quarta-feira, 31 de julho de 2013

Deportações acirram debate sobre reforma migratória nos EUA

Em uma tarde recente na capital americana, Washington, um xamã enfileirava grãos de milho e os banhava com água para desejar sorte, água e alimentos aos "irmãos" indocumentados que cruzam a fronteira entre o México e os Estados Unidos.
O ato ecumênico – que reuniu igrejas tradicionais e indígenas latino-americanas – encerrava uma série de manifestações que buscaram influenciar o debate sobre as deportações, que se intensificou desde que a Câmara dos Representantes (Deputados) começou a discutir o seu projeto da reforma migratória.
A movimentação a dias do recesso de agosto do Congresso – durante o qual pelo menos 34 mil imigrantes serão deportados dos Estados Unidos, segundo as projeções – tenta estabelecer as bases para quando o tema voltar à pauta dos deputados, em setembro.
Nas últimas semanas, os republicanos, que controlam a Câmara, indicaram que poderiam aprovar um projeto de lei que permitiria a naturalização de filhos de imigrantes trazidos para os Estados Unidos pelos seus pais quando crianças – os chamados "sonhadores". Mas a atitude em relação ao resto da família, em especial aos pais que cometeram o crime de cruzar a fronteira, permanece hostil.
"Não podemos cair nesse jogo de dizer que há bons e maus imigrantes, e que vamos proteger os bons e deportar os maus", disse à BBC Brasil Pablo Alvarado, diretor da organização nacional de trabalhadores diaristas, NDLON, que organizou a semana de protestos.
"Se uma reforma migratória não der igualdade para os 11 milhões, vamos continuar com a mesma situação e uma subclasse de cidadãos que vivem neste país", argumentou.

Debate sem rosto

A dicotomia que a discussão ganhou entre os republicanos ficou evidente após as declarações polêmicas feitas por uma das vozes mais ativas contra a imigração, o deputado Steve King, eleito por um distrito majoritariamente branco do Estado de Iowa, no Meio-Oeste americano.
Em entrevista, King disse que, para cada criança trazida ilegalmente por seus pais para os Estados Unidos, "existem outras cem pesando 130 libras (59 kg), com panturrilhas do tamanho de melões porque estão transportando 75 libras (34 kg) de marijuana pelo deserto".
"Essas pessoas seriam legalizadas pela mesma lei", concluiu o deputado. A declaração estarreceu até o também linha-dura John Boehner, presidente de Câmara. O republicano qualificou as declarações do colega de "ignorantes" e "odiosas".
Mas, embora opiniões como a de King não representem a maioria do partido que controla a Câmara, a verdade é que o resto dos 11 milhões de imigrantes está longe de contar com uma imagem tão complacente como a dos 2 milhões dos "sonhadores".
"Eles querem projetar a imagem do estudante que foi para a universidade, fala inglês sem sotaque, se veste como qualquer americano, como um filho das pessoas daqui, como idôneo e ideal", critica Alvarado.
Deportações de imigrantes se mantêm em níveis elevados no governo de Obama
"O mesmo não acontece com os pais, que têm sotaque, falam diferente, comem comidas diferentes, se vestem diferente e, na verdade, são os mais humildes."

Deportações sob Obama

Ocultos na frieza das estatísticas, cerca de 400 mil imigrantes – pais e mães, avôs e avós, dizem ativistas – são deportados dos Estados Unidos anualmente desde que o presidente Barack Obama assumiu o governo.
Obama havia prometido não deportar imigrantes cuja único crime foi cruzar a fronteira para tentar a vida, mas números do projeto de monitoramento Trac, da Universidade de Syracuse, no Estado de Nova York, indicam que o discurso não correspondente totalmente à realidade.
Até junho, apenas 14,7% dos imigrantes processados estavam relacionados a atividades criminais. É um indicador pior do que no último ano do governo do republicano George W. Bush, quando a proporção era de 16%.
A proporção também é significativamente mais baixa do que o nível de 30% que se registrava em 1992, início de uma década em que, concordam historiadores, os Estados Unidos cresciam rapidamente e praticamente davam as costas, ainda que não oficialmente, à entrada de mão-de-obra ilegal.

Discurso e prática

A codiretora do projeto Trac, Susan Long, estatística e professora da universidade, disse à BBC Brasil que os números apontam um descompasso entre o que a Casa Branca diz e o que a intrincada burocracia governamental coloca em prática.
Sem necessariamente entoar o coro de entidades pró-imigração que acusam o governo Obama de mostrar "duas caras" na questão migratória – uma para os jovens, outra para os pais –, ela crê que o governo americano desperdiça recursos que poderiam ser melhor utilizados no combate a criminosos de real periculosidade.
O governo Obama contesta os números do projeto, que obtém suas informações por requisições com base na Lei de Acesso à Informação. A administração diz que o projeto usa informações incompletas, mas não publica dados complementares.
Alvarado, da NDLON, questiona inclusive as violações da lei imputadas aos imigrantes. Diz que muitas são cometidas por "falta de opção para ganhar a vida e dar de comer aos filhos" e não representam risco à sociedade, como usar um número de previdência social falso.
O argumento é contestado por especialistas conservadores, como Ronald Mortensen, do Centro de Estudos para a Imigração, para quem essas falsificações não são violações sem importância. Segundo Mortensen, três em cada quatro imigrantes trabalhando ilegalmente nos Estados Unidos fraudaram algum documento a fim de dar a parecer que têm direito a exercer função remunerada no país.
Em um blog do centro de estudos, Mortensen argumentou que reconhecer esta "fraude maciça de documentos" equivale a dar "anistia" para criminosos e é "uma política equivocada".
O equilíbrio que os republicanos encontraram para aprovar a reforma migratória no Senado – a lei prevê possibilidades de legalização para todos os 11 milhões de ilegais – foi colocar no projeto uma série de recursos, incluindo um gasto de mais de US$ 40 bilhões, para elevar a segurança da fronteira com o México.
Se o debate sobre as deportações não emperrar no Congresso, analistas avalia que esta pode ser uma solução palatável também para os deputados.
Entre organizações republicanas e entidades conservadoras, muitos se dizem abertos à ideia de uma reforma migratória ampla, contanto que as medidas de reforço nas fronteiras sejam suficientes para evitar que a imigração ilegal volte a ser um problema em mais dez ou 20 anos.

Conquistas da nova classe média devem sobreviver à desaceleração

A recente desaceleração da economia brasileira e de outros países emergentes pode frear o processo de redução da pobreza e expansão da chamada "nova classe média" ou "classe C" nesses países, mas não deve significar uma reversão das conquistas da classe na última década.
Essa é a avaliação de especialistas no tema de redução da pobreza ouvidos pela BBC Brasil, como o brasileiro Francisco Ferreira, economista-chefe do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento do Banco Mundial.
"Se o critério para a classificação de indivíduos como pobre ou classe média é puramente a renda, evidentemente é possível que uma família específica que esteja no que chamamos de faixa de vulnerabilidade volte para a pobreza ─ por exemplo, se algum de seus membros ficar desempregado", diz Ferreira.
"Mas estamos falando de casos individuais. Não acredito que uma desaceleração possa reverter os ganhos sociais dos últimos anos de forma generalizada ─ o que podemos ter é uma freada no ritmo dos avanços."
Jens Arnold, economista sênior da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) especializado em Brasil, e Homi Kharas, do programa em Economia Global e Desenvolvimento do Brookings Institution, nos EUA, concordam que a expansão da classe média brasileira e de outros emergentes seria um fenômeno "sustentável".
"No Brasil em especial, temos um processo de redução das desigualdades amparado em tendências bem estabelecidas como o avanço no acesso a educação e a redução das diferenças salariais entre trabalhadores qualificados e não qualificados, além de políticas de transferência de renda que dificilmente serão revertidas", afirma Arnold.

Classificação

Segundo dados da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), ligada ao governo brasileiro, de 2001 a 2011 cerca de 35 milhões de brasileiros deixaram a pobreza para serem incluídos nas fileiras da nova classe média, segmento que hoje incluiria 53% da população.
Os critérios para classificação de uma família nesse grupo, porém, são tema de amplo debate. Pelos parâmetros da SAE, fazem parte da classe média indivíduos com renda entre R$ 291 e R$ 1.019 mensais, ainda que vivam em moradias precárias, sem saneamento básico, por exemplo.
No caso do Banco Mundial, são considerados de classe média indivíduos que recebem entre US$ 10 e US$ 50 por dia, ou entre US$ 300 (R$ 680) e US$ 1500 (R$ 3.400) por mês.
Segundo explica Ferreira, os que vivem com uma renda diária de US$ 4 a US$ 10 ─ o que equivale a um salário mensal de US$ 120 a US$ 300 (R$ 272 a R$ 680) ─ seriam parte de uma espécie de classe média baixa considerada "vulnerável", que incluiria 37,5% da população latino-americana.
"Nossa estimativa é que, com essa renda, os indivíduos tem um risco de mais de 10% de voltar para a pobreza em 5 anos. Por isso eles são considerados vulneráveis", diz.
Durante os protestos que tomaram as principais cidades do país no mês passado, uma das hipóteses levantadas por observadores e analistas era que algumas pessoas teriam saído às ruas motivadas pelo "medo" de ter seus ganhos da última década revertidos em um cenário de maior inflação e menor crescimento econômico ─ apesar de os níveis de desemprego brasileiros ainda estarem historicamente baixos.

