domingo, 30 de setembro de 2012

Diretor de ‘Intocáveis’ diz que investidores duvidaram do filme

A comédia não convencional "Intocáveis", sobre um milionário tetraplégico e seu cuidador ex-presidiário, transformou-se no maior sucesso do cinema francês, dentro e fora da França. Em cartaz no Brasil, ela disputa uma nomeação para concorrer ao Oscar. Mas seus autores contam que tiveram dificuldade em captar dinheiro para concretizar o filme.
"Até quando contávamos (o enredo do filme) para amigos, o queixo deles caía", conta à BBC o codiretor Eric Toledano.
Ele diz que um dos investidores chegou a perguntar se o personagem principal "não poderia andar um pouco no final do filme".
Até que Toledano e seu colega Olivier Nakache decidiram buscar apoio não apostando no enredo, mas em sua experiência como diretores, bem como no fato de "Intocáveis" ser baseado em uma história real.
Trata-se da história do aristocrata francês Philippe Pozzo di Borgo e seu cuidador Abdel Sellou.
"Achávamos que a história tinha todos os ingredientes que amamos no cinema", afirma Nakache. "Queríamos fazer uma comédia realista a respeito de um tema profundo".
No filme, o milionário é interpretado pelo ator François Cluzet. Sem poder fazer nenhum movimento do pescoço para baixo, ele decide o improvável: contrata Driss, um ex-presidiário negro interpretado por Omar Sy, para cuidar dele. A relação entre os dois homens guia o filme.

‘Imagem poderosa’

Para Nakache, na vida real, a conexão entre Abdel e Philippe ocorria "pelo humor".
"E não um humor qualquer, mas sim especial; um humor sem limites, que os torna nada convencionais. Um é negro, um é branco; um é rico, um é pobre, e eles podem falar qualquer coisa (um para o outro)."
Cena de 'Intocáveis'
Filme 'toca as pessoas', opina o diretor Eric Toledano
O filme já arrecadou cerca de US$ 364 milhões no mundo, mais do dobro do que outro filme francês de sucesso – e premiado no Oscar -, "O Artista".
O motivo do êxito não está claro para Toledano, mas ele supõe que seja "porque o filme fala com as pessoas e toca as pessoas".
"Além disso, especialmente na França, nos questionávamos se (o filme) funcionaria por causa da má situação econômica na Europa. Mas aparentemente as pessoas precisam dar risada."

Oscar e versão em inglês

Com a força da poderosa produtora Weinstein Company, que orquestrou a bem-sucedida campanha de "O Artista" no Oscar, "Intocáveis" foi selecionado para representar a França como potencial indicado à categoria de filme estrangeiro na próxima premiação.
"Não há dúvidas de que (‘Intocáveis’) será um favorito ao Oscar", disse Harvey Weinstein à BBC. "É uma história tão tocante, engraçada e charmosa, é tudo o que gosto em um filme."
Sem dúvida o sucesso de "O Artista" abriu portas para "Intocáveis". E o apoio de Weinstein ao filme de Toledano e Nakache cresceu após críticas do político de direita Jean-Marie Le Pen, que acusou a obra de exaltar a imigração (o personagem Driss é um imigrante norte-africano).
Toledano e Nakache, diretores do filme
Toledano e Nakache, diretores de 'Intocáveis', se basearam em uma história real
Le Pen disse, em entrevista a uma emissora local, que a França é como "a pessoa deficiente presa a uma cadeira de rodas", ou seja, como o personagem branco do filme.
Weinstein chamou a crítica de "repulsiva".
Toledano, por sua vez, tenta distanciar-se da política. "Sou apenas um escritor e diretor. Mas acho que, quando você faz sucesso, acaba tendo de nadar com os tubarões."
Agora, Weinstein, responsável por outros sucessos de Hollywood, como "Pulp Fiction" e "Shakespeare Apaixonado", tem planos de adaptar "Intocáveis" para o inglês. Colin Firth (de "O Discurso do Rei") está cotado para o papel de Philippe.
"Ele é um ótimo ator, gostamos muito dele em 'O Discurso do Rei'", afirma Toledano. "Se há que ser feito um remake, que seja com ele."
Mas os diretores franceses provavelmente não se envolverão no projeto em inglês. "Confiamos em Harvey (Weinstein), mas, quanto a nós, já fizemos o filme que queríamos. Agora vamos pensar na nossa próxima aventura."

Orçamento para Copa de 2018 já chega ao dobro do previsto

A Rússia revelou neste domingo que o orçamento preliminar para a realização da Copa do Mundo de futebol de 2018 já chegou a quase o dobro do que o previsto quando o país foi escolhido para sediar o torneio, em 2010.
O ministro dos Esportes, Vitaly Mutko, anunciou um orçamento de 600 bilhões de rublos (cerca de R$ 38,9 bilhões), dos quais quase 40% serão gastos para a construção ou renovação de estádios.
O restante deverá ser gasto com obras de transportes e infraestrutura.
Segundo Mutko, os custos deverão ser divididos entre os setores público e privado.
No Brasil, que organiza a próxima Copa do Mundo, em 2014, o último levantamento divulgado pelo governo, em maio, indica um orçamento total de R$ 27,1 bilhões.

Qualidade 'impressionante'

A Rússia foi escolhida pela Fifa como sede da Copa de 2018 numa eleição polêmica, em que venceu a favorita Grã-Bretanha e as candidaturas conjuntas de Portugal e Espanha e de Bélgica e Holanda.
Onze cidades-sede foram escolhidas para abrigar os jogos da Copa, todas na parte europeia da Rússia: Moscou (com 2 dos 12 estádios), São Petersburgo, Sochi, Yekaterimburgo, Kazan, Nizhny Novgorod, Rostov-on-Don, Samara, Kaliningrado, Volgogrado e Saransk.
Em um comentário durante a mesma conferência em Moscou na qual foram anunciados o orçamento e as sedes, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, afirmou que, se depender da proposta russa, a qualidade dos estádios em 2018 será "impressionante".
O presidente da Fifa, Sepp Blatter, afirmou por sua vez que o futebol está se expandindo o tempo todo.
"Vocês podem imaginar que tivermos um representante da Síria nos comitês da Fifa na semana passada e eles jogam futebol na Síria?", disse. "Talvez não em Aleppo agora, mas eles jogam futebol na Síria", disse.
A cidade de Aleppo sofre com a violência do conflito entre as forças que tentam derrubar o presidente Bashar Al-Assad e a repressão oficial do governo sírio.
"Vocês sabiam que no Afeganistão eles têm uma liga de futebol? O futebol é jogado em todos os lugares. O futebol dá às pessoas esperança e conecta essas pessoas", afirmou Blatter.
Ele observou ainda que em 2018 a Copa do Mundo chegará pela primeira vez à "parte leste da Europa".

Armas de Bonnie e Clyde vão a leilão nos EUA

As armas usadas pelo notório casal de assaltantes americanos Bonnie Parker e Clyde Barrow vão a leilão neste domingo nos Estados Unidos.
A história de Bonnie e Clyde, que morreram cravejados de balas pela polícia em 1934, foi transformada em 1967 em um filme vencedor de dois Oscars, com Warren Beatty no papel de Clyde e Faye Dunaway no papel de Bonnie.
Os crimes cometidos pela dupla em pleno auge da Grande Depressão os colocou como figuras de destaque no imaginário americano.
As armas do casal serão vendidas como parte de um leilão intitulado American Gangsters, Outlaws and Lawmen (Gangsters Americanos, Foras da Lei e Homens da Lei), realizado pela companhia de leilões RR Auction no Estado de New Hampshire.
A empresa estima entre US$ 150 mil e US$ 300 mil (R$ 300 mil a R$ 600 mil) o valor dos lances pelo revólver Colt Detective Special .38 de Bonnie e pela pistola 1911 Army Colt .45 de Clyde.
O leilão terá também pertences de Al Capone e do detetive Eliot Ness, entre outros nomes conhecidos.

'Tragédia de Shakespeare'

Bonnie Parker e Clyde Barrow ganharam notoriedade por uma série de assaltos a banco e assassinatos até serem mortos pela polícia em uma emboscada em 23 de maio de 1934.
Além das armas que o casal portava, também deverão ser leiloados objetos retirados do carro onde eles foram mortos, como o estojo de maquiagem de Bonnie e um maço de fotos.
O professor aposentado de história E.R. Milner afirma que é clara a razão pela qual o casal ganhou tanta notoriedade.
"Os americanos e, acredito, a maioria das pessoas, adoram amantes... e aqui estavam estes jovens no meio da pior depressão econômica da história do mundo lutando pelo que acreditavam que era certo e amando um ao outro", disse ele à BBC.
"Era quase como uma tragédia de Shakespeare transportada para uma estrada poeirenta da Louisiana", afirmou.

Baixas dos EUA no Afeganistão chegam a 2.000

Um ataque neste sábado em um posto de controle no leste do Afeganistão provocou a 2.000ª morte entre militares americanos no país desde a invasão no final de 2001.
Além do soldado americano, um mercenário estrangeiro e soldados afegãos também foram mortos no ataque, supostamente promovido por um agente infiltrado da insurgência nas forças de segurança afegãs.
Os ataques promovidos por membros das forças do Afeganistão vêm aumentando neste ano e já levaram as forças da coalizão internacional a suspender operações conjuntas com as forças afegãs neste mês.
Segundo o Pentágono, as operações conjuntas haviam sido retomadas apenas há alguns dias.
A nacionalidade do mercenário estrangeiro morto no ataque não foi divulgada.

