fortemente pela crise. Nós ainda temos um setor de tecnologia de ponta, relativamente baixo endividamento público e um sistema fiscal que facilita o empreendedorismo. A Áustria é um porto seguro em comparação com outros países europeus", disse à BBC Brasil a porta-voz da empresa, Diana Klein.
Ela afirma que mesmo com o alto número de pessoas já empregadas no país, a empresa ainda tem espaço para novos funcionários. No momento, há uma demanda na Áustria por trabalhadores com nível universitários, como engenheiros civis e matemáticos.
Enquanto o mercado austríaco se mantém estável, em outros países há grande flutuação na força de trabalho. Países como República Checa e Hungria estão com desemprego em alta devido ao impacto da crise europeia na construção civil. Já em mercados que passam por booms imobiliários neste momento - como Polônia e Alemanha - a Strabag está recrutando novos funcionários.

Dívida sueca

Duas Europas

O país 'ideal' tem:

  • o desemprego da Áustria: 4,5%
  • o crescimento econômico da Eslováquia: 2,6% em 2012 (previsão)
  • o endividamento da Estônia: 6% do PIB
  • o juro em título do governo da Alemanha: 1,4%
O país dos 'pesadelos' tem:

  • o desemprego da Espanha: 25%
  • o crescimento econômico da Grécia: -4,7%
  • o endividamento da Grécia: 165%
  • o juro em título do governo da Grécia: 18%
Dados: Eurostats, Trading Economics, FMI e Banco Mundial.
O baixo endividamento público citado pela empresa austríaca é um dos fatores que ajudou outro país do norte da Europa a mitigar os impactos da crise europeia.
A dívida pública da Suécia corresponde a 38,5% do seu PIB, uma das mais baixas da Europa.
Um estudo do economista Lars Calmfors, da Universidade de Estocolmo, afirma que após uma grave crise fiscal nos anos 1990, o país passou por uma grande reforma para reduzir o nível do seu endividamento, com medidas de austeridade e metas rígidas de gastos público.
Grande parte dessas medidas - como reforma do sistema de pensões e responsabilidade fiscal - são semelhantes às que estão sendo impostas a países do sul da Europa. A diferença é que elas foram feitas na Suécia em um momento em que a economia global estava em expansão.
"O principal benefício (para a população) é que não precisamos passar por medidas de austeridade fiscal em períodos de recessão na economia global. Nós tivemos espaço até para estímulo fiscal durante a recessão de 2008 e 2009, e não precisamos cortar gastos públicos ou aumentar impostos", disse Calmfors, à BBC Brasil.
"Veja o caso do Reino Unido, da Irlanda e do sul da Europa. Eles tiveram que adotar verdadeiros programas de austeridade fiscal que reduziram a demanda e contribuíram para crescimento muito baixo ou até negativo. Nós evitamos isso e tivemos até um pouco de estímulo."
A economia da Suécia teve forte contração no primeiro momento da crise, com queda de 5,5% em 2009, mas já em 2010 o país cresceu 6,6%.
Outra vantagem da baixa dívida pública é que o país pode tomar empréstimos mais baratos no mercado internacional, pois - com riscos menores - os juros cobrados nos seus títulos são mais baratos.
Atualmente, os títulos de 10 anos da dívida sueca pagam juros de 1,5% ao ano. Já o governo da Grécia – cuja dívida é 165% de seu PIB – só consegue empréstimos a juros na faixa de 18% ao ano - comparável ao cobrado por cartões de crédito.