Protestos

Protesto em Fortaleza | Foto: AFP
Demandas da nova classe média unem protestos no Brasil, Índia e Turquia
"Não acho que esse medo seja tão significativo, mas o que concluo desses movimentos é que a expansão da classe média deve ter um efeito importante sobre o equilíbrio político do país, embora a essa altura seja difícil estimar qual será tal efeito", opina Ferreira.
"No longo prazo poderíamos ter uma pressão mais consistente por melhorias nos serviços públicos, por exemplo."
Kharas, do Brookings Institution, vê na expansão da classe média o elemento de ligação entre os protestos brasileiros e os ocorridos recentemente em outros países em desenvolvimento, como os protestos por mais segurança na Índia, organizadas após uma estudante ser estuprada em Déli; a onda de manifestações iniciada na Turquia por um projeto de urbanização que destruiria um parque na praça Taskim e os protestos ocorridos na Indonésia em junho por causa do aumento dos combustíveis.
"Em todos esses países temos uma classe média em expansão, em um contexto em que é cada vez mais fácil se organizar por internet e a repressão política é menos aceitável", diz Kharas.
"As classes médias dependem muito dos serviços públicos e boas regulamentações governamentais para manter seu padrão de vida, então é natural que a pressão pela melhoria da eficiência desses serviços cresça com a expansão de tal classe em diversas partes do globo."
O economista admite que há "evidências contraditórias" sobre a agenda política das classes médias de países emergentes, o que faz com que seja difícil prever os resultados no médio e longo prazo de ondas de protestos como essas.
Alguns grupos tendem a ser mais conservadores e até apoiam regimes autoritários, enquanto outros são mais liberais.
"Mas, apesar dos riscos, tais movimentos representam oportunidades importantes para se criar mecanismos que garantam políticas públicas mais eficientes e um maior engajamento do governo e das classes políticas com os cidadãos."

Sul-africano tem visto negado na Nova Zelândia por ser 'gordo demais'

Autoridades da Nova Zelândia consideraram um chef de cozinha sul-africano "gordo demais" para viver no país e se recusaram a renovar o seu visto de trabalho.
Oficiais de imigração disseram que Albert Buitenhuis, que pesa 130 kg, não tinha um "padrão de saúde aceitável".
Buitenhuis agora corre o risco de ser expulso do país mesmo pesando 30 kg a menos do que quando chegou à cidade de Christchurch, há seis anos.
A Nova Zelândia tem uma das mais altas taxas de obesidade do mundo desenvolvido, com cerca de 30% das pessoas com excesso de peso.

30 kg mais leve

Buitenhuis e sua esposa, Marthie, imigrgaram da África do Sul para Christchurch em 2007. Na época ele pesava 160 kg.
Segundo Marthie, o casal nunca teve problema em renovar o visto de trabalho até esse ano.
"Nós aplicamos ano após ano e não tivemos problemas", disse ela. "Eles nunca falaram nada sobre o peso, ou sobre a saúde de Albert, e ele era muito mais pesado quando chegamos."
Mas no início de maio, o casal foi informado que seus vistos de trabalho haviam sido negados por causa de peso de Buitenhuis.
"A ironia é que hoje ele está com o peso menor do que quando chegamos à Nova Zelândia, e menor também desde o seu primeiro exame médico. Na época, o seu peso não foi um problema e foi aceito pelas autoridade de imigração, " disse Marthie.
O casal apelou ao ministro da Imigração da Nova Zelândia, citando a recente perda de peso do chef.
Um porta-voz do setor de imigração disse que o pedido de renovação do visto de Buitenhuis havia sido rejeitado porque seu excesso de peso cria um "risco significativo" de complicações como diabetes, hipertensão e doenças cardíacas.
"É importante que todos os imigrantes tenham um padrão aceitável de saúde para minimizar os custos e as demandas dos serviços de saúde da Nova Zelândia", disse ele.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Os caminhos para um acordo de paz Israel-Plaestina

Enquanto israelenses e palestinos se preparam para a primeira tentativa de um acordo de paz em quase três anos, sob liderança dos Estados Unidos, a BBC relaciona os principais pontos de divergência - ou convergência - entre as três partes envolvidas no processo.
As conversas foram retomadas esta segunda-feira, tendo os Estados Unidos como mediadores.
Abaixo, um resumo dos pontos de disputa na conversa:

Jerusalém

Israel
O governo israelense não está disposto a dividir Jerusalém, local definido por Israel para ser o centro político e religioso da população judia. Essa definição está na Lei Básica Israelense, de 1980, que estabelece que "Jerusalém, completa e unida, é a capital de Israel". No passado, existia algum espaço para manobra para uma possível divisão de áreas nas fronteiras. Em tentativas de diálogo em 2000 e 2007, o governo israelense à época propôs a troca de alguns distritos mais afastados do centro de Jerusalém.
Palestinos
Os palestinos querem o leste de Jerusalém como capital do Estado da Palestina - a área era ocupada pela Jordânia antes de ser retomada pelos israelenses em 1967.
O leste de Jerusalém, também conhecido como "cidade velha", é considerado o terceiro lugar mais sagrado do Islã, local onde está a mesquita de al-Aqsa e a Cúpula da Rocha (ou Domo da Rocha), de onde, acreditam os palestinos, Maomé teria visitado o céu em seu cavalo alado Burak.
Estados Unidos
Os Estados Unidos não reconhecem a anexação feita por Israel do leste de Jerusalém e mantêm sua embaixada em Tel Aviv. O presidente Barack Obama se opôs ao plano de construir casas para israelenses no leste de Jerusalém. Ele chegou a dizer, antes de se tornar presidente, que a tarefa de dividir a cidade seria uma "muito difícil de executar".

Tensão

Secretário de estado americano, John Kerry (2º à esq.), à mesa com ministro da justiça israelense e chefe das negociações por Israel, Tzipi Livni (2º à dir) e com o chefe de negociações pela autoridade palestina, Saeb Erekat (à dir.). 29/07/13 | Foto: AFP
Em 26 de setembro de 2010, Israel deixou de renovar o acordo para 'congelar' os assentamentos na região da Cisjordânia. Sem renovação, conversa com palestinos pode se tornar mais difícil. Foto: AFP

Fronteiras

Israel
O primeiro-ministro israelense Benjamim Netanyahu aceita que um estado palestino deva existir e que haverá a necessidade de cessão de partes da Cisjordânia (área tomada por Israel em 1967) para acomodá-lo. Israel já retirou suas tropas e população dos assentamentos da faixa de Gaza. O país gostaria que a área de borda incluísse os assentamentos israelenses que cresceram na Cisjordânia e Jerusalém. Entretanto, alguns membros do Likud - partido de direita que faz parte do gabinete de Netanyahu - não aceitam a ideia da coexistência dos estados como solução para o conflito com os palestinos.
Palestinos
Eles querem que as negociações comecem a partir da premissa básica de que as terras tomadas por Israel em 1967 - a Cisjordânia, o leste de Jerusalém e Gaza - pertencem à futura Palestina. Qualquer área dada aos israelenses nesses locais deveria ser compensada por uma equilibrada troca de terras. Eles têm esperança de que o reconhecimento pela ONU e a regras definidas pela União Europeia para disputa, que foram baseadas no acordo de cessar-fogo de 1967, fortaleceram a posição palestina nas negociações com Israel.
Estados Unidos
Os EUA concordam com a premissa palestina para o início das negociações, mas não com o seu final. Eles discordam sobre o uso das regras definidas em 1967 e sobre o fato de que a troca de terras deva ser feito com base em qualquer acordo.