Dúvidas sobre retirada

Mortes no Afeganistão

  • 2.000 soldados americanos
  • 1.066 soldados não americanos da coalizão
  • 20.000 civis (aproximadamente)
  • 10.000 soldados afegãos (aproximadamente)
  • centenas de mercenários estrangeiros
  • número desconhecido de insurgentes
Ao menos 52 soldados estrangeiros - cerca de metade deles americanos - foram mortos neste ano em ataques classificados com "verde contra azul" (em referência aos uniformes verde das forças afegãs e azuis das forças lideradas pela Otan).
Em todo o ano passado, ataques desse tipo haviam deixado 35 mortos no total.
Centenas de soldados afegãos já foram dispensados ou detidos após uma investigação sobre os ataques internos.
O aumento desse tipo de ocorrência vem reduzindo ainda mais o apoio à guerra em países que participam da coalizão internacional.
Isso também vem elevando as dúvidas sobre a capacidade da Otan de manter seu cronograma de retirada das tropas de combate do país, prevista para 2014, quando apenas um pequeno contingente estrangeiro permaneceria no país treinando e orientando as forças afegãs.

Arma apontada

Soldado americano no Afeganistão
Segundo levantamento, 40% das mortes foram provocadas por explosivos improvisados
As duas mortes deste sábado ocorreram na Província de Wardak, segundo um porta-voz da coalizão internacional.
Um soldado afegão teria apontado sua arma para os militares americanos e começado a disparar.
Autoridades afegãs dizem que o incidente ocorreu em um posto de checagem próximo a uma base do Exército afegão no distrito de Sayedabad.
O chefe de polícia de Wardak disse à BBC que alguns soldados afegãos também foram mortos.

Estimativas

A contabilização da 2.000ª morte de militar americano no Afeganistão foi confirmada pelas Forças Armadas do país neste domingo. Durante a guerra no Iraque, 4.409 soldados americanos foram mortos.
A contagem de mortos inclui tanto soldados mortos em ação quanto aqueles que morreram posteriormente no hospital ou mortos fora de situações de combate.
Um relatório do Instituto Brookings, dos Estados Unidos, estima que 40,2% das mortes de americanos no Afeganistão foram causadas por explosivos improvisados e 30,3% por ataques armados.
Segundo os números oficiais, ao menos 17.644 soldados americanos já foram feridos em ação no Afeganistão.
Entre os militares britânicos - o segundo maior contingente no país - o total de mortes chega a 433.
Não há dados exatos sobre o total de mortos entre os afegãos, mas a maioria das estimativas calculam ao menos 20 mil civis e 10 mil membros das forças afegãs mortos.
Também não há dados sobre o total de mortes de membros do Talebã ou de outros grupos insurgentes.

sábado, 29 de setembro de 2012

Polícia registra dois assassinatos na manhã deste sábado em Natal

Crimes aconteceram no bairro de Igapó e Paço da Pátria.
Vítimas são homens não identificados; polícia suspeita de acerto de contas.

A Polícia Militar do Rio Grande do Norte registrou, na manhã deste sábado (29), dois crimes de homicídio. O primeiro, no bairro de Igapó, na zona Norte de Natal. O segundo, no Paço da Pátria, zona Leste da capital. Em ambos, suspeita-se de acerto de contas, provavelmente em razão de envolvimento com o tráfico de drogas.
No primeiro assassinato, policiais do 4º Batalhão da PM disseram que a vítima ainda não havia sido identificada. As poucas informações que se têm até o momento, no entanto, dão conta de que ele foi alvejado por disparos de arma de fogo quando caminhava pela rua Henrique Dias.
Diligências foram realizadas, mas nenhum suspeito foi encontrado. O crime será investigado pelo 9º Distrito Policial.
Já no segundo homicídio, no Paço da Pátria, a vítima também foi um homem. Segundo o subtenente Marcos Antônio, um homem jovem, mas que também não foi identificado, morreu de forma semelhante, tendo sido atingido por disparos de um revólver.
"Nossa viatura foi acionada por volta das 6h50. E quando chegamos ao local, o Samu já havia sido chamado para dar socorro. Mas, infelizmente, a vítima já estava morta e os socorristas não puderam fazer nada", disse o policial, acrescentando que, na região, as moradores contaram que o homem morto não é conhecido.
O crime aconteceu na rua Beira Canal, nas proximidades da igreja católica São Francisco.
A investigação do assassinato ficará sob a responsabilidade da 1º Delegacia de Polícia.

Hebe fez história ao participar das primeiras transmissões da TV brasileira

Morreu neste sábado a apresentadora Hebe Camargo, de 83 anos, vítima de uma parada cardíaca. Conhecida como a dama da TV, Hebe participou da fundação da televisão brasileira, em 1950, e de momentos históricos das primeiras transmissões ao vivo.
Tanto que, quando questionada sobre há quanto tempo estava na televisão, ela retrucava com outra pergunta: "Quantos anos tem a televisão?".
Hebe fez parte do grupo que foi, com Assis Chateaubriand, ao Porto de Santos buscar os equipamentos importados para criar a primeira emissora de TV do país, a TV Tupi, onde participou de diversas das primeiras transmissões e programas.
Ela apresentou também o primeiro número musical da TV Tupi: ainda em 1950, ao lado de Ivon Curi - os dois eram extremamente populares na época -, cantou ao vivo a canção "Noite de Luar", hoje um registro histórico dos primórdios da televisão.
A apresentadora chegou a apresentar cinco programas semanais nos anos 1950. Em 1955, destacou-se com o primeiro programa feminino da TV brasileira, chamado "O Mundo é das Mulheres".
Mais tarde, participou também de novelas, como "As Pupilas do Senhor Reitor", de 1970, na TV Record, e "O Profeta", em 1978, de volta à TV Tupi.
Começou no formato talk show na década seguinte, na TV Bandeirantes, com o programa "Hebe". Em 1986, levou a atração para o SBT, onde ficou até 2010. Teve uma passagem pela Rede TV! entre 2011 e 2012, mas havia acabado de negociar sua volta à emissora de Silvio Santos, em acordo anunciado na semana passada.

História

Hebe nasceu em 8 de março de 1929, em Taubaté (SP), e começou sua carreira como cantora, ao lado de sua irmã Stella.
Elas formavam a dupla Rosalinda e Florisbela, primeiro com músicas caipiras; depois elas passaram a apresentar sambas e boleros em boates. Hebe então fez carreira no rádio e, em seguida, na TV.
Em 2010, a apresentadora foi diagnosticada com um câncer no peritônio, que a levou a ser submetida a uma cirurgia e a sessões de quimioterapia.
Em março deste ano, foi internada novamente para a retirada de um tumor no intestino; meses depois, fez uma cirurgia para a retirada da vesícula. Sua última internação fora no final de agosto.
Hebe morreu em casa, em São Paulo, na manhã deste sábado, enquanto dormia. Em nota, o SBT lamentou "a perda" da apresentadora. O velório será ainda neste sábado, no Palácio dos Bandeirantes.

Agência iraniana publica como verdade texto de jornal satírico dos EUA

Uma agência de notícias ligada ao governo do Irã republicou no país como notícia um texto do jornal humorístico americano The Onion, que dizia que os americanos brancos da zona rural prefeririam votar no presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, do que no atual presidente americano, Barack Obama.
Reproduzindo o texto publicado no site do Onion palavra por palavra, a agência Fars afirma que uma pesquisa de opinião verificou que 77% dos americanos brancos consideravam ir a um jogo de beisebol ou passar tempo na companhia de Ahmadinejad uma melhor opção do que encontrar Obama.
Um suposto morador do Estado de Virgínia Ocidental afirma na reportagem: "Eu gosto mais dele (Ahmadinejad)".
A "reportagem" foi publicada somente no site da Fars em inglês, não em persa. O texto foi posteriormente retirado do ar pela agência.
A agência, afiliada à Guarda Revolucionária do Irã, não dá crédito ao Onion em seu texto.
O mesmo morador fictício de Virgínia Ocidental diz no texto que o líder iraniano "leva a sério a defesa nacional e nunca deixaria manifestantes gays dizerem a ele como conduzir seu país, como Obama faz".
Fundado em 1988, o Onion é um dos principais meios satíricos dos Estados Unidos, com uma tiragem média de 400 mil exemplares semanais em sua versão impressa.
Esta não é a primeira vez que o conteúdo do jornal é reproduzido inadvertidamente como verdade em outros países.
Em 2002, o jornal estatal chinês Beijing Wanbao, de Pequim, reproduziu um texto do Onion que dizia que o Congresso americano ameaçava deixar Washington se um novo Capitólio não fosse construído.
Em 2009, dois jornais de Bangladesh pediram desculpas públicas após republicar um texto que afirmava que os pousos na Lua eram falsos.

Subúrbio de Damasco mostra fim da 'bolha' de paz em meio a conflito na Síria

Mais de um ano e meio após o início do conflito na Síria, moradores de áreas até então relativamente pacíficas vêm relatando o aumento dos confrontos violentos nessas regiões.
A correspondente da BBC Lyse Doucet, que acaba de voltar da Síria, diz que sua visita deixou claro para ela que mais e mais partes do país vêm sendo envolvidas na rebelião contra o regime do presidente Bashar Al-Assad.
Em um país em guerra, muitas vezes um lugar pequeno como Barzeh funciona como um claro exemplo da situação mais ampla.
Encontrar o vilarejo no mapa pode ser uma luta. Mas no mapa humano da Síria, esse subúrbio da capital, Damasco, aparece com proeminência.
O bairro serve para contar uma história extraordinária. Os atos de coragem de seus habitantes contam muito sobre Barzeh e sobre a Síria.
Em sua primeira visita à Síria, há um ano, a correspondente da BBC encontrou Damasco considerada uma bolha, ainda intocada pelos protestos do restante da Síria.
A capital, bastião do regime, era fortemente protegida e policiada pelos serviços de inteligência. Qualquer foco de protesto era facilmente eliminado.

