sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Nova York teme invasão de ratos pós-Sandy

Com estações de metrô e redes de esgoto alagadas pela tempestade tropical Sandy, os habitantes de Nova York começam a se preocupar com uma nova leva de desabrigados: os ratos.
Alimentado pelos rumores de um possível "ratoapocalipse", o assuntou ganhou rápida repercussão nas redes sociais e virou notícia nos principais veículos da imprensa americana.
O boato consistia em uma lógica simples: tal como muito nova-iorquinos, os roedores acabaram expulsos de suas casas - túneis úmidos e escuros - por causa das chuvas torrenciais, e, agora, infestariam a superfície à procura de um novo lar e comida.
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil afirmaram que, mesmo sendo díficil prever o que aconteceu com os milhares de roedores que habitam os subterrâneos da cidade, a hipótese de uma invasão em massa de ratos não está completamente descartada.
"É impossível quantificar se Nova York enfrentará uma infestação de ratos após a passagem do Sandy, mas acredito que isso seja uma possibilidade real", afirmou à BBC Brasil Richard Ostfeld, ecologista do Cary Institute of Ecosystem Studies, na Califórnia.
Segundo Ostfeld, já houve situações semelhantes de dispersão de ratos após inundações causadas por grandes tempestades.
"Um caso recente aconteceu nas Filipinas. Frequentemente, essas invasões provocam problemas mais sérios, como surtos de doenças transmitidas por esses roedores, como a leptospirose, que ocorre quando o homem tem contato com a urina desse animal. No país asiático, por exemplo, o número de pessoas infectadas pela enfermidade dobrou nos últimos anos", acrescentou.

Sobrevivência

De acordo com os especialistas, é provável que muitos ratos tenham morrido, especialmente os filhotes e os mais velhos, devido tanto ao volume quanto à força das águas.
Porém, com um instinto de sobrevivência apurado, milhares teriam conseguido escapar e buscar um novo esconderijo, aguardando as águas baixarem.
"É preciso ter em mente que os ratos convivem com o seres humanos há séculos. Apesar de terem sido retirados de seu hábitat natural, esses animais se adaptaram às grandes cidades e têm uma capacidade de sobrevivência impressionante. Eles são excelente nadadores, por exemplo", afirmou Yuri Leite, professor de zoologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
"Muitos devem ter morrido. Mas outros milhares ficaram desabrigados por causa das enchentes e não podem voltar para os subterrâneos. Assim, tudo dependerá de quanto tempo a cidade ficar debaixo d´água", explicou.
"Caso as áreas não sejam drenadas ou sequem rapidamente, é possível que os ratos permaneçam mais tempo na superfície, especialmente à procura de comida", acrescentou.
Especialistas lembram que fato semelhante ocorreu após os atentados às torres gêmeas em setembro de 2001, quando as autoridades de Nova York registraram um crescimento na população de ratos nos arredores da tragédia.
Naquela ocasião, com menos pessoas circulando e restaurantes fechados nas imediações do World Trade Center, os roedores se proliferaram.
Sandy / AP
Com tuneis alagados, ratos poderiam estar escondidos na superfície, dizem especialistas
"O mesmo acontece agora. Como uma grande quantidade de destroços e comida descartada inundaram a cidade, acredito que as condições para os ratos sejam ideais neste momento", disse Ostfeld.
"Além disso, não vi muitas carcaças de ratos por aí, o que corroboraria a tese de que muitos não morreram", acrescentou.

Doenças

Ainda que tudo não passe de especulação, especialistas alertam para o problema real de saúde que ratos - mortos ou vivos - podem causar após a tempestade Sandy.
"Embora haja preocupações mais imediatas agora, como a reconstrução da casa das pessoas e da cidade em si, espero que as autoridades públicas e de saúde prestem atenção à possibilidade de um aumento de doenças relacionadas a esses animais nas próximas semanas", afirmou Ostfeld.
"Muitas das doenças transmitidas por roedores são causadas por bactérias, sendo a leptospirose o maior risco. O problema é que, na maioria das vezes, elas podem parecer com uma gripe comum e, se não forem tratadas de forma apropriada, levam à morte", acrescentou.
Em entrevista à imprensa americana, Sam Miller, porta-voz do Departamento de Saúde e Sanidade Mental de Nova York, assegurou que a cidade não registrou "um aumento de ratos na superfície causado pelo furacão Sandy".
Miller disse acreditar, por outro lado, que "a enchente possa reduzir a população total de roedores".
Mesmo se a hipótese levantada por ele estiver correta, não demorará muito para os ratos voltarem à ativa. Segundo especialistas, os roedores mantêm, em média, 20 relações sexuais por dia.
"A taxa de reprodução desses animais é muito alta. Dificilmente eles seriam exterminados", afirmou Leite, da UFES.

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