Assentamentos

Israel
O governo israelense insistiu previamente em manter seus principais assentamentos no leste de Jerusalém e na região da Cisjordânia. Qualquer mudança nessa premissa romperia a coalizão que forma o governo de Israel. O país recusou-se a reintroduzir o congelamento parcial dos assentamentos com uma precondição para retomar o diálogo. O último congelamento expirou em 26 de setembro de 2010.
Palestinos
Para os palestinos, o ideal seria que todos os assentamentos israelenses fossem abandonados, como aconteceu em Gaza. Entretanto, eles parecem aceitar que alguns assentamentos israelenses possam permanecer, e devem requisitar o estabelecimento de um número limite para isso, além de uma troca de terras equivalente à quantidade que porventura venha a ficar. Eles não participaram da última rodada de negociações com Israel depois que o acordo para o congelamento das áreas, feito em 26 de setembro de 2010, não foi renovado pelos israelenses.
Estados Unidos
Assim como a anexação do leste de Jerusalém não é aceita pelos americanos, os EUA também não reconhecem a legitimidade internacional dos assentamentos israelenses na região da Cisjordânia. Mas eles aceitam que esta é uma realidade e devem fazer pressão para um compromisso.

Refugiados

Israel
Os israelenses rejeitam a ideia de que aos refugiados palestinos de guerras anteriores deveria ser possibilitado o "direto de retorno" às suas antigas casas. Eles dizem que este seria um mecanismo para destruir o estado de Israel pela demografia, já que isso estabeleceria um estado palestino unitário. Por esta razão, Netanyahu defende que Israel deva ser reconhecido como um estado judeu.
Palestinos
Formalmente, os palestinos mantém a ideia do "direito de retorno", argumentando que sem ele uma grande injustiça não seria desfeita. Entretanto, negociações regulares entre os próprios palestinos definem que este "direito" poderia ser atingido por meio de compensação. Eles refutam o conceito de Israel como um "estado judeu", afirmando que isto é desnecessário e que ignora os direitos dos cidadãos israelenses que são árabes.
Estados Unidos
Os EUA entendem a recusa de Israel em aceitar refugiados palestinos em seu território e esperam que a questão possa ser resolvida pela compensação e ajuda humanitária para aqueles que não conseguirem retornar para a sua antiga moradia.

Segurança

Israel
O governo israelense teme que um estado palestino algum dia possa cair nas mãos do grupo extremista Hamas ou que seja utilizado para atacar Israel. Por isso, eles têm insistido em manter amplas medidas de controle de segurança na área do vale do rio Jordão e pedem para que o estado palestino seja amplamente desmilitarizado.
Palestinos
Argumentam que a segurança na região será conseguida pela coexistência estável dos dois estados - palestino e israelense. Os palestinos querem que o estado da Palestina seja reconhecido com o máximo de atributos de um estado comum. O presidente da autoridade palestina, Mahmoud Abbas, teme que um estado com status de cliente - sem o poder total atribuído a um estado comum - não poderia ser mantido e ficaria aberto ao controle do Hamas.
Estados Unidos
Os EUA aceitam a necessidade israelense por segurança, mas também compreendem que os palestinos precisam de um estado e a conciliação dessas duas posições é um objetivo da diplomacia americana. Entretanto, é improvável que reconheça um estado palestino que não saia de uma negociação. O secretário de estado americano, John Kerry, apontou o general aposentado John Allen como um conselheiro especial para tratar das questões de segurança israelenses.

Polêmico acampamento secreto reúne poderosos nos EUA

Bohemian Grove | Foto: National Lab
Reunião com ex-presidente Ronald Reagan (dir.) e Richard Nixon (esq.), sentados
Como em todos os meses de julho há mais de um século, alguns dos homens mais ricos e influentes dos Estados Unidos estão reunidos no acampamento Bohemian Grove, perto da cidade de Monte Rio, no norte da Califórnia.
O encontro, que é fechado à imprensa, dura duas semanas e é o ponto alto do ano para os integrantes do Bohemian Club, uma instituição privada para homens fundada em São Francisco, em 1872.
Entre os integrantes há intelectuais, vários ex-presidentes dos Estados Unidos e influentes senadores, deputados, acadêmicos e altos executivos das maiores empresas e instituições financeiras do país.
Acredita-se que o Projeto Manhattan, que levou à criação da bomba atômica, tomou forma no Bohemian Grove, durante uma reunião em 1942.
De acordo com o porta-voz do clube, Alex Singer, o evento é apenas uma reunião em que os sócios e seus convidados – entre os quais, como em todos os anos, figuras de destaque internacional – desfrutam da natureza e de uma série de atividades culturais que incluem concertos, peças de teatro, recitais e palestras sobre assuntos da atualidade.
Peter Phillips | Foto: BBC
Peter Phillips estuda confraria há mais de 20 anos e já teve acesso ao acampamento secreto nos EUA
Mas o forte esquema de segurança e sigilo vêm tornando o encontro alvo de protestos de muitos grupos de ativistas, que questionam a legitimidade do Bohemian Grove por reunir funcionários do governo e representantes do mundo corporativo a portas fechadas.
O acampamento também tem gerado uma série de teorias da conspiração (algumas mais prováveis do que as outras) que asseguram que os "bohos", como são chamados os sócios do clube, trabalham para estabelecer uma nova ordem mundial e celebram rituais pagãos com conotações satânicas.

Origens e características

Peter Phillips, professor de sociologia política da Universidade de Sonoma, na Califórnia, pesquisa as atividades do Bohemian Club há mais de 20 anos. Para sua tese de doutorado entrevistou muitos de seus membros, e acabou convidado a passar vários dias no acampamento de verão do grupo.
Ele explica que a confraria tem entre 2.500 e 3 mil sócios (embora o número exato e os nomes dos integrantes do clube nunca tenham sido divulgados). A lista de espera pode durar entre 15 e 20 anos, e não é de se surpreender que tornar-se um "boho" tenha seu preço: entrar no seleto grupo custa nada mais nada menos do que US$ 25 mil (R$ 56 mil).
Fundado por um grupo de jornalistas, artistas e músicos, o Bohemian Club começou a aceitar empresários e homens de negócios com o passar do tempo para financiar suas atividades culturais.
O especialista diz que atualmente o clube conta com os 200 maiores doadores do Partido Republicano e diretores das cem maiores empresas americanas.
Bohemian Grove | Foto: BBC
Em meio à floresta, local onde membros da confraria se reúnem é cercado de segurança e sigilo
Figuras de destaque já passaram pela confraria, entre eles os escritores Mark Twain e Jack London, os multimilionários William Randolph Hearst e David Rockefeller e políticos conservadores de reputação nacional, como Dwight Eisenhower, Ronald Reagan, Henry Kissinger, George Bush e seu filho George W. Bush, Dick Cheney e Donald Rumsfeld.
Neste ano, a lista inclui nomes como o ex-general do Exército americano Stanley McChristal, o famoso comediante Conan O'Brien, o presidente da Universidade de Stanford, John Hennessey, o ex-presidente da Intel, Paul Otellini, e o ex-presidente boliviano Jorge Quiroga.

Curiosidades e polêmicas

Phillips diz que os participantes dividem-se em cerca de 120 acampamentos, que vão desde chalés com bastante conforto até alojamentos mais simples, com banheiros e chuveiros compartilhados.
Coruja do Bohemian Grove | Foto: BBC
Símbolo de sabedoria, a coruja é usada também como talismã dos membros do Bohemian Club
Em meio à floresta, as instalações contam ainda com três teatros ao ar livre, um restaurante, um pequeno museu de história natural e mais de cem pianos.
O clima é de festa e há muita bebida o tempo todo, conta o estudioso, relembrando outro aspecto essencial do evento: a preferência de seus sócios por urinar ao air livre, nas árvores, constantemente.
Há polêmica em torno de uma das tradições do grupo, chamada "Queima das Preocupações". O ritual ocorre no primeiro fim de semana do acampamento, quando um grupo de homens segurando tochas e vestidos com togas e com as cabeças cobertas coloca fogo em uma efígie coberta por um manto diante de uma estátua de uma coruja com mais de 12 metros de altura.
O ritual foi gravado pelo jornalista americano Alex Jones, um dos principais críticos do evento.
Relatos de funcionários do acampamento apontam ainda que muitos de seus participantes, a maioria homens de meia idade, brancos e de classe média alta, gostam de se disfarçar de mulher – sobretudo para representar papéis femininos nos espetáculos, já que só homens podem participar da confraria.