Medo

Bilhete
População local tinha medo de falar, mas ainda assim encontrava meios de se comunicar
Em Barzeh, o medo era palpável. Na saída da principal mesquita do bairro, a presença pouco comum de jornalistas estrangeiros atraía uma multidão. Mas eles se mantinham longe dos microfones, preferindo os olhares para dizer que não podiam falar.
Um homem então passou um pedaço de papel amassado à mão de um dos membros da equipe da BBC. A mensagem dizia: "Obrigado. Mas ninguém pode falar com vocês porque o Exército está nas ruas. Todo o povo está com medo".
Outro homem cochichou ao passar rapidamente pelo local: "Olhe para aquela rua". Tropas sírias esperavam ao longe.
Seis meses depois, Doucet voltou ao bairro e à mesquita. Um idoso que passava pelo portão acenou.
"Não me pergunte o que está acontecendo. Vá falar com os jovens na rua", disse. O Exército não ocupava mais a posição que ocupava seis meses antes.
Alguns jovens se aproximaram. O medo tinha desaparecido. Entre as vielas da região, homens, mulheres e crianças faziam uma passeata, gritando palavras de ordem contra o presidente Al-Assad,
Eles pediram que a equipe os acompanhasse, até que o grupo chegou a uma casa com vários furos de tiros. A casa, segundo eles, era usada pela oposição armada, o Exército Livre da Síria, até ser atacada pelo governo.
A guerra síria havia chegado aos subúrbios da capital.

Explosões

Fumaça sobre o céu de Damasco
Fumaça escura e barulhos de tiros e explosões são agora algo comum em Damasco
Agora, seis meses depois, o conflito já está no coração de Damasco.
Em sua última visita, a correspondente da BBC encontrou uma cidade muito diferente.
Todos os dias, cortinas de fumaça preta e branca aparecem no céu claro. É possível ouvir disparos noite e dia, explosões, sirenes.
Alguns bairros ainda mantêm seu charme lendário - parques bem cuidados, onde famílias fazem piqueniques e casais jovens flertam, lojas vistosas de especiarias e doces, cafés cheios com pessoas jogando conversa fora.
Mas outros bairros parecem arruinados. A bolha de Damasco se rompeu. Os repetidos pedidos ao governo - que controlava a visita - para ir a uma das áreas sob bombardeio foram negados.
"É muito perigoso, e sua proteção é nossa prioridade", respondiam os funcionários encarregados.
Então uma noite a repórter da BBC ouviu que Barzeh estava sob ataque e insistiu que a equipe deveria pelo menos poder ir até lá. E voltou então à mesma mesquita, na mesma rua.

Funerais

Buracos de tiros
Com intensificação do conflito, várias casas em Barzeh agora têm marcas de tiros
Desta vez, um grupo de soldados controlava um posto de checagem bem diante da mesquita. Eles avisaram que a equipe de reportagem não poderia avançar.
"As coisas estão bem", disse um homem. Outro indicou, com um gesto com a mão, que não estava tão seguro disso.
Os soldados disseram que a reportagem poderia conversar com as pessoas perto do posto de checagem, mas acompanhavam as entrevistas e anteciparam a um lojista o que ele deveria falar.
Ainda assim, Barzeh encontrou uma maneira de contar sua própria história.
Primeiro foi a mesquita. O alto-falante começou a funcionar, anunciando funerais. Duas pessoas, segundo o anúncio, haviam sido mortas no dia anterior pela violência.
A correspondente da BBC começou então a andar pela rua quase deserta, sem ser incomodada pelos soldados.
Uma mulher jovem estava na rua com seu filho. Questionada, ela disse que as coisas estavam bem, mas foi interrompida pelo filho.
"Você deveria dizer a ela", ele insistiu. "Os helicópteros atacaram ontem. Estávamos em casa, porque estamos com muito medo. Imploramos a eles que parem", disse.
Ainda assim, os protestos por lá continuavam, segundo ele.
Damasco é uma cidade divida ente aqueles que ainda apoiam o presidente, e lutam por ele, e aqueles que não o apoiam, e lutam contra ele.
Essa é a Síria hoje. Todos têm suas histórias. E são histórias de uma guerra que vem piorando. Isso é o que a Barzeh nos conta.

Chamado de Bas-Congo, agente é geneticamente parecido com vírus causador da raiva, mas seus sintomas graves aparecem de forma muito mais rápida

Chamado de Bas-Congo, agente é geneticamente parecido com vírus causador da raiva, mas seus sintomas graves aparecem de forma muito mais rápida

Modelo de rhabdovírus:
Modelo de rhabdovírus: Novo vírus decifrado, que matou duas pessoas no Congo em 2009, é geneticamente parecido com a família do agente causador da raiva (UCSF)
Um consórcio internacional de pesquisadores concluiu que uma doença que provoca febre hemorrágica aguda e que deixou dois mortos e uma pessoa gravemente doente no verão de 2009 na República Democrática do Congo foi provocada por um vírus até então desconhecido pelos cientistas. O Bas-Congo (BASV), como foi denominado pelos especialistas, foi descrito em um artigo publicado nesta semana no periódico PLoS Pathogens.

Surto do vírus Ebola no Congo

Desde o dia 15 de setembro deste ano, 33 pessoas já morreram na República Democrática do Congo vítimas de uma epidemia do vírus Ebola que afeta o nordeste do país, segundo um balanço provisório do Ministério da Saúde. Até esta semana, foram registrados 79 casos — sendo que 19 foram confirmados e o restante, classificados como prováveis ou suspeitos. De acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de mortalidade da infecção pelo vírus é de quase 42%. A doença é transmitida por contato direto com o sangue, com as secreções corporais, por via sexual e pela manipulação sem precaução de cadáveres contaminados.
Para os autores da pesquisa, estudar um vírus desconhecido é importante pois fornece uma vantagem no controle de futuros surtos. Charles Chiu, especialista da Universidade da Califórnia, San Francisco, nos Estados Unidos, e outro autor do trabalho, afirma que, embora esses três casos do Congo tenham sido os únicos conhecidos da doença, não está descartada a possibilidade de haver focos desse vírus novamente. Por isso, Chiu e sua equipe, mesmo após a publicação do artigo, continuarão a pesquisar formas de diagnosticar e tratar a infecção pelo Bas-Congo.
O vírus — De acordo com o estudo, o Bas-Congo é diferente de outros vírus que também infectaram pessoas na África e provocaram mortes por febre hemorrágica aguda — como o Ebola e o Lassa. Segundo os autores, o novo agente é geneticamente mais parecido com a família dos rhabdovirus, que infectam mamíferos, insetos e plantas e cujo membro mais famoso é o vírus causador da raiva. Mesmo entre essa família, porém, o Bas-Congo se mostra muito distinto, já que desencadeia sintomas graves de maneira muito rápida. A raiva, por exemplo, pode demorar meses para se desenvolver após a infecção.
Essas conclusões se basearam em testes de anticorpos realizados no único sobrevivente entre os três que foram infectados pelo vírus e em outros indivíduos que haviam tido contato com esse paciente. A pesquisa ainda sugeriu que o Bas-Congo pode ser transmitido de uma pessoa a outra, mas que provavelmente sua origem está em outra fonte, como um inseto ou um roedor. Ainda não está claro, porém, que animal é esse e de que forma o vírus é espalhado.
"O fato de que o Bas-Congo pertence a uma família de vírus que infecta uma grande variedade de seres vivos significa que ele pode existir permanentemente em um inseto ou outro hospedeiro e que foi acidentalmente transmitido aos seres humanos através de picadas de insetos", afirma Nathan Wolfe, outro autor do trabalho.
O consórcio de pesquisadores responsável por analisar o novo vírus é composto por cientistas de instituições como a Universidade da Califórnia de San Diego e de San Francisco, nos Estados Unidos, o Centro Internacional de Pesquisas Médicas de Franceville, no Gabão, e o Instituto Nacional de Pesquisas Biomédicas de Kinshasa, no Congo.
Histórico — Em 2009, um menino de 15 anos morador de uma pequena comunidade rural localizada em Mangala, uma cidade da República Democrática do Congo, ficou doente e apresentou sintomas como sangramentos no nariz e na gengiva e vômitos. Após três dias dos primeiros sinais da doença, o paciente morreu. Uma semana depois do caso do jovem, uma menina de 13 anos que morava no mesmo bairro apresentou uma doença semelhante e também morreu três dias depois do surgimento dos sintomas. O enfermeiro que cuidava dessa menina passou a apresentar sintomas semelhantes, e foi logo transferido para um hospital em uma cidade vizinha.

Os vírus mais perigosos do mundo

Alguns são capazes de infectar milhões e provocar epidemias globais. Outros matam mais da metade dos infectados. Conheça alguns dos organismos mais terríveis do planeta:

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Varíola

Criança etíope, em 1970, com o rosto coberto pelas feridas causadas pela varíola Quando surgiu: Entre os humanos, provavelmente há 10.000 anos, com o advento da agricultura
Origem: Não se sabe se a doença nasceu na África ou na Ásia. Análises de DNA mostram que o vírus se assemelha à varíola do camelo. Foi o primeiro vírus erradicado na história, em 1977, após uma massiva campanha de vacinação mundial.

Vítimas: Durante séculos, sem tratamento, matava 30% dos infectados. Somente no século 20, foram 300 milhões de mortes.

Por que é perigoso: Erradicado desde a década de 70, ainda existem cópias de seu DNA em laboratórios na Rússia e nos Estados Unidos. A população mundial não possui mais imunização contra o vírus. Pode ser transformada em uma arma biológica caso caia nas mãos de terroristas.

Em clima de pessimismo, salão do automóvel de Paris aposta em emergentes

O salão do automóvel de Paris abre suas portas ao público neste sábado num momento de forte queda nas vendas de carros na Europa. Para tentar superar a crise, as montadoras do continente apostam nos mercados emergentes e na sofisticação de seus lançamentos.
A Renault acaba de revisar novamente para baixo suas previsões de queda nas vendas de automóveis na Europa neste ano, que passou a ser de 8%. Na França, a redução estimada é de 13%.
"Devido à degradação dos mercados europeus, que representam 50% do nosso volume, a previsão de aumentar as vendas mundiais neste ano está sob forte pressão", afirmou o brasileiro Carlos Ghosn, presidente da Renault.
O salão parisiense acontece em clima de pessimismo geral quanto à situação do setor automotivo na Europa, que não deve melhorar no médio prazo, na avaliação das grandes montadoras.
Philippe Varin, presidente do grupo PSA Peugeot Citroën, segundo maior fabricante de carros do continente, prevê que o desempenho do mercado europeu fique próximo de zero em 2013 ou levemente negativo.
Segundo ele, "há excesso de capacidade produtiva na Europa e é evidente que outras montadoras deverão fechar fábricas".