Decisões

Mary Moore | Foto: BBC
A ativista Mary Moore organiza protestos anuais diante do acampamento há mais de 30 anos
A ativista californiana Mary Moore vem liderando protestos contra o evento há mais de 30 anos. Para ela, o problema mais grave é que algumas das ideias que circulam durante o acampamento acabam convertendo-se em políticas reais.
"Em 1981, ao analisar a lista de sócios e convidados, nos demos conta de que os principais membros da indústria militar estavam lá (...) E foi neste ano que o secretário da Defesa do presidente Ronald Reagan, Caspar Weinberger, deu a palestra intitulada 'Rearmando os EUA' (...) Pouco depois o governo Reagan lançou a Iniciativa de Defesa Estratégica que desencadeou uma carreira armamentista", diz.
"O que se faz no Grove é se embebedar, mas é óbvio que também são feitos negócios e política. Estamos usando o Grove como um exemplo. O que queremos é que as pessoas se deem conta de como funciona o mundo da política e das altas finanças. Que vejam como o que é discutido a portas fechadas afeta a todos", acrescenta Moore.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Apesar de avanços, educação ainda trava desenvolvimento no Brasil

Os municípios do Brasil alcançaram, em média, um índice de desenvolvimento humano alto, graças a avanços em educação, renda e expectativa de vida nos últimos 20 anos.
Mas o país ainda registra consideráveis atrasos educacionais, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira pela ONU e pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 aponta que o IDHM (índice de desenvovimento humano municipal) médio do país subiu de 0,493 em 1991 para 0,727 em 2010 - quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento.
Com isso, o Brasil passou de um patamar "muito baixo" para um patamar "alto" de desenvolvimento social.
O que mais contribuiu para esse índice foi o aumento na longevidade (a expectativa de vida da população subiu de 64,7 anos para 73,9 anos). Também houve aumento na renda, de 14,2% ou (R$ 346,31) no período.
Os maiores desafios se concentram na educação, o terceiro componente do IDHM. Apesar de ter crescido de 0,279 para 0,637 em 20 anos, o IDHM específico de educação é o mais distante da meta ideal, de 1.
Em 2010, pouco mais da metade dos brasileiros com 18 anos ou mais havia concluído o ensino fundamental; e só 57,2% dos jovens entre 15 e 17 anos tinham o ensino fundamental completo.

Permanência na escola

"O desafio de colocar as crianças na escola foi superado", disse Daniela Gomes Pinto, do Pnud (Programa de Desenvolvimento da ONU), ao apresentar o Atlas. "Agora, o desafio é manter as crianças na escola e completando os ciclos (escolares) na idade certa."
A pesquisadora afirmou que é importante que, aos 5 anos de idade, as crianças já estejam na escola; aos 16, tenham o ensino fundamental completo; e, aos 19, concluam o ensino médio.
Atualmente, segundo os dados de 2010, apenas 41% dos jovens de até 20 anos têm o ensino médio completo.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, admitiu um "imenso desafio" na área, mas destacou que a educação é o componente que, tendo partido de um patamar mais baixo, registrou os maiores avanços, graças ao aumento no fluxo de alunos matriculados nas escolas.
O índice de crianças de 5 e 6 anos que entraram no sistema de ensino passou de 37,3% em 1991 para 91,1% em 2010.

Municípios

Segundo o Atlas, dois terços dos 5.565 municípios brasileiros estão na faixa de desenvolvimento humano considerada alta ou média. Ao mesmo tempo, a porcentagem de municípios na classificação "muito baixa" caiu de 85,5% em 1991 para 0,6% em 2010.
As cidades com notas mais próximas de 1 no IDHM são São Caetano (SP, com índice 0,862), Águas de São Pedro (SP, com 0,854) e Florianópolis (SC, com 0,847).
Os piores índices foram registrados em Melgaço (PA, com 0,418) e Fernando Falcão (MA, com 0,443).
O relatório identificou uma redução nas disparidades sociais entre Norte e Sul do Brasil, mas confirmou que elas continuam a existir. Um exemplo é que 90% dos municípios das regiões Norte e Nordeste têm baixos índices de IDH em educação e renda.
O Atlas do Desenvolvimento Humano brasileiro contém, além do IDH dos municípios brasileiros, outros 180 indicadores socioeconômicos, com base em dados do Pnud, do Ipea, da Fundação João Pinheiro e do IBGE (Censo 2010), levando em conta itens como demografia, educação, renda, desigualdade social, e acesso a serviços básicos.

Justiça inicia segunda etapa de julgamento do Carandiru

O julgamento da maior parte dos assassinatos ocorridos no episódio conhecido como "Massacre do Carandiru" começou nesta segunda-feira em São Paulo. Segundo o Tribunal de Justiça, o destino de 27 policiais militares, acusados de matar 73 presos durante uma rebelião no complexo do Carandiru, deve ser decidido até o final desta semana.
Essa é a segunda etapa do processo judicial, que tem 84 réus e foi desmembrado em quatro fases. A primeira ocorreu em abril, quando 23 policiais foram condenados a 156 anos de prisão por assassinar 13 detentos. Ela dizia respeito aos crimes ocorridos no primeiro andar do pavilhão nove, o local do massacre.
Os sentenciados dessa primeira etapa do julgamento receberam o benefício de recorrer da condenação em liberdade.
Grande parte dos policiais que estarão no banco dos réus a partir desta segunda-feira atuou no segundo andar do pavilhão e pertencia à controversa unidade policial conhecida como Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) na época do massacre.
Formada hoje por cerca de 750 policiais, a unidade carrega fama de alta letalidade. Ela representa 1% do efetivo da corporação, mas entre 2007 e 2011 foi responsável por 14% dos cerca de 2.200 mortes cometidas pela PM nas ruas de São Paulo no período.

Júri

O julgamento deve começoucom a escolha dos sete jurados - todos eles homens. Eles passaram por exames médicos antes do início da sessão. Em abril, o julgamento sofreu uma série de atrasos depois que um dos jurados passou mal.
Serão ouvidas durante a semana oito testemunhas de acusação e quatro de defesa. Os depoimentos de outras três testemunhas de acusação e duas de defesa serão exibidos em vídeo para o júri.
O juiz responsável não será o mesmo da primeira fase. José Augusto Nardy Marzagão foi transferido para uma comarca no interior e será substituído pelo juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo.
O promotor Fernando Pereira da Siva afirmou que a recente onda de desaprovação da sociedade contra as ações violentas da Polícia Militar durante a onda de protestos não deve influenciar os jurados. Na opinião dele, a Justiça está julgando os maus policiais e não a instituição da Polícia Militar.
A advogada de defesa Ieda de Souza afirma que os réus não deveriam ser condenados, entre outros fatores, porque não é possível individualizar suas condutas . Ou seja, uma vez que não há testemunhas e não foi feita a perícia nas armas dos crimes, seria impossível dizer, na prática, quem matou quem.

PCC

O massacre do Carandiru ocorreu no dia 2 de outubro, de 1992, quando detentos do pavilhão nove da Casa de Detenção fizeram uma rebelião.
A Tropa de Choque da polícia invadiu o edifício com armas letais, e 111 presos foram mortos.
Ao todo cinco acusados já morreram, inclusive o comandante da ação, o coronel Ubiratan Guimarães, que já havia sido julgado e inocentado.
Todos os acusados estão respondendo ao processo em liberdade.
O massacre na Casa de Detenção é apontado por analistas como uma dos fatores determinantes para a fundação da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
O grupo criminoso teria se organizado inicialmente como o objetivo de lutar pelos direitos dos detentos e contra os abusos dos agentes do Estado e vingar as mortes no Carandiru.
A facção também passou a realizar uma série de operações criminosas, tais como assassinatos, roubos, aluguel de armas e tráfico de drogas.

A cronologia dos problemas de organização na JMJ

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que terminou no último domingo com missa para mais de 3 milhões de pessoas em Copacabana, foi pontuada por problemas de organização.
Na sexta-feira, transcorridos já alguns dias do maior evento do mundo direcionado a jovens católicos, a infraestrutura da cidade foi posta à prova, segundo o prefeito Eduardo Paes, que deu nota "perto de zero" no quesito organização.
Veja, abaixo, uma cronologia dos contratempos envolvendo a organização do evento.

'Segurança papal'

As falhas começaram na segunda-feira da semana passada, logo após o papa Francisco chegar ao Brasil.
O comboio papal, que saiu da base aérea do Aeroporto Internacional do Galeão, na Ilha do Governador, com direção à Catedral Metropolitana, no Centro, ficou preso em um engarrafamento.
Especialistas em segurança avaliaram que a situação expôs o pontífice ao perigo, uma vez que centenas de pessoas cercaram o veículo.
Na ocasião, em nota conjunta, a prefeitura, a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos e o Ministério da Justiça creditaram a retenção à escolha do próprio Vaticano.
Segundo o comunicado, a interdição da via que seria usada pelo comboio papal não estava prevista.
Mas, no domingo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, embora tenha avaliado o esquema de segurança como bem-sucedido, admitiu ter havido uma falha no dia em que o pontífice chegou. Cardoso afirmou que o problema ocorreu por um erro na comunicação entre o centro de controle do governo do Estado e a prefeitura.

Peregrinos e transporte

Na terça-feira, quando a jornada foi oficialmente aberta, o metrô, principal meio de deslocamento dos devotos à praia de Copacabana, ficou parado por duas horas devido ao rompimento de um cabo de energia.
Fieis em Copacabana | Foto: BBC
Agnes de Andrade e Josiane Scharneski (segunda e terceira à esq.) reclamaram dos banheiros na JMJ
A pane atrasou a chegada de milhares de fiéis que participariam da missa inaugural, presidida pelo arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta.
Ao final da cerimônia religiosa, os problemas voltaram a se repetir. Peregrinos contaram ter tido novas dificuldades com o transporte público.
Eles afirmaram que o metrô e os ônibus não foram suficientes para atender às cerca de 1 milhão de pessoas que lotaram a praia de Copacabana para assistir à missa de acolhida.

Superlotação

As queixas quanto à superlotação do transporte público continuaram na quinta e na sexta, quando o papa Francisco participou da festa de acolhida e da Via Crúcis, também na orla de Copacabana.
Nesses dois dias, o metrô montou um esquema especial de venda de bilhetes com horários pré-determinados, o que ajudou a facilitar o deslocamento dos peregrinos.
Mesmo assim, em algumas estações, era possível ver longas filas no início da tarde, horas antes do início dos eventos.
Estação Cardeal Arcoverde | Foto: BBC Brasil
Filas antecederam espera de até 40 minutos da entrada à plataforma em estação de metrô
Apesar da espera, a operação melhorou no domingo. Nas imediações da estação Cardeal Arcoverde, em Copacabana, a mais próxima do palco principal, grades de proteção foram colocadas para facilitar e organizar a entrada dos passageiros.
Em diversos pontos da rota, dentro e fora da estação, agentes do metrô controlavam o deslocamento dos fiéis.
A reportagem da BBC Brasil testou o acesso à estação Cardeal Arcoverde no domingo e demorou 40 minutos para percorrer a distância entre a entrada e a plataforma de embarque no trem.

Vigília e alagamentos

Quem passou a noite na praia de Copacabana, após a vigília realizada de sábado para domingo, reclamou ainda da falta de banheiros químicos.
Um grupo de peregrinos de Curitiba, no Paraná, afirmou que a quantidade de toaletes era insuficiente para o número de pessoas.
Guaratiba | Foto: AP
Local que abrigaria acampamento de peregrinos e eventos finais da JMJ virou "mar de lama"
"Eram necessários mais banheiros químicos. As filas estão muito grandes", afirmaram à BBC Brasil as curitibanas Agnes de Andrade, de 19 anos, e Josiane Scharneski, de 22 anos, que dormiram no local.
No início da manhã de domingo, à medida em que os peregrinos acordavam, também tinham de se deparar com o mau cheiro, uma vez que muitos dos banheiros químicos vazaram por causa da alta demanda.
Muitas das estruturas não puderam ser transferidas para Copacabana após o anúncio da mudança dos dois últimos grandes eventos da JMJ para o bairro (previstos inicialmente para ocorrerem no Campus Fidei, em Guaratiba) devido aos alagamentos que criaram um verdadeiro mar de lama no local originalmente previsto para receber a fase final da Jornada.
Na última sexta-feira, a prefeitura decidiu transferir a vigília e a missa de encerramento para a orla depois que fortes chuvas atingiram a grande área aberta na zona oeste do Rio, local que seria o destino da peregrinação de 13 quilômetros – tradicional nas jornadas.
Por causa da alteração, os fiéis também tiveram de fazer um novo percurso de 9,5 quilômetros, que começou na Central do Brasil, no centro da cidade, e terminou em Copacabana.

Protestos

Na noite de segunda-feira, após o papa Francisco deixar o Palácio Guanabara, sede do governo estadual do Rio, houve confrontos entre manifestantes e a polícia. Muitos jovens pediam a renúncia do governador Sérgio Cabral.
Banheiros químicos Rio | Foto: BBC
Insuficientes, banheiros químicos começaram a vazar na praia de Copacabana, disseram peregrinos
A tropa de choque da polícia atirou balas de borracha e lançou bombas de efeito moral contra os manifestantes.
Um repórter da agência de notícias France Presse ficou ferido. Ele diz ter levado um golpe de cassetete de um policial, mesmo depois de ter se identificado como jornalista.
Vídeos que circulam na internet mostram feridos. Tanto os manifestantes quanto a imprensa voltaram a denunciar a presença de policiais infiltrados (chamados de P2) em meio aos protestos.

Balanço das autoridades

Apesar de todos os problemas, as autoridades fizeram um balanço positivo da estrutura montada para receber a visita do papa.
Em entrevista a jornalistas, o secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, afirmou que a presidente Dilma Rousseff ficou satisfeita com a organização do evento, especialmente em relação a segurança, uma de suas maiores preocupações.
Carvalho reconheceu que houve falhas na infraestrutura, mas prometeu mais planejamento para evitar a repetição de erros nos próximos grandes eventos.
"Eu acho que a dificuldade maior se apresentou no transporte. Houve problemas com banheiros químicos, uma porção de falhas desse tipo, mas nem de longe apagaram o brilho e o sucesso da Jornada".
Ele também repetiu declaração feita pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes, que disse ser "impossível" reunir grandes multidões sem filas e aglomerações.

domingo, 28 de julho de 2013

Israelenses e palestinos devem retomar negociação de paz

O Departamento de Estado americano afirmou que israelenses e palestinos retomarão as negociações de paz em Washington na segunda-feira.
Os dois lados haviam abandonado a mesa de negociações em 2010. Há meses, o secretário de Estado americano John Kerry participava de um esforço diplomático para colocar representantes dos dois lados frente à frente novamente.
O anúncio ocorreu horas depois de Israel concordar em soltar mais de 100 prisioneiros palestinos. A libertação, que dividiu o governo israelense, deve ocorrer de forma escalonada durante meses.
A porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, afirmou que o encontro inicial ocorrerá na tarde de segunda-feira e continuará no dia seguinte.
Ela afirmou que Kerry entrou em contato com o premiê israelense Benjamin Netanyahu e o presidente Mahmoud Abbas neste domingo. Os dois teriam concordado que o encontro “serve como uma oportunidade para desenvolver um plano de procedimentos sobre como as duas partes devem se comportar em relação às negociações nos próximos meses”.
“Ambos os líderes têm demonstrado uma vontade de tomar decisões difíceis que têm sido fundamentais para chegar até este ponto. Somos gratos por sua liderança”, disse Kerry em uma declaração.
O gabinete de Netanyahu aprovou a libertação dos prisioneiros por 13 votos a sete. O órgão também elaborou uma proposta de lei que prevê a realização de um referendo para a adoção de qualquer acordo de paz que envolva concessões territoriais.
O governo israelense afirmou ser importante que todos os cidadãos votem diretamente em decisão tão histórica.

Partidários de presidente deposto enfrentam forças de segurança no Egito

Apesar da morte de dezenas de manisfestantes, os partidários do presidente deposto, Mohammed Morsi, continuam desafiando as forças de segurança, que ameaçam acabar com ocupação pacífica na área ao redor da mesquista Rabaa al-Adawiya, no Cairo.
A Irmandade Muçulmana - grupo muçulmano ao qual Morsi pertence - falou em alto-falantes aos manifestantes durante a noite, e disse que não abrirá mão de suas demandas.
Eles querem que Morsi - retirado do poder pelo exército no dia 3 de Julho - seja reintegrado.
Segundo o Ministério da Saúde do Egito, foram 78 mortes nos confrontos de sábado, mas os médicos estimam que mais de 100 pessoas foram mortas.
O governo negou que as forças de segurança tenham disparado tiros contra os manifestantes no sábado, e disseram que apenas gás lacrimogêneo foi usado.
Mas o correspondente da BBC no Cairo, Quentin Sommerville, disse que essa informação parece falsa, levando em consideração a gravidade e o número de feridos.
Enquanto isso, os Estados Unidos expressaram profunda preocupação com o derramamento de sangue - o pior desde o afastamento de Morsi.
O Secretário de Estado americano, John Kerry, condenou a violência e apelou às autoridades egípcias para "respeitar o direito de reunião pacífica e a liberdade de expressão".