Demissões

O grupo PSA Peugeot Citroën registrou um prejuízo de mais de 819 milhões de euros (R$ 2,1 bilhões) no primeiro semestre e anunciou um plano que prevê 8 mil demissões na França e o fechamento da fábrica de Aulnay-sous-Bois, nos arredores de Paris, onde é fabricado o C3 da Citroën.
A alemã Volkswagen, líder no continente, também está pessimista em relação ao mercado europeu e "não espera nenhuma melhora rápida", disse o diretor de vendas, Christian Kingler.
A estratégia adotada pelas montadoras para enfrentar o marasmo na Europa, reiterada nas entrevistas realizadas no salão em Paris, é o reforço do processo de internacionalização de suas marcas nos mercados emergentes.
O crescimento médio da produção mundial de carros deverá ser de 5,6% ao ano no período 2011-2018. Os mercados emergentes representarão, sozinhos, 83% desse volume adicional, sendo que boa parte desse aumento ocorrerá graças à China, segundo previsões da consultoria PwC .
As palavras "sofisticação" e "internacionalização" foram repetidas inúmeras vezes pelos executivos das montadoras Peugeot e Citroën nas apresentações dos novos modelos no salão do automóvel de Paris.
"Os desafios são grandes neste período difícil que atravessamos. Continuamos nossa estratégia de tornar os veículos mais sofisticados e de ampliar nossa presença internacional", afirmou Maxime Picat, presidente da Peugeot.
"Hoje, 20% dos nossos modelos vendidos no mundo são premium", declarou Picat.

Produção no Brasil

A Peugeot divulgou o novo 301, um sedã compacto destinado a mercados emergentes, incluindo o Brasil, onde poderá também ser produzido.
"O 301 nos permitirá desenvolver os mercados internacionais", afirmou Xavier Peugeot, diretor de produto da marca.
Além das versões GTi e XY (mais sofisticadas) do hatch 208, a Peugeot apresentou ainda o carro-conceito 2008, ainda sem data de lançamento na Europa. Ele deverá ser produzido inicialmente na França e depois na China e no Brasil, em Porto Real, no Rio de Janeiro.
A Citroën apresentou dois lançamentos destinados exclusivamente aos mercados emergentes: o C.4L, modelo premium cuja produção deverá começar na China no final deste ano, e o sedã C-Elysée, que será vendido no final deste ano e visa os mercados da Turquia, Europa Central e dos países do norte da África.
A Renault apresentou o Clio 4, que ganhou novo design, mais contemporâneo, e novos motores, que emitem menos CO2.
O novo modelo, segundo Ghosn, também será produzido no Brasil, ainda sem data prevista.
"O Clio é um carro global. Ele foi criado tendo a Europa como foco, mas é evidente que será vendido no mundo todo", disse o presidente da Renault.
O presidente francês, François Hollande, visitou o salão do automóvel de Paris na tarde desta sexta-feira e se comprometeu a apoiar a competitividade do setor automotivo francês, que está entre os mais afetados pela crise na Europa.
As montadores pedem a redução dos custos trabalhistas no país. O governo francês apresentou em julho um plano de apoio voltado para os carros elétricos e híbridos.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Mortes em UPPs estão caindo, apesar de recentes assassinatos

No último dia 4 de setembro, Flávio Duarte, o "Flávio da padaria", com 40 anos, presidente da Associação Comercial dos Macacos, no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, foi assassinado com cinco tiros. Dois dias depois, na mesma comunidade, Gilmar Paiva de Campos, de 54 anos, conhecido como "Russo", foi morto a tiros dentro de casa, no local conhecido como Pau da Bandeira, próximo à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
Os dois crimes assustam aqueles que acreditavam que com as Unidades de Policia Pacificadora (UPP) esse tipo de drama estaria encerrado. As vítimas podem ter sido mortas justamente por terem bom relacionamento com os policiais da comunidade, que frequentavam a padaria de Flávio. Nos Macacos, a UPP chegou em novembro de 2010.
Apesar destes dois assassinatos, os números levantados pela pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública com o Laboratório de Análise da Violência da Uerj mostram que os homicídios nas favelas com UPP tem caído. No período de seis meses após a pacificação, os casos de morte violenta a até 1km da UPP dos Macacos caiu 53% - eram 13 e foram registrados apenas 6. O número de roubos também caiu 27,2%.
Mas, em compensação, os crimes menos violentos apresentaram aumento. Os furtos subiram 26,9%; as lesões corporais dolosas 14,4%; e as vítimas de violência doméstica cresceram 35%. O número de estupros também cresceu de 7 para 11 depois da chegada da UPP dos Macacos.
Na Cidade de Deus, um levantamento das ocorrências no primeiro ano após a pacificação mostra resultados parecidos. O número de homicídios registrado a até 1km da UPP caiu, embora continue alto: eram 22 e passaram a ser 14 na comparação com o mesmo período do ano anterior. Também caíram os registros dos casos de estupros: eram 13 e passaram a ser 8. Já os outros crimes também aumentaram.
Perto de completar quatro anos, o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) – iniciado em 2008 no morro Santa Marta – já contabiliza bons resultados. O Instituto de Segurança Pública registrou no primeiro semestre deste ano o menor número de homicídios no Rio desde 1991, início da série histórica. Um resultado que certamente tem ligação com a implantação das UPPs, como mostra o levantamento. Ele, por sua vez, aponta para o crescimento de outros crimes como roubo, estupro e violência contra pessoa nas áreas com UPP.
Pequenos delitos aumentam sem o 'Dono do Morro'
A pesquisa analisou mensalmente os registros de crimes ocorridos em 13 favelas pacificadas (Andaraí, Batam, Borel, Chapéu-Mangueira/Babilônia, Cidade de Deus, Santa Marta, Formiga, Macacos, Pavão/Pavãozinho/Cantagalo, Providência, Salgueiro, Tabajaras e Turano) durante 66 meses. A média dos casos de homicídios nestas áreas teve grande redução, passando de quatro ou mais por mês para menos de dois. A redução maior, como esperado, acontece com mortes em intervenções policiais, que caíram de 0,5 por mês, para quase zero depois do estabelecimento da polícia nas comunidades.
A exemplo do que aconteceu nos Macacos e na Cidade de Deus, o fim do controle pelo tráfico resultou também em um aumento dos registros de crimes não letais contra a pessoa e contra a propriedade nas áreas de UPP. Em média, as vítimas de lesões dolosas triplicaram, o número de estupros mais que dobrou e os furtos subiram 64%. Já os casos de roubo tiveram queda de 46%.  Uma explicação possível é que após a entrada da polícia, a favela deixa de ter a presença intimidadora do chefe do tráfico agindo como mediador e juiz nos casos internos. Decidindo pela expulsão, tortura ou morte dos acusados.
Após a instalação da UPP na Rocinha, a reportagem do JB entrevistou moradores quanto ao clima na comunidade. O consenso era de que houve diminuição da violência armada, mas as reclamações evidenciavam o aumento de outros crimes: “Não havia roubos e assaltos aqui. Ultimamente têm acontecido mais roubos à residência”, contou uma moradora.
O estudo também faz uma análise da posição geográfica das UPPs, levantando uma questão curiosa. Apesar de historicamente serem as regiões mais violentas, as Zonas Norte e Oeste são justamente as duas áreas menos contempladas pelas UPPs. Na Zona Norte as unidades se concentram apenas no entorno do Maracanã, evidenciando a motivação em garantir a segurança dos locais de interesse turístico e que receberão os grandes eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.
Localização das UPPs formando um cinturão em torno do Maracanã e Zona Sul
Localização das UPPs formando um cinturão em torno do Maracanã e Zona Sul
Longe da Zona Sul o cenário não mudou
De acordo com dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública em agosto, os bairros cujo policiamento fica a cargo do 7° BPM (São Gonçalo) - onde não existe UPP - registraram um aumento de quatro dos seis crimes classificados como mais violentos.  O registro de homicídio doloso aumentou para 24 casos (de 143 para 167) e tentativa de homicídio teve 10 casos a mais (de 119 para 129 casos). O mesmo aconteceu com os registros de lesão corporal dolosa, com crescimento de 14 casos (de 2153 para 2167). Nos crimes menos violentos, o panorama é o mesmo: o roubo a pedestres passou para 576 casos, assim como o roubo de veículos (aumento de 491 casos).
Região que vive há pelo menos cinco anos a guerra entre quadrilhas de três facções rivais, a AISP 9, que engloba bairros como Rocha Miranda, Madureira, Oswaldo Cruz e Cascadura, só conseguiu diminuir os casos de homicídios. Já os registros de tentativa de homicídio mais que dobraram. O número saltou de 65 casos no primeiro semestre de 2011 para 141 no mesmo período de 2012. Os crimes de lesão corporal dolosa, estupro e roubo aumentaram. O crescimento de registros foi de 32, 40 casos e 425 casos respectivamente. 

Bancos espanhóis precisarão de 59,3 bilhões de euros 'para suportar calotes'

Os bancos da Espanha vão precisar de uma injeção de 59,3 bilhões de euros (R$ 155 bilhões) para sobreviver a uma tormenta financeira, anunciou nesta sexta-feira uma auditoria independente. A quantia equivale a quase 6% do PIB espanhol.
De acordo com o jornalista financeiro da BBC Laurence Knight, esse "buraco" é a quantia de capital necessária para absorver as perdas que os bancos (especialmente os regionais, de poupança) podem sofrer com o calote dos empréstimos feitos durante o boom imobiliário na última década.
A bolha imobiliária, segundo Knight, estourou e muitos desses empréstimos não foram pagos. A quantia se equipara às expectativas do mercado, que giram em torno de 60 bilhões de euros.
A expectativa é que boa parte dessa verba venha de fundos de resgates da zona do euro, mas uma outra parte pode ter de ser fornecida por investidores do setor privado.