Discursos apaixonados

O porta-voz da Irmandade Muçulmana, Gehad el-Haddad, disse à BBC que "centenas de milhares de homens, mulheres e crianças" estavam envolvidos no protesto pacífico ao redor da mesquita.
Ele disse: "Independentemente do que acontecer com o presidente, vamos continuar nosso protesto. Nossos números estão aumentando a cada dia, os cidadãos estão reconhecendo a tirania e o perigo de um golpe militar a longo prazo."
De acordo com a correspondente da BBC, Yasmine Abu Khadra, no Cairo, o clima agora está calmo, no entanto os manifestantes criaram sua própria área de segurança usando barricadas.
A mensagem dos líderes da Irmandade Muçulmana durante a noite era de que as forças de segurança eram as responsáveis pelas mortes de sábado porque se sentiram ameaçados pelo ocupação. Os palestrantes disseram que a multidão não deve ter medo pois a manisfestação é por uma causa justa.
Haddad disse que os manifestantes vão continuar exigindo a reintegração de Morsi, e acrescentou: "Pode levar semanas, meses, ou mais de um ano - mas não vamos desistir".
O ministro do Interior, Mohammed Ibrahim, disse aos simpatizantes para "cairem em si" e irem para casa.
Ele disse que ações legais contra os manifestantes movidas por moradores da região próxima a mesquita, criaram uma cobertura legal para a ordem de desocupação.
Duas figuras importantes que apoiaram a remoção do Presidente Morsi liderada pelo exército condenaram os assassinatos.
O Imã de Al-Azhar - a mais alta autoridade sunita no Egito - já pediu uma investigação, enquanto que o vice-presidente do governo interino, Mohamed ElBaradei, disse que uma força excessiva havia sido usada.
Os confrontos de sábado parecem ter começado quando alguns manifestantes pró-Morsi tentaram estender sua área de segurança com barricadas e as forças de segurança responderam.
Os médicos de um hospital próximo a região, disseram à BBC que eles acreditavam que cerca de 70% das mortes foram causadas por armas de fogo - com muitas das vítimas atingidas no peito ou na cabeça por franco-atiradores posicionados em telhados.

"Assassinato premeditado"

Mohamed Morsi, o primeiro presidente democraticamente eleito do Egito, foi removido pelo exército após protestos em massa contra seu governo.
Desde 3 de julho, ele está detido em local secreto, sem que nenhuma foto ou declaração sua fosse divulgada.
Nesta sexta-feira, veio à tona a primeira informação sobre seu status judicial: segundo a agência oficial egípcia Mena, Morsi foi agora acusado de conspirar com o grupo radical islâmico palestino Hamas por supostamente atacar prisões egípcias e libertar islamistas durante a revolução de 2011, quando o ex-presidente Hosni Mubarak foi derrubado.
Morsi está sendo tecnicamente detido por acusações de traição, por, em conjunto com o grupo palestino, "atear fogo a uma prisão, permitir a fuga de prisioneiros, incluindo ele mesmo (libertado de um presídio no Cairo em janeiro de 2011), e matar de forma premeditada policiais, soldados e prisioneiros", diz a Mena.
Inicialmente, ele será questionado por um período de 15 dias, segundo a ordem judicial.
O correspondente da BBC no Oriente Médio Jim Muir explica que a acusação oferece uma justificativa oficial para a prisão de Morsi, num momento em que potências ocidentais e a ONU vinham pressionando para que o presidente deposto fosse libertado caso não houvesse nenhuma queixa formal contra ele.

Coreia do Sul propõe ao Norte negociação 'final' sobre Kaesong

SEUL — A Coreia do Sul propôs neste domingo à Coreia do Norte o início de negociações finais sobre o complexo industrial de Kaesong, fechado pelas autoridades norte-coreanas desde abril, dando a entender que em caso de fracasso o fechamento pode ser definitivo.
"Propomos realizar discussões finais sobre Kaesong", disse à imprensa o ministro sul-coreano da Unificação da península coreana, Ryoo Kihl Jae.
"Queremos uma resposta clara do Norte" com relação às garantias escritas para impedir que um fechamento deste tipo volte a ocorrer, disse o ministro.
Na última sexta-feira, a Coreia do Norte havia denunciado a "arrogância" da Coreia do Sul, responsabilizando-a pelo fracasso das negociações.
A última rodada de negociações, levada adiante na última quinta-feira na zona industrial de Kaesong, situada em território norte-coreano, a 10 km a fronteira, terminou com uma briga entre os serviços de segurança.
O chefe da delegação norte-coreana, Pak Chol-Su, declarou que o exército norte-coreano pode ocupar o local se as negociações fracassarem definitivamente.
As duas Coreias querem, a princípio, que o complexo de Kaesong volte a funcionar, já que é vital para a economia norte-coreana, mas também para as empresas sul-coreanas que, devido ao fechamento, perderam mais de 1 bilhão de dólares nos últimos quatro meses.

sábado, 27 de julho de 2013

Vigília com papa Francisco reúne três milhões no Rio

Uma multidão de aproximadamente três milhões de pessoas se reuniu na praia de Copacabana para ver o papa Francisco durante a vigília de oração com os jovens da JMJ (Jornada Mundial da Juventude) na noite deste sábado, segundo uma estimativa da Prefeitura do Rio de Janeiro. Grande parte dos peregrinos decidiu acampar e passar a noite no local.
A concentração de pessoas superou o público da última festa de Reveillon, que teve dois milhões de participantes. Durante a celebração deste sábado, os fiéis enfrentaram grande dificuldade para se deslocar, tanto na Avenida Atlântica como na areia da praia. Era quase impossível se aproximar do palco onde estava o papa, na altura da avenida Princesa Isabel.
A jovem Ana Beatriz Loureiro, de 17 anos, viajou ao Rio com um grupo paroquial de Dourados (MS). Eles chegaram à capital após uma viagem de 24 horas de ônibus e se hospedaram em uma paróquia em Piedade, na zona norte da cidade.
"Estou muito emocionada. Fomos muitos agraciados. Quando fomos buscar o kit alimentação, conseguimos ver o papa", disse.
Ana Beatriz trouxe saco de dormir, binóculo, lanterna, guarda-chuva e capa de chuva, mas disse estar preocupada com os planos do grupo de passar a noite na praia. Os amigos devem se revezar para viajar o "acampamento" enquanto os outros dormem.
Daniela Schiavone, de 21 anos, veio de Taranto, no sudeste da Itália, para ver o papa pela primeira vez ao vivo no Brasil. Ela está acompanhada de 35 amigos e também planejava passar a noite na praia.
Afirmou ter detestado o kit alimentação distribuído para os peregrinos. "É tudo junk food; não é saudável".
Como ela, muitos peregrinos acamparam em Copacabana. Diversos grupos improvisaram "barracas" empilhando sacos de dormir sobre grades de proteção instaladas no local pela prefeitura. A temperatura às 22h de sábado girava em torno dos 17°C e não havia sinal de chuva.
Ana Beatriz Loureiro (de blusa preta) e amigos de paróquia (foto: BBC)
Peregrinos não se incomodaram com frio e desconforto na hora de acampar
Um posto de gasolina se transformou em um grande acampamento, com barracas espalhadas por toda a sua área.
A americana Diana Castillo, de 20 anos, foi uma das peregrinas que instalou uma barraca em Copacabana. Ela veio ao Brasil, pela primeira vez, em um grupo de 97 pessoas dos Estados de Connecticut e de Nova York. "O papa Francisco é mais humilde do que o anterior", disse.
A paraguaia Rosana Rojas, de 27 anos, foi ao evento com um grupo de 50 compatriotas às 8h. Eles estão hospedados em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a duas horas de distância da praia de Copacabana. Ela quis dormir na orla porque "é parte do evento". "Não imaginava que estaria tanto frio aqui".
A Prefeitura do Rio instalou cercados de proteção a fim de delimitar as áreas de acampamento. Porém, faltaram banheiros químicos para o público. A BBC Brasil presenciou filas de mais de 100 pessoas para entrar em um banheiro.
Autoridades públicas se revelaram preocupadas com a saída dos peregrinos do local e pediram calma. Hotéis e prédios de Copacabana colocaram grades de metal em frente às suas fachadas para evitar a entrada de peregrinos.

Manifestantes

Grupos de manifestantes fizeram um protesto na zona sul do Rio gritando palavras de ordem contra a Igreja Católica. Eles trocaram hostilidades com peregrinos que participavam da JMJ no bairro de Copacabana.
Algumas das integrantes do protesto chamado "Marcha das Vadias" exibiu mensagens pintadas pelo corpo e fez topless. Elas defendiam os direitos das mulheres, o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Dois manifestantes mascarados, que protestavam praticamente nus, pisaram sobre crucifixos e destruíram duas imagens de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora das Graças.
Alguns peregrinos trocaram insultos contra os manifestantes, mas não havia registro de troca de agressões até às 22h de sábado.
Manifestantes contrários à Igreja (foto: BBC)
Papa Francisco faz referência a manifestações e pede que jovens protagonizem mudanças
Um grupo mais exaltado de 50 manifestantes se aproximou do palco onde estava o pontífice, mas foi contido por policiais militares da Força Nacional de Segurança.
Durante a vigília, o papa Francisco fez referência à onda de manifestações de rua internacionais e afirmou que os jovens devem ser os protagonistas das mudanças. "Seu coração jovem quer construir um mundo melhor (...). Muitos jovens em muitos lugares do mundo desejam uma civilização mais justa e fraterna. Os jovens querem ser protagonistas da mudança".
"Não deixem que outros sejam os protagonistas da mudanças. Vocês têm o futuro. É através de vocês que o futuro entra no mundo".
O papa pediu que os jovens forneçam uma "resposta cristã" às inquietações sociais e políticas "que surgem em diversas partes do mundo".
Mas cedo, em um encontro com políticos, religiosos e artistas, o papa havia afirmado que o diálogo deve ser a alternativa a protestos violentos. "Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo aberto à verdade", afirmou o pontífice.