Dívidas

"Para a Espanha, a questão não é apenas o tamanho das perdas nos bancos", explica Knight. "Mas, sim, o fato de não estar claro até agora quem irá bancá-las. Será somente a zona do euro, como espera Madri, ou será o próprio governo espanhol ou, ainda, o setor privado de investimentos?"
O governo irlandês, diz o jornalista, ficou mergulhado nas dívidas de seus próprios bancos, depois de se oferecer para pagá-las. "A Espanha espera evitar esse destino."
O governo da Espanha disse em julho que iria pedir à zona do euro apoio para seus bancos.
O cálculo feito pela auditoria é baseado no pior cenário possível e na expectativa de que a economia espanhola vai retrair 6,5% entre 2012 e 2014, uma retração muito maior do que a esperada.
A zona do euro já disponibilizou 100 bilhões de euros de seus fundos de resgate para tapar esse buraco na Espanha, embora muitos investidores suspeitem que os bancos eventualmente precisem de mais do que isso.

Elogio

A Comissão Europeia elogiou o anúncio, dizendo que era um grande passo na implementação de um programa de assistência financeira e na tentativa de fortalecer a confiança nos bancos do país.
"A ajuda necessária aos bancos espanhóis será determinada nos próximos meses", anunciou a comissão.
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse que a avaliação foi transparente. "Financiamento público das atuais necessidades dos bancos pode ser financiado confortavelmente com o programa de recapitalização apoiado pelos parceiros europeus da Espanha."
Ao mesmo tempo, os espanhóis apertam o cinto para lidar com a crise. Na última quinta-feira, o governo do país anunciou novas medidas de austeridade e mudanças de legislação para tentar aumentar a competitividade espanhola - num momento em que um quarto da população está desempregada.
O governo conservador espanhol quer implementar cortes médios de 12% nos ministérios, congelamento de salários do funcionalismo público pelo terceiro ano consecutivo e o estabelecimento de uma autoridade independente para monitorar as finanças do governo, além de novas medidas tributárias.
Por outro lado, aposentadorias devem receber aumentos, com verba retirada de um fundo de reservas de 3 bilhões de euros. O governo também deverá aumentar o investimento em bolsas de estudo e pagamento de juros.
As medidas de austeridade têm gerado protestos populares.

Aluna que fugiu com professor é encontrada na França

A estudante Megan Stammers, de 15 anos, que fugiu junto com seu professor de matemática, Jeremy Forrest, de 30 anos, há uma semana, foi encontrada nesta sexta-feira em Bordeaux, na França, segundo a polícia de Sussex. Forrest foi preso acusado pelo crime de sequestro de menores.
A aluna e o professor, que mantinham um relacionamento amoroso, estavam desaparecidos desde a última sexta-feira. A polícia foi alertada depois que ela faltou à aula e não voltou para casa.
Segundo as autoridades britânicas, o paradeiro do casal foi obtido após "extensa cobertura da imprensa sobre o caso".
Logo após Megan ter sido encontrada, o padrasto da garota, Martin Stammers, escreveu no site de microblogging Twitter: "Obrigado a todos por tudo, extremamente aliviado e emocionado, mais notícias mais tarde".
Mais cedo, os pais de Forrest fizeram um apelo emocionado para que o filho voltasse para casa.
"Há muitas pessoas aqui desesperadas para saber como vocês estão", disse Jim, pai do professor, em entrevista coletiva, enquanto sua mulher chorava copiosamente a seu lado.
"Por favor, entrem em contato. Só peço que um de vocês nos ligue ou envie um e-mail para que possamos saber que estão bem", afirmou Jim, que é escocês, mas vive no sudeste de Londres.
Pouco antes do apelo, a polícia de Sussex anunciou ter emitido uma ordem de prisão válida em toda a Europa contra o professor.

Família de Megan

Segundo o padastro de Megan, Martin, o desaparecimento da menina abalou toda a família.
"(Essa situação) é horrível não só para mim e para Danielle (mãe de Megan), mas para toda a família. É devastador, estamos destruídos", disse em entrevista ao programa da BBC Crimewatch.
"Megan, se você está vendo isso, pegue o telefone e ligue para sua mãe. Sua mãe está arrasada, querida, apenas pegue o telefone e ligue para que saibamos que você está bem."
Martin também agradeceu às pessoas que usaram mídias sociais para ajudar a divulgar seus apelos.
"Só pedimos que as pessoas continuem a twitar, que façam todo o necessário para espalhar o nosso apelo e trazer Megan de volta", afirmou.

Rumores e informações

Antes de serem descobertos, Megan e Forrest estariam viajando pela França em um Ford Fiesta preto.
Os dois estavam desaparecidos desde o dia 20 de setembro.
Eles foram gravados pelas câmeras de vigilância de uma balsa em Dover, cidade costeira britânica a partir da qual é feita a travessia para a França.
Segundo o investigador Jason Tingley, diversos países europeus e a Interpol têm colaborado com a polícia britânica repassando "rumores e informações" sobre o paradeiro do casal.
Uma porta-voz da Polícia de Surrey confirmou que uma mulher britânica da localidade de Bramley diz ter visto os dois em Paris.

Polêmica

O desaparecimento da adolescente com o professor vem sendo acompanhado de perto pela mídia britânica, que tem destacado desdobramentos potencialmente polêmicos do caso envolvendo autoridades.
Foi confirmado, por exemplo, que a polícia já havia sido informada há uma semana do envolvimento da estudante com o professor - e a prefeitura local, que administra a escola, também acompanhava o caso - embora não esteja claro se medidas concretas foram tomadas pelas instituições que pudessem proteger a adolescente.
Esta é a terceira vez em que um integrante do corpo docente da escola Bishop Bell Church of England School, em Eastbourne, é envolvido em um escândalo.
Em fevereiro de 2009, o professor Robert Healy foi preso por sete anos, depois de admitir relações sexuais com duas alunas com idades entre 15 e 16 anos.
No início deste ano, também foi revelado que um padre aposentado fora autorizado a permanecer como diretor da escola por mais de um ano depois de 38 acusações de abuso sexual infantil virem à tona.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Estudo indica ruptura de placa tectônica sob Oceano Índico

Uma série de fortes terremotos em abril na região costeira de Sumatra, no Oceano Índico, seria um indício da futura quebra em dois da placa tectônica Indo-Australiana, de acordo com um estudo publicado na revista científica Nature desta semana.
Pesquisadores afirmam que a análise dos tremores, cujo mais forte teve magnitude de 8,7 pontos, indica que a placa que hoje é uma só deve se romper, criando um novo bloco.
A mudança deve levar milhões de anos para acontecer, no entanto.
"Este é um processo que provavelmente começou há 10 milhões de anos, então você pode imaginar quanto tempo ainda vai ser necessário para chegarmos a ter uma fronteira clássica", afirmou Matthias Delescluse, da Escola Normal Superior, de Paris.
Delescluse é autor de um dos três estudos que tratam dos terremotos de abril na última edição da Nature.
A ilha de Sumatra, no oeste do arquipélago indonésio, se encontra em cima do ponto de encontro entre as placas tectônicas Indo-Australiana e a de Sonda.
Estas enormes porções da crosta rígida exterior da Terra se deslocam uma contra a outra a uma velocidade de cerca de 5 cm a 10 cm por ano.
A placa Indo-Australiana, mais alongada, abrange a maior parte do fundo do Oceano Índico, e afunda para baixo da de Sonda, que sustenta a ilha de Sumatra.
O atrito na fronteira, travando e destravando, além da súbita liberação de energia acumulada, são a causa de grande parte dos terremotos violentos, como o de magnitude 9,1, que provocou o catastrófico tsunami de 26 de dezembro de 2004.

Escala poderosa

Mas os tremores de 11 de abril de 2012, embora tenham sido tão poderosos quanto o de 2004, não tiveram o mesmo impacto nem geraram um tsunami.
A explicação para isso está na natureza do acidente geológico, na forma como bloco rochoso se movimenta horizontalmente de cada lado da quebra, em vez de um movimento vertical, que leva à geração de tsunamis.
Os sismos de abril também estavam mais a oeste, diretamente sobre a placa Indo-Australiana, em uma área de deformação em grande escala e diversas falhas.
Delescluse disse ser evidente que o movimento registrado nas fronteiras da placa esteja forçando a parte central dela.
"A Austrália já se movimenta em relação à Índia, e a Índia já se movimenta em relação à Austrália", disse à BBC o pesquisador francês.
"Ambas estão separadas por uma série de falhas. Se você olhar a Terra hoje, entre as placas tectônicas, verá apenas uma falha. Ou seja, o processo que identificamos começa com várias falhas e termina com apenas uma."
Para os pesquisadores a questão é descobrir quanto tempo é necessário para que uma dessas falhas fique tão frágil a ponto de concentrar toda a deformação da placa nela, tornando as outras inativas.

Tremores secundários

Em outro estudo da Nature, Thorne Lay e equipe, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, detalham as relações entre essas falhas e como elas se romperam no último dia 11 de abril.
A análise sísmica dos cientistas indica que pelo menos quatro falhas tiveram participação no evento de magnitude 8,7, que durou cerca de 160 segundos.
O evento foi considerado pelo grupo "provavelmente o maior já registrado" em apenas uma placa tectônica.
O terceiro estudo sobre o sismo publicado na revista científica descreve como o terremoto provocou outros tremores ao redor da Terra.
Esse efeito já era conhecido, mas o grupo liderado por Fred Pollitz, do US Geological Survey, ficou surpreso com a demora nestas consequências.
"Para a maioria dos terremotos, espera-se que a zona de tremor secundário não passe de mil km. Mas também sabemos que tremores principais muito grandes, como o evento do ano passado no Japão, de magnitude 9, podem provocar outros terremotos menores", afirmou Politz.
A diferença foi que o terremoto de abril deste ano acabou levando a outros tremores mais fortes e potencialmente mais perigosos, com intervalos de algumas horas ou até vários dias depois do tremor principal.
"Com efeito, isso estendeu a zona de tremores secundários ao mundo inteiro", disse.

Xerife renuncia e cão passa a ser único ‘policial’ de cidade americana

Um cão farejador tornou-se o único "responsável" por uma delegacia de polícia de uma pequena cidade no Estado americano do Novo México após a renúncia do xerife em meio a acusações criminais, informa a imprensa americana.
Tudo começou quando o chefe de polícia do vilarejo de Vaughn, Chris Armijo, decidiu abandonar o posto na última quarta-feira, quando a imprensa local informou que ele não poderia ter porte de armas de fogo devido aos antecedentes criminais.
"Ele decidiu renunciar após constatar a imensa repercussão que o caso tomou", afirmou Dave Romero, promotor da cidade, em entrevista à agência de notícias Associated Press.
Segundo as autoridades locais, Armijo não poderia ter porte de arma ao reconhecer que deixou de transferir milhares de dólares para instituições que cuidam de jovens infratores no Texas. Ele também é acusado de vender um rifle do próprio departamento de polícia e embolsar o dinheiro.
Romero afirmou que Armijo está tentando se livrar das acusações pelo último caso. Ele acrescentou, entretanto, que o ex-delegado não descartou tentar pleitear o posto novamente, após ser considerado inocente.

'Delegacia de criminosos'

Com a saída repentina de Armijo, o único membro oficial da delegacia tornou-se, assim, Nikka, o cão farejador.
Os outros funcionários não estão habilitados ao posto, uma vez que também já sofreram acusações criminosas no ano passado. Sem a qualificação necessária, eles não podem efetuar prisões ou ter porte de armas.
Romero, entretanto, não considera que a cidade está sob risco sem policiais habilitados a carregar uma arma. "A Inglaterra não permite que policiais carreguem armas de fogo", disse ele. "Algumas vezes, a arma mais forte para a aplicação da lei é a comunicação", acrescentou.
Vaughn, com apenas 450 habitantes e localizada a 167 quilômetros da capital do Novo México, Albuquerque, é uma cidade à beira de estrada acostumada a servir de pernoite para caminhoneiros.
Segundo a imprensa americana, a violência não é epidêmica, mas, nos últimos anos, a cidade entrou para a rota do tráfico de drogas na região.
Romero afirmou que as autoridades de Vaughn estão considerando a possibilidade de contratar outro chefe de polícia ou um novo policial para supervisionar a delegacia temporariamente.
Ainda não se sabe se a cidade ficará com o cão de polícia, que está sob a custódia de Armijo.
Segundo a Associated Press, Nikko foi visto no quintal da casa do ex-delegado de polícia que, no entanto, se recusou a dar entrevistas ou permitir fotos do cão.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Jornal egípcio 'enfrenta charges com charges' para rebater cartuns de Maomé

O jornal egípcio Al-Watan lançou uma campanha chamada "combata charges com mais charges", em que critica os cartuns de Maomé impressos pelo periódico francês Charlie Hebdo e publica cartuns irônicos sobre as relações entre o Ocidente e o mundo muçulmano.
O Al-Watan, um jornal secular, publicou nesta semana 13 charges. Uma delas mostra um par de óculos pelo qual se vê as torres do World Trade Center sendo atingidas por aviões. A legenda: "óculos ocidentais para o mundo muçulmano".
Uma segunda charge mostra dois homens árabes lado a lado. Um usa um turbante, barbas desgrenhadas, tem uma cara de raiva e carrega uma faca ensanguentada, dando a entender que se trata de um terrorista. Ele está ao lado de outro árabe, sorridente. Abaixo dos dois, uma lanterna com a bandeira dos EUA joga luz apenas no homem que parece ser um terrorista.
Há também um cartum em que um homem branco acusa um homem barbudo e raivoso de ser um terrorista; o homem branco então percebe que o barbudo é um israelense e oferece a ele uma flor.

'Pensamento com pensamento'

Charge crítica ao Ocidente publicada pelo jornal Al-Watan (Crédito: Al-Watan)
Esta charge diz que EUA só jogam luz sobre árabes que cometem terrorismo
As charges foram parte de uma seção inteira do jornal dedicada a criticar a Charlie Hebdo, a qual publicou charges ironizando Maomé após a onda de violência no mundo muçulmano contra o filme anti-islâmico "Innocence of Muslims" (Inocência de Muçulmanos, em tradução livre).
Os protestos contra o filme e contra a Charlie Hebdo resultaram em dezenas de mortes em países muçulmanos e em ações contra embaixadas ocidentais nesses países - num dos episódios mais graves, em 11 de setembro, a representação diplomática americana em Benghazi, na Líbia, foi atacada, levando à morte do embaixador Christopher Stevens e de outras três pessoas.
A seção do Al-Watan incluiu artigos de conhecidos escritores seculares egípcios, como o ex-diretor de pesquisas do Carnegie Middle East Centre, Amr Hamzawi, e acadêmicos e religiosos do país, como o mufti (intérprete qualificado do Corão) Ali Gomaa.
Leitores do Al-Watan - jornal crítico ao presidente islâmico recém-eleito no Egito, Mohammed Mursi - reagiram positivamente ao caderno especial. Alguns elogiaram a ideia de "confrontar pensamento com pensamento" na crítica ao Charlie Hebdo e de dar uma "resposta civilizada" ao semanário francês.

Doador de sêmen passa grave doença genética para cinco crianças

Um dinamarquês transmitiu uma grave e rara doença genética a cinco crianças após doar sêmen a uma clínica de fertilização. Um inquérito apontou que os exames não detectaram o problema no sêmen do doador e que a instituição não tomou providências mesmo após a primeira criança ser diagnosticada com a mutação.
Apesar do problema, o "doador 7042", como está sendo chamado, teve seu sêmen usado por 43 mulheres que engravidaram e permaneceu recebendo autorização para doar o material apesar de a lei da Dinamarca limitar esse número a 25.
Em meio à polêmica, o governo dinamarquês decidiu reduzir ainda mais o número de doações permitidas ao suficiente para apenas 12 inseminações artificiais. A nova regra entra em vigor a partir do dia 1º de outubro.
O diretor da clínica Nordisk Cryobank, Peter Bower, disse à agência de notícias France Presse que o banco de sêmen estava ciente de que os cinco bebês haviam nascido com a neurofibromatose do tipo 1 (NF1).
Mas ele adiantou que o homem já teria doado seu sêmen antes, em um período anterior a outubro de 2008, em países dentro e fora da Europa.
Bower respondeu às críticas dizendo dizendo que não parou de usar o sêmen do doador imediatamente porque não era possível ter certeza de que o doador era o responsável pela transmissão do problema.
O sêmen "contaminado" foi usado por 14 clínicas de fertilização, informou a emissora estatal dinamarquesa DR.

Choque e críticas

A mãe de uma das crianças afetadas, Mia Levring, condenou as ações da clínica dizendo estar "abalada e chocada".
Sonja Petersen, mãe de outra criança que contraiu a mutação, também criticou a postura da instituição diante da dúvida a respeito de o doador poder gerar bebês com problemas de saúde.
"Nós estamos lidando com muitas crianças, mas há também o aspecto econômico. Eles ganham bastante dinheiro fazendo isso. E deve haver a responsabilidade de garantir que o produto –por assim dizer- está apto a ser usado".
Para a chefe da Autoridade de Medicamentos e Saúde da Dinamarca, Anne-Marie Vangsted, o banco de sêmen falhou ao não retirar de circulação o material contaminado logo após o diagnóstico da primeira criança.
A NF1 é causada por uma mutação genética e 50% dos casos são transmitidos de pais para filhos, embora a outra metade possa desenvolver o problema sozinha.
A doença pode produzir uma série de sintomas, desde pigmentação irregular da pele até sérios tumores benignos que podem transformar-se em tumores cancerígenos.
O problema pode causar ainda dificuldades de aprendizado, de visão e deformações da coluna. Não há tratamento, mas alguns sintomas podem ser controlados.

Hubble produz imagem detalhada do universo distante

O Telescópio Espacial Hubble (TEH) acaba de produzir uma das mais fantásticas imagens do universo já vistas.
Batizada de Extreme Deep Field (XDF), a foto capturou uma infindável quantidade de galáxias que se estende até os tempos em que as primeiras estrelas começaram a brilhar.
A imagem não é um retrato normal já que alguns dos objetos estão distantes e têm brilho fraco demais para aparecerem em um simples clique.
Para "vê-los", o Hubble foi obrigado a observar um pequeno pedaço do céu por mais de 500 horas - até capturar toda a luz possível.
O XDF pode se tornar um valioso instrumento para a astronomia.
Cada um dos objetos que aparecem na foto agora pode ser observado com mais detalhes por outros telescópios, o que pode significar anos de trabalho para os cientistas - estudando a formação e a evolução de galáxias.
A nova imagem é uma atualização de um produto anterior do TEH, o Hubble Ultra Deep Field (UDF).

Além das fronteiras

A foto anterior foi formada a partir de dados coletados entre 2003 e 2004, quando o telescópio se concentrou na constelação Fornax, conhecida como A Fornalha. Também para esta imagem, foram necessárias muitas horas de observação para capturar a tênue luz de milhares de galáxias, distantes ou próximas, o que fez dela a mais completa foto do universo na época.
Mas o XDF foi além, fechando o foco em uma área ainda menor que o do UDF.
O novo retrato incorpora mais de 2 mil exposições diferentes, sacadas ao longo de dez anos pelas duas principais câmaras do Hubble, a Câmara Avançada para Pesquisas, instalada por astronautas em 2002, e a Câmara de Largo Campo 3, acrescentada ao observatório na sua última manutenção, em 2009.
Para visualizar o universo além das fronteiras, o Hubble explorou a luz infra-vermelha ao máximo. Somente as ondas de luz mais longas são capazes de detectar os objetos mais distantes.
Das mais de 5 mil galáxias observadas pelo XDF, uma pôde ser vista como era 450 milhões de anos depois do nascimento do universo, conhecido como Big Bang.
O acontecimento teria sido registrado, segundo cientistas, há 13,7 bilhões de anos.
A próxima atualização dessa imagem notável acontecerá apenas quando o sucessor do Hubble entrar em órbita. O Telescópio Espacial James Webb deve ser lançado em 2018.
A nova geração de observatório espacial tem um espelho ainda maior e instrumentos infra-vermelhos ainda mais sensíveis. Com eles, astrônomos poderão ver ainda mais longe, talvez testemunhando o nascimento das primeiras estrelas do universo.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Aranhas 'decoram' teias para fisgar mais presas, diz estudo

O formato de círculos concêntricos usado por algumas aranhas na construção de suas teias pode ajudar a atrair mais presas, indica um estudo da Universidade de Incheon, na Coreia do Sul.
A função do formato, uma complexa rede orbital, tem motivado debates entre a comunidade científica há muito tempo.
Estudos prévios já sugeriam que tais teias poderiam servir para espantar pássaros, enviar mensagens sobre acasalamento, proporcionar sombras do sol ou até para camuflagem. Mas, agora, cientistas sul-coreanos sugerem que a função primordial seria atrair mais insetos.
Isso porque, ao refletir mais raios ultravioleta, a teia atrai insetos sensíveis a esses raios.
A pesquisa publicada no periódico científico Journal of Behavioral Ecology and Sociobology utilizou aranhas-vespas (Argiope bruennichi), uma espécie comumente encontrada em toda a Europa, no norte da África e em partes da Ásia, e conhecida pelo abdômen das fêmeas, que é decorado com listras.