Veteranos lembram de guerra da Coreia após 60 anos

Se uma guerra pode unir uma nação, suas comemorações podem, as vezes, fazer o mesmo.
Sentado na fileira dos veteranos, Lee Duk-bin, observa os desfiles que comemoram os 60 anos desde o fim da Guerra da Coreia.
Ele tinha 25 anos quando o conflito começou. Era um oficial do exército sul-coreano, que acreditava apaixonadamente na luta ideológica contra o Norte comunista.
Após a cerimônia, Duk-bin me mostrou onde sua unidade foi atacada pela primeira vez pelos norte-coreanos – a margem de um rio largo e com muito vento, próximo da fronteira atual.
"Era 25 de junho de 1950, por volta de quatro horas da manhã, quando de repente houve um sinal de emergência alertando para um ataque da Coreia do Norte. Como fomos trazidos para esse local, pudemos sentir os tiros ao nosso redor,” contou Duk-bin.
"Quando chegamos aqui na margem do rio, tivemos que rastejar para nos posicionar, e conseguimos ver os soldados norte-coreanos todos agrupados e fortemente armados, do outro lado. Quando eles nos viram, começaram a disparar morteiros, que abalaram o chão abaixo de nós."

'Trapaça norte-coreana'

Lee Duk-bin
Norte-coreanos viajaram para o vizinho do sul para lutar contra ou a favor do comunismo
A ironia é que Lee Duk-bin é originalmente da Coreia do Norte. Ele veio para o Sul para lutar com as forças da ONU contra o seu próprio governo comunista.
Sessenta anos após a luta ter terminado com uma trégua, ele diz que ainda é muito cedo para um tratado de paz permanente.
"A idéia de um tratado de paz é apenas uma trapaça norte-coreana", disse ele.
"O Norte não tem a intenção de fazer a paz com o Sul. Ainda há combates e a guerra ainda não terminou. Precisamos acordar para o fato de que nada mudou na Coreia do Norte, e de que seu objetivo de difundir o comunismo para o Sul – usando a força, se necessário - não mudou,” disse Duk-bin.
"Eu tenho 89 anos de idade, mas se a guerra eclodisse novamente amanhã, eu lutaria de novo, sem dúvida.”
A Guerra da Coreia durou três anos, deixou milhões de mortos, feridos ou desaparecidos, e atraiu mais de 20 países - incluindo os Estados Unidos e a China lutando em lados opostos.
A política amarga da Guerra Fria conseguiu fazer uma trégua temporária difícil de negociar, e apesar de muitas infrações ao longo das últimas seis décadas, o Acordo de Armistício da Coreia tem sido mantido.
Seu legado mais visível foi cimentar a divisão da Coreia em duas nações, separadas por uma área de 4 km. Mas esses 4 km não separam apenas dois paises ou sistemas políticos, separam também famílias, pais e filhos, irmãos e irmãs.

Norte-coreano, família sul-coreana

Kim Kyo-Yong
Guerrilheiros da Corea do Norte se infiltraram no país inimigo antes do cessar-fogo
As histórias de separação e reassentamento não são diferentes da história de Kim Kyo-Yong.
Kyo-Yong vive no Sul há mais de 60 anos, com sua esposa sul-coreana e seu exército de netos.
Mas Kyo-Yong chegou aqui durante a guerra como um jovem guerrilheiro norte-coreano posicionado atrás das linhas inimigas, e ele continuou lutando mesmo após o armistício ser anunciado.
"Quando eu soube da trégua, eu me senti deprimido. Tínhamos lutado para ganhar, e é por isso que estávamos derramando nosso sangue", disse ele.
"Não estávamos preparados para nos render assim. Nós recebemos ordens para lutar, e essa ainda era a nossa posição, lutar até a morte,” contou Kyo-Yong.
Kyo-Yong e seus companheiros permaneceram escondidos nas montanhas arborizadas da Coreia do Sul enquanto o acordo de armistício era aplicado.
"Eu era a pessoa encarregada da doutrinação e da propaganda. Foi um momento muito difícil para mim", disse ele.
"Os ânimos estavam baixos. Havia pouca comida e munição, e uma vez que o armistício foi assinado, as unidades de elite sul-coreana começaram a cercar as montanhas onde estavamos escondidos, e eles começaram a levar-nos, um por um," lembrou Kyo-Yong.
Por fim, Kyo-Yong foi capturado e preso na Coreia Sul por duas décadas. Agora ele diz que não pode voltar para a Coreia do Norte por causa de sua família sul-coreana. Mas ele ainda sente saudades de casa, e às vezes olha na internet fotos de satélite de seu antigo lar norte-coreano.
Com essas misturas de ideais, mesmo os jogos de futebol podem resultar em conflitos desconfortáveis.
A equipe norte-coreana chegou em Seul este mês para jogar contra os seus vizinhos do sul. No ambiente do jogo de futebol, Kyo-Yong e seus companheiros podem adotar suas antigas lealdades, e a dificuldade é decidir que hino nacional cantar.
Ao contrário da guerra, os jogos de futebol aqui têm um resultado decisivo. E desta vez, a Coreia do Norte venceu.

Papa: futuro depende de 'diálogo construtivo'

Diante de um grupo de políticos, religiosos e artistas, que lotaram neste sábado o Theatro Municipal do Rio, no centro da cidade, o papa Francisco fez um discurso em espanhol em que destacou a importância do 'diálogo construtivo' das lideranças com a sociedade. Ele também cobrou 'responsabilidade social' das autoridades.
"Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo aberto à verdade", afirmou o pontífice.
"Um país cresce quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: cultura popular, cultura universitária, cultura juvenil, cultura artística e tecnológica, cultura econômica e cultura familiar e cultura da mídia".
Francisco ressaltou ainda que "é impossível imaginar um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuição das energias morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura lógica da representação dos interesses constituídos."
"Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo e diálogo (...) Hoje ou se aposta na cultura do encontro, ou todos perdem", disse.
O papa também lamentou que o "sentido ético" apareça, atualmente, "como um desafio histórico sem precendentes" e cobrou responsabilidade social das autoridades.
"Somos responsáveis pela formação das novas gerações, capacitadas na economia e na política, e firmes nos valores éticos. O futuro exige de nós uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza (...) os gritos por justiça continuam ainda hoje", afirmou.
O pontífice lembrou ainda da "originalidade dinâmica" da cultura brasileira, segundo ele, importante para "integrar elementos diversos".
Durante a cerimônia, o papa recebeu de um índio pataxó um cocar feito com penas de garça e arara. Inesperadamente, ele colocou o objeto na cabeça imediatamente.

Tom político

Em sua visita ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), maior evento direcionado a jovens católicos, Francisco vem surpreendendo ao fazer pronunciamentos de cunho religioso, mas com teor político.
Quando foi à favela de Varginha, na última quinta-feira, ele criticou as desigualdades sociais e cobrou que a população continuasse lutando por um mundo mais "mais justo e mais solidário". Na ocasião, ele fez um apelo às autoridades públicas.
"Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social", afirmou ele durante a visita.
O papa também falou duramente contra a descriminalização das drogas, descrevendo os traficantes como "mercadores da morte". A declaração foi feita após inaugurar uma ala para o tratamento de dependentes químicos em um hospital na zona norte do Rio, na última quarta-feira.

Peregrinação

Do Theatro Municipal, o papa seguiu para um almoço com cardeais brasileiros e outros religiosos no Centro de Estudos do Sumaré, onde está hospedado.
Mais tarde, às 19h30, ele participa, de acordo com sua agenda oficial, de uma vigília com os jovens na praia de Copacabana .
O evento estava inicialmente previsto para acontecer no Campus Fidei, em Guaratiba, zona oeste do Rio, mas acabou transferido para a orla devido às fortes chuvas que atingiram o Rio desde a última terça-feira.
A área aberta, de mais de um milhão de metros quadrados, divididos em 22 lotes, cada um equivalente a sete campos de futebol do Maracanã, virou um lamaçal por causa do mau tempo.
A mudança teve um impacto logístico. A peregrinação, tradicional na Jornada Mundial da Juventude e que seria de 13 quilômetros, teve de ser alterada.
A nova caminhada parte da Central do Brasil, no centro da cidade, até Copacabana - atingindo uma distância total de 9,5 quilômetros.
Desde o início da manhã deste sábado, milhares de fiéis estão percorrendo o trajeto. Para facilitar o deslocamento dos peregrinos, a Prefeitura do Rio montou um esquema de trânsito especial, com a interdição de ruas e de avenidas.