Teias

Durante a construção das teias, as aranhas fazem padrões em zigue-zague a partir do centro. Criados com uma seda branca especial, esses padrões refletem muito mais raios ultravioleta do que outras partes da teia.
Os cientistas questionaram por que os animais produziriam uma teia circular, em uma aparente "armadilha disfarçada", para "decorar" a teia em volta da parte que realmente teria função útil.
Para testar os efeitos dessa decoração, que usa uma seda conhecida como stabilimentum, os pesquisadores compararam as teias decoradas e outras sem adornos.
"A stabilimentum é uma estrutura de seda branca que reflete mais luz ultravioleta do que qualquer outra seda de aranhas", diz o cientista Kim Kil-Won, da Universidade de Incheon, que lidera o estudo.
Aranha-vespa | Foto: Kim Kil-Won
Teias circulares de aranhas-vespas são feitas a partir de uma seda especial e resistente
A equipe chegou a conclusões sobre a potencial serventia dos enfeites e encontrou uma ligação entre eles e o sucesso de caça das aranhas.
"Os efeitos da stabilimentum sobre o sucesso da caça parecem dever-se ao aumento da capacidade de interceptar insetos polinizadores sensíveis aos raios ultravioleta", diz Kim.
De acordo com seu estudo, as teias adornadas conseguem atrair o dobro dos insetos em relação àquelas que não os possuem.
Kim explica que os insetos polinizadores encontrados nas teias possuem maior sensibilidade aos raios UV. Entre eles estão, por exemplo, 20 famílias diferentes de moscas, vespas, cigarras e borboletas.
"Nossos resultados mostraram que a aranha que tece teias orbitais decora sua teia para atrair as presas que reconhecem raios ultravioleta. A função original provavelmente não era atrair presas, mas atualmente o animal se usa dessa habilidade", disse o cientista à BBC Brasil.

Ultravioleta

Estudos anteriores mostraram que esses insetos são atraídos por flores com alta capacidade de refletir a luz ultravioleta e que os padrões das teias que têm efeito semelhante se aproveitam dessa predisposição.
Aranha-vespa | Foto: Kim Kil-Won
Ao centro, padrões de zigzag dominam teia; entorno é complexo sistema orbital de círculos
"Acreditamos que, ao decorar a teia com um stabilimentum, as aranhas usam uma predisposição da presa com relação a superfícies que refletem UV", diz o líder do estudo.
Entretanto, o cientista acrescenta que os resultados não invalidam as pesquisas anteriores.
"Provavelmente o stabilimentum estabiliza e fortalece mecanicamente a teia orbital. Essa propriedade ajudaria a manter as presas maiores na teia", diz.
Ele sugere que a adaptação poderia ser usada de formas diferentes por diversas espécies de aranhas que tecem teias circulares, mas que é necessário conduzir mais pesquisas sobre a função original desse formato.
"A origem evolutiva dessa característica pode ter que ser separada de seu papel contemporâneo", diz Kim.
Com reportagem de Ella Davies, da BBC News

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Dilma esclarece em nota depoimento citado por relator do mensalão

A presidente Dilma Rousseff divulgou nota nesta sexta-feira (21) para esclarecer depoimento que prestou em 2009 no processo do mensalão e que foi mencionado nesta quinta pelo relator do caso, o ministro Joaquim Barbosa, durante o julgamento. Em seu voto, Barbosa citou trecho em que Dilma disse ter ficado "surpresa" com a aprovação rápida, entre 2003 e 2004, de duas medidas provisórias que alteravam a legislação na área de energia.
Na época, Dilma era ministra de Minas e Energia. Barbosa citou o depoimento da presidente para sustentar seu voto, que condenou por corrupção políticos que receberam dinheiro do PT supostamente em troca de votos a favor de projetos de interesse do governo de Luiz Inácio Lula da Silva no início do mandato, entre 2003 e 2005.
"[Dilma] Disse que se surpreende, vendo com os olhos de hoje, a rapidez da aprovação desse projeto. Pode se assim avaliar a dimensão [do esquema]", argumentou o ministro do STF.
Na nota, Dilma justifica que ficou surpresa em virtude de acordo celebrado entre líderes da Câmara e do Senado, da base aliada e da oposição, para aprovar a matéria. Segundo ela, a reação se deu "por termos conseguido uma rápida aprovação por parte de todas as forças políticas que compreenderam a gravidade do tema".
O texto menciona o "apagão" no fornecimento de energia elétrica que obrigou o governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso, a implementar um plano de racionamento de luz, entre 2001 e 2002, para ressaltar a importância das medidas. Na nota, ela reproduziu outro trecho do depoimento em  que disse: "Ou se reformava ou o setor quebrava. E quando se está em situações limites como esta, as coisas ficam muito urgentes e claras".
Leia abaixo a íntegra da nota:
"NOTA OFICIAL
Na leitura do voto, na sessão de ontem do Supremo Tribunal Federal, o senhor ministro Joaquim Barbosa se referiu a depoimento que fiz à Justiça, em outubro de 2009. Creio ser necessário alguns esclarecimentos que eliminem qualquer sombra de dúvidas acerca das minhas declarações, dentro dos princípios do absoluto respeito que marcam as relações entre os Poderes Executivo e Judiciário.
Entre junho de 2001 e fevereiro de 2002, o Brasil atravessou uma histórica crise na geração e transmissão de energia elétrica, conhecida como “apagão”.
Em dezembro de 2003, o presidente Lula enviou ao Congresso as Medidas Provisórias 144 e 145, criando um marco regulatório para o setor de energia, com o objetivo de garantir segurança do abastecimento de energia elétrica e modicidade tarifária. Estas MPs foram votadas e aprovadas na Câmara dos Deputados, onde receberam 797 emendas, sendo 128 acatadas pelos relatores, deputados Fernando Ferro e Salvador Zimbaldi.
No Senado, as MPs foram aprovadas em março, sendo que o relator, senador Delcídio Amaral, construiu um histórico acordo entre os líderes de partidos, inclusive os da oposição. Por este acordo, o Marco Regulatório do setor de Energia Elétrica foi aprovado pelo Senado em votação simbólica, com apoio dos líderes de todos os partidos da Casa.
Na sessão do STF, o senhor ministro Joaquim Barbosa destacou a ‘surpresa’ que manifestei no meu depoimento judicial com a agilidade do processo legislativo sobre as MPs. Surpresa, conforme afirmei no depoimento de 2009 e repito hoje, por termos conseguido uma rápida aprovação por parte de todas as forças políticas que compreenderam a gravidade do tema. Como disse no meu depoimento, em função do funcionamento equivocado do setor até então, “ou se reformava ou o setor quebrava. E quando se está em situações limites como esta, as coisas ficam muito urgentes e claras”.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

30 anos: Brasileiros rememoram Massacre de Sabra e Chatila

Com a realização de um debate e a exibição do filme “Valsa com Bashir”, ativistas dos movimentos anti-imperialistas e de solidariedade internacional reuniram-se em São Paulo nesta terça-feira (18) para rememorar o massacre de 3.500 palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, no Líbano. O episódio ocorreu em 16 e 17 de setembro de 1982. O massacre foi executado por milícias falangistas libanesas com o apoio dos ocupantes sionistas israelenses, comandados por Ariel Sharon.


A atividade foi organizada pela Federação das Entidades Árabes (Fearab), a Federação das Entidades Palestinas (Fepal), o Comitê pelo Estado da Palestina Já, a Bibliaspa e a Revista Zunái.

Sob a coordenação da Dra. Claude Hajjar, da Fearab, a mesa do debate foi constituída pelo jornalista Nataniel Braia, editor internacional do jornal Hora do Povo, a jornalista Lúcia Helena Issa, e Emir Mourad, secretário-geral da Fepal.

Nataniel Braia lembrou a passagem do Ano Novo Judaico, para mostrar a contradição entre, de um lado, as preces judaicas, com valores nobres como o amor ao próximo, a compaixão e a generosidade e, de outro, o ódio, a intolerância e a violência que os sionistas israelenses demonstram em sua luta contra os árabes em geral e os palestinos em particular. Ele disse que por trás da violência do Estado israelense estão os interesses e a ideologia neocolonialistas e denunciou que Israel se converteu em uma grande base militar estadunidense no Oriente Médio.

Braia concluiu sua fala fazendo um chamamento à luta e à solidariedade: “A maior homenagem que podemos fazer às vítimas do massacre de Sabra e Shatila é lutar contra o imperialismo e o sionismo, pela soberania nacional e a autodeterminação dos povos”.