Coreia do Norte celebra Aniversário do Armistício

A Coreia do Norte montou seu maior desfile militar neste sábado para marcar o 60º Aniversário do Armistício que encerrou a Guerra da Coreia. Mísseis foram conduzidos pela praça Kim Il Sung e aeronaves militares sobrevoaram o país, enquanto milhares de soldados marcharam.
O presidente da Coreia do Norte, Kim Jong Un, apareceu em um pódio ladeado por líderes partidários e militares. A principal autoridade militar da Coreia do Sul, Choe Ryong Hae, discursou para a multidão. "Um ambiente pacífico é mais importante que qualquer coisa para nosso país", afirmou Choe, alertando também que a Coreia do Norte tinha de estar pronta para a guerra.
O vice-presidente da China, Li Yuanchao, liderou uma delegação chinesa à Coreia do Norte e se juntou a Kim no pódio. Li é a autoridade chinesa mais importante a visitar Pyongyang desde que Kim tomou o poder.
Em Seul, a presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, pediu que a Coreia do Norte abandone suas ambições nucleares e aceite a mudança e a paz. "Se a Coreia do Norte fizer a escolha correta, nós expandiremos as trocas e a cooperação e abriremos ativamente o caminho para a prosperidade do Norte e do Sul", acrescentou Park. Fonte: Associated Press.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Brasileiro está entre as vítimas de acidente na Espanha

Um jovem de 25 anos, com dupla nacionalidade - brasileira e espanhola - é uma das vítimas fatais do acidente que deixou 78 mortos na cidade espanhola de Santiago de Compostela na última quarta-feira. Um dos maquinistas do trem foi preso.
O nome do brasileiro consta em uma lista de vítimas fatais divulgada pela imprensa da Galícia. Segundo o Itamaraty, a família pediu para que sua identidade e informações pessoais não fossem divulgadas.
A pasta afirmou ainda ter oferecido assitência consular para os familiares da vítima, mas eles teriam recusado a ajuda.
O trem, que viajava da capital espanhola Madri para a cidade costeira de Ferrol, descarrilou próximo a Santiago de Compostela.
Mais de 200 passageiros estavam a bordo, de acordo com a operadora de trens do país, Renfe. Muitos ficaram presos nas ferragens. Cerca de 30 feridos ainda estão hospitalizados.
Todos os 13 vagões teriam saído dos trilhos e quatro deles teriam tombado.
Os trens estavam especialmente cheios no dia do acidente por ser véspera de feriado, segundo o correspondente da BBC em Madri.
De acordo com o jornal espanhol El País, o antepenúltimo vagão do trem foi totalmente destruído. Passageiros que sobreviveram ao acidente relataram ao jornal que sentiram o trem tombar na curva e, em seguida, se viram "rodeados de mortos".
Analistas dizem que este seria o pior acidente de trem na Espanha em 40 anos.

Maquinista

Os primeiros relatórios sobre o caso sugerem que a possível causa do acidente pode ter sido o excesso de velocidade.
Uma investigação oficial está apenas no início mas, de acordo com o jornal espanhol El País, um dos dois condutores a bordo disse que entrou na curva a uma velocidade de 190 km/h, onde o limite de velocidade é 80 km/h.
Um dos maquinistas, Francisco Garzon, foi preso por conduzir o trem de forma negligente. Ele ainda está hospitalizado e se recusou a responder as perguntas da polícia.
De acordo com a agência de notícias AFP, o chefe da companhia ferroviária espanhola Renfe disse a uma emissora de rádio que o trem tinha sido aprovado em uma inspeção naquela manhã e que a vistoria não apontou problemas técnicos na composição.
Por isso, a investigação deve se concentrar nos sistemas de segurança da via que previnem que o limite de velocidade seja excedido.

Índice aponta Brasil mais rico, mas com desafios de inclusão social

Um ranking de países latino-americanos indicou que o Brasil de hoje é uma nação mais rica, mas que ainda fica atrás dos líderes regionais quanto o assunto é a inclusão social.
A análise de 16 países, feita por um grupo de estudos com sede em Nova York, olhou para aspectos que vão além de componentes econômicos como, por exemplo, a redução da pobreza, geralmente mencionada como indicador de maior inclusão.
Foram avaliadas algumas áreas que, acreditam os autores do indicador, explicam os protestos recentes no país e "criam critérios tangíveis" para balizar as políticas públicas.
A segunda edição do Índice de Inclusão Social pesou 21 variáveis de avanço econômico, inclusão financeira, direitos políticos e civis, acesso a educação e moradia, e avanço nas questões de gênero, raça e orientação sexual, para citar algumas facetas.
As informações foram coletadas a partir de fontes como a ONU, organizações multilaterais e pesquisas de opinião regionais.
"Nosso índice reflete o consenso emergente de que a inclusão social compreende um ambiente institucional, social, político e de atitudes que vai além da economia e da redução da pobreza e desigualdade", afirmaram os autores.
"No seu sentido mais básico, a inclusão social é uma questão de oportunidade: representa a combinação de fatores necessários para que um indivíduo desfrute de uma vida segura e produtiva como membro totalmente integrado à sociedade – independentemente de raça, etnia, gênero ou orientação social."

Desigualdade sistêmica

O Brasil liderou a América Latina em percentagem do PIB investido em programas sociais, por exemplo, uma medida importante para reverter desigualdades históricas de raça e gênero – na opinião dos analistas.
O país também foi considerado em melhor situação que outros vizinhos na existência de leis para proteção de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT). O critério utilizado se baliza puramente no reconhecimento dos direitos e dá pouco peso a problemas como a homofobia e a violência contra individuos LGBT, o que foi apontado como uma falha no índice.
O indicador colocou o Brasil nos últimos lugares do ranking em termos de participação da sociedade civil na vida pública e nos critérios que apontam a satisfação dos cidadãos quanto à sua capacidade de influenciar os destinos da sociedade. Os dados foram coletados antes dos protestos do mês passado.

Índice de Inclusão Social*


1 – Uruguai

2 – Chile

3 – EUA

4 – Costa Rica

5 – Brasil

*Foram analisados 16 países da América Latina. Fonte: Conselho das Américas
A crença dos brasileiros na reação do seu governo piorou quando foi feito o corte por raça e gênero.
"O Brasil fica para trás na região em termos da percepção pública sobre a capacidade de resposta do governo aos problemas da nação. E é muito difícil mudar isso (a percepção) do dia para a noite", disse à BBC Brasil Christopher Sabatini, diretor de Políticas da organização que criou o índice, o Conselho das Américas.
"Existe uma lacuna de tempo entre fazer isso e as percepções das pessoas mudarem."
Sabatini notou que a desigualdade econômica no Brasil diminuiu em todo o espectro da sociedade, mas a disparidade de acesso a serviços como saúde e educação de acordo com gênero, raça e etnia continua sendo um desafio persistente.
"O problema é que a ineficiência governamental é algo muito difícil de combater. O governo até agora tem se concentrado em macrorreformas em vez de trabalhar mais especificamente nas necessidades básicas como as que o índice aborda", afirma o especialista.
"Não basta simplesmente direcionar os recursos do petróleo para a educação, por exemplo. O que estamos mostrando é uma diferença real de acesso. Botar mais dinheiro em um sistema que já é desigual – seja o sistema educacional, de moradia, de Justiça ou o que for – não vai necessariamente resolver o problema."

Em construção

O indicador da inclusão social é reconhecidamente ainda um trabalho em construção, o que impede a comparação com a edição anterior do ranking – quando foram avaliados menos países e utilizados menos critérios.
Nesta edição, Venezuela e Argentina ficaram de fora. O Brasil ficou em 5º lugar, atrás de Uruguai, Chile, EUA e Costa Rica. Mas a pontuação brasileira ficou bem abaixo da dos dois primeiros, indicando que pode haver outros sinais da precariedade da inclusão social brasileira que não foram captadas neste estudo.
"Uma coisa que não captamos ainda foram as diferenças geográficas em um país imenso como o Brasil. O acesso a bens e serviços é diferente conforme raça, gênero, orientação sexual... e também localização geográfica. Isto inclui serviços do governo e empregos formais", disse Sabatini.
Durante a discussão em Washington, especialistas de várias áreas ligadas ao desenvolvimento humano fizeram sugestões para que a pesquisa passe a incorporar aspectos mantidos fora da consulta, como inclusão digital, segregação espacial, acesso a mais serviços, como transporte e justiça, e aspirações da juventude.
Durante o evento, os analistas fizeram uma comparação entre inclusão social e violência, indicando que os países menos inclusivos tendem a registrar mais altos níveis de violência.
O especialista que apresentou essas conclusões, Jason Marczak, teorizou que as sociedades mais inclusivas põem os seus atores em um "mesmo patamar" no debate público, esvaziando as justificativas para que se apele à violência.