A jornalista Lúcia Helena Issa relatou sua experiência nos acampamentos de refugiados de Sabra e Shatila que visitou nos últimos três anos. Fez um depoimento sobre as precárias condições de vida das 13 mil pessoas que ali residem, sentindo permanentemente “o cheiro da morte”. Ela destacou que a palavra mais ouvida é “Nakba” (catástrofe), usada pelos palestinos para designar o significado da expulsão de suas terras pelos sionistas israelenses. E observou que a figura mais presente ainda hoje é o líder palestino Yasser Arafat, morto em 2004. Sua foto está nas ruas, vielas e nas casas.

Lúcia Helena Issa está escrevendo o livro “Filhas da Esperança”, em que conta a história dos acampamentos de Sabra e Shatila pelo olhar de meninas e mulheres palestinas.

O dirigente da Fepal Emir Mourad, último a tomar a palavra, disse que é preciso “não esquecer” o massacre de Sabra e Shatila, assim como todos os crimes de lesa-humanidade. Ele considera Ariel Sharon um “criminoso de guerra, que cometeu crimes contra a humanidade”.

Segundo Emir Mourad, Sabra e Shatila não foi o único massacre cometido pelos sionistas israelenses contra os árabes e palestinos. Foi talvez o mais simbólico de uma enorme lista. “O massacre de Sabra e Shatila faz parte do plano e da estratégia dos sionistas de promover o holocausto dos palestinos, uma estratégia de ocupação territorial, limpeza étnica e genocídio”.

Mourad, que além de dirigente da Fepal é um estudioso da história da Palestina e dos assuntos políticos do Oriente Médio, destacou a identidade entre o sionismo, o colonialismo, o racismo e o apartheid. Disse ainda que os sionistas promovem sistematicamente a destruição da história, da cultura e da identidade nacional do povo palestino e ainda são falsificadores da história na medida em que apresentam Ariel Sharon e outros líderes israelenses como defensores da paz e os palestinos como terroristas.

O dirigente da Fepal mostrou-se otimista e encerrou sua intervenção afirmando que desde a década de 1960, os palestinos conquistaram duas importantes vitórias históricas: a afirmação da identidade nacional e o reconhecimento do Estado palestino por 130 países. Em sua opinião, essas duas vitórias abrem caminho para a vitória histórica que está por vir – a conquista do Estado nacional independente, da Palestina livre.
A atividade contou com as presenças da presidenta do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, o vereador do PCdoB Jamil Murad, candidato à reeleição, os candidatos a vereador Khaled Mahasen (PCdoB) e Sérgio Cruz (PPL), o diretor da CTB Lejeune Mirhan, o representante do Partido Baath Sírio em São Paulo, Abdul Harim, e o editor do Portal Vermelho, José Reinaldo Carvalho.

Reproduzimos abaixo textos de colaboradores do Vermelho que, ao longo da última década de existência do Portal, relataram o que aconteceu em Beirute, na sinistra noite de 16 de setembro de 1982.

30 anos do Massacre de Sabra e Chatila, por Luciana Garcia


Três décadas se passaram do episódio considerado como um dos mais sangrentos do século 20. Mesmo diante de um crime de enorme proporção, são muito poucos que conhecem de fato a história das guerras do Líbano com todos os detalhes. Talvez esse seja o motivo pelo qual o cenário do que foram os campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila tenha tido poucas mudanças efetivas.

De acordo com diversos correspondentes internacionais que visitam esses locais hoje, os cerca de 13 mil refugiados que vivem em Chatila, além de conviverem com os traumas do passado, sobrevivem com um presente de miséria e abandono.

A mudança deve-se ao fato de que Sabra deixou de ser reconhecido como campo de refugiados, convertendo-se em um dos bairros mais miseráveis de Beirute, sem que haja reconhecimento desses locais como parte do país. Não há coleta de lixo e nem quaisquer serviços públicos, o que torna a situação de moradia e saúde muito mais alarmante do que se pode imaginar.

O pouco conhecimento se deve principalmente ao fato de haver poucos vestígios das lembranças do massacre de Sabra e Chatila. Mesmo diante do boicote israelense na época, as imagens ainda existentes em vídeos e fotografias, podem traduzir com fidelidade o desespero dos sobreviventes diante de centenas de corpos empilhados e ou enfileirados nas ruas estreitas de terra, cercadas por casas simples e muitos barracos.

Lembranças traumáticas vividas a partir da noite do dia 16 de setembro de 1982, no instante em que os refugiados palestinos foram surpreendidos com a iluminação de sinalizadores de fogo disparados no céu, clareando a noite. Nessa altura, a população dos campos não podia imaginar o que seriam as primeiras movimentações israelenses para proteger e garantir a entrada das forças falangistas (milícias da extrema direita cristã libanesa) nos campos de refugiados.

O medo e o terror foram imediatamente instalados, quando tanques israelenses Merkava cercaram a entrada e a saída dos campos. A partir daí, sob a cobertura das tropas ocupantes israelenses, as milícias falangistas deram início a 62 horas de pura violência contra a população civil palestina. Estima-se que esse episódio tenha tido no mínimo um saldo de 3 mil mortos, entre idosos, mulheres e crianças, em sua maioria.

Israel teria invadido o Líbano em represália ao assassinato de um embaixador de Israel em Londres por um palestino que supostamente vivia no campo de Chatila. Dentro desse mesmo contexto de guerra civil libanesa, o Exército israelense entra em acordo com os chefes das milícias cristãs para viabilizar a invasão dos dois campos de refugiados.

O agravante estaria na constatação de que poucos dias antes do atentado, Israel e Palestina haviam assinado um cessar fogo, intermediado por um enviado norte-americano, Philip Habib, que resultou no consentimento palestino pela saída de todos os integrantes da Organização de Libertação da Palestina (OLP) da capital libanesa. Fato que reafirma o massacre civil de uma população absolutamente indefesa.

Naquele instante, o então Ministro da Defesa de Israel, Ariel Sharon, não cumpriu o acordo e permitiu que a Falange entrasse nos campos e realizasse o massacre. Ao mesmo tempo, o Exército de Israel detinha o controle da entrada e saída dos campos. Testemunhas relataram que muitas mulheres grávidas e com crianças de colo foram sumariamente impedidas de saírem dos campos. Alguns dias após o massacre e ainda durante o cerco em Beirute, a OLP acusou Israel de empregar táticas semelhantes às utilizadas por Adolf Hitler contra os judeus, durante a Segunda Guerra Mundial.

Os responsáveis pelo massacre nunca foram punidos. Ariel Sharon chegou a ser condenado pelas Nações Unidas, porém nunca foi penalizado de fato. Ao contrário, continuou exercendo impunemente sua carreira política em diversos cargos dentro do Ministério de Israel.

A impunidade e a injustiça estão absolutamente divulgados no chamado relatório da comissão Kahan, datado de 1983, documento pelo qual o jornalista Robert Fisk não se furtou em classificar o massacre como o resultado “da obsessão selvagem de Israel com o terrorismo”.

Em sua obra Pobre Nação ressaltou: “Os israelenses retrataram o documento como uma poderosa evidência de que sua democracia ainda brilhava como um farol sobre as ditaduras dos outros Estados do Oriente Médio” (Fisk, 2001, p. 518). Mesmo diante dessa constatação, ao analisar o texto desse documento oficial, é possível concluir que se trata, acima de tudo, de um documento extremamente falho e tendencioso em seu conteúdo. A começar com o título: sobre “os eventos nos campos de refugiados”, ao invés de qualificá-lo como massacre, sem ao menos mencionar a palavra palestino.

O apoio de Israel ao massacre, por Lejeune Mirhan

Israel ocupou o Líbano e o sul do país, por diversas vezes, desde a proclamação de sua existência em 14 de maio de 1948 por Ben Gurion. O episódio de 1982 tem um caráter e uma lembrança especial. Os dias que se transcorreram o massacre que vamos relatar aqui, tem início no dia 14 de setembro desse ano. O cristão e então presidente do Líbano, Bachir Gemayel é assassinado a tiros num atentado. Falanges e milícias cristãs se enfurecem e radicalizam. Bachir, como se soube, defendia abertamente um acordo de paz com Israel.

Quem comandava a ocupação do Líbano por Israel era ninguém menos do que o general Ariel Sharon, ex-primeiro ministro, hoje um morto-vivo, em coma há mais de seis anos. Verdade seja dita, não foram os soldados diretamente que perpetraram o massacre. Mas, o fizeram com as mãos de libaneses inescrupulosos, das falanges de extrema direita e pró-sionistas.

Os tanques israelenses deram total cobertura. Cercaram esses dois acampamentos de refugiados palestinos. Israel forneceu até os sinalizadores que iluminaram os acampamentos à noite para que cerca de 600 milicianos entrassem nos campos.

Milhares de famílias de palestinos moravam nessas localidades. Durante toda a noite do dia 16 de setembro e o dia todo do dia 17 ouviu-se tiros e explosões. Era o início do massacre. E o massacre foi o mais cruel que se pode ver em toda a história dos massacres que israelenses e cristãos fizeram contra palestinos. Relatos idôneos da Cruz Vermelha Internacional dão conta de mulheres brutalmente estupradas e depois esquartejadas.

Sharon sofreu na verdade a sua maior derrota política com esse episódio. Mesmo sendo ministro da Defesa de Israel, acabou tendo que se afastar e alguns dias depois do episódio, onde se estimam tenham morrido mais de três mil jovens, mulheres, crianças e velhos, uma manifestação de 400 mil pessoas pedia punição, em Telavive, pedindo a saída de Sharon. O ex-ministro nunca foi punido por isso, pela sua responsabilidade direta no massacre. Nem ele, nem o general Rafael Eitan, que era mancomunado com os cristãos libaneses de direita.

O então primeiro Ministro de Israel era Menachem Béguin, já morto. Ele mesmo um dos autores de outro famoso massacre a uma aldeia palestina, mas há 60 anos, em 1947, em abril, que se chamava Deir Yassim. Nesse caso morreram “só” 250 palestinos. Béguin entende do assunto. Mas, por pressão popular e por decisão de uma comissão de investigação interna do governo, Béguin acabou tendo que afastar Sharon – conhecido após o episódio como "açougueiro de Beirute" –, que amargou 15 anos de ostracismo político, retornando apenas em 1998 e agora vivendo de forma vegetativa em coma.